terça-feira, 28 de setembro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - 2

10. Cardeal Dom José da Costa Nunes. Personalidade por demais conhecida, nasceu na freguesia da Candelária a 15 de Março de 1880. Acompanhou D. João Paulino, quando ele foi eleito Bispo de Macau, e ali chegou em 4 de Junho de 1903. Com o falecimento de D. João Paulino foi eleito Bispo daquela diocese em 16 de Dezembro de 1920, sendo sagrado na Matriz da Horta em 20 de Novembro de 1921. Em 18 de Janeiro de 1942 entra na Arquidiocese de Goa como Patriarca das Índias Orientais e Primaz do Oriente. Resigna do cargo, a seu pedido, em 16 de Dezembro de 1953 e é nomeado Vice-Camarlengo da Santa Sé mantendo o título pessoal de Patriarca. Na Santa Sé desempenhou diversos cargos e foi elevado a Cardeal a 19 de Março de 1962, vindo a falecer a 29 de Novembro de 1976. Seus restos mortais foram transladados para a Igreja Paroquial da Candelária, onde chegaram a 27 de Junho de 1997, sendo recebidos por representantes da diocese, clero da Ilha, uma multidão de picoenses e o próprio Governo Regional. No largo da Igreja da Candelária foi colocado pela Câmara Municipal, nas décadas de sessenta do século passado, um busto em bronze do Cardeal Dom José da Costa Nunes, como homenagem dos picoenses a tão distinta personalidade.

11. Dom Jaime Garcia Goulart. Um picoense ilustre que desenvolveu a sua actividade apostólica no Oriente. Nasceu na Candelária a 10 de Janeiro de 1908. Frequentou o Seminário de Macau até ao penúltimo ano, tendo concluído o curso no Seminário de Angra em 1931. Nesse ano foi ordenado por D. Jaime da Costa Nunes, na Igreja paroquial da sua terra natal, no dia 10 de Maio, seguindo depois para a Diocese de Macau, onde exerceu a sua actividade missionária. Criada a Diocese de Timor, onde D. Jaime já exercia a missionação, foi nomeado Administrador Apostólico, sendo depois de eleito Bispo da diocese em 12 de Outubro de 1945, quando se encontrava refugiado na Austrália. Foi sagrado Bispo a 28 de Outubro do mesmo ano, em Sydney, regressando a Timor onde desenvolveu uma extraordinária actividade missionária e social, enquanto a saúde o permitiu. Resignou a 31 de Janeiro de 1967, regressando aos Açores onde viveu precisamente trinta anos. Faleceu em Ponta Delgada a 15 de Abril de 1997, onde seu corpo foi inumado. Pena que nunca fosse transladado para a sua Ilha onde lhe seriam prestadas as homenagens devidas. Mesmo assim, junto ao adro da Igreja Paroquial da Candelária foi levantada uma estátua do notável Bispo Picoense, que consumiu uma parte importante da sua vida ao serviço da Igreja e da Pátria nas longínquas terras de Timor onde muito trabalhou e sofreu.

12. Pe. Ouvidor José Lourenço de Medeiros. Nasceu no dia 16 de Julho de 1836 na vila da Madalena. Foi pároco e ouvidor da respectiva Matriz, onde desenvolveu uma assinalada acção sócio-eclesial de grande mérito. A ele se ficou a dever, além de outro feitos, pois era um político de grande envergadura, relacionado com mais altos dirigentes nacionais, se ficou a dever , dizia, alem de outros benefícios, o frontespício da Igreja Matriz, levantado por fora do anterior e que era de fraca estrutura arquitectónica e para o qual o Ouvidor Lourenço de Medeiros concorreu do seu bolso com metade da verba gasta, no valor de 4.000$00. Em 21 de Outubro de 1899 a Câmara Municipal deliberou dar à rua do mar o nome do Ouvidor Medeiros “em atenção aos relevantes serviços prestados à igreja matriz”. Em 1991, por iniciativa da Câmara Municipal, foi levantado no adro da Matriz o busto de bronze do distinto conterrâneo.

