domingo, 27 de maio de 2012

AS DOMINGAS DO ESPÍRITO SANTO





O ciclo festivo denominado “As Domingas terminou. E, como vulgarmente se diz, este ano foi o "ano das Terras”. Isso significa que, durante as Domingas, após o domingo de Páscoa, diversas famílias, seguindo uma tradição muito antiga, “levaram a Corôa” e deram jantar a muitos convidados. Os dois últimos domingos, entre a Páscoa e o Pentecostes não foram ocupados, pois os antigos “irmãos” já não existem e não deixaram famílias para os continuar.
Mesmo assim, foram cinco domingos de festa para o subúrbio das Terras, desta vila das Lajes do Pico.
O mesmo aconteceu na Almagreira, onde ainda existe idêntica Irmandade, embora esteja também quase inexistente.
Mesmo assim, foram cinco domingos em que aquele lugar das Terras esteve em festa permanente, pois, durante a semana que antecedia o domingo, havia os naturais preparativos para o jantar em cujos trabalhos se ocupava a quase totalidade da população. À noite, não faltava o terço cantado com a presença dos foliões. Na sexta-feira de cada semana o mordomo oferecia aos familiares e convidados uma merenda que, afinal, era um excelente repasto com variados manjares.
Notória a confraternização e o entendimento que existia entre as pessoas, quer as simplesmente convidadas quer aquelas, principalmente jovens, que se ocupavam, nas diversas tarefas preparatórias e, principalmente, na distribuição das sopas e assistência atenta às mesas.
A animar as Coroações estiveram sempre presentes os Foliões, com seus cantares alusivos e, em alguns domingos, filarmónicas que abrilhantavam os cortejos processionais.
Nos domingos festivos, as Corôas, - no último estiveram dez, - saíam das residências dos Mordomos e, em procissão, formada pelos quadros de varas onde iam os portadores dos estandartes alçados e as Coroas, levando à frente os foliões. Depois seguiam, acompanhados dos familiares e de muitos convidados, para a Ermida do Coração de Maria, onde se celebrava Eucaristia solene, cantada. No final o sacerdote celebrante coroava os mordomos e seus representantes. Depois de arrematadas as ofertas que o Mordomo leva à Igreja (pães de massa sovada, uma terrina de sopas, uma travessa de carne e uma garrafa de vinho – o vinho de cheiro do Pico, tanto apreciado nestas ocasiões), era reorganizado o cortejo que voltava a passar pela casa do mordomo para se dirigir a seguir para o vasto salão do lugar, pertença da Sociedade Recreativa Alegria no Campo, mas sempre de portas abertas para as festividades. Aí eram servidas as “sopas do Espírito Santo”.
A ementa do jantar era e é sempre igual em todas as funções mas sempre apetecida: as tradicionais sopas com carne cozida, depois carne assada e a seguir arroz doce e, em algumas, também bolos doces. Nas mesas abundavam o queijo e a massa sovada, para as “entradas” nunca faltando o vinho, os refrescos e as águas minerais.
À apresentação de cada iguaria é costume os foliões, que ocupavam lugares perto dos tronos onde estavam as Coroas, entoavam loas apropriadas. E se havia filarmónica, esta, no final do jantar, habitualmente executa o hino do Espírito Santo e uma marcha ligeira.
No corrente ano foram mordomos: no primeiro domingo, Alberto Pimentel e esposa Vicência Soares Pimentel; no segundo, Manuel da Rosa e esposa Hortense Soares; no terceiro, José Simões e esposa Maria Fernanda Simões, que expressamente vieram dos Estados Unidos, onde residem, para cumprir o voto, que vem, como os outros, de seus antepassados; no quarto domingo, Manuel Pereira Madruga e esposa Maria Armanda Madruga; e, no quinto domingo, José Adelino Fagundes e esposa e Fátima Fagundes.
De registar o lançamento do novo livro da luso-americana Maria Fernanda Simões, Em cada Canto um Divino Espírito Santo, realizado a seguir à merenda da Sexta-feira da semana em que a Autora, como disse, foi Mordoma. Um evento que teve larga assistência. Trata-se de um trabalho bastante ilustrado e com Arranjo Gráfico e impressão da Nova Gráfica, Lda. Em Nota Explicativa escreve a Maria Fernanda: “... para que festas antigas do Divino Espírito Santo não caíssem no esquecimento, resolvi escrever este quarto livro que intitulo Domingas ou Folias, no lugar das Terras, únicas celebrações que ali existem , muito características no lugar, porque vêm de longa data”. Poucas localidades açorianas manterão ainda esta tradição das Domingas, embora celebrem diversos actos de culto em louvor da Terceira Pessoa da SS. Trindade. Eles revelam o respeito dos picoenses pela tradição religiosa de seus Maiores e um autêntico espírito de sacrifício, de confraternização e de amizade entre as famílias e conhecidos, e uma devoção permanente à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Os maiores louvores aos mordomos e aos habitantes do progressivo lugar das Terras.

