segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

OS SACERDOTES DA SILVEIRA

NOTAS DO MEU CANTINHO


Não deixa de ser notável o número de sacerdotes ordenados no século passado, pertencentes ao antigo curato da Silveira, sufragânio da Matriz da SS. Trindade das Lajes do Pico, e presentemente paróquia independente de S. Bartolomeu.
Vale a pena recordá-los porque alguns deles foram figuras marcantes quer da Igreja quer da actividade cultural.
Conheci-os quase todos e com a maioria tive relações de amizade que muito me honraram. De todos eles apenas se encontram ainda vivos os Padres Tomás Bettencourt Cardoso e José Carlos Vieira Simplício, infelizmente, ambos fora do activo e sofrendo de graves enfermidades.
I - Que se saiba, o primeiro sacerdote natural da Silveira foi o Pe. Jerónimo Brum da Silveira que ali nasceu, em 20 de Janeiro de 1842. O pai era natural de Santa Bárbara das Ribeiras. Iniciou o seu curso de Teologia aos 36 anos, depois de habilitar-se, em particular, nos estudos preparatórios. Foi capelão da Sé e, depois de várias colocações, veio a ser colocado como cura capelão da Silveira, em 29 de Outubro de 1895, onde faleceu a 25 de Março 1905. Sucedeu-lhe o Pe. Manuel Vieira Feliciano, natural desta vila.
II - O Pe. Filipe José Madruga nasceu na Silveira, em 1876. Foi colocado nas Flores, após a ordenação, ali passou a Vigário e ouvidor das Lajes, daquela ilha, em 1904, falecendo na cidade de Ponta Delgada, onde fora submeter-se a uma operação cirúrgica, aos 49 anos de idade, em 7 de Junho de 1926.
III – O Pe. António Cardoso Machado nasceu na Silveira. Após a ordenação foi colocado na Ilha Graciosa, onde permaneceu até cerca de 1930, passando depois para pároco de Doze Ribeiras, na Ilha Terceira, onde veio a falecer decorridos vários anos.
IV - Os P.es Ávila, dois irmãos, também nasceram na Silveira.
O Pe. Manuel Silveira de Ávila, em 8 de Setembro de 1893. Disse Missa Nova na Silveira, a 22 de Junho de 1919. Foi pároco de Castelo Branco, no Faial, e chancelar da Cúria Diocesana de Angra. Faleceu em Lisboa, onde passou a residir com o irmão, em 20 de Julho de 1979. Contava, portanto, 86 anos. Nos últimos tempos estava acamado.
V - O irmão, Pe. José Silveira de Ávila, nasceu também na Silveira, em 9 de Outubro de 1895. Depois de frequentar o Seminário de Angra, celebrou a Missa Nova , em 4 de Julho de 1920, em S. Bartolomeu da Silveira e a seguir foi colocado como Prefeito do Seminário e Professor de Música. Organizou o Orfeão de Angra, que teve grande êxito nas suas actuações em Angra e em Ponta Delgada. Em Angra, fundou os Escuteiros católicos e foi também professor de Música do Liceu. Depois transferiu-se para Lisboa e foi professor de Música no Liceu Camões. Faleceu na freguesia de N.ª Senhora de Fátima, em 4 de Dezembro de 1977.
VI – O Doutor José Enes Pereira Cardoso nasceu na Silveira, donde era natural o Pai, em 18 de Agosto de 1922. Ali fez a instrução primária e depois ingressou no Seminário de Angra, onde sempre se revelou aluno distinto. Terminado o curso de Teologia foi para Roma frequentar a Universidade Gregoriana, licenciando-se em Filosofia e Teologia. Mais tarde doutorou-se em Filosofia naquela Universidade. No Seminário de Angra foi Prefeito, professor e Reitor. A ele se ficou a dever a realização das célebres “Semanas de Estudo”, que se realizaram em Angra, Ponta Delgada e Horta. Quando se realizava a III Semana fez as despedidas e seguiu para Lisboa para professor de Filosofia da Universidade Católica. Em 1972 foi para a Angola leccionar na respectiva Universidade. Com a descolonização voltou aos Açores e foi então um dos fundadores do Instituto Universitário, mais tarde Universidade dos Açores, de que foi Reitor.
Voltou a Lisboa onde prosseguiu a carreira como professor universitário, ali se reformando.
Tinha as seguintes condecorações: Oficial da Ordem do Infante (1964), e Grande Oficial da Ordem de Instrução Pública (1983); Cidadão Honorário de Ponta Delgada, em 1992 e das Lajes do Pico, em 1999. Tinha diversos livros publicados de natureza científica. Faleceu em 2013.