13. Pe. Francisco Nunes da Rosa. Embora nascido na Califórnia a 22 de Fevereiro de 1871, foi sempre e ele próprio se considerava picoense. E dos grandes Paroquiou nos Mosteiros das Flores e foi lá que escreveu e publicou em 1904 seu primeiro livro de Contos – “Pastorais dos Mosteiros”. Transferido para as Bandeiras, desta Ilha do Pico, como Pároco e depois, também Ouvidor, escreveu “Gentes das Ilhas”, que publicou em 1925. Ambos os livros têm hoje várias edições, tal o valor literário que possuem. Mas não se limitou à publicação de contos, os mais belos da literatura portuguesa, fundou os jornais “A Voz” (1899 – 1903), “O Picaroto” (1905 – 1906), “A Origem” (1907 – 1910) e “Sinos d’Aldeia”, o de maior duração, publicou-se nas Bandeiras de 3 de Junho de 1918 a 31 de Dezembro de 1924. Foi também um distinto e eloquente orador sacro, muito escutado e apreciado nas diversas paroquias da Ilha. Faleceu em 12 de Setembro de 1944 na freguesia das Bandeiras. Deixou muitos escritos, uma gaveta cheia, dizia, que desapareceram, entre eles uma peça de teatro intitulada “O Cura da Mudança” que teve o mesmo “destino”. A Junta de Freguesia, há anos teve a feliz iniciativa de levantar um busto de insigne picoense no Largo da Freguesia, em homenagem a tão distinta Figura do clero e de Homem de Letras.

14. Dr. Tibério de Ávila Brasil. Natural da Calheta de S. Jorge, após a formatura em Medicina, fixou-se na Vila de São Roque do Pico, por volta de 1932, onde exerceu as funções de Médico Municipal e Delegado de Saúde. Empenhou-se pela construção do Hospital de Santa Isabel, o primeiro que existiu na Ilha do Pico, em 1948. Em 18 de Agosto de 1968, em sessão solene no Município de S. Roque, foi afirmado: “Há trinta e seis anos, neste concelho aparece um homem formado no Santuário de Medicina; e desde então a sua competência, e o seu brio profissional transformado em autêntico sacerdócio foi Sol Esplendoroso no jardim da nossa vida, resplandecente, aquecendo-a, defendendo-a, e amparando-a”. Isso levou a Câmara Municipal a erigir junto do edifício do antigo hospital o busto do Dr. Tibério. Faleceu na noite de 25 de Abril de 1974.

15. Pe. Joaquim Viera da Rosa. Escreveu o Pe. Júlio da Rosa um extenso e judicioso artigo sobre aquele sacerdote picoense. E dizia: “Poucos sacerdotes vincaram como este, nos últimos tempos, uma tão firme personalidade sacerdotal, polarizada na mais discreta caridade e no mais acendrado zelo pela causa de Deus.” O Pe. Rosa nasceu na Prainha do Norte a 14 de Agosto de 1872 e faleceu no Hospital da Horta em 1 de Dezembro de 1964 a 1911 e voltou aos Estados Unidos em 1929 onde se manteve até 1933. Assumiu a paroquiação de S. Mateus do Pico em 1934 e ali se manteve até ao falecimento. Traduziu do inglês diversas obras, das quais se deve salientar “A crença dos nossos pais” do Cardeal Gibbons. Outras obras traduziu que não chegou a publicar mas cujas traduções me facultou. Escreveu “Catecismo da Doutrina Cristã” para uso das Igrejas Católicas Portuguesas, nos Estados Unidos – edição bilingue em 1932. Por testamento legou à Santa Casa da Misericórdia da Horta a casa e reduto que possuía na Prainha: ao Asilo de Mendicidade da Horta 160 acções que possuía na Empresa de Electricidade da Horta; ao Asilo de Infância a casa que era dos Pais, na Prainha; à Igreja da Prainha os livros que possuía na sua casa para a biblioteca para uso dos padres que estejam em exercício na Paróquia; à Igreja de São Mateus os seus pertences existentes no Passal; e o remanescente de seus bens para p culto de Nossa Senhora da Ajuda e para os mais necessitados desta paróquia e da paróquia de S. Mateus. À igreja de Prainha deixou ainda o cálice que lhe foi oferecido na paróquia de S. João Baptista de New Bedford. Por iniciativa da Junta de Freguesia dói erigido no jardim anexo à Igreja Paroquial da Prainha o busto de Pe. Joaquim Vieira da Rosa, homenagem justa a quem à Igreja e à sua terra tanto se deu.


Vila das Lajes.

9-9-2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O PICO

Oh! grandiosa tela de infinita,

Surpreendente, divina beleza!

