quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

NOVO ANO


NOTAS DO MEU CANTINHO


Ano Novo! Um ano que nos espera cheio de surpresas e, certamente, de dificuldades tamanhas...
A herança que nos ficou do ano que há pouco terminou não permite antever muitas facilidades e felicidades. Antes, é um mundo de surpresas mortificantes e de angústias que, naturalmente, a todos espera.
Mas vale a pena ter confiança. O velho ditado diz: “Deus ajuda quem se ajuda” E se Deus ajuda, importa não desanimar. Mas, na realidade, é preciso ter coragem e força anímica para suportar os tempos incertos que se aproximam.
O mundo todo, incluindo naturalmente a nação portuguesa, vive uma situação caótica. Ninguém sabe o que será o dia de amanhã; mas, pelas premissas se advinham facilmente as conclusões, ou, como se diz no Brasil, “Pela casca se conhece o pau”. E a casca não se apresenta de aspecto sadio, mas bastante avariada.
Ano novo, vida nova”, era o ditado comum que todos citavam e repetiam. Agora, chega-nos o ano novo, sem se vislumbrar uma vida diferente daquela que arrastamos, penosamente, de há anos a esta parte. E por isso é de perguntar: Quando será que todo este estado decrépito vai acabar?
Presentemente, a vida não se modifica com a entrada de um novo ano. Continua, pois os homens não são capazes de suster o andamento epiléptico dos anacrónicos sistemas sociais e políticos que dominam, mediocremente, os povos indefesos.
Por mais que se tente, não será fácil promover, eficazmente, a mudança dos sistemas vigentes. Há que suportá-los, embora isso acarrete agonias e mal-estar aos povos indefesos.
Num mundo assim estruturado e orientado, o habitante normal tem que avançar com medidas conciliatórias e promocionais de forma que o estado anacrónico que se vive, seja modificado e o progresso, a prosperidade, a economia sã e o bem-estar social voltem para as pessoas e para as famílias, mesmo aquelas que hoje são as grandes vítimas da situação que se instalou por toda a parte. E não vale concretizá-la. Todos a vivem, a conhecem, suficientemente, e a sofrem, atrozmente.
Mas, no mundo, nada é perpétuo. Tudo tem o seu fim. Consequentemente, tudo pode ser atempadamente modificado. Basta que haja inteligência e boa vontade. Que haja disponibilidade de um serviço dedicado ao outro, aquele que está a nosso lado e que, por razões sociais, políticas ou financeiras, precisa de ser ajudado e amparado, para não cair no charco. E não será preciso estender a mão à caridade publica. Bastará que aquele que possui o mando tenha o discernimento suficiente para ver e analisar onde se encontra o vértice do problema e saber encontrar, como se faz em aritmética, a raiz do problema e dar-lhe a solução certa e adequada.
Vamos entrar no novo ano. Que se encontrem, rapidamente, as premissas adequadas e se chegue a justas conclusões. O povo não pode esperar mais. Definha, injustamente, a cada dia que passa.
É tempo de se acabar com tanta anarquia social e política e enveredar pelo caminho da honestidade política, social e económica. Já basta de tanto esperar e sofrer.
Não será fácil endireitar o que torto está. Esperamos, todavia, que haja a coragem precisa e a força política eficaz para tomar, com coragem e dedicação, as medidas que se impõem para que tudo o que está mal seja corajosamente modificado. E não se aguarda que seja o povo contribuinte a suportar uma vez mais as tropelias e medidas absurdas que se foram promulgando, caprichosamente. Nas zonas ricas e pobres.
Os direitos e deveres dos povos são iguais. O homem é o mesmo em toda a parte. Foi criado à imagem e semelhança do Criador e não é, consequentemente, um ser qualquer cuja natureza se possa modificar ou alterar através de medidas científicas. O ser humano nunca será nem ovelha, nem carneiro. Será sempre homem, dotada da inteligência e da razão à Imagem de Deus. O contrário seria uma aberração e uma anomalia.
Há um princípio no catecismo de Pio X, que, mais ou menos, assim reza: “Deus cuida e tem providência pelas coisas criadas; conserva-as e dirige-as ao próprio fim, com amor, bondade e sabedoria infinitas.”
É esta a verdade insofismável que ninguém, por mais astuto e inteligente que seja, poderá negar.
Não deixa saudades o ano que findou. Um novo ano se inicia.
Que seja próspero e feliz para todos !

Lajes do Pico,
Dezembro de 2015

Ermelindo Ávila

domingo, 21 de dezembro de 2014

A MENINA RAQUEL

 A MINHA NOTA


Aproximava-se a festa do Menino Jesus. Raquel era uma menina de poucos anos. Loirinha do cabelo, de olhos azuis, mãos papudas e andar saltitante. Vivia quase só, pois era a filha única de um casal já entrado em idade e que não aguardava outros filhos. Daí ser o “aí-Jesus” da família, que não apenas dos pais.
Tinha umas tias, relativamente novas, que lhe faziam todas as vontades. Nunca a contrariavam para que a menina andasse sempre alegre e bem disposta.
Na escola - Raquel já frequentava o primeiro ciclo - as colegas faziam-lhe todas as vontades, pois ela era amiga de todas as companheiras e normalmente distribuía por elas daquilo que levava para o seu lanche.
Um dia Raquel faltou à escola e as colegas foram procurá-la em casa e saber do motivo da ausência. A razão era simples: tinha-se magoado num pé, quando fora à praia tomar banho com os pais e por esse motivo não podia calçar sapatos. E descalça não saía de casa.
Todos os anos, quando se aproximava a festa do Natal, os pais, em segredo, tinham por hábito preparar uma grande festa. A pouco e pouco, costumavam adquirir objectos vários, para esse dia que era celebrado com muitas festinhas, principalmente depois que a Raquel deixara de ser bebé.
Contudo os brinquedos iam ficando para trás pois a menina interessava-se agora muito mais por livros de histórias. E lia com interesse as histórias do Tio Patinhas e outras mais. Mas não guardava os livros. Tinha por hábito distribuí-los pelas amigas que muito os apreciavam, dado que algumas delas eram pobres e os pais não podiam comprar-lhes livros de estórias e era talvez por isso que as amigas não lhe faltavam.
Raquel melhorou e voltou à escola e a brincar com as companheiras amigas.
Mas um dia, quando menos se esperava, a fatalidade chegou. A fábrica de lanifícios onde trabalhava o pai faliu e todos os empregados foram despedidos. Só restou ao pai de Raquel e companheiros, irem para o desemprego, uma situação angustiosa e triste que nunca esperara. A mãe nunca trabalhara pois só se dedicava ao serviço doméstico.
Escusado será dizer que nesse ano tudo foi diferente.
Quando chegou a Noite de Natal, quase nenhuns brinquedos foram destinados à Raquel. Os livros de histórias ficaram na Livraria, e a Raquel não recebeu nenhum. Como é natural, ficou muito triste.
As colegas de escola, desconheciam a situação familiar da amiga e andavam surpreendidas e sem compreender a atitude da Raquel. Ela, nesse ano, como é compreensível, não teve os livros de histórias para lhes dar, e na escola, já não repartia com as amigas o pequeno lanche que a mãe lhe preparava com sacrifício. Naturalmente que ficaram sentidas e afastaram-na um pouco.
Quando a Professora soube a razão da atitude das alunas, interveio muito discretamente. Fez às colegas uma larga explicação da situação em que se encontravam os pais da Raquel e outros mais, que haviam ficado desempregados, e aconselhou-as a continuarem com a mesma amizade, pois ela estava a ser vítima de uma situação muito amarga que atingia já muitas famílias daquela zona.
E mais lhes disse: Que, como católicas que eram, todas ou quase todas, pedissem ao Menino Jesus que interviesse na situação amarga porque se estava a passar, para que os homens soubessem encontrar soluções condignas e o emprego voltasse àqueles que só dele viviam e sustentavam as famílias.
Mas foi então que o imprevisto aconteceu: Aceitando os conselhos da Mestra, as colegas da Raquel resolveram juntar alguns euros e com eles comprar um pequeno livro de histórias, que ela tanto apreciava, uma pequena boneca e alguns doces, organizando assim um pequeno cabaz de Natal que, na véspera do grande dia, foram levar à Raquel. Escusado será dizer a comoção que dela se apossou e dos próprios Pais, que não sabiam como agradecer àquelas meninas o seu gesto tão carinhoso e simpático e em dia tão lembrado.
E o Natal daquele ano não deixou de trazer à Raquel alguma alegria, embora não tanta como nos anos anteriores.
Que o MENINO JESUS a todos traga um Natal Feliz, são os votos sinceros que aqui deixamos.
Novembro, 2014

