quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Pico do PICO

Fica a 2.351 metros de altitude. Está no meio da Ilha, uma ilha que, segundo os geólogos, nasceu em duas épocas distintas. Domina a ilha e as outras do Grupo Central do Arquipélago. Razão tinha Raul Brandão quando escreveu: “O que me vale é que saio e dou logo com o Pico que é eterno. Encontro-o sempre: ao voltar duma esquina, a sair de casa, ao saltar da cama.” (l). O Pico está rodeado de algumas ilhas-irmãs como rei soberano cortejado por suas damas. Mas essa posição de bem pouco lhe serve. É o rei mudo, sem voz nem autoridade. Talvez as damas, que o rodeiam, só o galanteiam sarcasticamente, desprezando-o ou esquecendo-o e dele só se lembrando quando necessitem de lhes captar a beleza e o encanto que oferece às suas paisagens. É o próprio Raul Brandão que o afirma:”O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ela lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. É mais que uma ilha – é uma estátua erguida até ao céu e moldada pelo fogo – é outro Adamastor como o do cabo das Tormentas.”(2)
Mas há mais quem admire o Pico pela sua majestade e grandeza. Ele continua a ser o farol que guia a navegação que, por estas ilhas, passa a caminha da Europa ou da América.
É o barómetro dos marinheiros que se fazem ao mar, ontem para a caça da baleia, hoje para a pesca do atum, ou de outras espécies piscícolas durante as noites luarentas.
Para os naturais, o Pico é tudo. Companheiro inseparável, para ele nos voltamos quando a manhã desperta, a ver qual o aspecto que apresenta, pois são raros os picoenses que não sabem “ler”, nas nuvens que o rodeiam, qual o tempo que se aproxima…
Subir a montanha é uma das façanhas mais apetecidas dos picoenses e de muitos estrangeiros que à ilha aportam para ter o prazer de descobrir os Açores, lá de cima, por entre as nuvens.
Nunca tive o prazer, por mazelas físicas, de ir até ao cimo da montanha; mas já me foi dado rodear, em avião, o Pico do Pico e sobrevoar a cratera, um espaço grandioso que lhe fica à ilharga e que já serviu até de “altar” na celebração de uma Missa comemorativa. José Carlos, em “Os Maiores Dias da Vila Madalena - 1960”, assim descreve esse acontecimento histórico; “Ás 7 horas, ao centro do Eirado Grande, a perto de 2. 300 metros de altitude e num altar de lava, o M. R. Ouvidor, José Fortuna principiava a Missa Votiva da Santíssima Trindade. Impossível escolher outro acto que fosse mais lídima afirmação da Fé que abrasou o Pico em cinco séculos de história, esse Pico do qual confirmou o Pe. António Cordeiro”…é tanta limpeza junta com tão bons procedimentos em os povos, que não sei que desta Ilha viesse ainda alguns preso ao Santo Ofício, pois nem da raça do Judaísmo, nem ainda de herejes estrangeiros há nela”.
Há uns anos passados, viajava com minha Mulher, de saudosa memória, de S. Miguel para o Pico, via Terceira. Era uma manhã primaveril. No Nascente raiavam os primeiros rubores da Aurora. O céu estava todo límpido e nem uns frangalhos de nuvem toldava aquele quadro de infinita beleza. Quando nos aproximávamos da Ponta da Ferraria, à saída de S. Miguel, fazendo rumo à Terceira, ela chama a minha atenção para o ineditismo que se nos apresentava para as bandas do Oeste. A montanha do Pico surgia esplendorosa no horizonte, sem uma nuvem que a envolvesse. Um encanto! Pouco depois foram aparecendo as nuvens e, só quando nos aproximávamos da Terceira, é que esse Pico nos surge, com toda a sua imponência e esplendor maravilhoso. Não mais isso aconteceu. Agora, limito-me a olhar o Pico do Pico nas manhãs calmas e nos poentes primaveris, soberbos e maravilhosos, quando o tempo está de feição e o mar se mostra numa quietude embevecida.
É assim este Pico, o nosso Pico, com um interior cheio de paisagens de uma beleza extraordinária e de um encanto que mal apreciamos.
Uma ilha que dá sinal ao longe, e serve de orientação aos navegantes, quando os laranjais estão em flor ou os incensos se cobrem de um manto branco de aromáticas roupagens. A terra do Pico cheira, escreveu alguém.
O Pico é um gigante adormecido, mal respeitado e menos querido por aqueles que lhe fazem vizinhança. E bem merecia que o soubessem aproveitar. Aproveitar as suas belezas naturais, as suas paisagens inebriantes, o seu clima tonificante, os dons extraordinários com que foi dotado pela Natureza.
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(1)Raúl Brandão. In “Ilhas Desconhecidas”, Edição Perspectivas e Realidades – pág.79
(2)Ibidem – pág.105
Vila das Lajes, Maio de 2007
Ermelindo Ávila

