sexta-feira, 29 de junho de 2012

OS BODOS OU IMPÉRIOS



Terminaram os bodos. As Festas, ou os Impérios ou Bodos acabaram. E, como diz a nossa gente, para o ano há mais. Mas, realmente haverá? Para uns, talvez. Para outros...
E terminaram, igualmente, os jantares do Espírito Santo. Para certos mordomos não foi o que esperavam. O tempo esteve chuvoso em alguns
dias e por isso nem todos os convidados apareceram. várias mesas ficaram vazias. No sábado, no domingo do Espírito Santo e até no domingo da Trindade o tempo não ajudou. E foi pena, pois as sopas estavam deliciosas.
Pior nos arraiais das festas. Por estes lados, pois só esta zona conheço na realidade, havia certa tristeza. As ruas quase desertas, muito embora os automóveis estacionassem, calmamente, nas bermas das estradas e ruas com um ou mais ocupantes. E os impérios, que outrora eram lugares de encontro animado de amigos e conhecidos, quase não existiam.
Verdade que a população picoense está drasticamente a diminuir. A juventude anda lá por fora e outros acabaram por deixar a terra e fixar-se em lugares onde arranjaram colocações. É doloroso confrontarmos as estatísticas actuais com as de há cinquenta anos.
Curiosamente, o que mais encontramos pelas ruas são grupos ou casais de estrangeiros que aqui passam com demora de horas apenas, para verem os golfinhos e as baleias no seu habitat preferido, o Sul do Pico, onde abundam, para essas espécies, as comidas apropriadas.
Os bolos de véspera, os pães e as rosquilhas nunca faltaram nos Impérios do Pico. Parece que era, e é realmente, um milagre a sua multiplicação. No entanto, no ano presente, eles abundaram. E que óptimos eram!
No final do mês, a vila das Lajes do Pico celebra o seu Império, com a festividade de São Pedro. No concelho é o dia do feriado municipal o que permite a deslocação das populações do concelho para tomarem parte no Império, e levar para casa uma rosquilha. O resto da ilha, porque os dias são grandes, poderá vir depois do trabalho e também receberá uma relíquia do império de S. Pedro. Era assim que acontecia nos anos passados. No actual, que todos dizem ser um ano de aguda crise, o mesmo vai acontecer.
*
       Estamos em crise mas temos esperança de que tudo mudará. A História isso nos ensina. É preciso, porém estarmos atentos à evolução dos acontecimentos e precavidos para que não sejamos apanhados de surpresa.
Os cataclismos naturais, que vão acontecendo no mundo e cujas notícias tétricas nos chegam todos os dias, são avisos aos quais importa estarmos atentos. Em todos os tempos assim foi.
No ano de 1523 desenvolveu-se na ilha de S. Miguel uma desoladora peste, que ocasionou 2.000 vítimas e se comunicou ao Faial no mês de Julho. O Pânico foi geral em todas as ilhas e os povos aterrados recorreram a preces e orações e invocaram em especial o Espírito Santo, prometendo distribuir pelos pobres anualmente, pela festa do Pentecostes, as primícias de seus frutos, se escapassem do terrível flagelo que não comunicou ao Pico. – Instituíram-se irmandades em honra do Espírito Santo, celebrando-se em seu louvor bodos solenes, com folia e bailes, ao uso do tempo. – Tal foi a origem, no Faial e Pico, das populares festas do Espírito Santo, hoje de carácter regional...”
E o Historiador acrescenta: O primeiro bispo açoriano que consta ter proibido tais divertimentos foi D. frei Jorge, nas suas constituições de 1558, não consentindo nas igrejas jogos, toques de viola, guitarra ou flauta, bem como bailes e cânticos profanos.” (1)
Uma disciplina que, em parte, quase desapareceu. Os tempos são outros e não podemos voltar ao passado.
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1) F.S. Lacerda Machado, “História do Concelho das Lages”, 1936,

