sábado, 21 de março de 2009

O Pico, uma Ilha "esquecida"

NOTAS DO MEU CANTINHO

É incompreensível o que está a passar-se com a ilha do Pico.

Primeiro foi a exclusão do grupo das chamadas “Ilhas de Coesão”. Depois é a quase inexistência de empreendimentos no Plano e no Orçamento Regional para o presente ano. Para quem quiser conhecê-los eles estão na respectiva página da Internet.

Lendo esses documentos oficiais, pasma-se com a estranha atitude dos órgãos governativos. E não se explica a razão. No entanto, há ilhas notoriamente beneficiadas. E igualmente “lugares ou zonas especiais”.

Na Ilha do Pico o que há de maior relevância, a chamar a nossa a tenção, é um jardim na Vila Fronteira, naturalmente para que os vizinhos possam vir descansar e passar as horas de ócio e os naturais horas de lazer, nos bancos do reduto.

Se bem soubemos ler, na zona das Lajes apenas estão consignadas verbas para escolas. ( Talvez, melhor dito, para os projectos e aquisição dos terrenos. Estaremos enganados?) E as obras prioritárias: A continuação da defesa da Vila? Já algum técnico superior reparou no molhe construído e na deslocação dos blocos?

A instalação dos Serviços Sociais, com a restauração da casa que a Câmara adquiriu há anos e cedeu à Região para esse fim? Ou espera-se pela “concentração” que acaba de anunciar-se?

No meio da Vila, ou seja, no Centro Histórico do primeiro núcleo habitacional da Ilha é uma vergonha o que ali se passa. O arcaboiço está a ruir e só isso não se vê porque uma vegetação selvagem se assenhoreou de todo o espaço em ruínas.

As estradas foram melhoradas nos pisos mas esqueceu-se de cuidar das bermas e da respectiva sinalização.

A ilha tem excelentes locais onde poderiam ser levantados miradouros a descobrir panoramas magníficos, como seria o do Caminho Largo, na Piedade, o das Pontas Negras, o do Cabeço das Terras, eu sei lá! Há tantos locais que, em outras ilhas, já estariam sinalizados. Mas esquecemo-nos que estamos no Pico, a ilha dos infortúnios?!...

E a “casa do Estado”, como é conhecida, construída provisoriamente para arrumo das ferramentas utilizadas na muralha de Defesa, há cerca de setenta anos e que continua sem um arranjo decente, ali, na zona do Museu, uma das mais frequentadas por estranhos, apesar de lá estarem instalados serviços regionais...

E a casa de apetrechos marítimos? Não é construída junto ao porto das Lajes, que também é classificado “porto de pesca”?

E a casa da Lota? Destruíram a que existia, mandada construir pela Câmara Municipal. Tornou-se necessário proceder à demolição, para que as obras junto da muralha de defesa pudessem realizar-se. E ninguém contestou. Mas não foi substituída. Antes, colocaram um contentor (!) junto do antigo campo de jogos, para a venda de pescado. Que seria situação provisória, disseram. Afinal um “provisório” que se está tornando em definitivo. Talvez porque fica melhor a concentração, na Madalena, de mistura com “alhos e bugalhos”, como é desejado? E o caso da SATA? Não interessa resolver? Até quando, Senhores responsáveis?

Não fica por aqui o rol de carências desta vila e seu concelho. E até da ilha. Mas por outras bandas há personalidades credenciadas que estão alcandoradas em posição de saberem defender suas testadas...

Está na Assembleia Regional para discussão e aprovação, o Plano e Orçamento da Região para o corrente ano, ou melhor, para os três últimos trimestres do ano... Qual vai ser a posição dos Senhores Deputados eleitos pelo Circulo Eleitoral da Ilha do Pico? Melhor: Que poderão fazer? Aguardamos...

Talvez se espere que a administração municipal mude de côr, como se apregoa, para que então se olhe melhor para o Pico. Mas isso não se compreende. A Democracia, na sua essência e pureza doutrinais, não é o desrespeito de uns em benefício de outros. Antes, o respeito e a igualdade de todos.