terça-feira, 29 de maio de 2007

AGRICULTURA E PESCAS

Quando Portugal aderiu à CEE sempre duvidámos que os resultados dessa nova convenção seriam benéficos para os Países de fracos recursos económicos, pois estavam longe de poderem competir com as chamadas Grandes Potências Económicas Europeias - E é isso que, infelizmente, está a acontecer.
Se os grandes potentados económicos lucraram pelas ajudas que receberam da Comunidade para a reestruturação das suas empresas, já o mesmo não aconteceu nem acontece com as economias pequenas ou domésticas que são incapazes de competir com os preços dos produtos que invadem Portugal, beneficiando da isenção dos direitos alfandegários. Hoje o que acontece? Os supermercados estão inundados de produtos hortícolas, de excelente aparência mas que não são de paladar igual aos produzidos em Portugal e principalmente nas Ilhas.
No entanto as políticas de apoio financeiro ao ressurgimento das produções hortícolas, frutícolas, piscícolas, aproveitando potencialidades endógenas locais, são ainda a grande receita para o nosso desenvolvimento económico e social. E talvez razão da nossa sustentabilidade no futuro.
Dizem os historiadores americanos que os açorianos, imigrantes nos anos da depressão económica dos anos 30 do século passado, foram aqueles que melhor resistiram à crise, pois estavam habituados aos processos da economia de subsistência. E deste saber de experiência feito nestas ilhas açorianas, surgiu muito desenvolvimento americano.
Temos que voltar a produzir os nossos produtos, com apoios e sem directivas castradoras.
Acontece que os prédios que outrora foram de pão, como dizia o povo, estão a transformar-se em autenticas matas selvagens, ocupadas por todo o género de vegetação sem qualquer interesse económico. Basta olhar para as ladeiras que circundam a vila das Lajes pelo leste, para se ter a confirmação, triste e angustiosa, do que venho de dizer. E não levará muito tempo, nem anos sequer, para que as matas bravias invadam os quintais e jardins das residências que ficam no sopé desses montes.
Incrementou-se a lavoura e concederam-se subsídios aos jovens para renovação das manadas e desenvolvimento das pastagens.
Deram-se até casos em que os avós e pais tiveram de transferir para netos e filhos, as respectivas pastagens para que eles pudessem usufruir dos subsídios concedidos pela CE aos jovens agricultores.
Depois, estabeleceram-se as quotas leiteiras e aqueles que as excederem sujeitam-se a pesadas multas
Para que serviram o arrotear e melhorar das pastagens e das manadas? Por que não se deixaram livres as actividades agrícolas e industriais? Teme a CE que os picoenses e açorianos possam competir com os industriais europeus? Não será uma utopia ?
Tudo é proibido. Ontem foram as toninhas e as baleias. Agora chegou o peixe e as quotas da apanha. Do goraz por exemplo--- até a lapa é contrabando. O polvo só importado. O chicharro desapareceu com a aproximação do cachalote dos antigos “limpos” onde ele se desenvolvia. E as outras espécies vão sendo apanhadas, artificialmente, pelos barcos que, outrora, eram considerados estrangeiros e que hoje são pertença dos Países da CE e como tal com direitos adquiridos para virem para cá das duzentas milhas que eram consideradas zonas privativas dos territórios adjacentes.
Quando acabarem as obras públicas que estão em curso, da responsabilidade das Câmaras Municipais e da Região, que vai acontecer aos empreiteiros, aos operários especializados e aos trabalhadores indiferenciados? É que todos vão sofrer a crise da falta de trabalho. O Fundo do Desemprego não suportará muitas mais inscrições, ao que dizem. A CE está a terminar com subsídios aos países subdesenvolvidos. Naturalmente que voltarão os anos da fome porque, emigrar, quem terá idade para o fazer e para onde?
Tanto que havia a trazer hoje a esta nota…Fiquemos por aqui.
Algures, nos Açores,
3 de Agosto de 2006
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 21 de maio de 2007

NOVA ESCOLA ? !

