domingo, 28 de dezembro de 2008

Crónica sem título

Acontece às vezes...
Nem sempre é fácil encontrar um título que resuma o texto daquilo que se escreve, e aquele que se utiliza geralmente a isso não corresponde com a clareza necessária.

Vamos escrever hoje uma crónica daquelas que o título não aparece. E que crónica?

Os assuntos, umas vezes abundam outras escasseiam e deixam de ter interesse para o leitor.

Não que o tempo que decorre não abunde em assuntos variados mas fica a dúvida da escolha...

Quem escreve é que sabe a dificuldade que encontra quando “lança a mão à pena...” Mas isso era antigamente...Hoje é colocar as mãos sobre o teclado do computador, já não da máquina de escrever, e deixar correr... Pois que seja.

A propósito daquele “lança a mão à pena”, veio-me à lembrança a “Carta para longe” de Armando Cortes-Rodrigues. Actualmente já não se escrevem cartas para as Américas e quase para parte nenhuma. Até as de negócios foram substituídas pela Internet..

No entanto vale a pena lembrar o que escreveu o Poeta :


Maria manda dizer/

o que por tens passado

Triste velhice de quem

Não tem os seus a seu lado.


Não te esqueças de teu pai

lembra-te sempre de mim

Adeus...adeus...que as saudades

Só à vista terão fim!”


Triste velhice de quem

não tem os seus a seu lado!


E quantos partiram para não mais voltarem... Viveram envoltos numa saudade permanente, recordando “o craveiro do balcão” ou a figueira do quintal...

A saudade era tamanha que nem a língua da nova pátria quiseram aprender. A terra pequena e humilde estava sempre presente. Recordavam os feitos de criança, os irmãos e os pais com uma saudade amarga. Aos filhos ensinaram a língua materna para que, em casa, só esse idioma se falasse... E nunca puderam voltar às pedras negras do cantinho natal...

Por cá os pais viveram, e partiram para sempre, embalados na esperança de um dia eles regressarem, porque


Depois que daqui saíste

Nunca mais houve alegria,

Que do céu da nossa vida

Veio a noite e foi-se o dia”.


Tantos que partiram para a terra ficar mais pobre de gente. E essa gente que ficou foi envelhecendo, sempre a olhar para o horizonte, na esperança de um dia o barco voltar ao porto e trazer o seu Manuel, rico e bem trajado, a espalhar alegria e lembranças aos que deixara num dia longínquo. Mas isso raro aconteceu. O Manuel não mais voltou... Todavia ,


A tua cadeira baixa

Lá está (ainda) junto à janela

Como quem ainda espera

Que te venhas sentar nela.”


Muitas crónicas semelhantes se podiam escrever, sobre tantos e tantos que partiram um dia, e foram enriquecer, com o seu trabalho duro, de escravo, as terras da Diáspora. E nunca mais voltaram... E os pais foram envelhecendo, sempre na esperança de um encontro que não se realizou!....

E o Poeta continuou a registar a :


Saudade é como o luar

Que só de noite é que brilha... “


É simples mas repleta de encanto a prece final:


A bênção de Deus te cubra

Com amor, paz e saúde

E lembra-te que a riqueza

Verdadeira é a virtude.”


A crónica acabou. “Até à vista...”


Vila das Lajes,5 de Dezembro de 2008.

Ermelindo Ávila

sábado, 20 de dezembro de 2008

Notas do meu cantinho - O NATAL EM CASA

O Natal está em casa. Mas como era diferente o Natal da minha distante juventude. Simples, modesto, mas não deixava de nos trazer uma alegria sã e comunicativa.

E a 13 de Dezembro era o dia em que normalmente principiava o Natal, com o preparar dos pratinhos ou taças e a colocação neles do trigo a grelar, para estar crescido e viçoso quando se “armava” o altarzinho do Menino Jesus. Começava também a retirar das gavetas ou arcas as toalhas e, dos oratórios, as imagens do Menino para preparar, na véspera do grande dia, o seu trono. um pequeno altar. com dois ou três degraus, feitos de caixas de madeira ou cartão rijo, e coberto com lençol ou toalha branca.

