sexta-feira, 26 de outubro de 2012

DR. MANUEL DA ROSA R. QUARESMA


Notas do meu cantinho

No dia 30 do corrente mês ocorre um ano sobre o falecimento do nosso conterrâneo Dr. Manuel da Rosa Rodrigues Quaresma, em Washington, D.C., Estados Unidos da América, onde residia há anos. Vem tarde esta nota. Ela pretende ser somente uma modesta homenagem àquele que foi um distinto conterrâneo e um dos maiores valores desta terra da geração que está a findar.
O Dr. Manuel da Rosa era natural da Ribeira do Meio desta Vila das Lajes, filho dum velho amigo, Manuel Rodrigues Quaresma Júnior e de D. Conceição da Rosa Quaresma. Fez o curso completo no Seminário de Angra e celebrou a primeira Missa em 1961, na igreja de São Francisco, desta vila. Depois seguiu para Roma afim de se matricular na Universidade Gregoriana, e nela se licenciou em Filosofia e Direito Canónico. Quando se encontrava em Roma, decorria o Concílio Vaticano II. Dom José da Costa Nunes era Padre Conciliar. Conhecendo as excepcionais qualidades intelectuais e culturais do então Aluno do Colégio Português em Roma que frequentava a Universidade Gregoriana com muito brilho, convidou-o para seu secretário. Isso valeu ao Dr. Manuel da Rosa poder assistir às sessões do Concílio, uma prerrogativa que nem todos os alunos universitários alcançaram.
Concluído o curso seguiu para os Estados Unidos da América e aí fez o doutoramento na Universidade de Católica de Washington. Concluído que foi, passou a leccionar Filosofia Clássica, Filosofia Moderna, e Filosofia contemporânea, Ética e Valores Humanos, na mesma Universidade, onde era lente o nosso conterrâneo Dr. Manuel Cardoso. Sempre muito bem informado, estava sempre actualizado sobre a problemática da vida moderna.
Simultaneamente com o exercício do Professorado, foi director da Voz da América para os Países africanos de língua portuguesa.
O Doutor Caetano Valadão Serpa, seu colega de curso e de ensino, escreve, em excelente artigo publicado na secção “Apontamentos da Diáspora” do jornal “Portuguse Times” de 16/11/2011 o que aqui me permito transcrevo com a devida vénia:
Era um filosofo genuíno (o Doutor Manuel da Rosa) que nunca se cansava de salientar, com mestria, aspectos da filosofia clássica e moderna ou contemporânea. Sempre muito bem informado e enquadrado na problemática de uma visão atual. Realmente um intelectual de calibre pela sua maneira de ser e carácter pessoal se manteve bastante isolado. Dotado de uma memória prodigiosa, recitava de cor grande parte dos Lusíadas e outros poemas de poetas da sua preferência. Mesmo antes de entrar na universidade tinha os seus filósofos preferidos que declamava com gosto, sendo estes os seus momentos mais extrovertidos que até lhe mereceram o cognome de “Descartes”. Foi sempre aluno distinto, em todo o seu longo percurso académico, desde a escola primária à universidade. Era igualmente um artista, deixando na sua residência pessoal, em Washington D.C., numerosas obras dignas de museu, sobretudo peças de mobília ,artística e originalmente elaboradas. Montou uma oficina mecânica na sua própria residência, onde passava os seus tempos livres.” E mais não transcrevo.
O Doutor Manuel da Rosa era Filho e Neto de artistas. Daí o cognome que ficou na Família dos “Importantes”. O Pai, Manuel Rodrigues Quaresma Júnior, era um exímio artista de “scrimshaw”. Foi ele que fez um jogo de xadrez, em marfim de baleia, para oferecer ao Presidente Carmona, quando ele visitou os Açores, em 1941. E muitas outras peças, não apenas de osso de baleia mas igualmente, como o Filho, peças de mobiliário e não só. Tive nele um bom amigo. Trabalhámos juntos no Executivo Municipal, na década de quarenta do século passado e na fundação da SIBIL.
Fica aqui um parêntesis, apenas para recordar o velho amigo, nesta singela homenagem que pretendo prestar ao Filho, de que muito se orgulhava.
Um ano após o seu falecimento, vale a pena recordar um dos vultos da Diáspora mais destacados da geração que está a findar.
Vila das Lajes,
Outubro 2012
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

A VILA NÃO PROGREDIU...