Anda por aí uma folha fotocopiada, que se intitula boletim informativo da Delegação do Pico da A.L.R.A.A. – melhor: “infoALRAA” a anunciar a “…nova Escola Básica e Secundária das Lajes do Pico”. E até traz uma foto do porto das Lajes do Pico e a reprodução, em miniatura, da planta de levantamento dos terrenos onde se pretende instalar o novo edifício escolar.
Surpreende a atitude dos senhores eleitos à Assembleia Regional pelo PS, a trazer de novo à ribalta um assunto que se julgava esclarecido e arrumado, com a informação da Câmara Municipal, e a opinião pública em geral. Tanto mais que foram já anteriormente anunciados trabalhos de restauro e ampliação do actual edifício onde funciona a Escola Básica e Secundária das Lajes do Pico.
Ampliá-la para a instalação de novos cursos, aceita-se. Mas há que ter em consideração a diminuição da população escolar que, ao que se sabe, está reduzida a dois terços da inicial, quando a escola foi instalada. E não se crê nem é de aceitar que o insucesso escolar que possa acontecer naquele estabelecimento tenha origem na deficiência das instalações, pois, anteriormente, a dita escola um ano houve em que teve o primeiro aluno do País e dela têm saído escolares que, seguindo cursos superiores, hoje são médicos, advogados, professores, funcionários superiores e até deputados nacionais e regionais.
Não se julga que os cofres da Região estejam em tamanho desafogo que possam permitir a duplicação de edifícios, abandonando os antigos, quando isso não acontece em outros concelhos, incluindo as respectivas cidades.
Não se mudou a escola Manuel de Arriaga, mesmo ao lado do centro da cidade da Horta, nem a escola Antero de Quental, ou Roberto Ivens, em Ponta Delgada. Porquê, pois, a insistência em construir um novo edifício extra muros? Não quero crer que seja com o intuito (malévolo?) de retirar à vila um forte elemento do seu desenvolvimento, reduzindo-a a uma simples aldeia…
E se há interesse em pugnar, como representantes do povo que os elegeram, pelos interesses do concelho, porque não empregar a verba prevista naquele novo edifício, incluindo a aquisição dos terrenos, dos melhores da produção agrícola, em continuar, para Sul, com a muralha de defesa da Vila, acautelando-se a segurança das habitações da vila onde residem pessoas, e o próprio edifício escolar, onde se prepara para a vida a juventude do concelho?
E por que não se procura resolver a situação de diversos serviços públicos, deficientemente instalados, fazendo-os ocupar em edifícios do Estado que aí estão ao abandono?
Por que não é construído o quartel para a Polícia de Segurança Pública, para o qual a Câmara já disponibilizou o terreno e, ao que parece, esteve o seu custo previsto no orçamento do Estado?
Por que não se transferem para o antigo posto de despacho (Alfandega) os Serviços de Finanças, instalados no antigo convento em condições precárias, que até ocupam uma parte dos corredores?
Por que não se remodela a “casa do Estado”, onde estão instalados serviços (nem sabemos a categoria) das Obras Públicas e Serviços Agrícolas, uma vez que aquele imóvel foi construído, sem condições técnicas, apenas para servir de apoio, às obras de construção da muralha de defesa da vila, destruída pelo ciclone de 1936; e deveria ter sido demolido após a conclusão dos trabalhos?
Por que não se constrói, na “Casa da Maricas do Tomé”, o imóvel para os serviços da Segurança Social, uma vez que a Câmara Municipal já transferiu ou pôs à disposição da Região aquele imóvel?
Por que não se reactiva a Delegação Marítima, restaurando o respectivo edifício, que nem meio século tem, evitando-se, v.g., que pretenda uma cédula marítima – ao que dizem… - tenha de deslocar-se à Madalena?
Parece que somente a escola secundária está na agenda política. Será que importa continuar o “esvaziamento” da vila, que foi o primeiro povoado da ilha, cuja história não pode nem deve ser esquecida, para honra e prestígio dos próprios picoenses?
Quando se implantou a República, em 1910, foi nomeado Presidente da Câmara um velho republicano, que residia a trinta quilómetros da sede do concelho. Na primeira reunião do executivo a que presidiu propôs que a secretaria municipal fosse instalada na freguesia da sua residência, porque lhe era penoso palmilhar a pé, tão longa distância… E dizem que a história se não repete…
Os lajenses têm aqui uma palavra a dizer. Defendam a terra que lhes foi berço. Salvaguardem os interesses da sua terra, enquanto é tempo. A destruição e o desprezo pelos nossos interesses, espreitam-nos.
Abril, 2007
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 18 de maio de 2007