...o grande escolho de todo o regime fundado no sufrágio popular, é a tentação de substituir a autoridade imprescindível do direito, pela lei brutal do número e, cair assim, no pior dos despotismos que é o das maiorias.”(Manuel de Filosofia, de C. Lahr, pág. 623)

Não interessa agora lembrar os princípios filosóficos da Democracia. Importa, antes, que ela seja aplicada com isenção e justiça.

E é isso que falta por estes lados, voltados para o Atlântico, sem alguém que se lembre de por aqui passar e tomar nota, em seu canhenho, das carências desta Terra, para lhes dar a merecida solução.

Vila das Lajes, Março de 09

Ermelindo Ávila

terça-feira, 17 de março de 2009

Imprensa e Jornais na Ilha do Pico

A primeira Imprensa existente na Ilha do Pico foi trazida para as Lajes pelo professor Manuel Tomás Pereira. Nela não chegou a imprimir-se qualquer jornal. Transferido para Lisboa o proprietário vendeu a oficina para a Madalena, e, ali, nela foi impresso o primeiro jornal, “O Picoense”, fundado que foi por Urbano Prudêncio Silva, em 1874. Este indivíduo, depois foi para Coimbra formar-se em Direito e após a licenciatura veio para a Horta onde exerceu o cargo de Secretário Geral do Governo Civil até à reforma. Depois, publicaram-se os seguintes jornais:



CONCELHO DAS LAJES DO PICO


1º - O Trabalhador - 1889

2º - O Lagense - 1890

3º - O Echo do Pico – 1904

4º - As Lages - 1914

5º- A República - 1919

6º - O Dever – Fundado na Calheta de S. Jorge em 1917 passou a publicar-se nas Lajes em 1938

7º - O Estímulo – 1952 – Jornal do Ensino Secundário Particular



CONCELHO DA MADALENA



1º - O Picoense - 1874

2º - O Madalenense – 1874

3º - O Observador – 1890

4º - O Picoense – 2ª série – 1890

5º - A Notícia -1898

6º - A Voz - 1899 (P. Nunes da Rosa)

7º - A Ordem - 1910 (P . Nunes da Rosa)

8º – Sinos d'Aldeia – (Pe Nunes da Rosa) – Bandeiras

9º – Cartão de Visita – Prof Garcia de Lemos – S.Mateus

10º -Bom Combate - 1962 – Pe José F.Fortuna - Bol.Paroquial-Madalena


11º- Ecos do Santuário- Boletim Paroquial de S.Mateus – Pe Filipe Madruga

12º - Ilha Maior - 1988


CONCELHO DE S. ROQUE DO PICO



1º - O Echo do Pico – 1878

2º - O Boletim Judicial – 1879

3º - O Picaroto – 1882

4º - O Pico - 1885

5º - O Independente – 1886

6º - O Picoense – 1890 (Teve várias séries)

7º - O Popular - 1890

8º - O Futuro - 1898 (Teve várias séries. Por último publicado na Horta sob a direcção de Francisco Ramos)

9º – Campeão – 1923 – Prainha do Norte

10º - Jornal do Pico – 2004


quarta-feira, 11 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher

(crónica de Manhãs de Sábado da RDP-A)

O dia oito do corrente foi considerado o Dia Internacional da Mulher. Em locais diversos foi esse dia assinalado com comemorações adequadas, todas elas dedicadas à mulher. Mas, naturalmente, à mulher dos nossos dias. E ela bem o merece, pois, aqui e ali, há sinais de perseguição e de afronta à dignidade da mulher e, não raro, a agressão brutal ao seu físico débil.

A mulher continua a ser esposa dedicada e, quando o é, mãe carinhosa, muito embora as exigências da vida moderna a obriguem a sair do lar e a ter ocupações diferentes daquelas que lhe seriam mais razoáveis.

Na realidade, é de reconhecer que as famílias, para puderem promover os filhos, necessitam da ajuda monetária da mulher e esta tem de deixar o lar entregue a estranhas, e procurar ocupação convenientemente remunerada na vida política e profissional, conseguindo aumentar assim os rendimentos familiares, capazes de suportarem os encargos com as exigências sociais e a educação dos filhos.