NOTAS DO MEU CANTINHO


Num dos últimos dias de Setembro, casualmente, encontrei-me com um amigo emigrado há anos no estrangeiro mas que só agora teve ocasião de vir de visita à terra onde nasceu e onde foi criado.
No decorrer da conversa foi ele dizendo das suas impressões da ilha, algo diferente, na verdade, daquela que aqui deixou quando partiu.
Está muito diferente e a Madalena e Cais estão muito diferentes e embelezadas, só a Vila (e a vila para ele era ainda a Vila das Lajes) é que não progrediu. Ouvi e dei-lhe as explicações que me foi possível “arquitectar” no momento. E uma delas foi a ausência da nossa juventude, o que, na realidade é um facto incontroverso, o que prova, em certa medida, a diminuição da população.
Ainda há dias, os órgãos de Comunicação Social fizeram-se eco dos elementos fornecidos pelos Instituto Nacional de Estatística, pelos quais se pode verificar que o concelho das Lajes sofreu uma diminuição de população superior a quatrocentos habitantes. E a grande ou quase total maioria foi de jovens. Hoje a vila das Lajes conta com uma população de terceira idade e uma grande parte são viúvos/as que vivem isoladamente nas suas habitações. E já não aludo às duas ou três dezenas que vivem nos Lares da 3ª idade.
Mas o despovoamento tem ainda outras causas bem mais concretas. A renovação urbana tem sido nula. Até os próprios lajenses, quando pretendem construir novas habitações, vão para a periferia: Ribeira do Meio, Almagreira e até Silveira. Não me consta que algum construa nas Terras. Nesse lugar são os próprios residentes que plausivelmente, vão melhorando as antigas habitações ou construindo novas. Mas, louvores merecem por isso, não abandonam o seu lugar!
E o investimento público tem sido bastante parco. Fogem da vila. Outros povos teriam orgulho na sua terra, na sua história, nos valores patrimoniais que a vila ainda possui. Os lajenses e aqueles que têm presidido aos destinos da sua terra, viram as costas a tudo isso, com receio que sejam apodados de só olharem para a vila. E, talvez com esse receio, nada fazem. Os serviços públicos vão sendo transferidos para outros meios. E aí construem os gestores modernos e elegantes edifícios para os instalar. E os poucos edifícios que aqui ocupavam, nem são cedidos, quando requisitados por quaisquer instituições, nem vendidos quando há pretendente e vão caindo em degradação.
E se há lajenses que aceitam de bom grado o “status quo”, outros, felizmente, ainda sabem levantar a voz e reclamar contra tamanhos atropelos, como cidadãos que são no pleno direito da sua cidadania.
Podem alegar os dirigentes políticos que construíram um pontão para defesa da vila. Concedo. Mas quando se procede à regularização dos blocos, a caírem, uns para o mar outros para a terra?!...
E a extracção das baixas da lagoa que da execução desse molhe nasceu mas que não é totalmente navegável, obrigando à colocação de sinalização para evitar o arrombamento das embarcações que demandam o porto? Aplaudi a obra mas nunca a forma como se encontra.
Penalizou-me a apreciação do nosso conterrâneo emigrante. Espero que o mesmo aconteça a quem ler, se é que o vai fazer.
Louvo o bairrismo dos residentes das outras vilas, mas não deixo (porque não posso deixar) de acusar os que possam ter responsabilidades no decaimento da primeira povoação que vila sempre foi, da ilha.

Vila das Lajes,
A Vila Baleeira dos Açores,
5 de Outº. de 2012
Ermelindo Ávila

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SUBMARINOS ALEMÃES NOS AÇORES