Ermelindo Ávila

SERVIÇOS DE SAÚDE EM BOLANDAS

NOTAS DO MEU CANTINHO


Não acreditamos !!!
E volto a dizer: Não era de acreditar que algum governante pensasse em retirar aos antigos hospitais das Lajes do Pico e de S. Roque do Pico, actuais Centros de Saúde, os serviços que vêm plausivelmente prestando desde o seu início, em 1960, às populações dos dois concelhos e não só.
Retiraram, incompreensivelmente, aos estabelecimentos hospitalares da Ilha do Pico os serviços de obstetrícia, julgando que prestavam um bom cuidado à população picoense. O resultado tem vindo a demonstrar que evitar nascer na ilha não beneficia a populações, antes lhes trouxe arrelias tamanhas e sobressaltos inimagináveis.
Que lucram as mães a andar de ilha para ilha, muitas vezes em situações aflitivas para, de vez em quando, acontecerem casos bizarros de se nascer a meio canal, ou em viagem para a lancha, como há dias aconteceu com uma senhora do lado Norte, que teve de acolher-se ao centro de saúde da Madalena, onde ocorreu o nascimento normal do filho?
Durante cinco séculos – quinhentos anos - os picoenses nasceram na sua ilha, valendo às mães as senhoras que, em cada freguesia, se prestavam a cuidar da assistência, com alguma competência e sentido caritativo. E não eram remuneradas!
Num dos primeiros anos de funcionamento, nasceram no então hospital sub-regional das Lajes do Pico, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, mais de cem crianças sem que nenhuma delas perdesse a vida. E nos anos anteriores e posteriores o mesmo havia acontecido, até que as sábias reformas apareceram e, na ilha do Pio, foram abruptamente encerradas as Maternidades!
Aceito que haja clínicos que acatem, plausivelmente, as ordens governamentais, mas sabe-se que só em casos anormais, os senhores médicos assistem ao nascimento de qualquer criança. E enfermeiras com especialidade de obstetrícia havia-as em quase todos os estabelecimentos hospitalares.
A natalidade picoense desapareceu e só num ou noutro caso é que o Pico regista um natural da ilha, muito embora se haja legislado – e quem faz a lei fá-la como bem entende... – que a naturalidade do nascido é ou pode ser a da mãe. Mas, queiram ou não, quando esse infante for homem poderá dizer: eu não nasci no Pico, mas no Faial. Isto para dizer, queiram ou não, que nenhuma lei jamais poderá alterar as condições naturais da vida humana. (E vão surgir novos casos à semelhança do Dr. Manuel de Arriaga...) Mas o corte das chamadas valências hospitalares, ao que parece, não terminou. Chega-nos a macabra notícia de que, aos actuais centros de saúde de São Roque e Lajes vão subtrair-lhes, - sub-repticiamente, se isso acontecer – diversas valências entre elas o internamento de doentes e as urgências. Concretamente, ao que tudo indica, passarão a ser simples consultórios para atendimento ambulatório de doentes.
Se isso é para acontecer, e vai acontecer segundo noticia a comunicação social, desde já aqui lavro o meu PROTESTO de picoense ainda bastante consciente dos direitos que devem ser mantidos e respeitados aos povos da ilha.
E é por essa arbitrária medida e por outras, que o Pico se vai despovoando e não levará muito para que alguém pergunte aos governantes políticos: Quando pensam em extinguir o concelho-mãe, com mais de quinhentos anos, da Ilha Pico? Pelo andar da carroça chegamos à triste conclusão de que isso também vai acontecer em outras ilhas, incluindo o Corvo que, pela primeira vez, depois de cinco séculos de povoamento, ficará anexado às Flores.
Mas antes, terá a população picoense de tomar a atitude que se impõe e protestar com civismo, mas energicamente, contra essa medida discricionária e altamente prejudicial, principalmente à terceira idade. E, trazendo aqui a terceira idade: Quando um internado dos Lares de idosos de S. Roque, Piedade ou Lajes necessitar de tratamento médico-hospitalar, onde vai ser internado? Ou não merecerá tratamento?
Não será a vida o maior bem que usufrui o homem? Ou este será um boneco que se deita à lixeira quando está estragado ?
Tudo isto faz supor que há para aí alguém que se faz candidato a um novo Prémio Nobel.
Aqui há meses, tratei deste gritante assunto e pensei não voltar mais a dele me ocupar. Com as notícias vindas a público estou tão triste e magoado que não resisti em lançar a mão à pena e aqui deixar uma palavra de protesto por tamanha arbitrariedade. Não esqueci nunca o quão difícil foi, para mim e companheiros, promover a construção do edifício hospitalar desta vila, equipá-lo com um recheio moderno e excelente e abri-lo, no dia 1 de Janeiro de 1960, são decorridos, portanto, quase cinquenta e cinco anos.
A Misericórdia das Lajes do Pico, cujos privilégios e liberdades lhe foram concedidos por alvará régio de 14 de Novembro de 1592, lutou quase quinhentos anos para possuir um estabelecimento hospitalar, para em menos de cinquenta anos, dele ser desapossada, e agora transformado quase em simples consultório clínico.
É simplesmente lamentável.

Lajes do Pico, Dezº de 2014

Ermelindo Ávila

O SÉCULO DAS REVOLUÇÕES


NOTAS DO MEU CANTINHO



Quando algum historiador se dispuser a estudar, com imparcialidade e honestidade, o Século XX, terá forçosamente de o considerar o século das guerras e revoluções e, consequentemente, da desorganização política, social e, um tanto, religiosa.
Um ou outro movimento revolucionário teve os seus méritos; outros houve, a quase totalidade, que só provocaram a desorganização e o caos social e político. Mas essa análise não a desejo fazer, porque não me pertence. Os eruditos da História dela se ocuparão a seu tempo. Somente aqui as trago como quem faz a relação discriminativa dos acontecimentos ocorridos.
E principio pela revolução de 5 de Outubro de 1910 que aboliu o secular regime monárquico e implantou a República, para não aludir ao regicídio de 1908. Depois, decorridos dezasseis anos, vem de Braga a revolução do 28 de Maio, em regime ditatorial que durou quase cinquenta anos; e, a 25 de Abril de 1974, a revolução democrática. Entretanto, na década de sessenta, surgem as revoluções ou guerras ultramarinas de Angola, Moçambique, Guiné e Timor, que tantas vítimas causaram. Lá perderam a vida alguns soldados picoenses que estavam incorporados nas forças expedicionárias.
Dessas revoluções, patrocinadas por potências estrangeiras, veio a resultar a independência das antigas colónias ou províncias ultramarinas, ficando Portugal reduzido a uma limitada faixa da Península Ibérica. Nesta ilha do Pico, existem placas com os nomes dos antigos combatentes e daqueles, não poucos, que por lá ficaram...
Na vizinha Espanha, dá-se, na década de trinta, a longa revolução franquista, que tantos mártires portugueses provocou, entre eles, um oficial da força aérea portuguesa, natural desta vila.
Na Europa, rebentou em 1914, decorrem agora cem anos, a primeira Grande Guerra, que durou quatro anos envolvendo várias nações, entre as quais os Estados Unidos da América. E lá ficou nos campos da Flandres um soldado do Exército americano natural da Vila das Lajes do Pico, José Moniz de Melo.
Depois vem a segunda grande guerra, nos anos trinta/quarenta, provocada por Hitler, e que tanto devastou a Europa e o Mundo.
E houve as revoluções da Abissínia, de Cuba, da Índia. E outras mais. Algumas delas ainda fazem sentir as suas nefastas consequências, pois não é com facilidade que as nações atingidas se refazem.
Da primeira Grande Guerra resultou a Sociedade das Nações, de vida efémera; e, da segunda, as Nações Unidas, com sede nos Estados Unidos e, depois, a União Europeia, uma organização que está a dominar financeira e economicamente, com algum êxito, as diversas nações filiadas.
Nesta singela nota, não posso deixar de referir a nefasta revolução russa, com os esbirros Lenine e Estaline e seus sequazes, que espalhou pelo mundo o comunismo, uma doutrina ateísta de pérfidas consequências. E, apesar da Rússia ter mudado de sistema político, com uma abertura a todas as nações vizinhas e não só, o sistema implantado por Lenine continua, em diversas nações, organizado em partido político.
Outras revoluções houve e ainda acontecem por esse mundo fora, provocando o desequilíbrio económico e social dos povos atingidos e, de uma maneira geral, do mundo inteiro pois os efeitos, bons ou maus, de uma parte atingem normalmente o todo.
E quando viverá o Mundo em paz total ?
Os dirigentes políticos mal compreendem que novos conflitos estão à porta, como ainda há pouco aconteceu na Alemanha e na Ucrânia.
Há 374 anos, deu-se em Portugal a Revolução que lhe trouxe a restauração da Independência, um feito notável que todos os anos vinha sendo comemorado com actos solenes. Era feriado nacional, o 1º de Dezembro, para assinalar aquele mesmo dia de 1640. Mas isso passou ao esquecimento dos governantes actuais, preocupados que andam com a consolidação, bastante precária, de uma democracia que não chega a todos... E é pena que os relevantes acontecimentos, de oito séculos de independência, iniciada em Guimarães em 1143, por Afonso Henriques, ( há quem duvide hoje, que seja aquela cidade minhota o berço da Pátria...) passem tão saloiamente ao esquecimento.
Apesar de tudo houve, felizmente, quem soube enaltecer os feitos heróicos dos barões assinalados / Que, (...) Em perigos e guerras esforçados (...) foram dilatando / A Fé e o Império...
Ao menos resta a Portugal essa bíblia histórica que se espalhou pelo Mundo e que os seus mais notáveis historiadores e literatos conhecem, estudam e admiram – OS LUSÍADAS.