Vila das Lajes,
30-Maio.2012
Ermelindo Ávila
(Escrito de acordo com a ortografia antiga)

terça-feira, 26 de junho de 2012

A POLÍTCA DE HÁ UM SÉCULO


APONTAMENTO HISTÓRICO

           Era muito diferente a política exercida por estas paragens há anos passados.
          Trabalhavam-se os actos eleitorais. Pediam-se os votos de porta a porta e pela calada da noite, mas terminados eles a vida das pessoas voltava  à normalidade.
         Os partidos não eram muitos. No princípio da República apenas dois eram por partidos que por cá militava: os democráticos e os unionistas. E bastavam. O elemento feminino não tinha direito a voto, nem mesmo os analfabetos, que, aliás, representavam uma parte importante da população.
        Tudo se reduzia a um pequeno ou limitado número de eleitores. E eram esses que manobravam os destinos dos povos, principalmente das câmaras municipais, pois as juntas de freguesia ou de paróquia tinham atribuições limitadas.
        Os militantes políticos nada recebiam pelos cargos que exerciam. E isto durante muitos anos, até mesmo no chamado estado novo. Depois, tudo se modificou e hoje exercer um cargo político é ter a garantia de auferir proventos avantajados e invejáveis para a grande maioria  das pessoas, muitas das quais se vêm a braços com graves problemas financeiros, derivados dos parcos proventos que recebem e que estão sempre ameaçados de cortes. Pois são os chamados funcionários públicos que, recebendo seus proventos dos cofres do Estado, estão sujeitos aos cortes que vão  permitir  saldar os deficits do Estado, ninguém ,procura averiguar como foram contraídos…
         O quinzenário “As Lages”, cuja publicação se iniciou nesta vila em Fevereiro de 1914 e de que era Director, proprietário e editor, Gilberto Paulino de Castro, no seu número 103,de 15 de Abril de 1919, e sob o título “Comissão  Administrativa Municipal”, trás a seguinte notícia, que nos apraz aqui transcrever como documento histórico que é, decorridos que são quase cem anos:
 De acordo, os dois grupos políticos desta localidade, unionista e democrático, propuseram ao Exmº   Governador Civil deste distrito a nomeação da comissão municipal administrativa deste concelho, por alvará de s. Exª sancionada e assim constituída e representada: Presidente:- Manuel  Quaresma Melo, independente. Vogais: - Leonardo Xavier de Castro Amorim e Edmundo Machado Ávila, unionistas; José Francisco Pimentel e Manuel Vieira Cardoso, democráticos.  -  Cumprimentamos o sr.José Lopes da Silveira Gomes, digno representante do partido democrático deste concelho, pela seleccionada escolha que fez para a representação do mesmo partido na ad0ministração deste município. Desde a primeira e subsequentes sessões em que têm tomado parte, mostraram ou fizeram lhes mostrar o que devem ser e como devem proceder os filhos dilectos do querido pai Afonso!... A Cesar o que é de Cesar” .
            Conheci pessoalmente os indicados membros do executivo camarário. Todos eles pessoas de bem.
            O Presidente, Manuel Quaresma Melo, era comerciante e oficial de baleia. Duma simpatia extrema. Teve, no entanto, morte trágica. Ele, a Filha e o Genro e dois netos foram vitimas do surto de peste que atingiu esta vila, por volta de 1922. Além do Senhor Quaresma outros mais foram vítimas da terrível doença que só desapareceu com a construção do antigo campo de jogos, dali retirando o matagal de junco onde as pessoas, incautamente, faziam lixeira.
           Mas, voltamos à política de outras eras. Não era perfeita como jamais foi em tempo algum: separa as pessoas e as famílias; promove  encobertamente a vingança; não tem pejo, por vezes, em caluniar para vencer e alcandorar-se nos lugares cimeiros do mando. Governa os povos segundo os caprichos pessoais, ou do partido que serve, quantas vezes indo de encontro aos princípios básicos do bom censo, da seriedade e até do são convívio.
           Como me dizia alguém: a política é uma tristeza e uma lástima de que é vítima o Zé Povinho, tal como o definiu Bordalo Pinheiro.
Vila das Lajes,  30-Março-2011
Ermelindo Ávila.

