quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

2007 - 2008

Parece que foi ontem que assinalávamos o início de 2007. Afinal ele está a terminar seus dias. Voltamos a folha do calendário e um ano surge.
Que será 2008? Sabemos que é ano bissexto, o mesmo que é dizer que, ao mês de Fevereiro, será acrescentado mais um dia. E, de quatro em quatro anos, acontece o mesmo a menos que a sua expressão numeral não seja divisível por quatro . Antigamente era um ano de surpresas e de acontecimentos agoirentos. Nos últimos anos as pessoas deixaram de pensar assim e só sentem os efeitos porque os ordenados não se alteram e há mais um dia a contar nos orçamentos domésticos.
O ano que ora termina não deixa saudades à grande maioria das pessoas, segundo os alarmantes clamores que continuamente nos chegam. Que será o novo ano? A ter em consideração as premissas que nos oferecem os resultados do ano que dentro de dias terminará, não será nada famoso o de 2008.
Os ordenados e salários manter-se-ão estagnados ou, como actualmente se diz, estacionários, originando lutas laborais contínuas. Os preços dos géneros continuarão em subida vertiginosa, resultando uma carestia de vida insuportável. As crianças serão indesejáveis. As interrupções da gravidez ocuparão as mesas da cirurgia hospitalar com a agravante de faltarem as mesmas para os doentes carecidos da intervenções cirúrgicas que se vêm forçados a procurar alívios em hospitais estrangeiros. Haverá mais crianças abandonadas nas creches e, nas ruas, mais famintos.
Será perigoso chegar à terceira idade porque a eutanásia espreita…
Nas ruas andarão aos bandos os desempregados, porque só se manterão as actividades industriais que produzirem bons e avantajados lucros para os seus donos e senhores, sejam nacionais ou pseudo-nacionais (estrangeiros).
Aqui e ali as rusgas de rua e manifestações sindicais são uma constante. E tudo no mundo global, onde só se procura extremar os dois blocos: milionários e pedintes. Ricos, remediados e pobres era em tempos idos.
É triste e arrepiante o quadro que aqui fica traçado? Queira Deus que me engane e que a humanidade possa gozar de paz, de tranquilidade, de alegria de viver, de bem-estar social e material. E se isso acontecer e eu vivo for, cá estarei para aplaudir a mãos cheias, todo esse conforto e desafogo material, do qual resultará, naturalmente, a harmonia e o entendimento positivo e sério entre os povos e as nações.
Chegado à derradeira dezena da centúria, não acalento esperança alguma de que o Mundo venha a entrar numa época de paz e de desenvolvimento. A História repete-se e estamos naquele período em que a ganância, a vaidade, o desejo de mandar e de subjugar os mais fracos se desenvolvem de uma maneira drástica e arrepiante; a devassidão e a sodomia voltam a dominar os povos! Iremos cair novamente na época de Sodoma e Gomorra? Os divórcios, as desuniões, o abandono dos filhos, as desavenças familiares, a desagregação social, as tempestades, os desastres aéreos e marítimos, as derrocadas e os sismos; o terrorismo e os assaltos e roubos desenfreados; a droga e o alcoolismo; os motins e as revoluções internas; todas essas calamidades de que os meios de comunicação diariamente nos dão notícias alarmantes, não serão uma amostra dos cataclismos que poderão acontecer a qualquer momento e quando menos se esperar?
Serei pessimista? Poderei sê-lo mas nunca alarmista. Os sinais dos tempos dão-nos as provas concludentes de que o mundo está doente…
Que o Senhor a todos proteja e ampare no novo ano que vai começar, são os votos que aqui deixo com muita sinceridade e amizade.
Vila das Lajes,
20 de Dezembro de 2007
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