Um mar de nuvens a meus pés se agita!

No azul distante que ideal pureza!

In “Singelos”

Ana Adelina Bett. da Costa Nunes


O Pico do meu encanto, maravilha sem igual, quando o Sol nasce e ele aparece, dominador, rei da natureza que a seus pés se estende, numa prostração submissa, é um assombro que nos domina, nos subjuga, nos encanta.

O Pico é uma das maravilhas do Mundo. Há muito que o é. Só agora, porém, foi “descoberto”... E ele ali está, sempre patente aos olhos dos curiosos, dos poetas, daqueles que vivem à sua ilharga, quer um manto branco o cubra, quer o sol resplandecente nele reflicta seus raios nas manhãs radiosas da Primavera, do Verão ou até do Outono.

É maravilhoso para ele olhar quando, ao amanhecer, se apresenta livre de nuvens e num doirado do Sol que vem nascendo.

“Montanha do meu carinho / Desta ilha guardiã / Onde o sol bate mansinho / Logo cedo p’la manhã”, (1)

Sempre que surge a luz do dia volto-me para o Pico. Ele é o barómetro que regula a vida das pessoas. Conforme a posição das nuvens, indica o lado do vento. As posições delas são também indício de bom ou mau tempo, se todo ele descoberto, traz-nos a alegria de um dia bom, maravilhoso, que permite aos residentes, e àqueles que aqui chegam em ocasiões de férias, desfrutar as encantadoras paisagens que se guardam no interior da ilha ou as suas praias calmas e solarengas.

Como diz o Poeta, “Pode escrever-se um poema com basalto /com pedra negra e vinha sobre a lava / com incenso mistérios criptomérias/ e um grande Pico dentro da palavra. – Ou talvez com gaivotas e cagarras / cigarras do silêncio que se trilha / sílaba a sílaba até ao poema que está escrito / lá em cima no Pico sobre a ilha (2)

Nunca subi o Pico. Nem ânimo nem força física isso me aconselhava, mas tive o prazer de o sobrevoar, por gentil deferência do Piloto que conduzia a nave onde viajava, e fiquei profundamente encantado. Vi a cratera com seu alto bordo, aqui voltada para o lado Sul, que a parte do Norte é inacessível pelas lombas de areia que a formam. Extasiei-me com o Pico pequeno, formado por enormes rochedos e donde saem as fumarolas que não consegui descobrir.

A soberba montanha, voltada para o Sul da Ilha, descendo pela Prainha até ao mar, onde as ribeiras que nela se formam, vêm despejar montanhas de água em épocas de chuvas intensas, ou espraiando-se nas belas pastagens de São João, as Cavacas, formando a baía que se estende a Oeste e forma a bacia que liga São João às Lajes, é qualquer coisa de belo que só os poetas, em inspiração momentânea, podem enaltecer.

E quando, ao entardecer, o Sol se vai escondendo, por detrás da Montanha, rastejando-a de seus raios de multicolores, que nem os pintores mais hábeis são capazes de fixar em suas telas, arrebata-nos sobremaneira e deixa-nos por momentos profundamente suspensos e enleados.

Embora mal descrito nestas mal alinhavadas regras, é este o nosso Pico. Pico que é a montanha soberba mais alta de Portugal, agora classificada como uma das sete maravilhas do mundo (?) ou uma das duas do Arquipélago, que outras belezas possuem.

E com o inspirado Poeta nosso, Doutor José Enes, que excelentemente a cantou, aqui deixo a crónica de hoje; Montanha do meu segredo / Montanha do meu destino /Tocaste-me com um dedo/ Imprimindo em mim um signo / Quando me viste nascer.

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1) - Martins, Cisaltina – “Raiz de Pedra” – Poemas – 2008, pág. 78

2) . - Alegre, Manuel – Pico -1998 – pág 9


Vila das Lajes,

14 de Setembro de 2010

Ermelindo Ávila

P.S. No dia em que o meu pai faz 95 anos - 18 de Setembro - aqui fica a prova do seu amor pela Ilha que o viu nascer.(JGAvila)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - 1

A Ilha do Pico pode justamente ufanar-se do número de bustos e monumentos que assinalam vidas e feitos das suas gentes e da própria nacionalidade.