Lajes do Pico,
1º de Dezembro de 2014

Ermelindo Ávila

ESTE PICO...

A MINHA NOTA

ESTE PICO...

Os jornais da Ilha, de vez em quando, afloram os problemas, não somente do seu concelho, mas igualmente dos concelhos vizinhos. Por vezes, só são conhecidos esses problemas pelo jornal estranho, o que não deixa de ser simpático e demonstrativo de que os jornalistas picoenses estão atentos aos problemas da Ilha, que são bastantes.
Demais, a ilha é um todo que deve ser considerado. Quem anda pelas estradas do Pico, mal se apercebe de uma ou outra placa toponímica indicativa do início do doutro concelho, ou mesmo freguesia, onde se acaba de “entrar”.
A atenção dispensada pelos homens da Comunicação Social a todo o território picoense não deixa de ser saudável, pois é demonstrativo de que vai desaparecendo o discutível bairrismo de que muitos se serviram para rebaixar os direitos vitais dos vizinhos.
Há mesmo problemas que deviam ser resolvidos, de comum acordo entre as autarquias, para que a sua solução fosse rápida e eficaz.
Um exemplo ficou da criação da Federação dos Municípios picoenses para a exploração dos serviços eléctricos que, pouco depois foi absorvida pela, então, recentemente criada EDA – Empresa de Electricidade dos Açores. E foi pena que as outras duas federações previstas não tivessem logrado alcançar êxito. Mas isso são histórias que a História nem registará, porque já passaram ao esquecimento. Surgiu depois a Associação dos Municípios Picoenses, de poderes limitados ao saneamento básico, segundo creio, pois há muitos anos que estou afastado desse sector da vida picoense.
Julgo que outras iniciativas semelhantes se deviam tomar e as suas resoluções acatadas, num equilíbrio de justiça, respeito, dedicação e de serviço público...
Em anos passados, os Baldios eram comuns aos Municípios de Lajes e São Roque. As populações dos dois lados da ilha exploravam-nos, principalmente, criando neles gado ovelhum. Era de festa o dia em que, de comum acordo, se reuniam carneiros e ovelhas num sítio que se denominava “arrodeio” e onde os proprietários escolhiam, pelos sinais atempadamente ligados, os seus animais, procediam à tosquia e confraternizavam, cantavam e bailavam com muitos dos visitantes, as chamarritas regionais. E daí surgiram até futuros casamentos...
Hoje o sistema social modificou-se. Os casamentos são raros, a natalidade quase não acontece e a ilha vai envelhecendo...
Mas isso não é o melhor sistema para caminhar para o futuro. A ilha não pode nem deve ficar deserta ou somente entregue à passarada e ao gado bravio.

Há que encarar a tempo a situação. Há que preparar o futuro, aproveitando o potencial de que dispõe a ilha. E não se julgue que é diminuto ou de pouca valia.
Na revista “Cofre”, escreve C. Brandão Lucas, em artigo intitulado: Carta a um amigo que nunca foi ao Pico: “...De resto já deves saber ao que vimos. Enfeitar os olhos com a ilha é a proposta. Descobri-la por detrás das nuvens é a ideia. Não propriamente as freguesias, os lugares e as vilas, como Madalena, Terra do Pão ou Piedade. Mas um outro Pico...mais paisagem e mais mistério”. E a concluir: “Em todo o caso, meu amigo, não tem sentido vir ao Pico sem descer à Vila das Lajes. Lajes do Pico. Foi, em tempos não muito recuados, importante vila baleeira.”(...)“O certo, no entanto, é que cada casa virada para o mar...cada janela à espreita no horizonte...cada vidraça dependurada no telhado...cada lugar posto à beira d´água... cada objecto arrimado no pontão...cada chaminé plantada na falésia...guarda no seu silêncio o rebentar de um foguete de aviso...e o grito de “baleia à vista” que então ia pelas ruas.”(1)
E como escreveu um dia um antigo camarada: “No continente sou açoriano... Nos Açores, sou da ilha do Pico...”
É o quanto basta.

1 Lucas,Carlos Brandão, Carta a um amigo que nunca foi ao Pico – in COFRE, Revista do Cofre de Previdência, Set.Out. 2014.

Lajes do Pico,
14-11-2014

Ermelindo Ávila

domingo, 23 de novembro de 2014

FILHOS E ENTEADOS?

NOTAS DO MEU CANTINHO


Somos tratados por enteados a quem o padrasto dá uma sopa mal cozinhada. Não, isso não é a realidade, mas assim parece.
O governo esteve em visita de desobriga na ilha do Pico. Numa parte da ilha do Pico. Visitou obras e departamentos regionais. Todavia, parece ter ignorado que o Pico é constituído por três concelhos, dado que deixou de visitar “oficialmente” um deles. Afinal, o mais esquecido e abandonado, mas que existiu antes dos outros e onde não faltam problemas para resolver. Verdade que um ou outro membro do Governo saltou, aqui e ali, a espreitar casos pontuais, mas somente.
Julgo que não é esse o espírito da Lei que assim reza:O Governo Regional visita cada uma das ilhas da Região pelo menos uma vez por ano”. (nº l do Artº 87º do Estatuto da Região Autónoma). Mas ao referir cada uma das ilhas, pelo menos uma vez por ano, deduz-se, facilmente, que foi intenção do legislador impor que o Governo visitasse todos os concelhos da Ilha, e consequentemente da Região, que não somente um ou dois em cada ano. Demais, quando foi estudada por diversas comissões a organização administrativa dos Açores, esteve sempre presente o concelho, como instituto independente, considerando-se a ilha uma parcela autónoma da Região. Não se previa um governo único sedeado numa das ilhas, como veio a acontecer. E foi daí que nasceu a obrigatoriedade da visita anual.
Assim, e tal como se vem praticando, só de longe em longe se resolvem os assuntos de toda a ilha, o que, julga-se, não estava no entendimento dos legisladores. Mas, e como diz o ditado popular: mudam-se os ventos, mudam-se os pensamentos...
Há tempos passados, um temporal com chuvas violentas, atingiu a zona de Santa Cruz das Ribeiras, danificando a estrada e o ramal de acesso ao porto. Depois de muitos meses de espera, a estrada acabou por ser reparada e aberto ao trânsito. O mesmo não sucedeu ao Ramal que, aliás, pertence à mesma entidade administrativa. O trânsito continua vedado às camionetas da carreira urbana que, para irem ao centro de Santa Cruz, tem de utilizar o ramal de acesso a Santa Bárbara e o caminho municipal de Santa Bárbara a Santa Cruz. Não se compreende porque não foram incluídas, no projecto de restauro, os dois troços danificados.
Aqui há anos, não muitos, foi construído um paredão que fechou a “Carreira” e evitou que o mar galgasse mais frequentemente a vila. Uma obra que todos aplaudiram. Dessa construção resultou uma pequena enseada que, tornando-se abrigada, permite à navegação por ali passar com certa segurança. E refiro “certa segurança” porque não se fez então a limpeza do fundo, passando a sinalizar-se depois os “cabeços” encobertos para evitar que provoquem qualquer naufrágio. Na altura da construção do molhe de defesa teria sido fácil eliminar esses obstáculos sem grandes agravamentos de verbas.
Não precisa ser-se técnico para perceber que o “pátio” do caneiro (denominemo-lo assim), poderia servir de cais de embarque, se tivesse sido concluída a escada que nele ficou esboçada pelo lado Oeste, quando construído.
A nova “lagoa” que resultou da construção do paredão de defesa poderia – devia – ser preparada para receber a navegação de recreio – marina – desimpedindo a lagoa interior que ficaria somente para os barcos de pesca, que são ainda alguns.
E, aqui, apetece deixar a pergunta: Quando é construída a nova “pesqueira” ou lota para substituir aquela que foi destruída quando da construção da rampa interior?
Ou será que o “monopólio” do pescado é para manter à distância e “ad aeternum” ?
Não será por estas e por outras atitudes ininteligíveis que o Sul e a sede do respectivo concelho se vão despovoando, talvez com gáudio de outros?...
Quando o “mundo” era diferente, não se estranhavam situações similares. Mas nos tempos actuais, em que se espalha aos quatro ventos que tudo será resolvido se o povo soberano (?) quiser, é estranho que o abandono dos sítios degradados continuem esquecidos ou ignorados.
Seja como for, porque todos somos contribuintes, todos temos iguais direitos; e governar não é distribuir benesses, mas repartir o bem com justeza, equilíbrio e atempadamente, para que o povo acredite e possa fazer justiça nos momentos próprios.


