Terminaram
os bodos. As Festas, ou os Impérios ou Bodos acabaram. E, como diz a
nossa gente, para o ano há mais. Mas, realmente haverá? Para uns,
talvez. Para outros...
E
terminaram, igualmente, os jantares do Espírito Santo. Para certos
mordomos não foi o que esperavam. O tempo esteve chuvoso em alguns
dias e por
isso nem todos os convidados apareceram. várias mesas ficaram
vazias. No sábado, no domingo do Espírito Santo e até no domingo
da Trindade o tempo não ajudou.
E foi pena, pois as sopas estavam deliciosas.
Pior
nos arraiais das festas. Por estes lados, pois só esta zona conheço
na realidade, havia certa tristeza.
As ruas quase desertas, muito embora os automóveis estacionassem,
calmamente, nas bermas das estradas e ruas com um ou mais ocupantes.
E os impérios, que outrora eram lugares de encontro animado de
amigos e conhecidos, quase não existiam.
Verdade que
a população picoense está drasticamente a diminuir. A juventude
anda lá por fora e
outros acabaram por deixar a terra e fixar-se em lugares onde
arranjaram colocações. É doloroso confrontarmos as estatísticas
actuais com as de há cinquenta anos.
Curiosamente,
o que mais encontramos pelas ruas são grupos ou casais de
estrangeiros que aqui passam com demora de horas apenas, para verem
os golfinhos e as baleias no seu habitat
preferido, o Sul do Pico, onde abundam, para
essas espécies, as comidas apropriadas.
Os bolos de
véspera, os pães e as rosquilhas nunca faltaram nos Impérios do
Pico. Parece que era, e é realmente, um milagre a sua multiplicação.
No entanto, no ano presente, eles abundaram. E que óptimos eram!
No final do
mês, a vila das Lajes do Pico celebra o seu
Império, com a festividade de São Pedro. No concelho é o dia do
feriado municipal o que permite a deslocação das populações do
concelho para tomarem parte no Império, e levar para casa uma
rosquilha. O resto da ilha, porque os dias
são grandes, poderá vir depois do trabalho e também receberá uma
relíquia do império de S. Pedro. Era assim que acontecia nos anos
passados. No actual, que todos dizem ser um ano de aguda crise, o
mesmo vai acontecer.
*
Estamos
em crise mas temos esperança de que tudo mudará. A História isso
nos ensina. É preciso, porém estarmos atentos à evolução dos
acontecimentos e precavidos para que não sejamos apanhados de
surpresa.
Os
cataclismos naturais, que vão acontecendo no mundo e cujas notícias
tétricas nos chegam todos os dias, são avisos aos quais importa
estarmos atentos. Em todos os tempos assim foi.
“No
ano de 1523 desenvolveu-se na ilha de S. Miguel uma desoladora peste,
que ocasionou 2.000 vítimas e se comunicou ao Faial no mês de
Julho. O Pânico foi geral em todas as ilhas e os povos aterrados
recorreram a preces e orações e invocaram em especial o Espírito
Santo, prometendo distribuir pelos pobres anualmente, pela festa do
Pentecostes, as primícias de seus frutos, se escapassem do terrível
flagelo que não comunicou ao Pico. – Instituíram-se irmandades em
honra do Espírito Santo, celebrando-se em seu louvor bodos solenes,
com folia e bailes, ao uso do tempo. – Tal foi a origem, no Faial e
Pico, das populares festas do Espírito Santo, hoje de carácter
regional...”
E
o Historiador acrescenta: O primeiro bispo
açoriano que consta ter proibido tais divertimentos foi D. frei
Jorge, nas suas constituições de 1558, não consentindo nas igrejas
jogos, toques de viola, guitarra ou flauta, bem como bailes e
cânticos profanos.” (1)
Uma
disciplina que, em parte, quase desapareceu. Os tempos são outros e
não podemos voltar ao passado.
_________________
1)
F.S. Lacerda Machado, “História do Concelho das Lages”, 1936,
Vila das
Lajes,
30-Maio.2012
Ermelindo
Ávila
(Escrito
de acordo com a ortografia antiga)
Sem comentários:
Enviar um comentário