Vila das Lajes,
Semana do Espírito Santo de 2012.
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 23 de maio de 2012


NOTAS DO MEU CANTINHO


O RETORNO ...


Até meados do século XX a emigração açoriana dirigia-se para países estrangeiros, principalmente o Brasil. A seguir foi a emigração para os Estados Unidos da América. Mas esta tinha características muito diferentes das actuais.
Normalmente, quem emigrava para o Brasil “esquecia-se” por lá e deixava de dar notícias. Raros eram os que voltavam. Haja em vista o que aconteceu com os “casais” que, após as erupções vulcânicas do século XVIII, foram levados para o Estado de Santa Catarina. Daí correr o adágio: O Brasil é a terra dos esquecidos.
A emigração para os Estados Unidos da América, iniciou-se quase só de “salto” nas baleeiras americanas, embora estas ainda sob a bandeira inglesa.
O notável escritor e contista Florêncio Terra, na obra póstuma “A Caça à Baleia nos Açores”, (para só citar este Autor). Refere: “No ano de 1678, por exemplo, os ingleses obtiveram 800 contos de azeite, tendo empregado 200 navios de um mastro e com capacidade cada um, para 250 barris de óleo, cada barrica levando 50 canadas. Vendia-se nesse tempo o azeite de baleia a 200 rs. A canada (2,33 litros) e o de cachalote a 300 rs. Um ofício do Capitão General dos Açores, D. Antão de Almada, para o Governo, em 19.10-1768, refere-se a muito espermaceti e âmbar que então havia, e apresenta informações interessantes relativas a essa indústria ali efectuada em barcos ingleses”.
Alguns desses emigrantes “de salto” por lá ficaram, outros voltaram, principalmente, para iniciar aqui a actividade baleeira, como foi o caso do Capitão Anselmo. E não só.
Seguiu-se a emigração em termos legais. Pelos portos dos Açores passaram, além de outros, os barcos dos “Transportes Marítimos do Estado”. Apareceram depois os italianos, primeiro o “Sinaia” e, a seguir, outros de maior tonelagem, como o “Vulcânia” e o “Saturnia”. Quando estes por cá apareceram, um jornalista açoriano classificou-se de “cidades flutuantes”!
Normalmente, os emigrantes iam solteiros, com o propósito de voltarem, pois na terra, além dos pais e mais familiares, quase sempre deixavam as namoradas. Alguns esqueciam-se outros cumpriam a promessa... A grande maioria nunca mais voltou à terra e, da família, nos primeiros tempos, lembrava-se quase somente pelo Natal.
Organizaram as suas vidas, constituíram família e tornaram-se elementos válidos nas Terras do Tio Sam. A testemunhar a sua actividade estão as igrejas católicas, as sociedades fraternais e muito do comércio e indústria que, principalmente na Califórnia, ainda hoje prospera. E não refiro nomes, que o podia fazer...
Mas, após a guerra de 1914-1918, a América fechou-se à imigração e anos se passaram sem que alguém pudesse para lá emigrar.
Mesmo assim muitos voltaram às terras de origem e foram eles que passaram a adquirir os terrenos – de semeadura e pastagem – das famílias morgadias, decaídas, o que permitiu a divisão normalizada da propriedade rústica. Uma situação que não pode esquecer-se pois modificou totalmente a vida familiar e económica destas terras.
Na década de cinquenta do século XX rebentou na ilha do Faial o Vulcão dos Capelinhos. Os americanos sensibilizaram-se com a situação angustiante de muitas famílias faialenses e permitiram que algumas delas emigrassem para aquele país. Entretanto, as leis americanas são modificadas e abre-se a emigração a muitos açorianos e portugueses. Foi o êxodo.
Não emigraram unicamente indivíduos isolados. Saíram famílias inteiras. Naturalmente quase toda a juventude. As freguesias foram despovoadas e por cá ficaram quase só os velhos. Não refiro as situações de prosperidade que muitos alcançaram nas terras da Diáspora. Felizmente.
No entanto, os reflexos dessa saída, algo precipitada, estão a verificar-se. Temos uma população praticamente envelhecida, incapaz de ter novas iniciativas de actividades económicas. Alguns dos que ficaram vivem das reformas e dos subsídios estatais. Outros vão-se recolhendo aos lares da terceira idade que, entretanto, se vão criando em quase todos os concelhos. E a juventude que aqui e ali aparece, raro se fica pela terra. Caminha para outros meios para continuar estudos ou conseguir empregos e não voltam.
Uma situação angustiosa, afinal, que ninguém é capaz de alterar.