As Festas do Divino Espírito Santo

Estão a terminar no lugar das Terras, desta Vila, as festas em louvor do Divino Espírito Santo, que ali têm decorrido, nas últimas Domingas, depois da Páscoa, com grande luzimento. Registam-se aqui os nomes dos Mordomos do corrente ano, que honrosamente continuam uma secular tradição familiar: lº. Domingo, Alberto Soares Pimentel; 2º. Manuel da Rosa da Silva; 3º. Manuel Fagundes da Rosa Soares; 4º. Maria Fernanda (Soares) Simões; 5º.Manurel Pereira Madruga; 6º. José Adelino Fagundes. Em breves dias chegaremos às Festas propriamente ditas. Elas decorrem por todas as ilhas dos Açores mas têm um cunho muito especial nesta ilha do Pico onde ainda se cumprem escrupulosamente os votos dos antepassados.
Sabido que as festas vieram até estas ilhas, trazidas pelos primeiros povoadores e seguindo a tradição das festas de Alenquer, onde tiveram inicio por mercê da Rainha Santa Isabel. E lá se conservam, segundo rezam os Anais daquele concelho.
Nos Açores intensificou –se a devoção ao Divino Espírito Santo na Ilha de São Miguel quando, naquela ilha, apareceu um surto de peste, no ano de 1523, que fez 2000 vítimas e se comunicou ao Faial. E, sobre essa mortífera epidemia, escreve Lacerda Machado na “História do Concelho das Lajes”: “O pânico foi geral em todas as ilhas e os povos aterrados recorreram a preces públicas, procissões e invocaram em especial o Espírito Santo, prometendo distribuir pelos pobres anualmente, pela festa do Pentecostes, as primícias de seus frutos, se escapassem do terrível flagelo, que se não comunicou ao Pico.
“Instituíram-se irmandades em honra do Espírito Santo, celebrando em seu louvor bodos solenes, com folias e bailes, ao uso do tempo.”
Como sempre acontece, as festas afrouxaram, naturalmente por carência de meios, dada a crise que as populações suportaram nos primeiros séculos do povoamento destas ilhas, onde se registaram anos de fome, quando os temporais destruíram as culturas.
De fome foram os anos de 1588, 1596, 1599, 1647, 1709, 1776, 1785.
Lacerda Machado, autor citado, referindo-se ao ano da fome de 1858, (1) diz que o Capitão Manuel Machado Soares minorou a penúria e a miséria de grande número de famílias, dispondo nobre e generosamente de seus teres.
Segundo a tradição e a própria história, os impérios do Espírito Santo foram “restaurados” por ocasião das crises sísmicas de 1718 e 1720.
Na “História do Concelho das Lages- 1915”, (2), o seu erudito Autor regista-se os seguintes: Na Piedade, no domingo do Espírito Santo, segunda-feira e Domingo da Trindade, que ainda se mantêm; na Calheta, no Domingo do Espírito Santo, segunda-feira e Domingo da Trindade; nas Ribeiras, domingo do Espírito Santo e domingo da Trindade, em Santa Bárbara e na segunda-feira e terça-feira em Santa Cruz; e domingo e terça-feira em São João. Nas Lajes realiza-se o império do sábado do Espírito Santo na Silveira que, segundo a tradição, é o cumprimento de um voto feito em 1720 quando a lava do vulcão atingiu o Soldão e o Domingo do Espírito Santo na Ribeira do Meio. Na Silveira realiza-se actualmente o império do Domingo da Trindade. Na Vila das Lajes realiza-se, desde 1940, o império de São Pedro, no dia 20 de Junho.
Diz ainda a “História do Concelho das Lajes” (pág.138): “Anteriormente á crise mundial, provocada pela guerra, efectuavam-se na vila mais os seguintes impérios, hoje desaparecidos: Domingo do Espírito Santo, segunda-feira do Espírito Santo (dos marítimos) e terça-feira do Espírito Santo (dos nobres).
Abrilhantavam os cortejos e a própria solenidade os Foliões, com tambor, pandeiro e ferrinhos. Tal como hoje, tinham bandeira própria, e usavam na cabeça, atados à nuca, lenços de mulher, vermelhos. Hoje isso desapareceu. Na freguesia das Lajes, em São João na Piedade e na Calheta ainda existem grupos de foliões que, durante o cortejo e à porta da igreja, costumam cantar umas loas dedicadas ao Divino Espírito Santo.
Nos primeiros tempos os foliões tinham por hábito acompanhar as coroas na igreja e aí cantavam e dançavam durante as cerimónias litúrgicas.
“O primeiro bispo açoriano que consta ter proibido tais divertimentos foi D. frei Jorge, nas suas constituições de 1558, não consentindo nas igrejas jogos, toques de viola, guitarra ou flauta, bem como bailes e cânticos profanos.
“As providências do virtuoso prelado foram, porém, iludidas e os abusos continuaram.
“Em 1597, D. Filipe I proibiu as folias e bailes nos festejos dom Espírito Santo, mas parece que nem por partir de alto a proibição teve melhor acatamento, porque em 1600, o Bispo D. Frei Jerónimo Teixeira, novamente proibiu aos foliões o bailarem na capela - mor no acto da coroação.” (3).
O mesmo diz o Cónego Pereira quando, referindo o 69º Bispo, D. Jerónimo Teixeira Cabral, que governou a Diocese de Angra entre 1600 e 1612, informa que esse Prelado, “Não foi menos rigoroso na correcção dos abusos da disciplina eclesiástica: - “Proibiu que os foliões das festas do Espírito Santo bailassem mais na capela-mór das igrejas, na ocasião de serem coroados os” imperadores.” (4)
Hoje continuam os “Impérios” na Ilha do Pico, em todas as freguesias, com a distribuição de milhares de rosquilhas, vésperas ou pão, consoante os lugares e a tradição, por todos os presentes, sem distinção de condições sociais.
E acessoriamente se regista que em todos as freguesias e lugares da Ilha, onde se realizam os “Impérios”, existem capelas, ou copeiras onde são conservadas as Coroas do Divino Espírito Santo, tal como em diversas ilhas do Arquipélago.
Mesmo assim, os açorianos, em geral, mantêm uma tradição religiosa de mais de cinco séculos, que os honra e enche de orgulho, digamos um santo orgulho, porque nunca é demasiado o culto que se possa prestar à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
__________
l) Lacerda Machado, “Os Morgados das Lages, Ilha do Pico” –l9l5, pág.16-
2) Idem, “História do Concelho das Lages” – 1936,pág. 136.
3) Idem, idem, pág.136
4) Cónego Pereira, “A Diocese de Angra na História dos seus Prelados”, 1950, pág.63.
Vila das Lajes
Maio-2007
Ermelindo Ávila