VII - Pe. João Silveira Domingos
Aquando do falecimento, escreveu um seu biógrafo: Pela sua piedade e modestia foi sacerdote estimado em toda a ilha do Pico, nomeadamente nos locais onde desenvolveu modelar acção pastoral.
O P. João Domingos nasceu na Silveira, em 12 de Junho de 1912 e faleceu na Ribeirinha, onde paroquiava, em 8 de Março de 1975. Depois de frequentar o Seminário de Angra foi ordenado sacerdote, em 12 de Junho de 1938, precisamente no dia do seu aniversário natalício e a seguir foi colocado como vigário-coadjutor de São Mateus, desta ilha. Em 1953, é transferido para a Matriz da Madalena e, em 30 de Junho de 1954, é nomeado pároco da Ribeirinha, onde veio a falecer. Naquela paróquia desenvolveu grande actividade sacerdotal e ainda hoje é recordado com saudade. Junto da Igreja foi levantado o seu busto em bronze.
VIII – Padre António Filipe Madruga. Nasceu na Silveira, em 23 de Setembro de 1922. Foi ordenado sacerdote, na Sé de Angra, em 23 de Junho de 1946, sendo, a seguir, nomeado vigário-cooperador da Matriz das Lajes. Aqui se conservou, após o falecimento do Padre Ouvidor José Vieira Soares, até à sua nomeação para pároco de S. Caetano onde se conservou, até à sua nomeação para S. Mateus, em 11 de Julho de 1964. E foi quando se encontrava em Angra para assistir à ordenação de diácono de um seu seminarista, que foi vítima de um colapso cardíaco, vindo a falecer no Hospital daquela cidade, em 4 de Novembro de 1984. Desenvolveu, em S. Mateus, uma notável acção pastoral. Fundou e dirigiu um excelente boletim paroquial – Ecos do Santuário – publicado durante dezasseis anos e que se extinguiu com o seu falecimento, mas que, ainda hoje, é um elemento histórico de consulta para a história daquela freguesia.
IX - Pe Tomás Bettencourt Cardoso. Nasceu, também, na Silveira, em 22 de Outubro de 1930. Depois de fazer a Instrução Primária, ingressou no Seminário de Angra, onde veio a ordenar-se, em 15 de Junho de 1958. Foi vigário-coadjutor da Matriz da Horta e, depois, pároco e ouvidor de S. Roque do Pico. Na década de noventa do século passado, foi transferido para o Liceu de Macau, onde leccionou vários anos. Aí dedicou-se à pesquisa e publicação dos textos oficiais dos Bispos picoenses que governaram aquela Diocese, desde Julho de 1903: D. João Paulino, D. José da Costa Nunes, D. José Vieira Alvernaz e D. Arquimínio Rodrigues da Costa. Um meritório trabalho que permitiu reunir vinte oito volumes, publicados com o patrocínio da “Fundação Macau” e que estariam condenados ao desaparecimento se não fosse a atitude hercúlea e a vontade indomável do Pe. Tomás Bettencourt Cardoso. Só os textos do Cardeal Costa Nunes, enquanto Bispo daquela antiga Diocese portuguesa, ocupam dezassete volumes. O Pe Tomás regressou de Macau antes da anexação daquele Território. Embora retirado de qualquer actividade, encontra-se, felizmente, entre nós.