UM HERÓI DESCONHECIDO

Algumas vezes referi em escritos meus o herói nas lutas americana contra os Índios, John "Portugee" Phillipss.
Era natural desta vila ou melhor dizendo do subúrbio das Terras, filho de Filipe Cardoso e de sua mulher Maria de Jesus, naturais e fregueses da Matriz da Santíssima Trindade e moradores no lugar das Terras, desta Vila, nascido a 28 de Abril de 1832 e baptizado em 3 de Maio do dito ano. Faleceu aos 51 anos de idade, em Cheyenne, a 18 de Novembro de 1883. Ocorrem agora 124 anos.
"Rapaz ainda, emigrou para a América , numa antiga baleeira, de salto, como era vulgar naqueles tempos. Desembarcou nas costas do Pacífico, seguiu depois para Lesta, trabalhando com um grupo de aventureiros, como ele, que iam à cata de ouro. No verão de 1866 Phillips, chegou ao Forte de Kearney, com quatro companheiros. Ali todos arranjaram trabalho, parte do tempo contratados pelo chefe do posto do exército dos Estados Unidos.
Foi então que se deu a grande façanha do nosso conterrâneo. O forte onde trabalhava foi cercado pelos Índios e tornou-se forçoso pedir reforços ao forte de Laramie que ficava a mais de duzentas milhas.
Estava-se na véspera do Natal de 1866. Phillips ofereceu-se para ir até Laramie afim de levar uma mensagem do comandante, pedindo ajuda para combater a fúria dos indianos, dispostos a tudo conquistarem, para o que tinham de fazer grande carnificina entre os ocupantes do forte Kearmey. Caminhando, durante a noite, por entre matas bravas, iludindo assim a apertada vigilância dos assaltantes, num cavalo bastante adestrado, (consta que era o cavalo do próprio comandante do forte), para não ser apanhado pelos índios, conseguiu chegar ao Forte de Laramie e entregar o pedido de socorro. O cavalo, que tinha as ferraduras pregadas ao contrário para despistar os índios, ao chegar à parada caiu morto, exausto pela longa caminhada. O auxílio chegou ao forte sitiado e os assaltantes foram desbaratados. Todavia jamais perdoaram ao nosso herói o seu feito e, durante a vida, as suas propriedades eram constantemente assaltadas, como vingança, pelos índios.
Aquando do seu falecimento a Comissão do Congresso aprovou uma moção na qual se afirmou: "A morte de Mr. Phillps foi uma perda irreparável para esta terra, foi um homem sempre leal e verdadeiro em tudo, nunca se provando coisa alguma em contrário, honesto, cidadão correcto e prestante, amigo do seu amigo e do seu próximo.
"Não cremos que ninguém tenha feito mais por esta terra para abrir o caminho para a civilização que muitos de nós agora gozamos do que John Phillips. Muitos dos pioneiros que aqui se estabeleceram, lembrar-se-ão de tantas vezes que arriscou a vida na fronteira, desde Cache de la Pondre até aos confins da Montanha, enganando habilmente a astúcia dos peles vermelhas (índios), dando socorro a tantos que tinham caído, presas desses selvagens. Representou um papel muito importante no drama este país."
O Phillips visitou uma vez as irmãs, residentes no lugar das Terras, e é tradição que viajou num barco de guerra americano posto à sua disposição pelo Governo estadunidense. Num trabalho publicado no Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Vol. III, nº. l, 1962) permiti-me alvitrar que o Manuel Filipe, seu nome de baptismo, fosse homenageado na sua terra natal. Isso nunca se verificou.
Hoje, voltando ao assunto, decorridos que são quarenta e cinco anos sobre o meu primeiro escrito, e recordando as homenagens diversas que os Estados Unidos lhe hão prestado, como acontece com os seus heróis, por vezes tardiamente, ouso lembrar que nunca é tarde para se prestar a devida justiça a quem a merece.
Porque não colocar, na zona central das Terras, onde se situa a Ermida do Coração de Maria e o grandioso salão Social, aqui vai a razão deste texto, um busto do nosso herói ? Para isso poderia servir a foto verdadeira que aqui se publica.
Faço um apelo à Câmara Municipal e aos habitantes daquele progressivo lugar, para que não esqueçam o maior filho da localidade.
Uma vez mais presto a minha homenagem ao herói Manuel Filipe e espero que este modesto pedido seja atendido por quem de direito e não se faça, uma vez mais, "ouvidos de mercador" a tão importante assunto, como é o acto heróico de Manuel Filipe, ocorrido, precisamente, há 141 anos.
Vila das Lajes,
Natal de 2007
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