terça-feira, 15 de maio de 2007

TERRA E MAR

É o que temos. O Mar que envolve a Ilha com suas “carícias” e “mimos”, nem sempre os mais agradáveis. A Terra que pisamos todos os dias, onde os antepassados construíram as habitações e onde passamos os dias e as noites, com maior ou menor conforto, consoante os teres e haveres de cada qual.
Nem sempre fomos terra, mas sempre mar imenso, sulcado por naus e caravelas, por barcos de piratas, caravelas, iates e navios de longo curso. Mas a terra surgiu dos abismos, trazida pelos vulcões que, formados no centro do Globo terrestre, um dia subiram impetuosos para além dos mares tempestuosos ou calmos, consoante as épocas e as ordens do Vulcano que se impôs ao impetuoso Neptuno.
E aqui estamos, habitando estes pináculos que outrora só algumas aves povoavam. Trouxeram nossos avós, os marinheiros do Infante e aqui os deixaram à mercê dos tempos. Mas foi dura a “conquista”. Cada qual ficou na sua nova terra – a ilha – e aí se foi desenvolvendo à custa de penares imensos, de dores sem assistência, de mortes prematuras. Sustentando-se dos funchos e das ervas que iam descobrindo e dos animais que iam caçando com sua habilidade e destreza; e dos peixes que conseguiam apanhar com meios improvisados.
Terá valido a pena nossos antepassados terem vindo até cá e por cá se acoitarem, nas cafuas, nas barracas e depois nos casebres feitos a pedra seca, com os restolhos da lava vulcânica que foram recolhendo aqui e ali, num esforço tamanho e com uma vontade hercúlea de sobrevivência, que mal podemos adivinhar?!
Cedo caminharam para outras bandas. Tiveram notícia de que, para os lados do Poente, havia outras terras, e para lá se dirigiram no desejo de conseguirem um outro viver. Chegaram às Américas, do Norte e do Sul. Lutaram com os habitantes dessas terras - os índios – e conseguiram instalar-se. Descobriram as terras do ouro. Desbravaram grandes planícies e criaram os seus “ranchos”. Fizeram-se ao mar e caçaram os grandes animais marinhos, cujo óleo lhes servia de iluminação e cujas carnes, guardavam em salgaduras para o sustento no Inverno.
No Sul construíram povoações, que depois haviam de ser grandes cidades, instituíram suas habitações, com hábitos e costumes levados da terra mãe, instalaram serviços, tornaram-se donos e senhores das novas terras “conquistadas”. E por lá ficaram, e por lá andam seus descendentes.
E já na época de Quinhentos, o grande Épico Português, em sua imortal epopeia, Os Lusíadas, não só exaltou os barões assinalados mas também aqueles que por obras valerosas / Se vão da lei da morte libertando.
E em épocas mais recentes, quando as ilhas continuaram a ficar superlotadas de gentes, houve que ensaiar novos meios para delas sair. E caminharam. E continuam a sair e continuam a “voar”. Ontem para terras estranhas e desconhecidas. Hoje, para as grandes metrópoles do Canadá, das Américas,-Norte e Sul- e da Europa. Outros regressaran à Pátria de origem…
Mas há quem fica apegado a estas Pedras Negras. Todavia, todo esse esforço, toda essa teimosia em aqui estar, em aqui viver e morrer, terá valido a pena?
É o poeta que nos responde:
… tudo vale a pena
Se a alma não é pequena
………………………………
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. (Fernando Pessoa)
E termino esta nota - devaneio, citando outro poeta nosso:
Nos teus jardins, junto aos lagos,
Á luz do entardecer,
Queria amar e sonhar…
Sonhar sempre até morrer… (Bernardo Maciel).
Vila das Lajes,
10-Nov. - 2006
Ermelindo Ávila