segunda-feira, 18 de junho de 2012


MONSENHOR
JOSÉ DE LIMA AMARAL MENDONÇA

        No dia 1 de Junho corrente, celebrou suas Bodas de Diamante sacerdotais o Revmo e Ilmo. Monsenhor José de Lima Amaral de Mendonça, natural da freguesia das Bandeiras desta ilha. Nasceu a 5 de Setembro de 1928 e foi ordenado sacerdote na Sé de Angra, em 1 de Junho de 1952.
        A cidade de Angra, onde sempre tem exercido a sua actividade sacerdotal, com excepção dos escassos meses que, após a ordenação, esteve de Pároco coadjutor na Matriz da Madalena, prestou ao distinto Monsenhor uma condigna homenagem de respeito, admiração e elevada estima e apreço.
        Foi com muita alegria e elevado regozijo que acompanhei a notícia, embora breve, como já vem sendo habitual nestes casos, da TV - Açores.
        Bem merecido  que o distinto Monsenhor José de Lima, que, registe-se, nunca esquece a sua naturalidade, tivesse sido condignamente homenageado pelo muito que tem dado à cidade e aos Açores em geral, nos diversos cargos que há servido ao longo destes sessenta anos: Cónego, Presidente do Cabido e Deão, professor de Religião e Moral do Liceu e da Escola do Magistério Primário de Angra, professor e director espiritual do Seminário, Vigário Geral da Diocese e membro qualificado de diversas comissões diocesanas. Uma actividade permanente e profícua que ainda não cessou, apesar dos seus quase  oitenta e cinco anos vigorosos e jovens, (5 de Setembro de 1928), não fosse um autêntico Homem do Pico.
        As centenas de pessoas que tomaram parte no banquete de homenagem, cerca de meio milhar, todas elas quiseram manifestar ao Venerando Sacerdote a estima, o apreço, o respeito, o reconhecimento e a veneração que lhe prestavam e prestam, dado que a maioria dos presentes havia sido seu aluno.
        Vigário Geral da diocese, por nomeação do Prelado, em todas as Provisões se afirma que, consultado o clero, por maioria sempre se pronunciou pela nomeação de Monsenhor José Lima, uma prova clara e insofismável da estima e do respeito que lhe tributam os sacerdotes diocesanos. Mas não só. Como disse, os angrenses em geral, têm uma particular estima pelo sacerdote que adoptou a cidade como sua e os acompanha há tantos anos. Principalmente a juventude tem um especial carinho por Mons. José Lima, porque ele se dedicou, com entusiasmo e dedicação, à sua formação, não apenas durante os anos em que leccionou  no antigo Liceu de Angra, como posteriormente, pois a grande maioria jamais o esqueceu.
Múltiplas funções foram as que exerceu na administração da Diocese. Todas elas com a maior dedicação, entusiasmo e abnegado esforço.
E foi essa nobre e exaltante missão que os cerca de quinhentos convivas lhe quiseram agradecer no banquete que assinalou os sessenta anos de sacerdócio.
E termino esta minha saudação e singela homenagem, servindo-me das mesmas palavras que o Pe Francisco Dolores, seu antigo aluno, proferiu na saudação que dirigiu a Monsenhor José Lima – o Padre Lima – na magna “assembleia” do “Clube Musical Angrense”e que aqui transcrevo com a devida vénia: “Demos graças a Deus pelos Sessenta anos de Sacerdócio do Padre Lima e o privilégio de o termos conhecido,( ...) nas diversas circunstâncias deste Homem do Pico que muito honra a Família, a Terra que o viu nascer, os Açores que nunca abandonou e o Serviço prestado a esta Igreja diocesana, na sua dimensão vertical da ligação Homem - Deus e horizontal de abraçar a todos os homens numa mesma fraternidade de Filhos de Deus. Bem haja!
E recordando seu venerando Pai, Senhor Pedro Mendonça, com quem tive o prazer de conviver na minha passagem de funcionário administrativo pela vila da Madalena, aqui fica, nestas singelas e modestas palavras, o  meu abraço sincero e respeitoso de admiração e amizade.
Parabéns, Monsenhor José Lima, pelas suas Bodas de Diamante Sacerdotais e que o Senhor o conserve ad multos annos!
Vila das Lajes do Pico,
 Junho de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