Ao percorrer a Ilha à Roda como diria o Poeta, deparam-se quase duas dezenas de bustos de personalidades que, nascendo na ilha, tanto a enalteceram por seus feitos e virtudes, contribuindo de maneira notável para o engrandecimento da sociedade picoense e sendo exemplos permanentes das suas lídimas qualidades de cidadãos e de homens públicos ou religiosos. É por isso que, embora estejam patentes em lugares públicos das diversas localidades, importa trazê-los aqui, a este modesto “cantinho” para que melhor, se possível, sejam conhecidas e admiradas as respectivas personalidades que tais monumentos evocam.

E dando “a volta à Ilha”, como antigamente se fazia em ocasiões diversas, percorrendo seus caminhos e atalhos, principio pela Ribeirinha, a mais jovem freguesia da Ilha.

Lá estão dois bustos de picoenses que muito prestigiaram esta ilha, um deles, em terras ultramarinas, sobretudo, o outro somente pelos seus dotes pessoais. E assim, outros recordarei nestas linhas “ao correr da pena”, até que de melhor jeito, deles se possa falar.

  1. Dom José Vieira Alvernaz, nasceu na Ribeirinha em 1898 e faleceu em Angra do Heroísmo, onde residia há anos, em 13 de Março de 1986. Foi Reitor do Seminário de Angra, Bispo de Cochim (Índia), em 1942 e Patriarca de Goa, de 23 de Dezembro de 1950 a 22 de Março de 1975. O Busto encontra-se à entrada da freguesia, junto à casa onde nasceu.

  2. Pe. João Silveira Domingos. Nasceu na Silveira, Lajes do Pico, em 15 de Dezembro de 1912 e faleceu subitamente na Ribeirinha, em 8 de Março de 1975, onde era pároco desde 30 de Junho de 1954. Na notícia cronológica publicada no Boletim Eclesiástico pode ler-se; “Pela sua piedade e modéstia foi sacerdote estimado em toda a ilha do Pico, nomeadamente nos locais onde desenvolveu modelar acção pastoral”. Assim o entenderam os seus paroquianos que perpetuaram sua memória em busto erguido no adro da igreja paroquial.

  3. Capitão Anselmo da Silveira/ou da Silva). Notável Baleeiro, natural da Calheta de Nesquim, nascido cerca de 1833, onde veio a falecer, depois de ter emigrado de salto, como tantos outros para os Estados Unidos. Aí exerceu a sua actividade em baleeiras americanas, desde simples marinheiro até chegar a capitão. Regressando à Terra natal, foi aí impulsionador da actividade baleeira firmando com a Casa Dabney, da Horta, em 28 de Abril de 1876, o primeiro contrato escrito de baleação existente nos Açores e que tinha a sua sede na Calheta. Os calhetenses ergueram-lhe um busto junto ao Porto.

  4. António Ferreira Porto foi um emigrante de sucesso. Natural de Santa Bárbara das Ribeiras, contribuiu com avultada quantia para a construção da nova igreja de Santa Bárbara, sendo, por isso, aquando da inauguração, colocado no muro do adro um medalhão em bronze com a esfinge do benemérito. O Santo Padre, Paulo VI concedeu-lhe a medalha do grau de Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno e o título de Benfeitor Ìnsigne da Igreja.

  5. Pe. Manuel Francisco Fernandes, nasceu em Santa Cruz das Ribeiras em 1850 emigrou primeiro para o Brasil, onde se demorou pouco tempo e, depois, para os Estados Unidos. Regressou aos Açores a fim de frequentar o Seminário de Angra. E nos últimos anos voltou à Califórnia onde completou o curso e se ordenou sacerdote. Fundou o jornal “O Amigo dos Católicos” e construiu a primeira igreja portuguesa da Califórnia, em Oakland, dedicada a S. José. Foi um dos fundadores da Sociedade do Divino Espírito Santo, da Califórnia que, por esse motivo, no ano do centenário da Instituição, veio colocar o busto do Pe. Fernandes na sua terra Natal, em Julho de 1996 como homenagem ao seu fundador. Faleceu em 1890 com 46 anos de idade.