Vila das Lajes do Pico,
12-XI-2014
Ermelindo Ávila


P.S. Já depois de escrita esta crónica foi anunciado o início das obras no Ramal de Sta Cruz.

NOVAS LEIS DE EMIGRAÇÃO

NOTAS DO MEU CANTINHO


A dar crédito ao que anuncia a comunicação social, o Canadá vai modificar as suas leis de imigração, no sentido de dar maiores facilidades à fixação de técnicos especializados no País. Um sistema novo para atrair a juventude que sai das universidades de outros países e que neles não encontra colocações para as especialidades obtidas. Um novo sistema de atrair os jovens formados de outros países sem que tenha concorrido para a sua formação. Como é o caso de Portugal.
Afinal a nova legislação canadiana vem de encontro ao que aqui há tempos passados aconselhava um dirigente político português: que a juventude formada e desempregada emigrasse!
O aviso, ou “conselho” mal pensado encontrou, no entanto, eco nos nossos jovens que, rapidamente, abalaram para os países onde encontraram colocação, deixando o País mais pobre e envelhecido, entregue à chamada “terceira idade”!
As famílias que, tendo investido, largamente, na formação dos filhos, vêem-se agora privadas da sua presença e assistência física, encaminhando-se alguns dos seus membros, forçadamente, para os lares da terceira idade; instituições outrora desconhecidas mas que, mesmo assim, vêm colmatar situações precárias em que alguns dos seus utentes viviam.
Não haverá um sistema mais humano que resolva a situação dos jovens desempregados?
Nada tenho contra a emigração. Aprecio e respeito os emigrantes que, mais por melhoria do futuro dos filhos do que pela sua, abandonam famílias e bens para se fixarem em outros países onde o futuro dos seus é assegurado, como foi o caso da emigração que se deu a meados do século XX. Louvo mesmo a coragem que tiveram e aprecio as vivências que adoptaram, nunca esquecendo as terras de origem que, quando as posses lhes permitem, visitam com alguma frequência. E, nas terras onde se fixaram, procuram manter a educação que receberam na juventude, a religião que lhes transmitiram os pais, as tradições sociais, por vezes modestas e simples, mas nobres e dignas.
Basta ver, principalmente, nos Estados Unidos e Canadá, as numerosas sociedades fraternais onde convivem e se entreajudam. É o caso das “Casas dos Açores”, organizações semi-oficiais que hoje encontramos instaladas em diversas comunidades açorianas da Diáspora.
Grandiosas são as igrejas católicas que ergueram as festividades que anualmente realizam, recordando aquelas que são tradicionais nas suas terras de origem, como sejam as solenidades do Divino Espírito Santo as devoções ao Santo Cristo e aos santos Padroeiros.
A cultura do espírito não é esquecida. Hoje há jovens açorianos com cursos universitários a exercer, nas estranhas terras, cargos da maior responsabilidade política, económica e social. Alguns estão nas profissões liberais: médicos, advogados, professores e outras mais. Outros celebrizaram-se na agricultura, no comércio e na indústria.
Aquilo que podiam exercer nas suas terras de origem estão a desempenhar nas terras de acolhimento. E alguns desejavam, mesmo, voltar ao torrão natal e colocar as suas aptidões culturais e profissionais ao serviço dos seus concidadãos, se lhes dessem essa oportunidade.
Os governos têm de implementar e desenvolver uma política de acolhimento dos emigrantes para que retornem às terras de origem: distribuindo-lhes terras, apoiando a instalação de indústrias, e outras iniciativas atractivas para que estas ilhas rejuvenesçam e se desenvolvam, e não fiquem despovoadas em futuro mais próximo do que se possa imaginar.
Deixo-lhes o apelo.

Lajes do Pico,
3-XI-2014

Ermelindo Ávila

A AGRICULTURA

NOTAS DO MEU CANTNHO



A Ilha do Pico, tal como as demais do Arquipélago dos Açores, são constituídas por terrenos que permitem uma normal e satisfatória produção agrícola. E foi assim desde os seus primórdios.
Quando os homens do Infante aqui aportaram, eram portadores de sementes de trigo que, deitadas à terra, permitiram boas colheitas. (Não assim na Povoação, onde as sementes produziram grossas canas, e nenhuma semente, dada a sua natureza excessivamente forte, como diz Gaspar Frutuoso.)
Mais tarde apareceu o milho, trazido dos Estados Unidos onde os índios o cultivavam, com pouco esforço e grande êxito, para a sua alimentação.
E foi o milho, por mais produtivo, que substituiu o trigo, cereal de produção mais delicada e a exigir um tratamento mais cauteloso, principalmente pela praga que o procurava e devastava.
O milho passou a ser a base da alimentação e, por isso, quando os temporais devastavam os milheirais, a fome atingia quase toda a população açoriana, obrigando à importação do cereal de outras terras.
Havia mesmo o ditado: boa colheita, ano farto.
O trigo só era cultivado especialmente quando o casal “levava a coroa” e pouco mais. Todavia, normalmente, a casa do lavrador fazia a sementeira de um determinado terreno – o serrado do trigo – para ter farinha de trigo para a “mistura” da massa de milho, para utilizar o pão de trigo nas matanças e em certas e tradicionais festividades, quer religiosas quer domésticas.
Hoje, nem milho há. Tudo é importado, não só porque falta a mão de obra para trabalhar os campos - os trabalhadores rurais ou emigram ou passam a exercer outras profissões, - e os terrenos ficam abandonados, ou porque é mais fácil e menos trabalhoso, utilizá-los em pastagens para o gado.
Todavia, causa pena ver para aí tantos terrenos abandonados e ocupados por uma vegetação selvagem que quase chega às ruas por onde transitamos.
Não há muitos anos, v.g., toda a encosta leste da vila das Lajes era utilizada na cultura do milho . E produzia moios...
Nessa época, os proprietários faziam a colheita, por vezes com a ajuda de vizinhos e amigos, e arrecadavam o cereal em recipientes apropriados – as barricas, os depósitos de ferro zincado, os arquibancos, para ser utilizado durante o ano. Por cá não se utilizava o sistema de “burra”, como em outras ilhas.
Já Júlio Dinis, em “As Pupilas do Senhor Reitor”, há mais de cem anos, nos descrevia a Esfolhada como um acontecimento tradicional da Província portuguesa, tal como nestas ilhas acontecia.
Hoje tudo se perdeu. Os terrenos estão abandonados. A ilha do Pico, não passa de uma mata de espécies daninhas. As culturas, praticamente, desapareceram, para se importar, do continente e/ou do estrangeiro, tudo o que é indispensável à subsistência das pessoas. Mas não passa de um sistema errado, para o qual as entidades oficiais têm de voltar a sua atenção. Não basta aproveitar os terrenos baixos para a produção de forragens para o gado leiteiro ou de exportação. Há que pensar na população em geral e facilitar-lhe a produção ou a aquisição dos elementos essenciais à sua subsistência.
Quando chegará o tempo, em que os terrenos sejam aproveitados em culturas e a ilha deixe de ser um todo, onde só aqui e ali se vêem alguns campos de vinha e raros de semeadura, e no seu conjunto, um matagal imenso de faias e incensos?
Não verei esse dia, pois pelas premissas actuais se podem tirar as conclusões. E as conclusões são tristes e amargas.
Repito: Há que voltar ao princípio e arrotear os terrenos, utilizando-os em culturas necessárias à alimentação do ser humano: o milho, a batata branca ou doce, a hortaliça, os primores agrícolas, as fruteiras!... Que excelente era a fruta! - os figos, as uvas, as peras e maçãs, as laranjas, que na Ilha se produzia e os Barcos do Pico, no verão, levavam para as outras Ilhas!...
E, a propósito, há que trazer ao de cima as precárias instalações dos serviços agrícolas nesta vila. Ocupam um barracão construído aquando da construção da muralha de defesa da Lagoa, para os serviços de ferreiro e carpinteiro e devia ter sido demolido na altura da conclusão das obras. Mas ficou e continua. É tempo de estarem aqueles serviços condigna e convenientemente instalados para que possam promover o fomento agrícola desta parte da ilha, a mais rica em terrenos aráveis, e terem a autonomia que ainda agora merecem.
Já o disse e continuo a afirmar: os serviços agrícolas devem estar instalados no Sul e nunca, como julgo, afastados, num extremo inóspito da Ilha. Não será tempo de acabar-se com a política bairrista e de se fazer justiça?...
Finalmente, uma pergunta que pode parecer incómoda, mas que é inofensiva: Os titulares do Sector Agrícola da Região, conhecem a parte da ilha que vai da estrada transversal à Ponta da Ilha? Já calcorrearam suas pastagens montes e vales? Valia a pena.
E quedo-me aqui. Não careço de resposta.
Lajes do Pico, 29-l0-2014