X - Está inactivo, numa casa de saúde em Ponta Delgada, o Pe José Carlos Vieira Simplício. Nasceu na Almagreira, pertencente ao então curato de S. Bartolomeu da Silveira, o P. José Carlos, em 4 de Agosto de 1937. Depois de cursar o Externato desta vila, onde chegou a publicar o jornal académico “Estímulo”, e o Liceu da Horta, onde concluiu o Curso Geral, ingressou no Seminário de Angra como aluno da Diocese de Timor. Foi ordenado na Igreja de S. Mateus, da qual viria a ser mais tarde Reitor, em 1 de Julho de 1965, e celebrou a Missa Nova na ermida de Santa Isabel, na Almagreira, no dia seguinte.
Seguiu para Timor, onde se manteve de 1965 a 1968. Foi Secretário do Bispo D. Jaime, chefe da Redacção e director do semanário diocesano “Seara”, professor do Liceu de Díli, e responsável pela pastoral da Juventude no ensino secundário. Regressado à Metrópole, via Califórnia, aí se manteve, a pedido de Monsenhor Vieira Alvernaz, fundando o Centro Cultural Português, conjuntamente com o colega, hoje Monsenhor Ivo Rocha e construindo a igreja de Nossa Senhora dos Portugueses, em Turlok. Vindo para os Açores em 1979, foi pároco da Conceição da Horta e, depois, pároco de São Mateus do Pico, até 2010. Nesse ano foi colocado na Ribeira Chã, na Ilha de S. Miguel, onde permaneceu um ano, até que, devido ao precário estado de saúde, teve de passar à situação de manente, encontrando-se, actualmente, internado numa clínica em Ponta Delgada. Poeta, jornalista, investigador histórico e profundo conhecedor da História da Diocese, tem vários trabalhos publicados e, ao que consta, vários inéditos, hoje abandonados em lugar desconhecido. Uma pena! Mesmo assim tem publicados dez livros e opúsculos de muito interesse. É o autor da letra “Nossa Senhora Ilha à Roda”, da “Cantata Mariana” cuja composição musical se ficou a dever ao malogrado Maestro Emílio Porto.
XI - O último sacerdote da Silveira foi o Pe. Manuel Damião Bettencourt. Nasceu em 1942. Fez o curso no seminário de Angra. Ordenou-se a 29 de Agosto de 1966 e celebrou Missa Nova, na Igreja de S. Bartolomeu, na Silveira, e seguiu depois, como Missionário, para a Diocese de Nampula, em Moçambique, onde exerceu a sua actividade sacerdotal até 1972. Após três anos em Angola, onde exerce a actividade lectiva, regressa à Silveira, em 1975. Dedicou-se ao Ensino Secundário no Externato desta vila, até que foi vítima de um acidente vascular, em 1988. Era uma pessoa de trato fácil e grande simpatia, gozando da maior estima popular.