  6. Dom João Paulino de Azevedo e Castro nasceu nas Lajes do Pico em l de Fevereiro de 1852. Formou-se em Teologia na Universidade de Coimbra em 1879. Em 1888 foi professor e vice-reitor do Seminário de Angra (o reitor era o Bispo) e, depois Cónego da Catedral e a seguir Tesoureiro – mor. Em 1901 foi nomeado Arcediago, sendo, entretanto, em 9 de Junho de 1902 eleito Bispo de Macau. Foi sagrado Bispo na Igreja de S. Francisco, de Angra, anexa ao antigo Seminário, em 27 de Dezembro de 1902 e deu entrada solene na nova diocese, em 4 de Junho de 1903. Ali veio a falecer em 17 de Fevereiro de 1918, depois de uma operosa actividade na diocese que abrangia vários territórios chineses e ainda Singapura e Timor. Exerceu a sua actividade apostólica com grande entusiasmo, sendo o seu episcopado classificado de fecundo, progredindo a sua diocese de forma extraordinária. Diz um seu biógrafo que fundou muitos templos, colégios e escolas, principalmente na parte chinesa da Diocese. Seus restos mortais encontram-se depositados, por iniciativa do seu Sucessor e de outros Amigos, em grandiosa capela-mausoléu, no cemitério municipal das Lajes do Pico.

No Largo abaixo da casa onde nasceu a Câmara Municipal ergueu um busto de bronze em sua memória. E na mesma casa encontra-se uma lápide em azulejo, com os seguintes dizeres: “Aqui nasceu, a 4 de Fevereiro de 1852,/ o primeiro Bispo picoense,/ D. João Paulino de Azevedo e Castro / em 1902 eleito Bispo da Diocese de Macau / que então abrangia Timor / Passado um século/ o primeiro Bispo natural de Timor, / D. Carlos Ximenes Belo / Prémio Nobel da Paz / solenemente descerrou esta lápide, / a 6 de Maio de 2003”.

  1. General Francisco Soares de Lacerda Machado. Nasceu na vila das Lajes em 1870. Ingressou no Exército e atingiu o posto de General, como comandante da Terceira Região Militar de Tomar, depois de uma brilhante carreira. Deixou notável e importante obra literária sobre a história do concelho Lajense e não apenas. A Câmara Municipal, em preito de homenagem, ergueu-lhe um busto em bronze no Largo que tem o seu nome, junto da casa onde nasceu. Ainda agora é uma das figuras mais notáveis da Ilha do Pico, que não apenas do concelho das Lajes. A Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com o apoio do Município Lajense colocou, em 1990, na casa onde nasceu, uma placa em bronze, em sua memória.

  2. Monsenhor José Pereira da Silva. Nasceu na freguesia de São João em 8 de Abril de 1892. Foi vigário substituto da Maia e, depois, Vigário da Praia da Vitória até 1927, ano em que foi nomeado vigário da Matriz e Ouvidor da Horta. Em 27 de Outubro de 1956 foi nomeado Vigário Geral, Pároco da Sé e Reitor do Post-seminário, cargos de que foi titular até ao falecimento, na freguesia de S. João, em 30 de Novembro de 1974. Foi um orador distinto e poeta de singular inspiração. A Junta de Freguesia ergueu-lhe um busto na freguesia natal, junto da Paroquial.

  3. António Fontes. Nasceu na Prainha do Galeão, ao tempo pertencente à freguesia de São Mateus desta ilha, em 25 de Fevereiro de 1826. Emigrou para a Califórnia com 25 anos e com trinta emigrantes, fundou a União Portuguesa do Estado da Califórnia, uma instituição de solidariedade social que hoje se espalha pela Califórnia e conta milhares de associados. Aquando do centenário da UPEC, uma delegação daquela sociedade deslocou-se a S. Caetano (ou Prainha do Galeão) e procedeu ao descerramento de um busto de António Fontes, junto da casa onde nasceu o seu fundador e primeiro presidente da Direcção.


Vila das Lajes,

8 de Setº. de 2010

Ermelindo Ávila



sexta-feira, 10 de setembro de 2010

AS PARTIDAS

Começaram já... De um dia para o outro a Vila ficou quase deserta. Da alegria de ontem surgiram as lágrimas e os abraços das despedidas.

Verdade que marcaram novos encontros: “Até ao ano, se Deus quiser”, disseram uns. Outros, com mais animo, um simplesmente “até amanhã”.

Até amanhã ou até o ano, é sempre a mesma saudade da partida que fica e vai em muitos. E todos os anos assim acontece. E todos os anos uns partem para não mais voltarem...

A angústia e a saudade permanecem naqueles que ficam...

