Notas do meu cantinho
A igreja católica organiza os anos litúrgicos de
harmonia com os anos civis. E essa norma só traz vantagens, pois evita o
atropelamento das diversas actividades. Talvez melhor se diga: Os Serviços
Públicos têm necessidade de organizar os seus horários em conformidade com os
da Igreja Católica, principalmente numa nação que, embora oficialmente laica,
tem de respeitar, para corresponder à maioria dos seus povos, os tempos
especiais do ano civil. Se assim não fosse, mal iria a Nação.
O calendário litúrgico divide o ano em tempos
diversos. A principiar no mês de Janeiro, celebrada a Epifania, após o Natal,
no corrente ano, logo no dia 2 de Fevereiro, dá-se início à época carnavalesca,
com a quinta-feira de Amigos. Na semana seguinte são celebradas as Amigas e,
depois, os Compadres e as Comadres, e chega logo o domingo do Carnaval. É um
tempo de balbúrdia que antecede a Quaresma.
Antigamente o Carnaval era celebrado com festanças
várias: máscaras e danças carnavalescas. Durante as quatro semanas do Entrudo
as pessoas reuniam-se nas casas mais amplas de famílias, vizinhos ou amigos,
para verem “passar” durante o serão os mascarados, que mais não eram do que
indivíduos imitando pessoas ou acontecimentos grotescos ocorridos durante o
ano. Nem sempre eram hilariantes...
Na quarta-feira de Cinzas a Igreja dá início à
Quaresma. O Catecismo da Igreja Católica (n.º 1438) prescreve: “Os tempos e os dias de penitência no
decorrer do Ano litúrgico, tempo da Quaresma, e em cada sexta-feira em memória
do Senhor, são momentos fortes da prática penitencial da Igreja.”
Antigamente a paróquia era distribuída em quartéis
semanais para que os fiéis pudessem cumprir o preceito pascal. Esse era um dia
especial para a respectiva família que, vindo tarde da igreja, passava o dia em
quase descanso, só fazendo o indispensável serviço doméstico.
Durante o tempo de Quaresma realizavam-se diversas
procissões: No primeiro domingo era a procissão do Senhor das Preces, no
terceiro, a Procissão do Senhor dos Passos e no seguinte a de Penitência. Nesta
procissão saíam várias imagens, duas delas num único andor – creio Santa
Delfina e São Eliseu- razão pela qual era conhecida pela Procissão dos
Bem-Casados.
A chamada “Semana Santa” era vivida de maneira especial,
com jejuns e trabalhos leves. Quase toda a gente tomava parte nas cerimónias:
Na quinta-feira santa, a missa solene de manhã e a cerimónia do Lava-pés à
tarde. Nesse dia o Santíssimo ficava exposto no trono até ao dia seguinte e era
adorado durante o dia e noite pelos irmãos da Irmandade do Santíssimo. Na
6ª.feira tinha lugar a cerimónia do Senhor Morto e no Sábado, ao meio dia,
“rompia” festivamente o Aleluia ou comemoração da Ressurreição do Senhor. No
Domingo seguinte era realizada a Procissão do Santíssimo e, de seguida, Missa
Solene. Na segunda-feira havia a celebração da Missa e a procissão para a
distribuição de Nosso Senhor aos Enfermos. Afinal, uma grande semana, pelo que
era conhecida como “semana dos nove
dias”.
No corrente ano o Domingo de Páscoa ocorre no dia 10
de Abril e o Espírito Santo a 29 de Maio.
No verão a Silveira realiza as suas festas principais:
Santo Cristo no primeiro domingo de Julho, Mãe de Deus a 15 de Agosto e a 24 a
festa do orago, S. Bartolomeu. Anos houve em que se celebravam as festas de
Santa Teresinha e de Nossa Senhora de Fátima no mês de Setembro.
Se bem recordo foi na Silveira que se realizou a
primeira festa de Nossa Senhora de Fátima, na ilha do Pico, cuja imagem foi
adquirida com o produto de um peditório efectuado na ilha por um individuo
conhecido por João Iria, dali natural.
E refiro a Silveira porque era a instância de veraneio
dos lajenses, o que já hoje não acontece, e as primeiras frutas da época eram
levadas para arrematação nos arraiais das festividades.
Só um pormenor: as cores litúrgicas alteraram-se com o
Concílio. Presentemente não se utiliza a cor preta, que foi substituída pela
roxa. Esta é obrigatoriamente utilizada na Quaresma, na Semana Santa e no
Advento. O branco nas festas de Nossa Senhora e dos Santos e o vermelho no
Espírito Santo e nas comemorações dos santos mártires.
Lajes do Pico, Jan.2017.
Ermelindo Ávila