Todavia, nem sempre os resultados são os melhores.

Limita-se o número de filhos, ou evitam-se, muito embora existam as leis de protecção à mãe, para que a mulher tenha liberdade de acção, que, apesar de tudo, estão em flagrante contradição com as facilidades concedidas para a redução do agregado familiar. E sobre este aspecto haveria tanto a escrever...

Passemos em frente e deixemos que o tempo se encarregue de encontrar a solução capaz de debelar a tremenda crise que atinge a família de hoje, crise que perniciosamente se reflecte nos próprios filhos.

Na vida de qualquer homem há sempre uma mulher. Uma mulher que o recebeu em seus braços quando ele caiu no mundo, o acarinhou com ternos beijos, o apertou em amplexos de amor. Uma mulher que tudo lhe deu, o acompanhou no crescimento, o vestiu e calçou, lhe deu o leite, o seu leite ou o leite estranho e, o fez crescer e ser homem.

Uma mulher que não mais é esquecida, embora outra venha mais tarde ocupar um lugar diferente.

Minha mãe, minha mãe!

Ai que saudade imensa

Do tempo em que ajoelhava,

orando, ao pé de ti!

E Guerra Junqueiro termina assim o poema, em “Velhice do Padre Eterno”:


A minha mãe faltou-me

era eu pequenino,

mas a sua piedade

o fulgor diamantino

ficou sempre abençoando

a minha vida inteira,

como junto dum leão

um sorriso divino,

como sobre uma forca

um ramo de oliveira!


Mas nem só a mãe, ou a sua memória saudosa, merecem ser enaltecidas neste dia que lhe é dedicado. Tantas outras foram heroínas ignoradas e hoje esquecidas.

Recordo aqui as domésticas, como eram designadas até há umas dezenas de anos passados. Não iam diariamente para os empregos, deixando a casa e os filhos entregues a outras, suas empregadas, mas por casa ficavam, no amanho dos seus lares.

Eram cozinheiras e costureiras e, nas horas vagas, bordadeiras.

Outras iam pelos campos, acompanhando os maridos, nos trabalhos da lavoura, ou caminhando, madrugada ainda, até às pastagens para tirarem o leite das vacas da sua lavra, para, depois, em casa, pela tarde, fazerem e tratarem dos queijos e quão deliciosos eram e que, de semanas a semanas, eram enviados, pelos negociantes –os queijeiros –para outras ilhas.

Eram elas que faziam, como hábeis costureiras, as roupas da família, as remendavam, as cuidavam e lavavam, em casa ou nas ribeiras e, quantas vezes nas costas do mar aproveitando os fios de água doce que brotava da terra.

E, como diz Junqueiro: à noite, antes do adormecer, ensinavam os filhos a orar ou rezar.

E as mulheres que, já envelhecidas, ajudavam, no amanho das casas, as filhas ou noras, cardando e fiando o linho e a lã para depois tecerem no tear e nele fazerem bons panos que vestiam e agasalhavam a toda família!

A mulher – mãe, também era mulher - esposa, carinhosa, meiga e submissa ao marido, mas num verdadeiro amor mútuo,

é bom não esquecer, seguindo contudo o preceito da Doutrina Cristã que aos dois foi lembrado no acto solene do Matrimónio: Amai –vos um ao outro como marido e mulher. A mulher seja submissa a seu marido!

Um compromisso que era assumido com alegria e amor a vida inteira!

Talvez por isso, é bom recordar tal um poeta nosso: Hoje Como é diferente o amor em Portugal!

Saudações respeitosas as todas as Mulheres, sejam elas esposas, mães, filhas ou avós!

domingo, 8 de março de 2009

AGRICULTURA TRADICIONAL

NOTAS DO MEU CANTINHO


Com a entrada de Portugal na CEE, hoje UE, a ilha do Pico sofreu um grande revés na sua agricultura.

Antes, todos os nacos de terra eram aproveitados com culturas diversas e o milho era a principal base da alimentação dos povos. Quem tinha o arquibanco ou a barricas cheias de milho – mais tarde foram os latões – tinha garantido o sustento no ano da própria família.