Ermelindo Ávila 

AS LANCHAS DO PICO

A MINHA NOTA


Fizeram história as “Lanchas do Pico”. E não somente as que trafegaram nos portos de Horta e Madalena. Nas década de vinte - trinta do século passado, contribuíram, igualmente, para a prática do comércio e da indústria das ilhas do grupo central do Arquipélago. Hoje, praticamente, deixaram de existir e passaram ao esquecimento. Outros transportes modernizados, os “Cruzeiros” as substituíram.
Há dias, porém, a comunicação social trouxe a público a notícia de que a “Espalamaca”, -antiga lancha do Canal - estacionada no porto da Madalena, conjuntamente com a “Calheta”, ia ser recuperada para servir de museu ou, talvez de peça de mais um liliputiano “museu” da ilha.
Ambas as lanchas citadas fizeram parte da frota da “Empresa das Lanchas do Pico”, com óptimos serviços prestados às populações das ilhas do Pico e do Faial. Não merecem, pois, o abandono a que têm sido votadas, depois que as lanchas do canal, como referi, foram substituídas pelos “Cruzeiros” e, agora, por novos barcos.
No entanto, afigura-se-me que, mais interessante do que a história da “Espalamaca”, é a da “Calheta”.
Segundo Amílcar Goulart Quaresma, em “Maresias”, a “Calheta” foi construída nos estaleiros de S. Amaro por Mestre Manuel Bento, para a Empresa Calhetense de Navegação e Pesca, Lda., com sede na Calheta de Nesquim. Navegou vários anos entre as ilhas Terceira, S. Jorge, Pico e Faial, com viagens regulares todas as semanas. Em 1931, foi adquirida por Miguel Zeferino, das Angústias e, em 1932, passou a pertencer à Empresa Açoriana de Navegação e Pescas, L.da, que a transferiu, em 1950, para a Empresa das Lanchas do Pico, que a incorporou na sua frota. Desde 1996, encontra-se estacionada no porto da Madalena, até que desapareça totalmente.
Cheguei a navegar da Terceira para o Pico na “Calheta”. Tinha uma tripulação cortez, sob o comando do mestre José Goulart, um marítimo destemido e uma figura simpática, apesar do seu aspecto fortemente másculo e impulsivo. Afinal, um bom homem como soe dizer-se.
Foi a primeira embarcação motorizada que fez serviço de passageiros e carga entre as ilhas do grupo Central, mesmo antes do antigo “Ribeirense” iniciar o seu benemérito serviço de passageiros e carga, durante os meses de verão, entre S. Miguel e Faial, passando pelas restantes ilhas do percurso, excepto a Graciosa, por ficar mais afastada, “fora de mão”, como se diz.
Tenho pena que a lancha “Calheta”, uma das poucas que conservou sempre a sua denominação, acabe tão ingloriamente seus dias, pois não deixaria de ser um testemunho forte da intrepidez dos marinheiros do Pico e dos óptimos serviços que prestou ao seu Povo, durante uma boa parte do séc. XX.
Não é, gratuitamente, que Goulart Quaresma, no seu excelente trabalho, a classifica de “Rainha das Lanchas”.
O mesmo aconteceu com as lanchas do porto das Lajes, “Lourdes” e “Hermínia”, construídas, respectivamente, em 192l e 1922, pelo célebre Francisco José Machado, o “Experiente”, e que acabaram por ser abatidas para serem substituídas por traineiras da pesca do atum.
Já antes a primeira lancha baleeira “Margarida”, uma vedeta construída em 1921 pelo Mestre António da Fonseca Santos, para recreio e que, depois, foi utilizada na caça da baleia, também acabou seus dias junto ao muro da rua da Pesqueira, desfeita por um grande temporal marítimo, deixando de ser arrecadada no Museu, como estava projectado.
Lajes do Pico,
1 de Novembro de 2014-11-01

Ermelindo Ávila

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

RECORDANDO

NOTAS DO MEU CANTINHO


Passaram-se já tantos anos. Nada menos de 75 anos. Estava na minha juventude despreocupada e feliz.
Tinha conseguido, com a ajuda de um Amigo que não esqueço, um pequeno emprego, que era o início da minha carreira profissional. Resolvi ir gozar uma parte das minhas primeiras férias a S. Miguel, aonde tinha ido anos antes em condições nada agradáveis mas que não interessam recordar...
Era o mês de Agosto. Viajei no “Ribeirense” por gentileza do respectivo Mestre, o conhecido Mestre João Alves, de saudosa memória, que me ofereceu a viagem.
Em Ponta Delgada, hospedei-me na Pensão “Fontes” na Rua dos Mercadores. Uma senhora viúva e muito simpática, que acolhia os hóspedes – e éramos vários – muito familiarmente.
Passava os dias quase só, num dos cafés do Largo da Matriz. Um deles era o “Giesta” e um outro pertencente a um judeu cujo nome não recordo, mas que fornecia umas cavacas deliciosas. O sol de Agosto não permitia grandes passeatas pela cidade.