NOTAS DO MEU CANTINHO



Melhor seria: U-Boats nos Mares dos Açores, pois é o livro que Manuel Paulino Costa acaba de publicar e que hoje registo com muito agrado. Um livro que faz a história da campanha dos submarinos alemães nos mares dos Açores durante a segunda guerra mundial (1939-1945) .
Para quem acompanhou o desenrolar da terrível guerra que milhões de vítimas fez nos campos de batalha, na perseguição à marinha mercante e beligerante e nos horríveis campos de concentração, este magnífico trabalho faz um pouco de historia da chamada guerra submarina que tantas vidas ceifou.
Ao prefaciar o U-Boats... o erudito professou Ruben Rodrigues: Manuel Paulino Costa introduz-nos, neste seu livro – “U-Boats nos Mares dos Açores – Batalha do Atlântico (1939-1945) – em um dos aspectos dolorosos do segundo grande conflito, especificadamente na luta pelo controlo dos mares perpetrada pelas flotilhas dos submarinos alemães, um dos marcos blasfemos do poderio bélico nazi, no Oceano Atlântico.”
E depois acrescenta: “Os campos de concentração, os fuzilamentos, os fornos crematórios, as tropas SS, a Gestapo, etc. comportam a imagem terrífica do caos.”
Hitler foi o mais bárbaro chefe de estado dos últimos séculos. Mas muitos alemães acompanharam-no, não só por aceitarem a “bárbara filosofa rácica Ariana”, como para desforrar o desastre sofrido na primeira guerra (1914-1918)
Com a publicação do livro “U-boats nos mares dos Açores” pretende-se relatar alguns dos acontecimentos ocorridos durante a Batalha do Atlântico que deram origem a filmes, edições de livros, notícias nos jornais açorianos, bem como contribuir com uma nova versão para a viagem fatídica do submarino alemão U-581, que se afundou na costa do Guindaste – Mirateca (Pico), após uma luta com destroyers ingleses” (pág.12).
Um dos sobreviventes do submarino esteve nesta vila das Lajes e na Mirateca, em 18 de Outubro de 2011, como passageiro do navio de turismo Bremen. Visitou o Museu dos Baleeiros”(pág. 51).
O Autor faz ainda referência a um outro combate, em 2 de Fevereiro de 1942, no canal Pico - São Jorge, entre o submarino alemão U-402, e uma flotilha de destroyers ingleses que comboiava o navio de transportes Langibby Castle, depois de haver reparado grossas avarias que sofrera ao ser bombardeado por aquele submarino quando navegava a Norte dos Açores. (pág. 97).
Refiro o alarme que houve na ilha do Pico com estes dois combates, de lamentáveis recordações.
O Autor regista também que o contra-torpedeiro Lima, em viajem de Lisboa para Ponta Delgada, sobre comando do Capitão-Tenente Sarmento Rodrigues, desviou o rumo para recolher os náufragos do navio mercante inglês Roxburg-Castle, que foi torpedeado pelo submarino alemão U-107, e levá-los para Ponta Delgada. Foi nessa viagem de Lisboa para os Açores que o contra-torpedeiro “Lima” foi atingido por tremendas tempestade.
Veja-se o que diz, a propósito, o Tenente L. S. Gomes da tripulação do Lima: O navio erguia a proa com esforço, estremecendo continuamente. Parecia estalar de encontro às ondas que o empenavam, resfolgando os pulmões, o último arranque pedido.”
(...)“Mas uma vaga de maior dimensão ainda, eleva pela proa a unidade de guerra, obriga-a a descer sobre bombordo com uma inclinação que causa calafrios e quando toda a marinhagem esperava, fria como mármore, ver o navio soerguer-se, uma nova vaga semelhante à anterior, sem dar tempo de reequilíbrio, impele-o mais para a bocarra imensa, pondo a descoberto todo o bombordo até à quilha.”(1) E o autor que venho de citar continua a tenebrosa narração, até que o navio consegue soerguer-se. Ao terminar, o Tenente Gomes escreve: “Neste barco o aparelho de medir a inclinação registou uma terrível oscilação de oitenta graus, mas ergueu-se de novo. Não há memória de um navio registar semelhante inclinação e sobrevier”. (2)
O Autor de U-Boats nos Mares dos Açores, referindo este horrível acontecimento diz:” O navio era o destroyer português N.R.P. “Lima” (D333) sob o comando do Capitão-Tenente Manuel Maria Sarmento Rodrigues, em rota de Lisboa para os Açores, em comissão de serviço SAR (Search and Rescue).” (pág.92)
Sinceras felicitações a Manuel Paulino Costa pelo excelente trabalho e pelo serviço prestado à História e à Cultura açorianas.
__________
1) Gomes, Leovigildo dos Santos Gomes (2º Tenente do Q.A.S.Naval) – “Comissão no Arquipélago “ –(Episódio Marítimo durante a guerra de 1939-1945)
2) Ibidem
Engrade, 27-09-2012
Ermelindo Ávila

