NOTAS
DO MEU CANTINHO
Não
deixa de ser notável o número de sacerdotes ordenados no século
passado, pertencentes ao antigo curato da Silveira, sufragânio da
Matriz da SS. Trindade das Lajes do Pico, e presentemente paróquia
independente de S. Bartolomeu.
Vale
a pena recordá-los porque alguns deles foram figuras marcantes quer
da Igreja quer da actividade cultural.
Conheci-os quase todos e
com a maioria tive relações de amizade que muito me honraram. De
todos eles apenas se encontram ainda vivos os Padres Tomás
Bettencourt Cardoso e José Carlos Vieira Simplício, infelizmente,
ambos fora do activo e sofrendo de graves enfermidades.
I -
Que se saiba, o primeiro sacerdote natural da Silveira foi o Pe.
Jerónimo Brum da Silveira que ali nasceu, em 20 de Janeiro de
1842. O pai era natural de Santa Bárbara das Ribeiras. Iniciou o seu
curso de Teologia aos 36 anos, depois de habilitar-se, em particular,
nos estudos preparatórios. Foi capelão da Sé e, depois de várias
colocações, veio a ser colocado como cura capelão da Silveira, em
29 de Outubro de 1895, onde faleceu a 25 de Março 1905. Sucedeu-lhe
o Pe. Manuel Vieira Feliciano, natural desta vila.
II -
O Pe. Filipe José Madruga nasceu na Silveira, em 1876. Foi
colocado nas Flores, após a ordenação, ali passou a Vigário e
ouvidor das Lajes, daquela ilha, em 1904, falecendo na cidade de
Ponta Delgada, onde fora submeter-se a uma operação cirúrgica, aos
49 anos de idade, em 7 de Junho de 1926.
III
– O Pe. António Cardoso Machado nasceu na Silveira. Após
a ordenação foi colocado na Ilha Graciosa, onde permaneceu até
cerca de 1930, passando depois para pároco de Doze Ribeiras, na Ilha
Terceira, onde veio a falecer decorridos vários anos.
IV - Os P.es
Ávila, dois irmãos, também nasceram na Silveira.
O Pe. Manuel
Silveira de Ávila, em 8 de Setembro de 1893. Disse Missa Nova na
Silveira, a 22 de Junho de 1919. Foi pároco de Castelo Branco, no
Faial, e chancelar da Cúria Diocesana de Angra. Faleceu em Lisboa,
onde passou a residir com o irmão, em 20 de Julho de 1979. Contava,
portanto, 86 anos. Nos últimos tempos estava acamado.
V - O irmão, Pe.
José Silveira de Ávila, nasceu também na Silveira, em 9 de
Outubro de 1895. Depois de frequentar o Seminário de Angra, celebrou
a Missa Nova , em 4 de Julho de 1920, em S. Bartolomeu da Silveira e
a seguir foi colocado como Prefeito do Seminário e Professor de
Música. Organizou o Orfeão de Angra, que teve grande êxito nas
suas actuações em Angra e em Ponta Delgada. Em Angra, fundou os
Escuteiros católicos e foi também professor de Música do Liceu.
Depois transferiu-se para Lisboa e foi professor de Música no Liceu
Camões. Faleceu na freguesia de N.ª Senhora de Fátima, em 4 de
Dezembro de 1977.
VI – O Doutor
José Enes Pereira Cardoso nasceu na Silveira, donde era
natural o Pai, em 18 de Agosto de 1922. Ali fez a instrução
primária e depois ingressou no Seminário de Angra, onde sempre se
revelou aluno distinto. Terminado o curso de Teologia foi para Roma
frequentar a Universidade Gregoriana, licenciando-se em Filosofia e
Teologia. Mais tarde doutorou-se em Filosofia naquela Universidade.
No Seminário de Angra foi Prefeito, professor e Reitor. A ele se
ficou a dever a realização das célebres “Semanas de Estudo”,
que se realizaram em Angra, Ponta Delgada e Horta. Quando se
realizava a III Semana fez as despedidas e seguiu para Lisboa para
professor de Filosofia da Universidade Católica. Em 1972 foi para a
Angola leccionar na respectiva Universidade. Com a descolonização
voltou aos Açores e foi então um dos fundadores do Instituto
Universitário, mais tarde Universidade dos Açores, de que foi
Reitor.
Voltou a Lisboa onde
prosseguiu a carreira como professor universitário, ali se
reformando.
Tinha as seguintes
condecorações: Oficial da Ordem do Infante (1964), e Grande Oficial
da Ordem de Instrução Pública (1983); Cidadão Honorário de Ponta
Delgada, em 1992 e das Lajes do Pico, em 1999. Tinha diversos livros
publicados de natureza científica. Faleceu em 2013.
VII
- Pe. João Silveira Domingos
Aquando
do falecimento, escreveu um seu biógrafo: Pela sua
piedade e modestia foi sacerdote estimado em toda a ilha do Pico,
nomeadamente nos locais onde desenvolveu modelar acção pastoral.
O P.
João Domingos nasceu na Silveira, em 12 de Junho de 1912 e faleceu
na Ribeirinha, onde paroquiava, em 8 de Março de 1975. Depois de
frequentar o Seminário de Angra foi ordenado sacerdote, em 12 de
Junho de 1938, precisamente no dia do seu aniversário natalício e a
seguir foi colocado como vigário-coadjutor de São Mateus, desta
ilha. Em 1953, é transferido para a Matriz da Madalena e, em 30 de
Junho de 1954, é nomeado pároco da Ribeirinha, onde veio a falecer.