Na Matriz, já noite, iluminada com candeeiros de petróleo e, mais tarde com petromax, principiava no dia 16 –nove dias antes – a devoção da Novena preparatória para a grande Noite. Anos antes, mas ainda no princípio do século vinte, a novena tinha lugar antes de amanhecer, o que obrigava as pessoas a caminhar com os lampiões de velas a alumiar o caminho. Os homens iam preparados, com suas alfaias para dali seguirem para os trabalhos de campo. Bem poucos dispensavam a Novena do Menino Jesus, e a Missa que se celebrava. A Capela lá estava também para executar os cânticos e antífonas próprias da Liturgia daqueles dias.

Depois passou a novena para a noite. Mesmo assim e embora não se houvesse Missa – ainda não havia acontecido o Vaticano II – a Novena era celebrada com a maior solenidade: Veni Santo Spíritus, Oração preparatória, Ladainha de Nossa Senhora, Tota Pulcra es Maria, e Cântico final Ó Infante Suavíssimo... Terminada a novena lá regressavam, novos e velhos, a suas casas para, no dia seguinte, voltarem.

No último dia, a Novena era incorporada nas Matinas cantadas. Uma partitura antiga, quase de música clássica, executada pela Capela e acompanhada a Órgão. A Igreja ficava completamente cheia de fieis que assistiam a todos os actos com o maior respeito e devoção.

(Na Noite de Natal, para evitar qualquer desacato provocado por algum que teria fumos da ceia pantagruélica da noite anterior, - a noite da Calhandra - o Regedor levava em sua companhia dois ou três “cabos de polícia” que dispersava pelo templo. Velhas tradições que cedo acabaram... Actualmente quem fica pelas ceias não vai às novenas...).

A miudagem havia sido deitada ao anoitecer para se levantar a tempo de ir com os pais e mais familiares às Matinas e Missa da Meia Noite. Mas todos iam dispersos e alegres, na esperança de, ao regressar, a casa encontrarem, alguma prenda do Menino Jesus. E bem poucas que eram...

Pela Meia-Noite dava-se início à “Missa do Galo”, cantada pela Capela. Solene e emocionante o Cântico do Glória in excelsis Deo entoado pelo celebrante. As campainhas e os sinos tocavam festivamente, crianças, no coro e no coreto, espalhavam flores pelos assistentes e a capela dava, depois, início à execução de uma partitura de autor célebre.

No final cumprimentava-se, na sacristia, em primeiro lugar o Celebrante e depois as pessoas em redor. E voltava-se a casa com a alma cheia de alegria, e um bem estar confortante.

Os mais novos corriam para descobrir aquilo que o Menino Jesus lhes havia trazido enquanto haviam decorrido as cerimónias na Igreja. E contentes e alegres ficavam quando descobriam qualquer coisa: uns rebuçados, figos passados, um brinquedo, feito artesanalmente pelos pais, durante os dias anteriores, mas sempre de maneira reservada para que não fossem vistos ou descobertos...

Mas que lindo era o Natal daqueles tempos!...

Hoje é tão diferente!


Vila das Lajes, 13 –Dezº - 2008

Ermelindo Ávila

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Natal era assim...

Chegado o mês de Dezembro, todos, novos e velhos, se preparam para celebrar o Natal. Pelas ruas e praças do burgo já há sinais festivos da época que está em casa. Aqui e ali, lâmpadas multicolores embelezam as fachadas dos edifícios públicos e de alguns particulares. Os pinheirinhos já se vão colocando na sala principal e adornando com flores, lâmpadas e outros adornos.

Todos se preparam para o grande Dia. Uns com maior esplendor outros com modestos adereços, já vindos de anos passados.

Hoje, dia 13, dia de Santa Luzia, como é velha tradição, na maioria das casas são colocados em pequenas taças de vidro, os grão de trigo a grelar, afim de estarem despontados e viçosos no dia do Natal. Com eles vai ser enfeitado o pequeno altar, à maneira de trono, armado com caixas e coberto de bonitas toalhas brancas ou de um simples lençol, onde será entronizada a pequena imagem do Menino, uma preciosa relíquia já vinda dos tempos dos avós.

O altar era, em tempos não muito recuados, a preocupação principal. Camélias do jardim, laranjas “americanas” do pomar, os pratinhos de trigo a recordar as antigas searas – agora usa-se o milho em sua substituição - tudo servia para tornar o pequeno trono um mimo de graça, de frescura e encanto, em louvor do Menino.

