domingo, 22 de dezembro de 2013

PAZ E ALEGRIA

NOTAS DO MEU CANTINHO



Há mais de dois mil anos os anjos povoaram o céu e, com seus cantares celestiais, anunciaram o Nascimento do Menino Jesus, o Salvador do Mundo, no Presépio de Belém.
Cantavam alegremente: Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa vontade!
Dois mil e treze anos, segundo o calendário cristão, já passaram e os homens de boa vontade continuam a anunciar e festejar o nascimento do Menino, nascido numa abegoaria e tendo por berço uma manjedoira de animais.
Hoje, para alguns é simplesmente a festa da família. Para os católicos é, realmente, o dia maior em que dão largas ao seu contentamento, festejam o Menino e celebram a união da família.
O profeta Isaías, que viveu oito séculos antes da vinda de Cristo ao mundo, já anunciava que “Naqueles dias, o povo que andava nas trevas viu uma grande luz” e o Evangelista Lucas narra a ida de Maria e José à cidade de Belém, donde tinham origem, afim de se recensearem, com obediência ao decreto de César Augusto, “ E, enquanto ali se encontravam, chegou o dia de Ela (Maria) dar à luz, e teve o Seu Filho primogénito. E envolveu-o em panos e recostou-o numa manjedoira, por não haver lugar na hospedaria”.
Cumpriam-se as profecias de Isaías: “É que um menino nasceu para nós, um filho nos foi concedido. Tem o poder sobre os ombros, e dão-lhe o seguinte nome: “Conselheiro admirável ! Deus valoroso! Pai para sempre! Príncipe da Paz!”
E o Menino viveu trinta anos junto dos Pais adoptivos. Três anos depois, reúne os doze apóstolos, rodeia-se de uma multidão de discípulos e percorre as cidades e montes anunciando a nova doutrina.
São Paulo, na segunda epístola aos Corintos, diz: “A Cristo, que não conhecera o pecado, Deus identificou - O com o pecado por amor de nós, para que em Cristo nos tornemos justos aos olhos de Deus”.
Mas o mundo esqueceu ou finge ignorar Cristo e a sua doutrina. Prefere considera – lO um personagem histórico que passou no mundo pregando a Sua doutrina, própria somente para o Seu tempo. Esquece que Ele veio como Redentor da humanidade e reformar o velho sistema judaico com a sua doutrina de paz e de amor. No entanto festeja o dia da Sua chegada ao Mundo, anunciada alegre e festivamente pela corte celeste de Anjos, Querubins e Serafins.
Maldosamente, o mundo quer ignorá - lO. Afasta-se da Sua Doutrina e dos seus Conselhos Evangélicos para viver, livremente, espalhando o ódio, a guerra, a fome, a devassidão. Ignorando, ou fazendo que desconhece a moral social, a paz e o amor verdadeiro.
O mundo vive uma das horas mais trágicas de sempre. Deus, aquando do dilúvio que exterminou a humanidade e só deixou vivos Noé e a Família, anunciou que não mais o dilúvio, ou a exterminação total voltariam ao mundo, mas não disse que a humanidade deixaria de ser castigada pelos seus crimes morais e sociais.
E isso tem acontecido: Aqui e ali surgem os terramotos, os tufões, as tempestades marítimas e as quedas de água diluvianas, as guerras fratricidas, as revoluções; a própria fome, o desemprego, a doença ...
Todo esse cortejo de dor e miséria são verdadeiros apelos divinos que servem para chamar a atenção dos homens para os seus desvarios morais. São avisos que o Senhor envia à humanidade transviada para que páre, reflicta, adopte um sistema de paz e de amor. Para que deixe de haver a guerra e só exista a paz. Para que o homem reconheça o seu destino não apenas terreno mas temporal e eterno. Para que reconheça que ele não acaba com a morte mas que para além da vida terrena há uma outra Vida que não mais acabará.
O Natal traz somente Paz, Alegria, Amor. Que todos o saibam viver!
Glória a Deus nas Alturas e Paz na terra aos homens de boa vontade !
Para todos, Boas Festas do Natal !

Lajes do Pico,
Dezembro de 2013.
Ermelindo Ávila


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ao que chegámos!