Acabaram as Festas para voltarem no ano que vem. Foram preparadas com entusiasmo e dedicação por aqueles que assumiram a responsabilidade de as realizar. E que bem que elas se realizaram! Nos templos ou fora deles, houve animação, alegria, confraternização e encontros felizes. E isso somente, pois não consta que algum desacato ou nota menos digna houvesse acontecido. Felizmente, quer na Madalena, em São Roque ou nas Lajes. É, convictamente o afirmo, assim acontecerá no futuro.

É uma nota simpática que se regista com algum orgulho e aplauso. Os picoenses são assim: podem ter as suas questiúnculas, de palavras, mas são ordeiros, acolhedores, simpáticos no trato com os estranhos ou visitantes, sejam eles nacionais ou estrangeiros. É por isso que por aí os encontramos, já fixados, instalados com seus comércios, simpáticos no trato e respeitadores.

Para as suas terras de residência partiram os amigos, os familiares que por lá se estabeleceram ou alcançaram os empregos necessários à subsistência da vida. Às escolas, secundárias ou superiores, estão regressando os estudantes para mais um ano de trabalho intelectual, na preparação de um futuro que, almejo, seja próspero e risonho. Alguns deles, pela primeira vez, deixaram a casa paterna para nunca mais... Agora só de visita, pois as expectativas de colocação, no final dos cursos, passo a ser uma incógnita temerosa.

Um dia também parti. Parti e voltei mas jamais esquecerei esses anos de saudade e de sofrimento, pela ausência dos pais, irmãos, e outros familiares e pela terra que nunca esqueci...

E por aqui fico com as minhas tristezas e com o poeta popular que um dia assim se expressou: “ Quem parte leva saudades./ Quem fica saudades tem”. Ou esta outra; “Saudades, tenho saudades,/ saudades tenho de alguém./ Saudades da minha terra /saudades da minha mãe!.”


Vila das Lajes.

31 de Agosto de 2010

Ermelindo Ávila


COLHEITAS E VINDIMAS

Antigamente, um antigamente que é de ontem, os picoenses, pela ilha à roda, dedicavam-se à colheita das uvas e, um mês depois, à apanha dos milhos. Era uma época de fartura.

Não faltavam as uvas nos lagares, não importa qual a casta, e, depois, o milho nas atafonas. Tudo tinha o seu tempo e era cumprido com religioso respeito. Mas, infelizmente, os tempos mudaram.

Os temporais agrestes da primavera destruíram a floração das vinhas e das fruteiras. Os figos vieram tarde e não amadurecem, convenientemente. O mesmo acontece com as vinhas. Os velhos ditados já não têm aplicação: Por São Lourenço, vai à vinha e enche o lenço. Eram as primícias de uma colheita que, normalmente, era abundante. Agora, como se diz acima, já não há produções abundantes. Já se iniciaram, por estes lados do Sul, as vindimas. Mas elas são tão fracas que os vinhateiros se sentem desgostosos e alguns já vão abandonando as suas “vinhas” ou terras de cultura da vinha. E em substituição, aparece uma vegetação selvagem a assenhorear-se de todos os campos livros.

Os terrenos de semeadura não estão de melhor aspecto. Demais já pouco se cultiva o milho e o trigo, praticamente, desapareceu dos nossos campos. É, como diz o povo, uma tristeza passar por esses campos e vê-los, ou a pasto para os gados ou simplesmente incultos.

E o Pico precisa voltar a trás. Cuidar dos seus terrenos e deles tirar as produções indispensáveis ao seu sustento diário. Importar cereais do estrangeiro é esvaziar as divisas nacionais e caminhar para a pobreza a passos largos. Alegarão que faltam os braços para trabalhar os campos, como antigamente. Hoje há máquinas especializadas que, em parte, substituem a mão do homem. É preciso, no entanto, adaptá-las à natureza dos terrenos. Mas isso não pertence somente ao proprietário agrícola. Há que tomar medidas urgentes e adequadas para que se evite o pior.

Aquando do conflito mundial de 1939-45, a ex-Junta Geral do Distrito Autónomo da Horta deliberou premiar os proprietários que procedessem à arroteia dos prédios incultos ou de lenha, e igualmente premiava aqueles que procedessem ao despedregoamento ou limpeza dos terrenos, para facilitar as culturas. E muitos o fizeram, aproveitando esse pequeno auxílio pecuniário. Depois, veio a emigração. Faltou a mão de obra e tudo voltou ao estado primitivo.