Nos anos trinta chegou dos Estados Unidos o pinheiro que hoje todos colocam nas suas casas e enfeitam com lampadas eléctricas de variegadas cores, e fitas e adereços coloridos, e, aqui e ali, pequenas imagens do novo “São Nicolau”. Mas, mesmo assim, ainda poucos são os que dispensam o antigo presépio ou altarzinho.

De recordar igualmente as Novenas do Natal, aquelas de que me lembro com alguma saudade, realizadas ao princípio da noite, quando não havia luz eléctrica a iluminar os caminhos.

As famílias – novos e velhos, vinham aos grupos, de perto e de longe, trazendo um lampião a petróleo ou vela – depois vieram os petromax - a iluminar os caminhos do percurso. A Igreja também era iluminada a petróleo.

Aquele crepúsculo dava uma certa interioridade mística, e as músicas ainda em latim, sempre iguais mas sempre belas, eram escutadas com enlevo.

E já não falo na Noite do Natal, com o templo melhor iluminado e os cânticos executados pela Capela, a despertar os mais sonolentos. Que bons , esses tempos idos!
(crónica lida no dia 13-12-08, no Programa manhã de Sábado da RDP-Açores)

domingo, 14 de dezembro de 2008

A AVIAÇÃO QUE NOS SERVE - 2

Importa lembrar o que foi a construção da pista da Ilha do Pico. O valoroso empreendimento também tem a sua pequena história que aqui registo, muito singelamente, mas com a verdade toda.
De longa data vinha-se falando numa pista para o Pico. A ilha oferecia zonas especiais que poderiam ser satisfatoriamente aproveitadas, se não fosse a contestação permanente que se fazia para que os picoenses não dispusessem de uma pista moderna e capaz de servir a sua população. Certo é que foi escolhida a zona de Santa Luzia. O projecto foi elaborado, somente em planta, e andou pelas Câmaras Municipais da Ilha.
Entretanto, na década de sessenta do século passado, os Presidentes dos Municípios açorianos foram a Fátima, tomando parte numa peregrinação nacional. Ao regressar, os autarcas do ex-distrito da Horta, acompanhados do Governador, em visita de cortesia, foram cumprimentar o Presidente do Conselho. Ao ser apresentado o de São Roque do Pico, Salazar felicita-o porque ia ter o campo de aviação. Interveio, imediatamente, o Governador para informar o Presidente que o campo era na Ilha do Faial. E assim aconteceu.
A inauguração do Aeroporto da Horta realizou-se a 24 de Agosto de 1971. Para o inaugurar deslocou-se ao Faial o Presidente da República, Almirante Américo Tomaz. A Horta não dispunha de hotéis e o almoço foi servido ao Presidente, comitiva e numerosos convidados, na Estalagem de Santa Cruz (antigo castelo de Santa Cruz).
Todavia, os Presidentes dos Municípios picoenses não se aquietaram. Aproveitando o projecto elaborado para o Pico, dirigiram uma petição ao Ministro respectivo solicitando a aprovação do projecto e pedindo para que fossem as Câmaras Municipais autorizadas a proceder à construção da pista. Estava em Lisboa o Governador que, ao tomar conhecimento da atitude dos Presidentes pensou em demiti-los. Mas ficou por aí. Cerca de um ano decorrido, recebiam os Municípios peticionários a cópia do parecer dos Serviços da Aeronáutica e a solicitada autorização para a construção da pista, sem encargos para o Estado. Mas os presidentes peticionários já tinham sido substituídos por haverem terminado o mandato e tudo ficou como dantes...