Não existia a Avenida. Naquelas noites quentes de Agosto, o sítio mais procurado era o “Aterro” que ficava nas traseira dos “cafés”, virado para a doca a qual, nessa altura, estava a ser prolongada com mais vinte e cinco metros, para melhor acolher a navegação. Trabalhava-se, naquela gigantesca obra, continuamente, de noite e de dia.
Normalmente, a navegação não atracava ao molhe, mas ficava no meio da bacia. Os passageiros eram dali transportados nas lanchinhas do Manteiga para o cais da Alfandega, um pequeno espaço, com escada e acesso à via pública, junto do edifício onde estava instalada a Alfândega. Hoje, é o quartel da PSP. A carga era transportada em batelões, da doca para os navios e vice-versa.
A navegação, naqueles recuados tempos, quase se limitava aos dois barcos da EIN, Lima e Carvalho Araújo e aos cargueiros dos Carregadores Açorianos, destinados a transportar para a Europa os ananáses produzidos em S. Miguel. Eram quatro ou cinco navios com acomodações para uma dúzia de passageiros.
Algumas vezes no ano, passava, pelos portos de Horta e Ponta Delgada, o Sináia, da Empresa Fabre Line. Depois apareceram, ainda nos primeiros anos da década de trinta, o Saturnia e o Vulcania, verdadeiras cidades flutuantes, como os classificou um jornalista da época. Nesses recuados tempos estava pouco desenvolvida a navegação turística.
Por indicação do Pe. José Jacinto Rebelo, já meu conhecido, relacionei-me com dois ou três jovens que faziam parte do grupo de Jocistas, movimento católico formado havia poucos anos e que já chegara às Lajes do Pico.
No domingo que lá estive, creio que foi o primeiro domingo de Agosto, ofereceram-me um passeio até à freguesia da Relva que, nesse dia, celebrava a festa da Padroeira. Qual? Já nem me lembro.
Tomei parte numa reunião jocista em casa do Pe. Rebelo, bastante animada. Aí conheci outros jovens jocistas.
Mas, no sábado anterior, estava sentado numa cadeira das várias que os Cafés colocavam nos passeios em frente aos respectivos estabelecimentos, e tive oportunidade de ler o jornal do dia – “A Ilha”.
Ponta Delgada vivia, na época, um período de grande desenvolvimento turístico, mercê da Casa Bensaúde, que ali se havia estabelecido. Sob o seu patrocínio apareceu a Sociedade Terra Nostra que construiu nas Furnas o primeiro hotel da Ilha. Na cidade construiu a Pensão Terra Nostra e instalou o Bureau de Turismo. Explorava a carreira de navegação Empresa Ínsula de Navegação. Fundou o jornal A Ilha, cuja direcção (creio) entregou ao Dr. Agnelo Casimiro, professor liceal e um dos mais destacados literatos açorianos do tempo. Julgo que não estou errado e se isso acontece o leitor que corrija.
O Bureau de Turismo, a seguir aos cafés, estava entregue a um jovem que o desenvolveu, notavelmente. Refiro o velho e saudoso amigo J. Silva Júnior, que ali esteve durante muitos anos.
Nas Furnas, a sociedade Terra Nostra havia construído um campo de Golfe, parece que, ainda hoje, um dos melhores do mundo.
Para a inauguração desse complexo desportivo foi convidado um Milionário americano.
Nesse sábado em que me encontrava em Ponta Delgada, o jornal “A Ilha”, julgo que órgão da Terra Nostra, e naturalmente os restantes jornais que ali se publicavam: ”O Açoriano Oriental”, o “Diário dos Açores” e “Correio dos Açores”, salvo erro, davam a notícia em parangonas na primeira página, da chegada do Milionário americano e seu secretário para inaugurarem o campo de golfe das Furnas. E como atrativo havia uma “matança de porco” em estilo regional!...
Nessa tarde a cidade despovoou-se. Ao tempo, eram poucos os carros que circulavam, mas todos eles se encaminharam para as Furnas, ou para assistir à exibição do Milionário ou para assistir à tradicional matança. Qualquer delas era um atractivo aliciante.
E, como no princípio dizia, já se passaram setenta e cinco anos!

Lajes do Pico,
27 de Outubro de 2014
Ermelindo Ávila




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

“IR AO NORTE”

A MINHA NOTA



Em anos passados não era agradável “ir ao Norte”. Tal expressão significava ser chamado a Tribunal, o que ninguém desejava. Demais, o Tribunal funcionava, normalmente, sem juiz de carreira. Os juízes substitutos e bem assim os delegados do Procurador da República, eram escolhidos pela Política vigente, o que nem sempre dava garantia de imparcialidade e justiça.
Mais tarde uma reforma judicial determinava que as funções de Juiz substituto fossem exercidas pelo conservador do registo predial ou, quando este funcionário não fosse efectivo, pelo conservador do registo civil.
O mesmo acontecia nos Julgados Municipais, nos quais os juízes “efectivos” eram, por inerência, os conservadores, e os subdelegados os notários.
O último dos Juízes substitutos, era o Presidente da Câmara, que, muitas vezes, se limitava a assegurar o funcionamento da instituição, mandando que os julgamentos finais “aguardassem a chegada do juiz proprietário”.
Extintos os julgados, concentrou-se todo o serviço judicial na comarca, o que não deixou de causar sérios prejuízos aos utentes, principalmente quando se tratava de inventários orfanológicos obrigatórios.
Era por isso que as pessoas do lado Sul da Ilha temiam “ir ao Norte”, onde estava a sede da comarca, tal como hoje acontece. Demais, o serviço judicial foi criado em S. Roque, não em razão da densidade populacional, mas porque o Sul não teve políticos que soubessem defender os seus direitos cívicos. Nesse aspecto o Norte foi mais bafejado e assim se mantém.
Também se ia ao Norte, no mês de Outubro, comprar castanhas, que ali abundavam. Ia-se e vinha-se, calcorreando veredas e atalhos, com pisos irregulares que dificultavam o caminhar. Um deles era o “caminho dos burros”. Descansava-se às “Mesas”, quase no fim do trajecto.
Mas hoje ninguém usa a expressão “ir ao Norte”, nem ninguém para lá vai a pé. O trânsito automóvel é bastante intenso, muito embora não haja transportes colectivos.
E há mesmo funcionários que se deslocam com rapidez de uma para a outra banda, consoante o emprego, percorrendo em meia hora a estrada que liga as duas sedes de concelho. E foi até para permitir a deslocação rápida entre o Sul e o Norte que a estrada se construiu.
Quando foi extinto o Julgado, na década de quarenta do século passado, os políticos que pontificaram em Lisboa, conseguiram que a estrada fosse imediatamente construída, retirando ao Sul o argumento da distância, uma vez que só existia uma ligação pela estrada litoral, da qual, a última fase – Lajes – Piedade - Prainha havia ficado concluída poucos anos antes. (Quase cinco séculos por ela se esperou! )
O engenheiro que veio estudar o traçado e elaborar o projecto, chamava à estrada transversal, a estrada política. Ele bem sabia o porquê dessa classificação...
Certo é que as populações do Sul têm de continuar a caminhar até ao Norte para dirimir seus direitos... À parte essa circunstância, as amizades intensificam-se e as relações sociais são exemplares.
E ainda bem que assim acontece. Como seria agradável que a população do Pico constituísse um todo harmónico e se respeitassem os direitos cívicos de cada núcleo populacional. Mas, afigura-se-me que isso está para tarde.
No Norte ou no Sul, no Leste ou no Oeste, nestes tempos que correm, em que a política é a parceira dominante, não falta quem dela se aproveite para manobrar e conseguir que os seus projectos ardilosamente preparados se executem...
Há sempre produtos mal usados que estragam o cozido...
Lajes do Pico,
15 de Outubro de 2014