Naquela paróquia desenvolveu grande actividade sacerdotal e ainda
hoje é recordado com saudade. Junto da Igreja foi levantado o seu
busto em bronze.
VIII
– Padre António Filipe Madruga. Nasceu na Silveira,
em 23 de Setembro de 1922. Foi ordenado sacerdote, na Sé de Angra,
em 23 de Junho de 1946, sendo, a seguir, nomeado vigário-cooperador
da Matriz das Lajes. Aqui se conservou, após o falecimento do Padre
Ouvidor José Vieira Soares, até à sua nomeação para pároco de
S. Caetano onde se conservou, até à sua nomeação para S. Mateus,
em 11 de Julho de 1964. E foi quando se encontrava em Angra para
assistir à ordenação de diácono de um seu seminarista, que foi
vítima de um colapso cardíaco, vindo a falecer no Hospital daquela
cidade, em 4 de Novembro de 1984. Desenvolveu, em S. Mateus, uma
notável acção pastoral. Fundou e dirigiu um excelente boletim
paroquial – Ecos do Santuário – publicado durante dezasseis anos
e que se extinguiu com o seu falecimento, mas que, ainda hoje, é um
elemento histórico de consulta para a história daquela freguesia.
IX
- Pe
Tomás Bettencourt Cardoso.
Nasceu, também, na Silveira, em 22 de Outubro de 1930.
Depois de fazer a Instrução Primária, ingressou no Seminário de
Angra, onde veio a ordenar-se, em 15 de Junho de 1958. Foi
vigário-coadjutor da Matriz da Horta e, depois, pároco e ouvidor de
S. Roque do Pico. Na década de noventa do século passado, foi
transferido para o Liceu de Macau, onde leccionou vários anos. Aí
dedicou-se à pesquisa e publicação dos textos oficiais dos Bispos
picoenses que governaram aquela Diocese, desde Julho de 1903: D. João
Paulino, D. José da Costa Nunes, D. José Vieira Alvernaz e D.
Arquimínio Rodrigues da Costa. Um meritório trabalho que permitiu
reunir vinte oito volumes, publicados com o patrocínio da “Fundação
Macau” e que estariam condenados ao desaparecimento se não fosse a
atitude hercúlea e a vontade indomável do Pe. Tomás Bettencourt
Cardoso. Só os textos do Cardeal Costa Nunes, enquanto Bispo daquela
antiga Diocese portuguesa, ocupam dezassete volumes. O Pe Tomás
regressou de Macau antes da anexação daquele Território. Embora
retirado de qualquer actividade, encontra-se, felizmente, entre nós.
X -
Está inactivo, numa casa de saúde em Ponta Delgada, o Pe
José Carlos Vieira Simplício. Nasceu na Almagreira,
pertencente ao então curato de S. Bartolomeu da Silveira, o P. José
Carlos, em 4 de Agosto de 1937. Depois de cursar o Externato desta
vila, onde chegou a publicar o jornal académico “Estímulo”, e o
Liceu da Horta, onde concluiu o Curso Geral, ingressou no Seminário
de Angra como aluno da Diocese de Timor. Foi ordenado na Igreja de
S. Mateus, da qual viria a ser mais tarde Reitor, em 1 de Julho de
1965, e celebrou a Missa Nova na ermida de Santa Isabel, na
Almagreira, no dia seguinte.
Seguiu
para Timor, onde se manteve de 1965 a 1968. Foi Secretário do Bispo
D. Jaime, chefe da Redacção e director do semanário diocesano
“Seara”, professor do Liceu de Díli, e responsável pela
pastoral da Juventude no ensino secundário. Regressado à Metrópole,
via Califórnia, aí se manteve, a pedido de Monsenhor Vieira
Alvernaz, fundando o Centro Cultural Português, conjuntamente com o
colega, hoje Monsenhor Ivo Rocha e construindo a igreja de Nossa
Senhora dos Portugueses, em Turlok. Vindo para os Açores em 1979,
foi pároco da Conceição da Horta e, depois, pároco de São Mateus
do Pico, até 2010. Nesse ano foi colocado na Ribeira Chã, na Ilha
de S. Miguel, onde permaneceu um ano, até que, devido ao precário
estado de saúde, teve de passar à situação de manente,
encontrando-se, actualmente, internado numa clínica em Ponta
Delgada. Poeta, jornalista, investigador histórico e profundo
conhecedor da História da Diocese, tem vários trabalhos publicados
e, ao que consta, vários inéditos, hoje abandonados em lugar
desconhecido. Uma pena! Mesmo assim tem publicados dez livros e
opúsculos de muito interesse. É o autor da letra “Nossa Senhora
Ilha à Roda”, da “Cantata Mariana” cuja composição musical
se ficou a dever ao malogrado Maestro Emílio Porto.
XI -
O último sacerdote da Silveira foi o Pe. Manuel
Damião Bettencourt. Nasceu
em 1942. Fez o curso no seminário de Angra. Ordenou-se a 29 de
Agosto de 1966 e celebrou Missa Nova, na Igreja de S. Bartolomeu, na
Silveira, e seguiu depois, como Missionário, para a Diocese de
Nampula, em Moçambique, onde exerceu a sua actividade sacerdotal até
1972. Após três anos em Angola, onde exerce a actividade lectiva,
regressa à Silveira, em 1975. Dedicou-se ao Ensino Secundário no
Externato desta vila, até que foi vítima de um acidente vascular,
em 1988. Era uma pessoa de trato fácil e grande simpatia, gozando da
maior estima popular.
Vila das Lajes do Pico
14 de Janº de 2014
Ermelindo Ávila
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