Entretanto, veio a Revolução Nacional. Para o Pico foi destacada uma força de sargento. O respectivo comandante, no intuito de dar ocupação “aos seus homens”, procurou descobrir uma obra de interesse público em que os pudesse ocupar. Numa das reuniões militares, expôs o seu plano e, por indicação de um dos Militares presentes, natural desta Ilha, ficou resolvido iniciar as terraplanagens para a construção de uma pista, nos campos de Santa Luzia, aproveitando-se o projecto existente . A obra começou com a colaboração dos Serviços Florestais instalados na Ilha. Com certa lentidão os trabalhos foram prosseguindo até que o Governo Regional, então formado, chamou a si o empreendimento. O aeroporto (depois classificaram-no de aeródromo) acabou por ser inaugurado ,com pompa e circunstância, no dia 25 de Abril de 1982. Quase vinte anos depois!...
Mas a pista inaugurada não era aquela de que necessitava e reclamava a ilha. Importava ampliá-la e dar-lhe as infra-estruturas indispensáveis. Decorreram outros vinte anos para que o Governo Regional resolvesse ampliar, em comprimento e largura, a pista do Pico.
Construiu-se nova aerogare, ampla e funcional, mas ainda não se instalaram os depósitos para o fornecimento de combustível às aeronaves...
Depois de muito insistir e reclamar, apareceu um dia o avião da TAP a aterrar no aeroporto do Pico para, semanalmente, fazer uma paragem no Pico, no voo normal para a Terceira. Mas não basta. Muito se reclama, mas nada se consegue. O Pico continua a dispôr somente de um toque semanal...
As férias do Natal estão a chegar. Ao contrário de antigamente, os estudantes que frequentam as Universidades vêm habitualmente passar essa quadra festiva com as famílias. Raros são os que conseguem vir ou regressar directamente de Lisboa para o Pico ou vice-versa. Habitualmente, têm de viajar para o Faial porque a TAP, naquela época, aumentou de doze voos extraordinários as viagens parta Castelo Branco, deixando o Pico apenas com o toque normal.
E pergunta-se: Porquê esta descriminação? As últimas estatísticas publicadas na Imprensa regional informavam que setenta e tal estudantes do Pico frequentavam cursos superiores enquanto a Ilha vizinha tinha cinquenta e tal. E aqueles passageiros do Pico que se vêm forçados a viajar pelo Faial, porque as reservas do avião que sai do Pico andam sempre ocupadas? E quantas serão?
Afinal, o avião não vem para o Pico em escala directa. Passa no Pico em viagem para a Terceira e dali segue para Lisboa. Não será naquela Ilha que as reservas são ocupadas?
Alguém já teve o cuidado de fazer a estatística (hoje a estatística é que é base de todos os estudos e soluções...) dos passageiros do Pico que são obrigados a tomar o avião no aeroporto de Castelo Branco, porque, ou não há avião, ou as reservas estão antecipadamente ocupadas ?
Mas há ainda outra anomalia a registar: Se o aeroporto do Pico não está praticável, os passageiros ou ficam no Faial ou vão para a Terceira. Se o contrário acontece, o avião desconhece o aeroporto do Pico e segue a outra rota. O aeroporto do Pico nunca é alternativa.
O delegado da TAP no Faial – creio que é o mesmo que superintende nos serviços da TAP no Pico – desconhece estes factos? Se deles sabe porque não dá conhecimento à respectiva administração?
Neste sector como em outros mais não há bairrismos doentios nem separatistas. Há somente a realidade dos factos e a constatação de um desprezo que chega a ser vexatório.
E, já agora: Não há bairrismo em São Jorge, na Terceira, ou São Miguel ou nas Flores? Valha-nos Deus...
Porque são votados os picoenses a esta situação humilhante ?
Analisem - se desapaixonadamente os factos e veja-se de que lado está a razão.
Os picoenses, (das albarcas quase desaparecidas) são tão dignos e têm os mesmos direitos que os outros ilhéus - açorianos.
Desculpe o leitor o desabafo, mas há verdades que têm de ser ditas...