MONTE DE SANTA CATARINA

O monte de S. Catarina, situado entre a Vila e a Ribeira do Meio, se contribuiu para a separação dos dois núcleos habitacionais, também teve o mérito de oferecer aos seus habitantes um lugar aprazível e um primoroso miradoiro onde, em tardes outonais, principalmente, se acolhiam os lajenses, para desfrutar um dos mais belos panoramas picoenses.
A ermida, de secular existência – e que foi objecto de demanda judicial, em tempos passados, porque o proprietário dos terrenos adjacentes reivindicou a sua propriedade quando ela sempre fora propriedade da Igreja, tanto assim que estava separada por um muro com portão, tendo acesso pela encosta, o que hoje, infelizmente, se não verifica; - a ermida permitia, do pequeno adro, uma visão larga para o oceano e montanha, que era regalo, e ainda hoje isso se verifica, para quantos ali subiam.
Magnificas tardes ali passei com alguns companheiros da juventude, que não mais esquecerei.
Actualmente, com as obras executadas na zona, – quartel dos Bombeiros, Campo de Jogos e Hipermercado – tudo se modificou. Está em ruínas o acesso pelo Oeste â ermida, onde se venera Santa Catarina, cuja festa ali se realiza anualmente com apreciável número de devotos .
Quando éramos crianças – eu e os meus irmãos – passávamos os serões do Inverno a ouvir uma tia-avó materna contar-nos “casos” e lendas que aprendera nos seus velhos tempos de menina e moça. E uma das lendas era a de Santa Catarina. Contava-a mais ou menos nestes termos:
Em tempos remotos apareceu na costa de São João uma bela imagem de Santa Catarina de Alexandria. Aqueles que a acharam trouxeram-na piedosamente para a igreja da Vila e aí ficou depositada. No dia seguinte a Imagem desapareceu do altar onde fora colocada. As pessoas afligiram-se e trataram de a procurar até que alguém a encontrou novamente nas costas de S. João. Voltaram a traze-lo mas ela no dia seguinte voltou a desapareceu e regressou ao primitivo lugar até que alguém se lembrou de construir uma pequena capela, num monte sobranceiro à Vila, para a guardar. Na capela ou ermida tiveram o cuidado de abrir uma janela, a permitir que a imagem, do novo altar, visse o lugar, lá ao longe, onde aparecera a primeira vez. E, ao longo dos tempos, se tem conserva a Imagem na sua Ermida…
Santa Catarina passou a ser invocada como protectora das doenças mentais ou de outras enfermidades da cabeça das pessoas. Certo é que, todos os anos, no dia da sua festa, aparecem, junto do respectivo altar, algumas cabeças de massa, em cumprimento de promessas.
O local onde se diz que apareceu a antiga Imagem, em São João, passou a denominar-se “Ponta de Santa Catarina”. Ainda se mantém? – Não sei.
Lenda ou facto histórico, a ermida ali está mas a primitiva imagem desapareceu, sendo substituída, no século passado, pela actual, realmente de uma beleza escultural pouco vulgar.
A ermida e a casa de veraneio foram legadas à Igreja pelos derradeiros herdeiros dos antigos proprietários. Os terrenos anexos, como atrás se diz, estão sendo ocupadas por três imóveis de interesse público. Em breve, ao que consta, será inaugurado o complexo desportivo. Uma obra notável que dignifica o Município, seu executor, e indispensável, sob diversos aspectos, ao desenvolvimento desportivo da juventude picoense, que não só lajense.
Em vias de conclusão está o edifício destinado ao hipermercado. Uma moderna estrutura que, depois de um acidente lamentável, chega ao fim e vai contribuir de certeza para o desenvolvimento comercial desta zona.
Resta fazer uma ligação condigna entre a Vila e a Ribeira do Meio, para que os dois sítios, unidos territorialmente, possam progredir com acerto e eficiência.
E, para que isso se verifique, é indispensável dar uma ocupação útil aos edifícios do antigo matadouro e igualmente da central eléctrica. Este, segundo creio, pertence de direito à Câmara Municipal e nele poderia ser instalado qualquer serviço de utilidade local, como, v.g., o arquivo municipal. E porque não transformar o edifício do matadouro num estabelecimento hoteleiro?
Há que lhe dar uma ocupação condigna e capaz de servir os interesses lajenses. Dizem que o Turismo não se desenvolve por falta de camas. Não será a ocasião própria para ali se construir um hotel de três ou quatro estrelas?
A quem de direito, fica o repto.
Vila das Lajes,
21 de Novº. de 2007
Ermelindo Ávila