O DIA DO CONCELHO


NOTAS DO MEU CANTINHO



          Nunca foi esclarecida a data da criação do concelho das Lajes, que abrangia, desde o início, toda a ilha do Pico. Creio mesmo que não será possível.
          O investigador jorgense Dr. João Teixeira Soares de Sousa escreve, numa nota publicada no “O Respigador” o seguinte esclarecimento: “É facto geral, e sem uma única excepção, a ignorância dos títulos diplomáticos da creação das villas, primitivas alçadas, ou sedes das capitanias. Taes são: Em Santa Maria, a villa do Porto; em S, Miguel, vila Franca do Campo; na Terceira, a Praia e Angra; na Graciosa, Santa Cruz; em S. Jorge, as Velas; no Fayal, a Horta; No Pico, as Lages; Nas Flores, Santa Cruz.
 No “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”, escrito por volta de 1660, e que só veio a ser publicado na totalidade em 1989, com erudito prefácio do Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, (não interessa agora recordar as bolandas porque o manuscrito andou) refere Frei Diogo das Chagas: (2)
          Não havia pollo tempo que se passou o primeiro mandato, até ao ano de 1504, pêra 1505, naquella Villa das Lagens, que era Prochia de toda a Ilha, (e muitos annos depois não ouve outra) mais de hum Juiz, e hum Vreador, e hum procurador do Concelho, e do(u)s ou tres homens bons, os coais em Câmara fa(z)ião as posturas e mais cousas que conuinhão para o bom governo da Ilha.
          E, se outros fossem os factos, Frei Diogo das Chagas não os teria esquecido, pois, no Prefácio referido, diz o seu Autor: “Contendo matéria em grande parte diferente, mas de incontestável interesse histórico, é o capítulo dedicado à ilha do Pico. Trata, é certo, como os respeitantes às demais ilhas, do descobrimento desta parcela açoriana, da descrição da mesma, das suas paróquias e ermidas, dos vigários, da população e de vários casos dignos de memória. No entanto insere documentos muitíssimo curiosos acerca dos primeiros cortes de arvoredos, dos jardins, dos vários artífices que houve na ilha nos primeiros tempos do povoamento, etc. Enfim, um acervo de interessantes notícias através das quais poderemos em certa medida, reconstituir a vida social picoense nos primeiros dois séculos de vida humana, nas regiões correspondentes às vilas das Lajes, de S. Roque e da Madalena.
          Frei Diogo das Chagas era irmão de sangue de Frei Mateus da Conceição, guardião do convento franciscano das Lajes. Andou pela Província franciscana em visita canónica e, naturalmente, deve ter-se demorado na vila das Lajes, algum tempo, tendo por isso tempo de copiar do arquivo municipal, que não seria muito, os documentos que transcreve na sua notável obra.    
 A propósito, Lacerda Machado refere: “Da elevação da antiga povoação ao foro de vila, não chegou até nós documento algum. Mas a data desse facto, que marca o início da organização municipal da ilha, sabe-se que é anterior a 1501. E refere o alvará passado em 14 de Maio de 1501, passado pelo 2º capitão donatário Joz de Utra, filho, a favor de Fernão Alvares, primeiro povoador da ilha, “pª dar licensa pª poderem ir aos matos tomar os gados brabos & buscar os mansos”.(3)
          E argumenta este Autor: “Ora, tendo as eleições lugar no verão, e sendo o citado alvará de Maio de 1501, conclui-se que a vereação que então servia fora eleita no verão de 1500, em consequência, presumivelmente, de documento régio, criando a vila, sede do primeiro município”.(4)
          Não terão os povoadores trazido consigo aqueles que iam governar o novo território? É natural que assim tenha acontecido pois o Infante ao organizar o povoamento das Ilhas, tudo deve ter providenciado. Veio o Pároco, vieram os animais, as alfaias agrícolas, as sementes. Naturalmente, vinham aqueles que administrariam os novos territórios: um Juiz, um Vereador, um procurador do concelho e dois ou três homens bons, embora subordinados a um capitão - donatário, que preferiu ficar pela Madeira... O caso de Fernão Alvares é um puro acidente. Não conheciam a enseada do Castelete e, com o levantar do mar, julgaram que uma tempestade se aproximava. Fugiram para só voltar no verão seguinte.
Entende-se que o Alvará de 14 de Maio de 1501 seja o primeiro documento oficial respeitante ao novo concelho. E assim sendo, porque não estabelecer essa data como dia do concelho?
____ ___________
  1) O Respigador, jornal jorgense, nº14 de 20/1/1889
  2) Frei Diogo das Chagas, “Espelho Cristalino...”, 1989, pag.509
  3)  F. S. Lacerda Machado, “História do Concelho as Lages”,1936, p.85
 4)  Ibidem