Vila das Lajes,
26 de Nov. De 2008
Ermelindo Ávila

domingo, 7 de dezembro de 2008

Poetas do Pico

Uma nova manhã de sábado surge nas manhãs da nossa vida. E Elas são sempre esperadas com grande ansiedade. Despertamos para um dia novo, onde não faltam as surpresas. Elas aparecem quando menos as esperamos. Mas importa estarmos sempre preparados para as receber. São os ventos que sopram, sem que a Meteorologia os anuncie. São as chuvas e os frios que aparecem mais cedo do que o habitual. São as tempestades que assolam o mundo, aqui e ali deixando a morte, a fome, o frio... São as desgraças e calamidades. É a destruição dos bens materiais e a morte de inofensivas pessoas. São os problemas internos que, por vezes, quantas !, nos atormentam.
Todavia nem tudo são tristezas, angústias e penares. Há também alegrias e esperanças, que uma manhã diferente nos anuncia com o raiar esplendoroso do sol nascente. E como sabe bem, consola a alma e o espírito, nesses dias, quase primaveris, olhar a nossa montanha, límpida, imponente, onde os primeiros raios do sol se reflectem , numa beleza ímpar, plena de encanto e magia. Mesmo que seja a estação invernosa porque a Montanha, como disse um Poeta nosso , Doutor José Enes - : o Pico é a
Montanha do meu segredo,
Montanha do meu destino:
Montanha da minha dor;
Montanha do meu chorar;
Da minha louca ambição;
Montanha da minha sorte;.
Ilha de poetas. Abundam as produções literárias do género. E se esses aqui não nasceram que, tão inspiradamente, souberam enaltecer a ilha em versos delicados, pela ilha se enamoraram, e, até, quantos aqui ficaram!
Ilha Maior”, a cognominou o malogrado poeta Almeida Firmino que, nascido em terras alentejanas, no Pico veio terminar uma vida curta, com uma alma repleta de Poesia, deixando uma obra de inestimável valor.
Roberto de Mesquita, consagrado poeta florentino, aqui principiou sua vida profissional, e, talvez no isolamento da ilha, por cá nascesse a verve da sua inspiração poética, fazendo dele um dos maiores Poetas portugueses.
E que dizer de Josefina Canto e Castro? Uma poetisa que, quer em prosa quer em verso, tinha palavras belas quando referia o Pico, a ilha do seu encantamento?!
Amélia Ernestina de Avelar, nasceu na Vila da Madalena em l de Maio de 1949 e faleceu em Angra em 1887, apenas com 38 anos.
Ensaios Poéticos, que a neta Maria Avelar Medeiros Leonardo publicou em 1949, (62 anos após o falecimento da Poetisa) é o seu livro de poesia. Vale a pena escutar algumas passagens do poema Meu Pico:
Pico, meu Pico, eis-te agora
como eu gosto de te ver,
a fronte dominadora
sem tristes véus a erguer
........................................
Ó Pico, assim imponente,
que graça tens a ostentar,
quando a luz do sol poente
vem tua fronte dourar!...
...........................................
Quando a madrugada apenas
principia a alvorecer,
entre jasmins e açucenas
gosto tanto de o entrever...
............................................
No prefácio destes “Ensaios Poéticos”, escreveu outro festejado Poeta faialense, Osório Goularte, e cito: No livro desta Poetisa há um poema consagrado à sua pequena pátria – O MEU PICO – em que ela descreve os vários aspectos daquela montanha com indicações barométricas de estado atmosférico, pois muitas vezes: “Profectiza o temporal, - a guerra dos elementos, - a fúria solta dos ventos”.
E, referindo-se à poetisa, diz ainda Osório Goulart: “Amélia Ernestina Avelar viveu na época da literatura romântica e, por isso, todos os seus poemas têm a feição sentimental, mas como foi, na sua época, uma Poetisa de merecimento, é louvável a intenção dos seus descendentes, prestando-lhe homenagem nesta data comemorativa e recordando uma étape da evolução da Poesia Portuguesa."
Outros Poetas houve que mereceriam ser lembrados. Mas hoje fico por aqui.
BOM DIA!
(crónica lida em Manhãs de Sábado, da RDP-Açores)
Vila das Lajes, 1-Dezº-2008
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A AVIAÇÃO QUE NOS SERVE - 1