Vila das Lajes,
9 de Maio de 2012-
Ermelindo Ávila
(Escrito de acordo com a ortografia antiga)

sábado, 12 de maio de 2012

SANTO CRISTO MILAGROSO



O povo açoriano está, nestas dias que antecedem a festa de Pentecostes, voltado para ao Santuário da Esperança, na ilha de São Miguel.
Está a decorrer o novenário preparatório para as grandiosas solenidades em honra de Santo Cristo dos Milagres que, naquela ilha se vem, ininterruptamente, celebrando desde o século XVI, quando o Papa Paulo III ofereceu a duas religiosas micaelenses, a santa imagem, segundo relata o Pe. José Clemente.
A grande devota de Santo Cristo foi a Venerável Teresa da Anunciada que, segundo o seu biógrafo, tinha colóquios íntimos com o Seu Rei e Senhor.
Não se conseguiu ainda que a Igreja Romana elevasse às honras dos Altares a Venerável Religiosa. Todavia, Ponta Delgada já prestou condigna homenagem à Venerável Madre Teresa da Anunciada, colocando a sua estátua junto do convento onde ela passou os últimos anos de vida.
Bem merecia que algo mais se promovesse em ordem à finalização do processo de Beatificação
E isso em nada desmerece ou diminui o culto ao Senhor Santo Cristo, presente no convento da Esperança e, igualmente, em diversas igrejas das ilhas açorianas e até na Diáspora.
A ilha do Pico, além do culto normal a Jesus Cristo, - e ele é bem patente na veneração das Imagens do Bom Jesus de São Mateus, Calheta e Criação Velha, na paróquia da Silveira é o Senhor Santo Cristo, como nas do Senhor Jesus Crucificado de Santa Cruz das Ribeiras ou do Senhor Jesus das Preces, venerada na Matriz das Lajes - tem um culto especial à segunda Pessoa da Santíssima Trindade, em todas as igrejas paroquiais.
A Ilha do Faial festeja, oficialmente, em cumprimento de um voto muito antigo, o Santo Cristo da Praia do Almoxarife. São Jorge presta culto ao Santo Cristo da Caldeira. A Terceira venera na capela da Natividade de Angra, o Santo Cristo da Terceira.
Por toda a parte é o povo em prece ante as Imagens Venerandas, quer em corpo inteiro, quer em busto, ou no Senhor Crucificado, muito embora algumas imagens mereçam mais atenção dos fiéis, como é o caso do Santo Cristo do convento da Esperança, ou do Bom Jesus da paróquia de S. Mateus do Pico, ambos os templos declarados santuários pelo Prelado da Diocese.
Mas maior e mais vincado é o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres de Ponta Delgada que ali atrai durante o novenário e festa, milhares de devotos, muitos idos das ilhas açorianas e numerosos vindos das terras da Diáspora, onde se encontram milhares de açorianos imigrados.