Há pois, que voltar atrás e voltar a limpar os terrenos, tal como fizeram os povoadores, e proceder ao seu completo aproveitamento, produzindo-se o milho, o trigo, a batata, e outros produtos mais, para que a ilha não volte a ficar deserta e entregue à passarada.

É desolador o que hoje se nos depara ao contemplarmos essas ladeiras que outrora eram terrenos de cultivo e hoje são ocupadas por uma arborização bravia de faias, incensos, canaviais, “roca-de-velha” e outras plantas infestantes. Os terrenos das Ladeiras, estendidas pela encosta à ilharga das habitações do lado leste da antiga rua direita, produziam os cereais – trigo e milho – para o sustento. Se não anual, quase, dos respectivos agregados familiares. Hoje, é o que se vê... Assusta, na verdade, espraiar o olhar por esses campos.

E repito: É preciso voltar à época do descobrimento e limpar os terrenos para os tornar produtivos de bens essenciais à subsistência dos povos.

“Parar é morrer”, diz o velho refrão.


Vila das Lajes,

29 de Agosto de 2010

Ermelindo Ávila


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

MANHÃS DE SÁBADO 4-Set.2010


Por estas bandas do Atlântico terminaram as chamadas ”Festas de Verão”. Os visitantes vão regressando às suas terras. Daqui a dias serão os estudantes. que frequentam os cursos universitários que abalarão a continuar os cursos.

Todos se despedem-se com um simples” até à manhã” ou “até ao ano”.

Até ao ano ou até à manhã é sempre uma partida que deixa uma saudade com uma lágrima furtiva que se procura esconder mas que é sinal da angústia não só de quem parte mas principalmente de quem fica a contar os dias, as semanas, os meses para de novo os receber, se é que eles voltam....

As festas religiosas ou profanas acabaram nas três vilas picoenses. Primeiro na Madalena, depois em São Roque e, a terminar o mês de Agosto, na vila das Lajes. Resta ainda a da Piedade, da Ponta da Ilha, e, quase no fim do mês, a de São Mateus as quais bem se podem ligar às festas maiores da Ilha.

Foram as festas motivo para que ao Pico se deslocassem aqueles que um dia partiram para as terras da Diáspora ou para as Universidades e por lá ficaram, pois a terra mãe não lhe podia , e infelizmente ainda hoje não pode dar-lhes a colocação, o emprego que naturalmente ambicionavam, e que aliás mereciam ou merecem.

E os que concluíram os cursos por alguns anos andaram, e por lá ficaram aparentemente esquecidos da terra natal. Agora começam a voltar. As férias no estrangeiro são insuportáveis para as carteiras de alguns. A outros move-os a saudade dos familiares, amigos e conhecidos. Dos recantos onde passaram horas de lazer nos tempos da mocidade.

É um gosto enorme reencontrar aqueles que vieram da América e do Canadá ou mesmo do continente e das outras ilhas e com eles trocar dois dedos de conversa, recordar a juventude e os tempos que não voltam.

Um dia também parti. Para perto, mas longe pelas dificuldades de comunicações. E a saudade desses longínquos tempos ficou . E ficou para me fazer regressar e não mais sair. E cá estou estes anos todos, enquanto o Senhor o permitir.

Hoje vivo a saudade dos filhos, dos netos e até dos bisnetos ausentes. Eles não podem regressar à terra porque aqui, como atrás referi, não teriam acolhimento: um emprego que lhes permitisse a sua sobrevivência e da própria família que, entretanto constituíram ou naturalmente hão-de constituir. Mas custa sempre a separação, embora as comunicações telefónicas amenizem um pouco o espírito, e amenizam a saudade, que um dia nasceu em nós, para nunca mais ter fim, embora o telefone nos mantenha em contacto quase permanente. Mas não basta. Há algo que não morre. E esse algo é a saudade que está permanente.

São tristes os dias que decorrem. As ausências marcam um estado de espírito que dificilmente é suportado pelos que ficam nestas terras cada vez mais desertas e esquecidas.

Aos que partiram ou estão a partir ficam os votos de prosperidades, de muita saúde, de paz, de amor, de felicidades.

Que o Senhor a todos proteja e ampare nas suas empresas e dificuldades para que, se possível, para o ano, possam cá estar de novo a conviver com aqueles que por ai andarem...


Bom dia!


2 de Setembro de 2010

Ermelindo Ávila