Vila das Lajes, Maio de 2012
Ermelindo Ávila.
(Escrito de acordo com a antiga ortografia)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O fundador de O DEVER


Junto do cabeçalho do jornal ainda se encontra o seu nome. E de lá não deve sair.
O Pe. João Vieira Xavier Madruga nasceu nas Lajes do Pico no dia 1 de Junho de 1883. Há precisamente 129 anos! Todavia a sua memória está sempre presente para aqueles que ainda o conheceram, pois veio a falecer na sua casa, nesta vila, em 1971, aos 88 anos de idade. Mesmo assim foi sempre um espírito brilhante e um escritor, mais do que jornalista, de enormes méritos. Conhecia como poucos a gramática portuguesa – foi professor de português no Seminário após a ordenação – e era portador de um vocabulário rico, apesar de a seu lado, na pequena escrevaninha, estar sempre o dicionário português. Um Mestre na arte de bem escrever, de que alguns foram alunos aproveitados.
O Dever, seu filho predilecto, “nasceu”, a 2 de Junho de 1917. Já então o seu fundador andava embrenhado nas lides jornalísticas, pois desde os bancos do seminário colaborava quase permanentemente no jornal de Angra, “Peregrino de Lourdes”, de Monsenhor António Maria Ferreira.
E O Dever aí está. Ocorre no próximo sábado o aniversário da sua fundação. Nada menos do que 95 anos. Quase um século. Sempre vigoroso e sempre actual. Demais os jornais não têm idade. Ou antes: têm a idade de quem os dirige. E porque dirigido actualmente por gente nova, ele aí está capaz de caminhar por muitos anos fora, para prestígio da Igreja da qual é um paladino intemerato, e da própria terra onde se instalou há 73 anos! (O Dever iniciou a publicação na Calheta de S. Jorge e, em 1938, foi transferido, por vontade expressa do Director e Proprietário, para esta vila, onde continua).
Em 7 de Janeiro de 1939 O Dever atingia o número 1.000 de publicação. No seu habitual “Meu cantinho” escrevia o P. Xavier Madruga: Mal imagina o leitor deste modesto semanário o que representa, para os que nesta casa labutam, como pedra marcante do caminho percorrido angustioso instrumento de trabalho, aquele número mil no alto do jornal! São mil semanas de” grilheta e trabalhos forçados. E depois: Mas se a imprensa tem obrigações para com o público, este também as tem para com ele. O jornal faz o leitor e o leitor faz o jornal. E ainda: Um milhar de números de “O Dever” quer dizer que, sob o signo bendito “Deus e Portugal” durante mil semanas arvorámos sem temor uma bandeira gloriosa, quisemos ser instrumentos fiéis de Ideias e Princípios Eternos, dissipando erros, e ajudando no possível a verdade a triunfar. E Deus sabe a sinceridade com que procurámos servi-Lo – servindo a Igreja e os interesses supremos de Portugal.
E que alegria não sentiria hoje o P. Xavier Madruga ao ver que o jornal que ele fundou com tanto entusiasmo e dedicação, atingia neste dia 4699 números publicados.
Mas o jornal não se deve quedar pelos louros alcançados, antes caminhar com o mesmo entusiasmo da primeira hora para o futuro, tendo sempre presente a defesa dos sãos princípios da Igreja a que pertence e que serve e da Terra onde se publica à qual, aliás, bastos serviços lhe vem prestando. Foram várias as campanhas que empreendeu – e nele se encontram arquivadas – e os triunfos alcançados. O Dever é um autêntico paladino dos direitos da Ilha e particularmente do concelho das Lajes. Nunca disso recebeu agradecimento público e bem o merece. É sempre tempo de se fazer justiça. Demais a sua colecção é um património rico de história que se espera seja salvaguardado.
E fico por aqui nesta modesta homenagem à saudosa memória do Fundador, P. Xavier Madruga, com quem orgulhosamente colaborei muitos anos, e com o qual muito aprendi, e a quantos lhe sucederam na direcção do jornal, não esquecendo as muito e distintas personalidades que colaboraram assiduamente em O Dever !

Vila das Lajes,
Maio de 2012.
Ermelindo Ávila
(Escrito de acordo com antiga ortografia)