Quem um dia tomou parte nas festas e, principalmente, na Procissão, não ficou indiferente ante a fé dos devotos e dos sacrifícios que centenas deles fazem no cumprimento de promessas feitas em horas de angústias e dores.
A festa de Santo Cristo mantém o secular programa. A procissão segue, anualmente, o mesmo percurso de há séculos e não haja quem pretenda modificar o itinerário porque os micaelenses não consentem. E ainda bem que é assim. É um acto litúrgico e a liturgia não anda ao sabor dos modernismos mas mantém os seus princípios de culto a Deus e aos Seus Santos. E o Santo Cristo é, na realidade, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade: Um só Deus em três Pessoas iguais e distintas ensina o antigo catecismo. E o Concílio de Trento já declarara: “O Pai aquilo mesmo que o Filho, o Filho aquilo mesmo que o Pai, o Pai e o Filho, aquilo mesmo que o Espírito Santo, ou seja um único Deus por natureza”.
Não vim dar uma lição de catequese. Não me compete. Venho lembrar a festa da Segunda Pessoa da SS. Trindade – o Filho, que veio ao mundo, encarnou e se fez homem e sofreu e morreu pelos outros homens seus irmãos. E é uma passagem da Sua Vida – Cristo apresentado no Pretório de Pilatos à turba enraivecida, que hoje veneramos na sua bela e expressiva Imagem do Ecce Homo. Imagem milagrosa. Imagem que recorda aos homens um dos momentos mais angustiosos de Cristo ao sofrer a Paixão e Morte na Cruz. E são todos esses passos da Paixão que o povo crente recorda com fé, recolhimento e gratidão, implorando a seu jeito os favores de que necessita, quer materiais quer espirituais.
É por isso que milhares e milhares de devotos caminham descalços ou de joelhos sobre as calçadas, onde deixam algum dos seu sangue de mistura com dores físicas, a expiar as dores morais porque passaram em momentos de aflição e dor.
Não se pode assistir a estes actos de verdadeira penitência sem uma reflexão íntima de pena e angústia a compartilhar sofrimento com os irmãos que sofrem.
Como Mons. Pereira da Silva terminava as suas palestras no Rádio Clube de Angra, a assinalar o lº centenário da festa do Bom Jesus, de São Mateus do Pico, em Agosto de 1962, assim finalizo este modesto escrito: Senhor Jesus, não olheis para a minha indignidade e faze-me um dos teus romeiros. Mete-me numa página do teu livro e dá-me um lugar no teu céu.