Era agradável olhar para essas encostas e ver os “serrados” cuidados e verdejantes e, nas épocas próprias, as culturas tratadas tratadas como verdadeiras plantas de jardins.

As chamadas “Ladeiras”, com os serrados limpos, tudo produziam. Os serrados junto das habitações, ou “hortas”, eram destinados, ao menos uma parte voltada a Norte, por abrigada pela parede divisória, à cultura dos “primores” agrícolas: o feijão, a ervilha, a fava, a cenoura, o alho, a cebola, a couve e o nabo, a açafroa, hoje substituído pelo colorau, a batata branca, etc. Afinal, tudo o que era indispensável na cozinha. As “velgas” ou serrados a seguir, eram quase sempre destinados à sementeira do trigo e os outros ao cimo da ladeira, destinados às sementeiras de milho. E quando este se colhia, nos meses de Outubro, os Lavradores (aqueles que, não sendo os proprietários, tinham a seu cuidado a lavoura das terras) semeavam as “ervagens de Outono”, para alimentação dos seus animais nos meses de Primavera.

Nos cimos das “Ladeiras” da Vila sempre existiram pequenas matas de faias e incensos que forneciam a lenha para a cozinha dos próprios proprietários. Até 1940 existiam fios de verga, que ligavam os cimos as Ladeiras aos quintais das casas da parte leste e conduziam, em roletas, pequenos feixes de lenha utilizada nas cozinhas, pois a electricidade e o gaz não eram ainda por cá conhecidos. Normalmente um trabalho feito ao fim do dia e que constituía regalo para a petizada Mas com a passagem da estrada havia que retirá-los...

Tudo foi abandonado. A mão-de-obra faltou. Deixou de haver o clássico “homem de fora”, ou aquele que a soldo trabalhava os campos estranhos.

Havia nas Lajes um bom homem, já um tanto idoso, que tinha a seu cuidado os quintais das habitações de certos habitantes. E tratava-os como autênticos jardins, com um cuidado como seus fossem. Era o João Francisco dos Passos. Com certeza que já ninguém dele se lembra. Um excelente contador de estórias, que eram o enlevo dos miúdos, aos serões das noites de Inverno.

Todos os géneros passaram a ser importados, da Espanha ou da América Central, e as terras foram, a pouco e pouco, abandonadas. O resultado está à vista.

É uma tristeza olhar para essas encostas e vê-las cheias de matas selvagens, sem qualquer utilidade, quase até às portas das cozinhas, pois até as criptomérias que alguns proprietários nelas plantaram, apresentam um desenvolvimento atrofiado e nenhuma utilidade terão.

A guerra mundial de 1938-1945 obrigou à arroteia de muitos terrenos do alto, para a produção de cereais, impossível de serem importados. E foi excelente o resultado. A Junta - Geral de então criou subsídios para a arroteia e despedrega que foram utilizados por alguns proprietários.

Os terrenos que passaram a pastagem de gado leiteiro, não terão de voltar ao primitivo estado de utilização? O trigo e o milho podem neles ser produzidos com vantagem e debelar a crise que dizem, existir na exploração leiteira, com a célebre questão das “quotas”, inicialmente bastante contestadas e hoje a serem abandonadas.

Com a crise económica que nos está a atingir, julgo que haverá necessidade de voltar aos tempos antigos e desbravar os terrenos abandonados, muitos deles que eram boas terras de pão, como se dizia. E se nos falta a mão-de-obra, pode ser substituída por pequenas máquinas agrícolas, ou importada das ilhas onde abunda, como acontecia em tempos passados. A Lavoura é uma arte que a ninguém desonra. Tal como a exploração das pastagens onde só se cria o gado leiteiro.

Posso estar errado neste meu pensar, mas a maturidade da vida ensinou-me que devemos aproveitar ao máximo as nossas potencialidades e, só depois, aproveitar os recursos estranhos.

Vila das Lajes,

1 de Março de 2009

Ermelindo Ávila