AS TERRAS

Outrora o lugar das Terras devia ter sido uma zona rústica de culturas especiais. E talvez por isso começou a ser povoada, como aconteceu em outros localidades da ilha, onde se plantaram vinhas e construíram adegas, algumas delas agora habitadas permanentemente, como são os casos da Manhenha, da Baixa e outras mais.
Há centenas de anos que as TERRAS constituem um importante subúrbio da Vila das Lajes. Além de valiosa zona agrícola, principalmente das culturas de milho e de algum trigo e de outros produtos hortícolas, é um núcleo urbano, onde vive um povo extraordinário pelo seu trabalho, pela sua urbanidade e humanismo, crente e fiel aos seus princípios. Sério, honesto e respeitador, sabe criar e manter amizades e ser amigo do seu amigo, sem ser “o amigo do seu” como diria o Pe. António Vieira.
É agradável conviver com as gentes das Terras.
Forma um grande clã, onde raramente aparece um conflito e, se isso acontece, normalmente “morre à nascença”, como soe dizer-se.
Em tempos recuados, antes que surgisse a estrada nacional, e já lá vão mais de sessenta anos, a população vivia num isolamento confrangedor. Não tinta comércio nem escola. Quase toda a gente era analfabeta. Quando algum queria emigrar, valia-se do velho mestre Quaresma a quem, por isso, chamavam o professor. Na década de vinte foi ali criada a primeira escola móvel e nela colocada a professora do Ensino Primário, Aurora Leopoldina Ávila. Mas, para que a professora, recém formada, pudesse exercer o magistério, houve que alugar casa e mandar executar, â sua custa, os bancos e as carteiras para os alunos.
Mais tarde, já nos meados do século XX o lugar das Terras teve edifício escolar próprio e professor efectivo. Agora, com as modificações do Ensino, os alunos são transportados para a escola da Vila. Progressos que, possivelmente, resultarão em atrasos. Mesmo assim, a juventude do lugar vai dando boa conta de si e alguns já possuem cursos superiores.
Da primitiva escola me recordo porque foi a primeira escola oficial que frequentei. Todos os dias tinha de deslocar-me da Vila ás Terras, pelo chamado “caminho velho”, porque outro não havia…E bons amigos criei. Dias houve, porém, em que, no regresso a casa, fui apanhado por grossas chuvas, que corriam pela “Ladeira da Vila” como por autêntica ribeira…
Nas Terras, por essas alturas, Edmundo Machado Ávila abriu um pequeno estabelecimento de mercearias e líquidos, que ficou a cargo de uma senhora “Maricas”, a qual, mais tarde, o veio a adquirir e o explorou por conta própria. E já agora esta nota a propósito: uma família da vila, que passara a viver na sua propriedade do Cabeço, levou ao estabelecimento uns molhos de nabos, para vender. Alguém perguntou para que era aquilo.
Resposta: “Para a senhora professora comprar”. Escusado dizer que a experiência não resultou e por isso não foi repetida.
Nesses recuados tempos – mais de oitenta anos são decorridos - os homens reuniam-se habitualmente numa ou noutra atafona, geralmente instaladas nas lojas das casas de habitação. Era aí que passavam os serões a jogar às cartas, à luz da secular candeia de azeite.
Com a passagem da estrada e a facilidade de transportes, algo se modificou. Apareceu a primeira moto, depois vieram as carinhas e automóveis. Hoje não sei quantos existem no lugar.
Um dia um velho amigo e antigo companheiro de escola, pediu-me para organizar os estatutos de uma sociedade que queriam fundar e para a qual estavam a construir um pequeno salão. E a sociedade surgiu com a denominação de “Alegria no Campo”. E lá está. Não no velho, mas num grande e espaçoso edifício, construído com a ajuda da população e dos emigrantes, onde, nos últimos anos, se servem os “jantares do Espírito Santo”.
É que as Terras mantém uma antiga e honrosa tradição de promover, durante os domingos que vão, da Páscoa ao Domingo do Espírito Santo, de cinco em cinco anos, as “Coroações”. Era uma tradição ou voto que existia na freguesia de Santíssima Trindade. Alternadamente, a Silveira, a Almagreira, a Ribeira do Meio, a Vila e as Terras, cinco irmãos ou famílias, em cada uma daquelas localidades, sorteavam os domingos em que promoviam a coroação: Missa solene com coroação na Igreja e jantar a doze pobres e familiares e amigos.
As Terras e também a Almagreira não esqueceram o compromisso assumido por seus antepassados. E lá estão as respectivas famílias a cumprir o voto, convidando para a “função” todos os amigos e conhecidos, umas boas centenas a quem oferecem as sopas saborosas e deliciosas do Espírito Santo: Sopa com carne cozida, carne assada, massa sovada, arroz doce e, por vezes, bolos além dos vinhos e refrescos. Um autêntico banquete!
Estamos já na primeira semana das Domingas do Espírito Santo. O lugar das Terras vive horas de euforia. Toda a gente se mobiliza para auxiliar os Mordomos. Os foguetes e os morteiros já percorrem os espaços aéreos a anunciar o início e o fim das cozeduras: pão de água e massa sovada. Há um mês que os convites se fizeram para a primeira “Coroação”. E, daqui até ao Domingo de Pentecostes, ou do Espírito Santo, as “trabalheiras” serão iguais. É a alegria, a boa disposição e os trabalhos também, que são muitos.
Tudo em louvor do Divino Espírito Santo!
Vila das Lajes, Abril de 2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 14 de maio de 2007