Vila das Lajes do Pico
14 de Janº de 2014

Ermelindo Ávila

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

NA ILHA DO PICO, É PROIBIDO ADOECER !

NOTAS DO MEU CANTINHO


Pelo menos é o que se deduz das medidas tomadas pelos Serviços tutelares da saúde ou a promulgar. Principalmente de noite, fica proibido adoecer em casa, a menos que o paciente se queira sujeitar a passar as estradas da ilha em correrias até ao Centro eleito para acolher doentes urgentes desde as 8 horas da noite. (No verão o sol ainda vai alto...)
Parece impossível que, neste século vinte e um, se trate o doente de maneira tanto arcaica e melindrosa.
Antigamente, meio século atrás, essa medida seria tolerada, pois a ilha só tinha três médicos, um em cada sede de concelho, e não dispunha de estabelecimentos hospitalares de qualquer grau de valimento.
Com o estabelecimento dos, então classificados, hospitais sub-regionais, o sistema de assistência aos doentes modificou-se, totalmente. Primeiro, foi construído o hospital de São Roque, dedicado à Rainha Santa Isabel. Para a sua administração foi criada a Misericórdia que, até então, não existia.
Na Madalena, havia o legado Terra Pinheiro e um espaçoso terreno, que nunca foram utilizados. Jacinto Ramos, então funcionário naquela Vila, promoveu a criação da Misericórdia e conseguiu que o banco respectivo lhe entregasse o depósito legado. Nisso teve grande influência o Governador de então.
O terreno escolhido e aprovado para o hospital das Lajes não agradou ao Ministro das Obras Públicas, na sua passagem pela ilha, e outro houve de ser escolhido. Mas esse não comportava o edifício projectado. O respectivo projecto foi cedido à nova Misericórdia da Madalena, pois ali não havia dificuldades de terreno.
Entretanto, a Comissão de Construções Hospitalares elaborou novo projecto, de dois pisos. A Misericórdia promoveu a expropriação do terreno, a obra foi adjudicada em concurso público e os serviços assistenciais tiveram início no dia 1 de Janeiro de 1960, com a proficiente orientação técnica do respectivo Delegado de Saúde e Médico Municipal, Dr. Cardoso de Campos.
O hospital sub-regional, como se classificava, dispunha de maternidade, clínica geral e banco de tratamentos. E funcionou regularmente. Os serviços de maternidade eram bastante procurados e algumas centenas de crianças ali nasceram.
Desapareceu a maternidade. Deixou de haver o serviço de análises, com a aposentação do respectivo analista. Parece que agora as análises requisitadas pelos médicos do Centro de Saúde das Lajes passaram a ser feita no centro - hospital da Madalena. Um progresso, não haja dúvidas...
Privado assim de alguns meios de diagnóstico, o centro de saúde quase passou a um simples consultório, embora com internamento.
Criado pela Revolução de 1974 o serviço de Médicos à Periferia, alguns deles foram colocados nos três hospitais picoenses, cerca de uma dúzia. Ainda hoje esse número se mantêm,( embora a categoria do serviço hospitalar tivesse passado a Centro de Saúde.) E foi então que o Estado assumiu a administração do Centro deixando a Misericórdia, ou todas as Misericórdias do País de ter qualquer interferência nos serviços hospitalares.
Agora, um novo sistema se quer implantar, esquecendo que a população da Ilha vai ficando envelhecida e, consequentemente, mais carecida de assistência médica.
Levar um doente da Piedade para a Madalena, por mais cómodo que seja o veículo de transporte, não deixa de ser um tormentoso sistema. Andar mais de cinquenta quilómetros a sofrer para, talvez se vir a concluir que o doente tem de continuar a viajar para outra ilha, é uma medida simplesmente desumana, incompreensível e, consequentemente, inaceitável. (Quem já passou por semelhante situação, pode dar seu testemunho!)
E os médicos e enfermeiros que existem nos centros das Lajes e de São Roque vão ser concentrados na Madalena? De quem é a luminosa ideia? Naturalmente, de quem nunca passou nem passará por tão angustiosa situação, porque continuará a ter o médico especialista e o hospital ao pé da porta.
Não seria melhor, mais humano pelo menos , despovoar totalmente as ilhas secundárias e transferir aqueles que por elas ainda vegetam, para qualquer cidade? De tudo o que nos está a acontecer é, pelo menos, esta a ideia que nos fica...
E os Médicos que exercem a sua actividade no Centro das Lajes, apesar da sua comprovada proficiência, e com eles os pacientes, tudo isto vão suportando. Até quando?
Uma tristeza como dizia o outro...

Vila das Lajes do Pico,
28 de Janeiro de 2014

Ermelindo Ávila.