Vila das Lajes,
5 de Maio de 2012.
Ermelindo Ávila


O povo açoriano está, nestas dias que antecedem a festa de Pentecostes, voltado para ao Santuário da Esperança, na ilha de São Miguel.
Está a decorrer o novenário preparatório para as grandiosas solenidades em honra de Santo Cristo dos Milagres que, naquela ilha se vem, ininterruptamente, celebrando desde o século XVI, quando o Papa Paulo III ofereceu a duas religiosas micaelenses, a santa imagem, segundo relata o Pe. José Clemente.
A grande devota de Santo Cristo foi a Venerável Teresa da Anunciada que, segundo o seu biógrafo, tinha colóquios íntimos com o Seu Rei e Senhor.
Não se conseguiu ainda que a Igreja Romana elevasse às honras dos Altares a Venerável Religiosa. Todavia, Ponta Delgada já prestou condigna homenagem à Venerável Madre Teresa da Anunciada, colocando a sua estátua junto do convento onde ela passou os últimos anos de vida.
Bem merecia que algo mais se promovesse em ordem à finalização do processo de Beatificação
E isso em nada desmerece ou diminui o culto ao Senhor Santo Cristo, presente no convento da Esperança e, igualmente, em diversas igrejas das ilhas açorianas e até na Diáspora.
A ilha do Pico, além do culto normal a Jesus Cristo, - e ele é bem patente na veneração das Imagens do Bom Jesus de São Mateus, Calheta e Criação Velha, na paróquia da Silveira é o Senhor Santo Cristo, como nas do Senhor Jesus Crucificado de Santa Cruz das Ribeiras ou do Senhor Jesus das Preces, venerada na Matriz das Lajes - tem um culto especial à segunda Pessoa da Santíssima Trindade, em todas as igrejas paroquiais.
A Ilha do Faial festeja, oficialmente, em cumprimento de um voto muito antigo, o Santo Cristo da Praia do Almoxarife. São Jorge presta culto ao Santo Cristo da Caldeira. A Terceira venera na capela da Natividade de Angra, o Santo Cristo da Terceira.
Por toda a parte é o povo em prece ante as Imagens Venerandas, quer em corpo inteiro, quer em busto, ou no Senhor Crucificado, muito embora algumas imagens mereçam mais atenção dos fiéis, como é o caso do Santo Cristo do convento da Esperança, ou do Bom Jesus da paróquia de S. Mateus do Pico, ambos os templos declarados santuários pelo Prelado da Diocese.
Mas maior e mais vincado é o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres de Ponta Delgada que ali atrai durante o novenário e festa, milhares de devotos, muitos idos das ilhas açorianas e numerosos vindos das terras da Diáspora, onde se encontram milhares de açorianos imigrados.
Quem um dia tomou parte nas festas e, principalmente, na Procissão, não ficou indiferente ante a fé dos devotos e dos sacrifícios que centenas deles fazem no cumprimento de promessas feitas em horas de angústias e dores.
A festa de Santo Cristo mantém o secular programa. A procissão segue, anualmente, o mesmo percurso de há séculos e não haja quem pretenda modificar o itinerário porque os micaelenses não consentem. E ainda bem que é assim. É um acto litúrgico e a liturgia não anda ao sabor dos modernismos mas mantém os seus princípios de culto a Deus e aos Seus Santos. E o Santo Cristo é, na realidade, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade: Um só Deus em três Pessoas iguais e distintas ensina o antigo catecismo. E o Concílio de Trento já declarara: “O Pai aquilo mesmo que o Filho, o Filho aquilo mesmo que o Pai, o Pai e o Filho, aquilo mesmo que o Espírito Santo, ou seja um único Deus por natureza”.
Não vim dar uma lição de catequese. Não me compete. Venho lembrar a festa da Segunda Pessoa da SS. Trindade – o Filho, que veio ao mundo, encarnou e se fez homem e sofreu e morreu pelos outros homens seus irmãos. E é uma passagem da Sua Vida – Cristo apresentado no Pretório de Pilatos à turba enraivecida, que hoje veneramos na sua bela e expressiva Imagem do Ecce Homo. Imagem milagrosa. Imagem que recorda aos homens um dos momentos mais angustiosos de Cristo ao sofrer a Paixão e Morte na Cruz. E são todos esses passos da Paixão que o povo crente recorda com fé, recolhimento e gratidão, implorando a seu jeito os favores de que necessita, quer materiais quer espirituais.
É por isso que milhares e milhares de devotos caminham descalços ou de joelhos sobre as calçadas, onde deixam algum dos seu sangue de mistura com dores físicas, a expiar as dores morais porque passaram em momentos de aflição e dor.
Não se pode assistir a estes actos de verdadeira penitência sem uma reflexão íntima de pena e angústia a compartilhar sofrimento com os irmãos que sofrem.
Como Mons. Pereira da Silva terminava as suas palestras no Rádio Clube de Angra, a assinalar o lº centenário da festa do Bom Jesus, de São Mateus do Pico, em Agosto de 1962, assim finalizo este modesto escrito: Senhor Jesus, não olheis para a minha indignidade e faze-me um dos teus romeiros. Mete-me numa página do teu livro e dá-me um lugar no teu céu.