Ermelindo Ávila

OS “ MISTÉRIOS “

NOTAS DO MEU CANTINHO

Testemunhas permanentes das erupções vulcânicas de 1718 e 1720 que assolaram a Ilha do Pico, destruindo habitações e calcinando terrenos, eles ainda aí estão presentes, sem proveito algum que deles se tire, a não ser a “lenha” ou o aproveitamento de um ou outro espaço para empreendimento de utilidade pública.
É tempo de se olhar para os Mistérios da Ilha do Pico e de se lhes dar o aproveitamento necessário, para que passem a ser úteis à população picoense.
António Cordeiro ( História Insulana, 1716) traz a notícia de que “no ano de 1572, a 21 de Setembro tremeu a terra no «baixo da ilha por espaço de um terço de hora, e com tais estrondos, que pareciam grandes peças de artilharia disparadas, e logo em um lago, e por cinco bocas arrebentou tal fogo que dele , e por polme ardente correu uma ribeira por espaço de uma légua, até meter no mar do Norte, e no mesmo mar formou uma entrada nele de um tiro de arcabuz, aquele grande cais de pedraria abrazada (...) do qual se serve a Vila de São Roque , que dista dela uma légua (...)”
Silveira de Macedo, por seu lado, informa que “...a lava correu em ribeira para o mar, formando um grande cais que ainda se conserva; tendo devastado extensas planícies de terra e casas na freguesia de Nossa Senhora d’Ajuda da Prainha do Norte, onde ficou um extenso mistério, tendo sido destruída a igreja paroquial”.
Não fala Cordeiro, naturalmente, das outras erupções que assolaram a ilha, pois o seu trabalho é superiormente aprovado dois anos antes (1716).
E dessas outras erupções (1718 e 1720), ficaram os Mistérios de Santa Luzia, São João e Silveira.
Essas grandes extensões de terreno, cobertas de arborização selvagem, pouca utilidade têm. Estão, presentemente, a cargo dos Serviços Florestais que vão aproveitando os pinheiros plantados nas bermas das estradas que atravessam, cujo plantação daquela espécie arbórea se ficou a dever à antiga Junta Geral do ex-Distrito.
No Mistério da Prainha há um empreendimento de utilização local.
Junto do Mistério de Santa Luzia, nasceu o Aeroporto do Pico. Há também um parque com construções urbanas para utilização de Serviços Públicos. Antes, a Junta de Freguesia de S. João havia instalado, no mistério situado entre aquela freguesia e a Terra do Pão, e no local onde existiu a igreja paroquial subterrada pela lava, o parque denominado “São João Pequenino”. Ali colocou um pequeno monumento a recordar o primitivo templo. No mesmo Mistério foi construído o Aterro Sanitário da Ilha. Recentemente, foram instalados no Mistério da Silveira o Matadouro Industrial e a fábrica de lacticínios da Ilha – Lacto Pico.
Mas é pouco, muito puco mesmo, para as grandes extensões da ilha há quase três séculos abandonadas.
Aqui há anos uma empresa industrial iniciou, no Mistério da Silveira, a construção de um campo de golfe, que não chegou a concluir. Os terrenos, depois de revolvidos, lá ficaram e estão sem aproveitamento.
Mais do que uma vez referi, nas minhas crónicas, a necessidade da conclusão do campo de golfe. Continuo a pensar que se trata de uma estrutura indispensável ao desenvolvimento do turismo na ilha do Pico. Seria algo mais do que um campo de tiro que o Governo construíu no Mistério de Santa Luzia.
Para o campo de golfe não carece de adquirir terrenos porque eles já existem. Prepará-los não será tarefa de muita monta. Segundo julgo, os Serviços Florestais, que administram os mistérios, dispõem da maquinaria necessária para a execução das obras do campo. Construi-lo seria um serviço público prestado à população e, simultaneamente, um aproveitamento interessante daqueles terrenos.
Demais, é só ver aqueles que existem por esse mundo fora, e que a TV nos mostra quase diariamente, onde se realizam torneios desportivos que atraem os magnates da fortuna, pois o golfe é um desporto, principalmente daqueles que beneficiam do privilégio de serem os donos das fortunas mundiais. E, onde há um campo de golfe, lá estão eles, com seus “servidores”, a manejar calmamente o taco e a bola...
O turista não vem praticar qualquer desporto, e a maioria das vezes, nem se interessa pela vigia dos cetáceos, pois, vistos uma vez, não mais interessa.
O golfe é um desporto diferente, selectivo, e que os praticantes “viciados” não mais abandonam.
É preciso rentabilizar os mistérios da ilha do Pico. Nem todos os seus espaços, mas alguns podiam ser urbanizados e neles se promover a construção de edifícios para habitação, comércio ou indústria e outros até arroteados para utilização da agricultura.
A Ilha tomaria outro aspecto e seria mais atractiva, em vez de continuar a ser um espaço selvagem, sem utilidade, quase abandonado...
Não seria proveitoso para a economia da ilha, tomar a sério o aproveitamento dos mistérios e nesse aproveitamento considerar a conclusão do campo de golfe?
Lajes do Pico,
13 de Outubro de 2014

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

“LOTEAMENTO DA MARÉ”

NOTAS DO MEU CANTINHO


Na edição de 09 do corrente do semanário “ DEVER”, foi publicada a notícia da sessão da Assembleia Municipal, realizada no dia 30 de Setembro e nela se alude o Loteamento da Maré.
No mesmo texto se anuncia que “Após a aprovação por parte da Assembleia Municipal, seguir-se-á um período de apreciação e discussão pública sobre o mesmo”
Ao que julgo, trata-se do “Serrado de São Pedro”, onde está instalado há anos o “Parque de Campismo” e onde devia ter sido construído o edifício para a Escola Secundária, arredado da Vila, incompreensivelmente !...

O terreno é vasto e o loteamento vai permitir, concerteza, um aproveitamento racional do mesmo. Mas, nada se refere ao bairro anexo, onde se encontra a mais antiga igreja-ermida da ilha do Pico.
Na frente da ermida há um arruamento que se desenvolve para Norte e Sul. Em 1883, era a Rua de São Pedro, assim se denominava, onde viviam trinta e nove pessoas, em nove habitações. Hoje é muito diminuto o número de pessoas que lá residem e, mesmo assim, só no lado Norte e em habitações bem conservadas. As casas do lado Sul estão em ruínas, menos aquela onde funciona a Rádio Montanha, junto da ermida.
O estreito arruamento ainda lá existe e deve ser conservado como fazendo parte do património da vila.
Trata-se da zona mais antiga do burgo, aquela que se “desenvolveu” junto da pequena igreja e onde, naturalmente, habitou Frei Pedro Gigante, capelão dos povoadores e primeiro pároco da ilha.
Um pouco além, para Leste, existia a rua da Barra, que ficava a Norte da antiga “casa da escola”, depois oficina do Mestre António Fonseca, e que desapareceu com a construção do actual edifício da Escola Secundária. Não possuía habitações essa ruela e, pelo centro, corria uma grota que escoava as águas das ruas da vila e que ia vazar na lagoa da Maré.
Toda aquela zona foi completamente alterada com a construção da rua da Ladeira ou Rua Arantes e Oliveira, já que outro nome não lhe foi atribuído...
Ainda existe um troço empedrado, com “calçada à romana”, da antiga Ladeira da Vila. Nele ainda se descobriam, aqui e ali, os sulcos deixados pelos carros de bois que ali, diariamente, transitavam. O mesmo se verifica no que restou da antiga calçada da Maré, por fora da actual muralha de suporte da nova rua.
Num pequeno espaço, junto da habitação que pertenceu aos pais do P. Manuel Vieira Feliciano e que, depois, foi de Manuel Ermelindo dos Santos, existe um poço de maré que servia a população que habitava na Ladeira. O “bocal” que o protegia, está destruído. Importa restaurá-lo. É que os poços de maré são marcos históricos da vivência dos habitantes das Lajes. Ainda existem três ou quatro que não podem, nem devem ser abandonados. O da “Rochinha”, hoje incorporado na urbanização do antigo Juncal, devia ter uma placa: “Poço do contrabando”. (Já contei a história e não vou repeti-la). Faz parte da história lajense. Pois se ainda existe, a chegar ao “Meio da Vila”, como era conhecido o actual Largo General Lacerda Machado, a antiga “Rua do Poço”, hoje Rua Pe. Manuel José Lopes!...
A zona de São Pedro não pode nem deve desaparecer. Foi a primeira habitada, muito embora Fernão Alvares, primeiro homem que aportou à ilha, se tivesse ficado pela Ribeira da Burra e que, primitivamente, era conhecida pela Ribeira de Fernão Alvares. Uma história também já aqui narrada.
O chamado “Loteamento da Maré” não é fácil. Há que respeitar a tradição histórica da zona e conservar o que ainda existe.
As velhas casas da rua de S. Pedro, hoje em ruínas, devem ser restauradas e conservadas, dando-lhes a aplicação mais conveniente.
Que nada mais se construa na avoenga vila, como alguns a tratam, mas que ao menos se conserve aquilo que faz parte e dá continuidade à sua história de quase seis séculos.

Vila das Lajes do Pico
14 de Outubro de 2014

Ermelindo Ávila 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA COSTA,BISPO EMÉRITO DE MACAU

NOTAS DO MEU CANTINHO

D. ARQUIMÍNIO RODRIGUES DA COSTA
BISPO EMÉRITO DE MACAU

No dia 6 do corrente celebrou o 65º aniversário da ordenação sacerdotal, o Bispo Emérito de Macau, D. Arquimínio Rodrigues da Costa.
Nascido na freguesia de S. Mateus, desta ilha, em 8 de Julho de 1924, ingressou no Seminário de Macau em 8 de Dezembro de 1938. Segundo me informou, quando há anos o encontrei em Macau, Mons. Manuel Teixeira, professor do Seminário e Historiador, D. Arquimínio foi o aluno mais inteligente e dedicado que lhe passou nas aulas.
Ordenado sacerdote, depois de um curso brilhante, foi nomeado professor de diversas disciplinas nos dois seminários –maior e menor – e Prefeito de estudos do Seminário Menor, sendo, depois, nomeado reitor do Seminário, em 15 de Fevereiro de 1955, em cujo cargo está pouco tempo, pois no ano seguinte, vem de licença graciosa aos Açores, mais propriamente à terra natal, a Ilha do Pico, e daqui segue para a Universidade Gregoriana, em Roma, onde faz, brilhantemente, o Curso de Direito.