NOTAS DO MEU CANTINHO



Atravessei o século XX com as suas altas e baixas. Vivemos anos de crise depois da primeira guerra mundial e, passados poucos anos, a economia da ilha principiou a desenvolver-se, em parte por beneficiar das obras públicas que por cá foram executadas: a muralha de defesa e, a seguir, a estrada Lajes - Piedade. Depois, a da Piedade - Prainha. A seguir foi a transversal Lajes - São Roque, embora esta fosse executada, dizia-se, para justificar a extinção do Julgado Municipal das Lajes. Entretanto, chegou a fábrica de conservas e, por arrastamento, a construção de traineiras de pesca do atum. Anote-se que, em dado momento, o concelho das Lajes tinha trinta e seis traineiras, construídas nos estaleiros das Lajes e de Santo Amaro. Mas, encerrada esta, por razões pouco compreensíveis e nada justificadas, ainda nos restou a indústria de lacticínios, explorada pela firma continental Martins e Rebelo que, durante mais de três décadas, deu grande incremento à actividade agro-pecuária.
Todavia, já então principiava o declínio económico com a instalação da Autonomia. O novo sistema governativo que, inicialmente, aplaudimos, iniciou o esvaziamento governativo do concelho; esvaziamento que parece estar a avolumar-se com a anunciada extinção dos serviços de finanças. Nas Lajes, a meados do século, extinguiram os serviços judiciais. Depois foi a extinção dos serviços aduaneiros, com a abolição das chamadas “barreiras alfandegárias”. Mais tarde, a retirada da navegação do porto das Lajes e a transferência da Guarda Fiscal para S. Roque. (O prédio onde estava instalada aquela corporação, pertença do Estado, se não lhe acudirem ou ocuparem, em pouco, cairá em ruínas...)
Levaram daqui a Lota para a instalarem em outros sítios. O peixe capturado pelos marítimos lajenses, tem de viajar setenta quilómetros, para aqui poder ser adquirido, para consumo da população, num contentor adaptado “a pesqueira”. (A antiga casa da pesqueira, construída pelo Município foi demolida para dar lugar a uma rampa de varagem).
Instalam-se novos serviços nos outros concelhos ou transferem-se os que aqui existiam e abandona-se o concelho das Lajes, que fica praticamente reduzido à Câmara Municipal e Polícia de Segurança Púbica. E, por enquanto, aos Serviços de Finanças.
Até a EDA que foi fundada com o património dos serviços eléctricos dos Municípios picoenses, retirou daqui os Serviços Administrativos, quando, no protocolo de transferência, (segundo creio) ficara estabelecido que a sede continuaria nesta Vila. Deixaram cá, até ver, um posto de atendimento.
Agora são os estaleiros navais, deixando Santo Amaro na penúria. E já correm notícias de que a repartição de Finanças vai ser extinta, como aliás aconteceu com a Tesouraria que agora lhe está anexa.
E deixa-se para trás os serviços agrícolas que, contra natura, se instalou fora da zona... E até já se suprimiu a Direcção dos Serviços Agrícolas instala no Posto Agrícola Matos Souto. Nas Lajes ficou um serviço de atendimento instalado num antigo “barracão”!...
Do mar resta a actividade “Whale Whacting” porque as baleias por aqui é que passam e o seu trajecto nem o homem nem o governo pode modificá-lo, talvez com pena de alguns...
Com a construção da muralha de defesa, aliás uma obra indispensável à segurança das pessoas e seus haveres, instalou-se um simulacro de porto de recreio, que nem capacidade tem para receber a navegação internacional que aqui aporta, fornecer-lhes combustível e água e possuir instalações de higiene, o que provoca a sua imediata retirada... Felizmente, verdade seja, voltou a funcionar, cumulativamente com a de S. Roque, a antiga Delegação Marítima.
Constrói-se um novo centro de saúde, junto do Canal, como antecâmara do hospital da Horta, mas sem as valências indispensáveis à ilha – refiro ao menos a maternidade, parece que a conselho dos “técnicos”. Certo, porém, queiram ou não, alguns dos meninos do Pico vão continuar a nascer, ou nos transportes terrestres ou aéreos, ou nas lanchas do canal!... Um excelente progresso!... E quando lhe perguntarem, “onde nasceste”? Responderão, como o “outro”: De meio canal p'rà terra.
Tudo vai desaparecendo do concelho das Lajes do Pico. Até quando?
A concentração que se está a operar, arrastando para o extremo da ilha a totalidade dos serviços públicos regionais, é a grande responsável pela “fuga” da juventude e a desarticulação económica do resto da ilha, a viver uma situação trágica, agravada com a crise dos lacticínios.
Tivemos e temos o Ensino Secundário porque foi uma iniciativa dos próprios lajenses que o instalaram, sem mira em quaisquer lucros, mas somente no natural desejo de proporcionar à sua juventude a faculdade de usufruir dessa indispensável preparação cultural.
Hoje, praticamente, não temos juventude. A que nos restava, abalou para seguir estudos superiores e/ou conseguir colocação em outros sítios, pois, naturalmente, com o atrofiar da economia local, foram desaparecendo os postos de trabalho.
E não deixa de referir-se a emigração que, levando daqui a juventude, não deixou de ser responsável, em parte, pelo envelhecimento da população.
E os jovens formados não voltam. Aqui não existem serviços onde possam arranjar colocação.
As habitações vão ficando vazias e estão a desmoronar-se, irremediavelmente. Afinal, uma terra em extinção para gáudio de alguns que sempre se opuseram – quando ele existiu – ao progresso desta secular terra.
Tudo isto porque é necessário criar um burgo citadino, ficando o resto da ilha para seara de passarinhos...
Este o progresso que, a estes lados da ilha, trouxe a autonomia que nos governa.
O inventário das tropelias é extenso. Regista-se somente algo, que poderia ser melhor aclarado, se o espaço que nos reservam fosse mais avantajado.