Há quase oitenta anos – 13 de Maio de 1927 – o aviador italiano, Pinedo portou à Horta, vindo de New York, no hidroavião Santa Maria. Foi um acontecimento notável que serviu de ensaio a outros pilotos aviadores que se seguiram. No entanto vale recordar que, antes de partir da América, Pinedo avisou para estarem preparadas as baÍas da Horta e, em alternativa, a baÍa das Lajes do Pico, pois eram as únicas que reuniam condições para uma amerissagem segura.
Depois foi o Junkers alemão. Mas outras experiências se seguiram. Em 1933, é a vez da esquadrilha do italiano Italo Balbo, composta de 24 hidros, nove dos quais amerissaram no porto da Horta, seguindo os restantes para Ponta Delgada, onde um deles se perdeu, morrendo o respectivo piloto. (Uma revista ilustrada, da época, chegou a dar o desastre como acontecido na baia da Horta...)
De recordar Lindbergh, com a esposa, viajando no Lockheed Sirius (diziam que era, ao que constou, um jipe anfíbio) e que chegou à Horta em 21 de Novembro de 1933. Pertencia à companhia Pan American, que viria a estabelecer carreiras regulares com os famosos Clipper’s, desde 1939, entre New York e Horta - Lisboa e as mantiveram durante a Segunda Guerra Mundial. Na Horta estabeleceram uma estação de serviço que ali se manteve enquanto os hidros Clipper’s navegaram. Quando passaram a utilizar os aviões terrestres, construíram uma pista em Santa Maria, para onde transferiram os serviços de apoio.
Os Clipper’s fizeram história no porto da Horta. As viagens eram regulares para Lisboa, se o tempo permitia. (1)
Ao contrário do que, posteriormente, veio a suceder, os açorianos que desejavam viajar, via aérea, para Lisboa, tinham de deslocar-se à Horta, para tomar o Clipper, na sua viagem semanal.
Estava-se em plena Guerra Mundial. Chegou a Portugal a notícia de que Hitler pretendia tomar Lisboa. Imediatamente o Governo resolveu transferir-se para os Açores. O primeiro a vir foi o Presidente da República, Óscar Carmona. Mas, para dar ao acontecimento um aspecto natural, resolveram que os Governadores Civis se deslocassem a Lisboa a formalizar o convite para uma “visita” às Ilhas Açorianas. Os Governadores de Ponta Delgada e Angra viajaram até à Horta, numa viagem directa do antigo iate-motor “Ribeirense” e ali tomaram o hidro que os levou à Capital.
Feito o convite, que foi aceite, naturalmente, o Presidente, com a esposa, uma filha e marido, este ajudante de campo do Presidente, e um neto, seu secretário, embarcaram no Carvalho Araújo, com os Ministros da Marinha e do Interior.
O itinerário da Visita Presidencial previa o desembarque na Madalena, donde o Presidente e Comitiva seguiria, depois, para a Horta. O Presidente da Câmara, Manuel Cristiano de Sousa e Simas, esmerara-se para que a Vila apresentasse um aspecto festivo e condigno. Nomeou comissões que tomaram a seu cargo a decoração da Vila. E recordo até que, no largo, existia um poço para abastecimento público. Francisco Machado Joaquim tomou a seu cargo a “construção” de um cesto florido em cima do bocal, onde um grupo de donzelas, trajando roupas regionais, enviava flores à passagem do cortejo. O Presidente apreciou e dirigiu-lhes palavras de gentil cortesia. Um arco triunfal foi erguido à entrada do largo. Tudo metodicamente preparado. Até os Paços do Concelho haviam sido excelentemente decorados com ricas mobílias orientais. Mas, o imprevisto aconteceu.
Soube-se que o Presidente condecorava o Presidente da Câmara que o recebia. Daí o alterar o itinerário da visita... E Carmona foi desembarcar no Cais do Pico, que à pressa se preparou durante a véspera e noite. Ali foi condecorado o Presidente Celestino Freitas.
Por terra, veio o General Carmona para a Madalena, afim de embarcar para a Horta. O Comandante da Legião Portuguesa, Capitão João Costa, que estava de mal com o Governador, o Capitão Moreira de Carvalho, trouxe da Horta para a Madalena o corpo de legionários e postou-o junto dos Paços do Concelho. À Chegada do Presidente ao Cais de embarque, informou-o de que a guarda de honra estava em frente à Câmara Municipal. O Chefe do Protocolo interveio logo dizendo que não era protocolar o Presidente deslocar-se ao local mas o General Carmona respondeu que iria, e foi. Passou revista ao Batalhão legionário e, depois, o Comandante João Costa convidou-o a entrar nos Paços do Concelho, ao que, novamente, se opôs o Protocolo. Carmona aceitou o convite e subiu até ao Gabinete onde lhe foram entregues e à comitiva, as ofertas previamente preparadas. Só não houve condecoração do Presidente do Município...
A seguir o Presidente tomou lugar na tribuna, que foi levantada a meio do Largo, para assistir à passagem do cortejo de rosquilhas do Espírito Santo e depois encaminhou-se para o Cais para embarcar.
Mas a história não fica por aqui. O resto virá depois.
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1) Neste escrito servi-me, com a devida vénia, de “Apontamentos para a História da Aviação nos Açores”, por Carlos Ramos da Silveira e Fernando Faria – 1985.
Vila das Lajes, 25-XI-08 Ermelindo Ávila