Voltando a Macau, depois de concluído o curso universitário, é novamente nomeado Reitor e professor de várias disciplina.
Aquando do Concílio Vaticano II, substitui o Bispo da Diocese, D. Paulo Tavares, como Governador do Bispado, passando, em 1968, a reitor do Seminário Maior de Hong Kong.
Com o falecimento de D. Paulo, é eleito Vigário Capitular de Macau. A seguir vem aos Açores celebrar as Bodas de Prata sacerdotais e, no regresso, é nomeado Bispo de Macau, a 21 de Janeiro de 1976.
Dom Arquimínio continua a ocupar o seu pequeno quarto no Seminário,
O P. Tomás Bettencourt Cardoso, que teve o grande mérito de recolher, ao longo da sua estada na Diocese Macaense, como professor do Ensino Secundário, os textos de todos os Bispos açorianos que governaram aquela Diocese, durante o Século XX, escreve no que se refere a D. Arquimínio: “Padre - Bispo. Quando foi eleito, uma empregada do Seminário de S. José, passou a chamar-lhe Sanfou Chi Cau (Sanfou padre, Chi Cau –bispo)” .
É que ele não modificou em nada o seu modus vivendi. Continuou a residir no Seminário, aqui ao lado, num quarto modesto, como este em que me encontro. Em metros lineares,4 por 4.”
A propósito da promoção a Bispo de Macau, escreveu Dom José da Costa Nunes, já então cardeal da Santa Igreja :
A Diocese de Macau acaba de ser provida de Chefe na pessoa do Pe. Arquimínio. Acertadíssima nomeação. O nomeado não é do mesmo parecer. Deve estar aterrado com o sucedido, mas dentro de pouco conformar-se-á. Sem dúvida levará a efeito uma obra de valor, mas, possivelmente, ficará na História como último Prelado do Padroado do Oriente. -J. C. Nunes (23.01.1976)”
E ficou, de facto, na História.
Em 1983, vem de férias aos Açores e preside à Sagração da Igreja Matriz das Lajes do Pico. Depois volta a Macau.
Entretanto, em 10 de Junho de 1984, é agraciado com o grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência, pelo residente da República Portuguesa.
Em 13 de Setembro de 1986, a Universidade da Ásia Oriental de Macau confere-lhe o titulo de Doutor “Honoris Causa” em Filosofia; em 7 de Novembro de 1988 o Presidente da República Portuguesa condecora-o com o grau de Grã-Cruz da Ordem de Mérito.
A Santa Sé havia já aceitado o pedido de resignação do Senhor D. Arquimínio de Bispo de Macau, sendo substituído pelo bispo Coadjutor D. Domingos Lam.
D. Arquimínio Rodrigues da Costa regressa ao Pico, após a resignação, mas não deixa de voltar algumas vezes ao oriente a presidir a Conferências Episcopais, por solicitação e insistência dos Bispos respectivos.
Enquanto a saúde lhe permitiu, D. Arquimínio prestou as mais relevantes ajudas ao clero do Pico, confessando, pregando, celebrando e até servindo de organista quando o titular faltava. Por delegação do Bispo da Diocese administrou o crisma em diversas paróquias e por alguns anos.
Em Junho de 2012, a Assembleia Regional dos Açores atribui-lhe a Insígnia autonómica de reconhecimento. Nesse mesmo ano, no dia 6 de Agosto, Festa do Bom Jesus, é descerrado um busto, em sua homenagem, no adro da Igreja do Santuário um busto, oferecido pela Junta de Freguesia de São Mateus.
Mas, a doença chegou. Hoje é um enfermo, um santo enfermo, retido no leito da sua casa de São Mateus e entregue aos cuidados e carinhos familiares. Mesmo assim o clero do Pico não deixa de o visitar e assistir, e foi com sentimento e brilho que, no dia 6 celebrou com D. Arquimínio, os 65 anos de vida sacerdotal do notável e benemérito Homem do Pico e da Igreja.
Tive sempre por D. Arquimínio um respeito muito sincero e uma veneração muito elevada e sei e senti que ele me dispensava com muito carinho a sua benevolente amizade.
Justas, pois, as palavras respeitosas que aqui deixo a recordar uma vida tão operosa e benéfica como foi a do ilustre Bispo Picoense. Um Bispo de que o Pico muito se orgulha. O Última de uma geração que, durante o século XX, andou pelas terras do Oriente, em Macau, Timor, Goa: o Bispo Dom João Paulino de Azevedo e Castro, o Cardeal D. José da Costa Nunes, o Bispo Dom Jaime Garcia Goulart, o Patriarca Dom José Vieira Alvernaz, e o Bispo D. Arquimínio R. Costa, de facto o último, como vaticinou D. José da Costa Nunes.
Mas, durante o século passado, dois bispos micaelenses também andaram pelo oriente; o Bispo Dom Paulo Tavares, Bispo de Macau, onde faleceu, a 14 de Junho de 1973 e D. Manuel de Medeiros Guerreiro, primeiro Bispo de Miliapor e, depois, em Nampula - Moçambique, vindo a falecer à sua terra natal, a Lagoa.
_________

As notas biográficas aqui referidas foram recolhidas, com a devida vénia, do livro: Texos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa, Macau, 1999, coordenação do Pe. Tomás Bettencourt Cardoso,

Lajes do Pico, 6 de Outubro de 2914.

Ermelindo Ávila

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

ANO NOVO...

A MINHA NOTA



Dois meses mais e o ano de 2014 estará no fim. Há cem anos a Nação vivia períodos atribulados, provocados pela abolição da Monarquia, que vinha de quase oito séculos, e pelo periclitante sistema republicano implantado cinco anos antes.
O regime parlamentarista, então estabelecido, era instável. Os governos sucediam-se, constantemente, e as revoluções eram quase uma prática diária. O sistema financeiro atravessava períodos graves que, aliás, já vinham da Monarquia.
Em 18 de Agosto de 1911, era aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte, a nova Constituição que não evitou a instabilidade governativa e as escaramuças entre os partidos. E até, - pasmai!...- dentro dos próprios partidos!...
A Assembleia funcionava em contínuos sobressaltos e até em lutas agressivas entre os próprios deputados. Nem faltou o assassinato do Presidente da República Sidónio Pais, em 14 de Dezembro de 1918, e do qual Egas Moniz havia de dizer: “Homem cheio de virtudes e extraordinárias qualidades que um desvario messiânico perdeu”.
E foi nesta atribulada situação que surgiu a ditadura militar inteiramente entregue nas mãos dos militares, com um comando de baixo para cima, na expressão de um jornalista francês. (José Hermano Saraiva, in “HISTÓRIA concisa DE PORTUGAL”)
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Parece que o País voltou aos primeiros anos da República. Não há, felizmente, revoluções armadas mas as manifestações de rua são contínuas. Os governos, apoiados nos partidos vencedores, não conseguem manter a estabilidade normal de um sistema democrático que foi a esperança dos portugueses.
As reformas implantadas são desastrosas e só estabelecem o pânico e empobrecimento da Nação. Dá-se o encerramento de estabelecimentos comerciais e industriais. Encerram-se serviços. Cresce o custo de vida. Consequentemente, surge um desemprego assustador. A juventude mais afoita emigra para qualquer parte onde encontre trabalho. Aqui há dias, a comunicação social trouxe a público o caso de uma licenciada numa Universidade que trabalhava em serviço de limpeza por não encontrar outro meio de vida para prover o seu sustento !...
Encerram as escolas, por falta de frequência. Centralizam-se os serviços judiciais, daí resultando a situação anárquica em que se encontra a Justiça, a dar fé pelo que os noticiários diariamente nos informam... Fecham-se os serviços de saúde, obrigando os doentes a procurar alívios em estabelecimentos situados a dezenas ou centenas de quilómetros de distância. Além disso aumentam-se as taxas moderadoras e diminuem-se os reembolsos aos doentes. Encerram-se os bancos e provoca-se a bancarrota com o “desaparecimento” das economias familiares. De tudo resulta a confusão económica que só provoca a fome e a miséria.
Há “buracos” por toda a parte e o país não consegue encontrar solução para os seus múltiplos problemas financeiros, sociais e económicos que atrofiam a vida dos portugueses.
Aparece uma Troika que, não conhecendo embora o País, impõe ao governo medidas desastrosas e asfixiantes como garantia do financiamento para que Portugal pudesse saldar o deficit internacional. Uma situação dramática com reflexos perniciosos em todos os sectores das vidas pública e particular.
E é nesta situação dramática que Portugal vai entrar em 2015 !...

Lajes do Pico,
Outubro de 2014
Ermelindo Ávila