GENTE FELIZ

Volto a trazer aqui a gente das Terras. Gente que é feliz, numa zona em que dá gosto viver.
Em anterior nota referi que o povo das Terras “Forma um grande clã, onde raramente aparece um conflito e, se isso acontece, normalmente “morre à nascença”, como soe dizer-se.”
E não me engano. O sítio deve ter sido povoado por uma só família, os Sousas e Furtados. Mais tarde surgiu a família Madruga. E quase só as três famílias por lá ficaram e se propagaram. Hoje têm numerosas descendências.
Dos Sousas-Silveiras e Furtados era Manuel Filipe, filho de Filipe Cardoso e de Mariana de Jesus, esta filha de António Furtado e de Engrácia Maria. Nasceu nas Terras em 28 de Abril de 1832. Emigrou jovem para os Estados Unidos da América, onde adoptou o nome de “John (Portugee) Phillips”, e se tornou herói português nas lutas contra os índios. Ficou na História dos EUA e hoje é uma figura mundialmente conhecida. É pena que na Terra natal não exista um sinal qualquer a lembrar o célebre herói, cuja façanha anda até nos compêndios escolares. Bastava uma placa no pequeno ramal em frente da Ermida, com um mínimo de dados informativos. Julgo que ainda tem parentes no Lugar. Dele já tratei em anteriores trabalhos.
Os Madrugas têm origem em António Pedro Madruga, natural desta vila, irmão da minha avó materna, que casou nas Terras e por lá ficou, deixando uma numerosa descendência. Os Madrugas espalham-se hoje pela Horta, Ponta Delgada, Estados Unidos, Canadá e até Argentina, para onde emigraram alguns deles. Tal como os Sousas Silveiras e os Furtados. Vários conseguiram cursos superiores e desempenham cargos de relevo nas ilhas e no continente português.
Ainda conheci aquele meu tio-avô. Um homem sério, honesto, respeitado e respeitador. Uma figura patriarcal.
As gentes das Terras, profundamente católicas, não faltavam ao cumprimento dos preceitos dominicais. Eram os primeiros a chegar, ao domingo, à Igreja Matriz, para a primeira Missa. E igualmente nos dias festivos. E se os actos religiosos se prolongavam pela tarde, eles permaneciam pela vila, em casa de amigos ou parentes, ou mesmo no próprio templo, aguardando as cerimónias vespertinas.
Para que os enfermos pudessem cumprir a chamada “desobriga quaresmal”, o Pároco, Pe. José Vieira Soares obteve permissão do Bispo diocesano, D. António Meireles, para ir às Terras celebrar Missa e visitar os que não podiam deslocar-se à casa onde era celebrada a eucaristia. Servia-se do altar portátil, que havia pertencido ao Bispo de Macau, Dom João Paulino de Azevedo e Castro e que havia sido legado à Matriz, com outros objectos de culto, por um dos irmãos do extraordinário Bispo lajense. Acompanhei-o alguns anos. Era um dia de festa para o lugar. Nem os foguetes faltavam.
Mas o povo das Terras entendia que alguma coisa faltava ali. E foi então que resolveu construir uma Ermida onde mais facilmente se celebrassem os actos de culto.
Presentemente as Terras, para cumprir os “votos” do Espírito Santo ou preceito dominical, já não desce à vila, como anteriormente. E aqui recordo o que penei pela Ladeira da Vila até às Terras, levando em cortejo, a Coroa do Divino, depois de haver coroado na igreja, na Vila, a convite de um afilhado de meu Pai. Tempos de recordações e de saudades
A aprovação do projecto e licença para a construção da bela e esbelta Ermida, semelhante a uma pequena igreja paroquial, foram concedidas pelo Bispo D. Manuel Afonso de Carvalho e a respectiva Provisão de 18 de Junho de 1969, foi assinada pelo Vigário Geral, Monsenhor José Pereira da Silva.
A bênção do pequeno templo, cujo titular é o Coração Imaculado de Maria, foi autorizada pelo mesmo Bispo Diocesano em 27 de Março de 1972, sendo oficiante, por delegação do Prelado, o Pároco e Ouvidor das Lajes, Pe. António Cardoso. No mesmo documento foi autorizada a ereção da Via-Sacra com as indulgências próprias. Já são decorridos trinta e cinco anos.
As Terras possui hoje, além da Ermida, um amplo salão, como referi no anterior escrito, provido com cozinha moderna, onde são preparadas as funções do Espírito Santo. É um dos mais amplos da ilha. Nele realiza também as suas festas nocturnas e outros divertimentos. É a sala de convívio do lugar.
Após a construção da estrada Lajes-Piedade, denominada “Ministro Duarte Pacheco”, a firma Edmundo Machado Ávila & Filhos, construiu ali um prédio, no lado Leste da estrada, destinado a comércio, que manteve durante vários anos. Era praticamente um comércio de trocas de géneros por artigos de mercearia.
Antigamente as folgas tinham lugar nas pequenas salas de algumas das habitações do meio. Por lá havia excelentes tocadores de viola e cantadores e a velha “Chama-Rita” era o baile mais apreciado. Mas não faltavam também os antigos “Bailes de Roda”. Por cortesia de amigos assisti a um desses bailes e fiquei encantado com a elegância, o donaire, a presteza dos dançarinos, que o eram de todas as idades. Bons tempos.
A par disso, as Terras modernizou-se. Antes que a electricidade cobrisse toda a Ilha, a população associou -se numa cooperativa, adquiriu um motor gerador e instalou uma rede de distribuição que, não só abastecia os domicílios dos respectivos sócios como também a via pública. Presentemente a rede pública da empresa concessionária tomou esse encargo.
Creio que as atafonas desapareceram. As habitações modernizaram-se, algumas de boa arquitectura. A população desenvolveu a pecuária e, conjuntamente com a população do Arrife, chegou a ter uma fábrica de lacticínios, que actualmente á pertença de uma firma comercial.
Nas Terras ou oriundos de lá, tenho muitos parentes e alguns bons amigos. A eles dedico esta modesta prosa.
Vila das Lajes, Abril de 2007
Ermelindo Ávila