Lajes do Pico,
19-Nov-2013.

Ermelindo Ávila

CONCERTO SOLIDÁRIO

NOTAS DO MEU CANTINHO



A Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores promoveu, na noite de 23 de Novembro, um Concerto Solidário, que veio a realizar-se no Auditório da Escola Básica e Secundária de São Roque do Pico.
Esta a notícia simples que se tornou pública e veio nos convites individuais endereçados a diversas pessoas pela Presidente da Assembleia Legislativa.
Além de uma manifestação de arte foi também uma maneira simpática de motivar as pessoas para a solidariedade que deve existir, mormente no momento que passa, de crise económica e familiar. E, aliando a arte à entreajuda tudo se concretizou na assistência numerosa que ocupou o cadeiral do vasto salão. Esta uma nota simpática a que aqui deixo, muito embora se notasse, alem da solidariedade, a quase inexistência da sociabilidade, que poderia ter sido provocada com um intervalo de alguns minutos. Mas, para a elevação artística do evento, quase ninguém deu pela falta. Apenas este simples registo, à parte.
O concerto teve o grandioso mérito de revelar o potencial artístico que existe na ilha do Pico, apesar de outrora ser considerada como a mais “rústica” e atrasada do Arquipélago. Há muito que vem demonstrando o contrário. E isso revela-se nas filarmónicas centenárias, - quatro! – uma já com século e meio, nos gabinetes de leitura, nos jornais e nas bibliotecas, nas manifestações culturais, acontecimentos impares, como sejam os grupos folclóricos, as tunas e os espectáculos teatrais, enfim um avantajado número de eventos, como aquele que estamos a referir nesta singela nota.
O concerto demonstrou uma vez mais que, na Ilha do Pico, existem valores culturais que merecem ser melhor conhecidos e apreciados.
A Ronda das Nove, o Coro da Madalena, o Grupo Coral das Lajes do Pico, a Orquestra Juvenil da Escola Básica e Secundária de São Roque do Pico deram uma vez mais a prova insofismável do gosto pela música e da elevação cultural das suas gentes. Depois temos os inspirados Poetas de verve consagrada, que para o concerto foram seleccionados e todos eles e só eles picoenses de raiz ou de dedicação: Manuel Tomás, Dias de Melo, Tomás da Rosa, “Iracema” ou Silvina de Sousa, Almeida Firmino, Sidónio Bettencourt, José Martins Garcia e Urbano Bettencourt, que só estes foram, criteriosamente, os escolhidos, muito embora ainda outros haja. E não deixo de referir os poetas populares, que nas folgas improvisavam suas “cantigas” a justificar atitudes: “Ainda agora aqui cheguei / mais cedo não pude vir / estive embalando os rapazes / que lá ficaram a dormir”.
Na arte musical temos compositores que nos deixaram as primícias de seus talentos. Lembro três dos falecidos: Manuel Cristiano de Simas, Manuel Xavier Soares, Manuel Emílio Porto. E quantos mais, uns conhecidos outros ignorados! Os originais e arranjos andam por aí, alguns deles bem aproveitados pelas corporações musicais. E a plêiade distinta dos vivos?
Ficam no olvido os jornalistas e os escritores, que alguns foram e são, até de renome internacional!
Há pouco desapareceu José Enes, filósofo, poeta, professor universitário. Uma figura de alto relevo nacional e internacional, o catedrático e intelectual de elevada competência e prestígio, que jamais poderá ser esquecido no mundo da Cultura de hoje e de sempre.
O Concerto Solidário promovido pela Assembleia Legislativa foi um acontecimento extraordinário que deve ficar na história picoense, de todas as gentes do Pico, aqueles que passaram a noite no Auditório da Escola Secundária de S. Roque ou aqueles outros que lá não estiveram, mesmo os ausentes da ilha, porque foi algo que a todos honrou e dignificou. Um concerto de cultura e de arte literária e musical.
Este o meu sentir e, por isso, aqui o registo com sinceridade e louvor. O Pico, a ilha toda, viveu uma noite de cultura e de arte inesquecíveis. Valeria a pena repetir.

Vila das Lajes do Pico,
25 de Novembro de 2013.
Ermelindo Ávila