Vila das Lajes,
5 de Maio de 2012.
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 9 de maio de 2012

PATRIMÓNIO IMOBILIÁRIO

NOTAS DO MEU CANTINHO

Vezes sem conto tenho trazido a estas notas, talvez insípidas, o património imobiliário e histórico desta vila das Lajes. Nem sei, nem me dei ao cuidado de saber, se esses arrazoados têm merecido a atenção devida, não pelo escrito mas sobretudo pelo que representam, ou deviam representar, para uma terra, velha na existência, e para as suas gentes, aquelas sobretudo que nela habitam. 
Volto hoje, e concerteza pela última vez, a trazer à ribalta tão importante quão inquietante assunto, chamando a atenção, se é que isso se torna necessário, para a urgente necessidade de salvaguardar os valores históricos que nos legaram nossos maiores e que temos a obrigação de acautelar. 
A vila das Lajes é das poucas terras açorianas que têm imóveis classificados.
O convento franciscano foi fundado no Capítulo da Província franciscana, realizado em Ponta Delgada, no dia 29 de Junho de 1641. É um dos mais grandiosos edifícios da ilha do Pico. Está na posse da Câmara Municipal desde 3 de Janeiro de 1840. Foi classificado como imóvel de interesse público, por Portaria nº 22/78, de 30 de Março de 1978, da Secretaria Regional de Educação e Cultura. 
A ermida de S. Pedro, fundada pelo primeiro pároco Frei Pedro Gigante, por volta de 1460, é o primeiro templo e, consequentemente, o mais antigo da Ilha. Foi declarado Imóvel de Interesse Público por Portaria do Governo Regional, de 30 de Junho de 1984.
O Castelo de S.to António ou Forte de S.ta Catarina, foi construído em 1792, por ocasião das invasões francesas, para defesa da baía. No local existiu, anteriormente, o forte de S.ta Catarina que, com o forte da Barra e o da Terra da Fôrca, faziam a defesa da vila, das invasões dos argelinos. Possuía duas vigias e 7 ameias. A parada tinha a área de 22 por 34 metros. Ali foi instalado, em 1885, um forno de cozer cal. Presentemente, está nele instalado o Posto de Turismo Municipal. Foi classificado por decreto nº 95/78, de 12 de Setembro de 1978.
Nenhum destes imóveis tem placa de classificação. Impõe-se que neles se coloquem também placas identificativas pois, de contrário, quem os visita fica a desconhecer o interesse histórico que representam para a Vila e para a Ilha. E não é tarefa dispendiosa. Aqui deixo, a quem de direito, como soe dizer-se, o meu reparo e a minha petição.
E mais uma nota muito simples: Há anos foi colocada, no frontispício da ermida de S. Pedro, uma placa identificativa. Foi retirada quando na ermida se fizeram obras de restauro, depois do sismo de 9 de Julho de 1998. A placa não foi recolocada. É tempo de o fazer. O dispêndio não será muito.
Em 9 de Março de 1988, dois Deputados picoenses apresentaram, no Grupo Parlamentar respectivo, um projecto de Decreto Legislativo Regional para a classificação da Vila das Lajes do Pico. Alegavam que “O seu traçado arquitectónico mantem-se tal como o delimitaram os primeiros habitantes do primeiro lugar da ilha. – Ainda conserva a primitiva igrejinha na parte sul e outros monumentos históricos de relevância, como, igualmente, residências particulares, algumas dos séculos XVII e XVIII, que formam um conjunto muito valioso e bastante apreciado pelo turismo.”
O projecto do decreto, muito idêntico ao que classificou a Vila de Santa Cruz da Graciosa, não mereceu a aceitação dos deputados do partido a que pertenciam, alegando que o de S.ta Cruz havia causado certos problemas no restauro dos respectivos edifícios. No entanto, mais tarde houve quem andasse por aí a colher informações sobre a arquitectura e até arruamentos da vila...
A vila ficou prejudicada pela falta de medidas legislativas que acautelassem o seu património. E se o Decreto tivesse sido aceite e aprovado, não seria hoje um montão de ruínas como se vai verificando. Todavia, nunca é tarde para se tomarem medidas cautelares. Haja quem tenha essa coragem.
Mas isso será assunto para mais tarde. Por agora, apenas esta lembrança... 
Vila das Lajes,
30 de Abril de 2012 
Ermelindo Ávila