domingo, 13 de maio de 2007

Turismo e o mais que se segue

Está em apreciação pública o Plano de Ordenamento Turístico regional.
Elaborado por um grupo de trabalho ou comissão ad-hoc, parece que cobre todas as ilhas, mesmo aquelas que não foram consideradas “Ilhas da Coesão”. No entanto, as “Ilhas Maiores” são sempre as mais beneficiadas nestas iniciativas governamentais. É caso para se trazer aqui o velho ditado: Quem está ao pé do lume é que se aquece.
Quando se “implantou” no Arquipélago o regime da autonomia, propalou-se, à laia de propaganda eleitoral, que o projecto previa o desenvolvimento harmónico das nove ilhas. E porque, naturalmente, foi propaganda, por aí se ficou…
Passados trinta anos é o que se vê: As ilhas onde se situavam as antigas capitais, continuam a progredir. Todos os novos serviços por elas ficam. Ao contrário, as outras vão sendo defraudadas e diminuídas.
Resulta daí que os poucos jovens que ainda existem nas ilhas secundárias são atraídos pelas colocações que os novos serviços ou o aumento dos existentes lhes oferecem. E não foi isso que se prometeu!
Ao serem extintos os distritos, ficou acordado – mas a palavra de cavalheiro só existiu nos tempos em que não havia nem tinta nem papel… - que a Ilha seria uma unidade politico-administrativa, com um representante do Poder que circularia pelos concelhos, tal como antigamente os chamados Juízes de Fora e hoje acontece com a Presidência da Comunidade Europeia. Não seria, pois, norma inventiva de insucesso.
Todavia isso não aconteceu. Os maiorais distribuíram o “bolo” entre si como lhes aprove e deixaram para os mais pequenos somente as “migalhas”.
É o que se vê agora, mais descaradamente, com o Turismo. E o verdadeiro Turismo, no caso concreto do Arquipélago, não passa, afinal, da exploração das riquezas naturais de cada uma das ilhas. Nesse aspecto até umas são mais “ricas” do que outras. A umas a Natureza favoreceu mais generosamente. E não se esqueça que é essa riqueza natural que o turista, na generalidade, procura e, consequentemente, se deve aproveitar e explorar.
O POTRAA, como é designado o Plano, prevê para a ilha do Pico a exploração da baleia e, ainda, a vinha, o queijo, a montanha, o vulcanismo e o pedestrianismo; e como zona de vocação turística a faixa entre São João e Silveira, ou melhor dito, o “Mistério” da Silveira.
Enquanto que, para outras ilhas, se indicam as Festas do Espírito Santo, do Pico nada se refere… Esqueceram-se que é precisamente na Ilha do Pico que tais festividades têm maior expressão e “arrastam” imensos forasteiros, mesmo da Ilha do Faial. É a ilha onde os Impérios, cumprindo votos seculares, se mantêm com mais forte tradicionalismo, como está a acontecer no presente ano no lugar das Terras, subúrbio desta Vila.
Fala-se de campos de golfe mas esquece-se que na ilha foi há anos iniciada a construção de um, no Mistério da Silveira, que agora o Plano classifica como zona forte e que ficou a meio. Não seria ocasião azada para se concluir tão importante elemento de atracção turística, agora que se projecta para a mesma zona a construção de uma unidade hoteleira?
Apetece perguntar: quando, por um lado, se reconhece à Ilha uma forte aptidão para o desenvolvimento do turismo, por outro se recusa nela implantar os equipamentos indispensáveis ao desenvolvimento dessa actividade ?
Não poderia o Município , ou a recentemente criada empresa municipal, chamar a si a conclusão do campo de golfe ?
A população do Pico está praticamente envelhecida. O seu rejuvenescimento foi evitado com a saída da juventude. Ela não regressa porque não lhe dão os meios próprios para uma condigna fixação. Será que o turismo virá a ser essa panaceia que tanto se ambiciona e espera? Se assim é, ou parece ser, que fazem as entidades oficiais para que na ilha se estabeleçam actividades que promovam o seu desenvolvimento? Poderão responder que isso não lhes compete. Mas, então, para que serve a pesada máquina governamental? Só para arrecadar impostos e manter uma estrutura administrativa de função meramente burocrática?
Afinal, valerá a pena insistir? Já tantas vezes escrevi sobre este tema, sem quaisquer resultados… Um dia, porém, alguém me dará razão. Pode é vir tarde!
Vila das Lajes.
1 de Maio de 2007
Ermelindo Ávila.

Notas do meu retiro

...é o título do blogue que hoje se inicia com crónicas do escritor e investigador picoense Ermelindo Ávila.
Notas do meu retiro é o nome de uma rubrica que o autor criou para a publicação de centenas de crónicas no semanário O DEVER e noutros jornais açorianos.
Este é um contributo disponibilizado a quantos se interessam pela história, cultura, etnografia e problemática da Ilha do Pico, nomeadamente do Concelho das Lajes, terra natal do autor, no âmbito da reflexão e da investigação histórica efectuada por E.Avila, durante mais de 60 anos.
Como acontece com todos os trabalhos de autor, os utilizadores dos textos e informações aqui publicados estão obrigados à citação da fonte.