sábado, 6 de outubro de 2012

O ANTIGO GRÉMIO


NOTAS DO MEU CANTINHO

O antigo grémio funcionou na ala norte da casa que foi da Avó do General Lacerda Machado e que depois pertenceu a José de Brum Martiniano. De início, ocupava somente a sala norte e, ultimamente, a sala contígua onde estivera a sede da Sociedade “Santo António” que, actualmente, tem sede própria. O Grémio Literário Lajense assim denominado, foi fundado em 1876, recebeu o espólio do antigo Gabinete de Leitura, fundado entre 1874 - 1879, com uma apreciável quantidade de livros recolhidos dos alfarrabistas, em Coimbra, quando ali estudava o que viria a ser Bispo de Macau, D. João Paulino de Azevedo e Castro.
Era no Grémio que se reunia a fidalguia, digamos, lajense, pois a admissão de qualquer sócio era sujeita a uma votação secreta e bastava um voto contra para que o candidato não fosse admitido. Lembro-me do Capitão José Francisco Fidalgo, grande jogador de bilhar. E de outros mais: Pe. José Vieira e Pe. Feliciano, José Lopes, Leonardo Amorim, Manuel Joaquim Castro, José Fernandes, Gilberto Castro, Edmundo Ávila e outros mais.
Alguns dos lajenses que viviam fora, quando visitavam a terra não dispensavam um serão no Grémio. E o mesmo sucedia com os visitantes estranhos, incluindo os caixeiros-viajantes que, quando pernoitavam na Vila das Lajes, passavam o serão naquela Sociedade. Alguns deles eram grandes jogadores de cartas… E havia mesmo um ou outro lajense que, vivendo noutra parte da ilha, atravessava a serra a cavalo para vir passar a tarde no Grémio. Não havia nem estrada e muito menos automóveis…E assim acontecia porque os horários eram diferentes. As repartições públicas encerravam às quatro horas da tarde. Hoje seria impossível.
Nos anos trinta, a sociedade lajense sofreu (ou beneficiou?) de uma grande transformação. A sociedade filarmónica “Liberdade Lajense” instalou-se na casa do Machadinho, que hoje é propriedade sua, e deu início aos bailes, “obrigando” o Grémio - que por exigência da legislação corporativa havia modificado os estatutos, passando a denominar-se “Sociedade Literária e Recreativa Lajense”, vindo a instalar-se no piso superior que a firma Edmundo Machado Ávila havia construído para garagem.
Razões várias levaram a que a Sociedade Literária e Recreativa Lajense tivesse, decorridos alguns anos, de desocupar as instalações. Os móveis foram recolhidos noutra casa e a Sociedade ou antigo Grémio deixou de funcionar com gravosos prejuízos para a sociedade lajense. Hoje, não existe local onde os lajenses se possam reunir, como era tradicional. As Salas da Filarmónica estão abertas a todos os eventos que se realizam na vila, mas a sociedade em geral não tem por hábito utilizá-las aos serões, como fazia no antigo Grémio, tanto mais que tem o “inconveniente” dos ensaios, que devem estar em primeiro lugar.
Urge, pois, reactivar a Sociedade Literária e Recreativa Lajense que, afinal, nunca foi legalmente extinta. E isso não será difícil. Basta que se encontrem salas capazes onde a secular agremiação se possa instalar, convenientemente.
Na Vila das Lajes, existiam alguns prédios devolutos que foram ruindo, desastrosamente. Está no ar e ainda em bom estado de conservação o antigo edifício da Alfandega e, sem que o Estado (D.G.F.P.) ou outro organismo estatal lhe dê aplicação, devia estar na Posse da Região e ter a aplicação devida. Já que assim acontece, porque não é entregue à S.L.R.L. mediante o devido Protocolo onde sejam estabelecidas as cláusulas de utilização?
É um simples alvitre de quem muito se interessa pelo desenvolvimento e progresso da sua terra - A VILA DAS LAJES DO PICO, a primeira vila da Ilha e uma das primeiras dos Açores.

Engrade Piedade,
17 de Setembro de 2012

ERMELINDO ÁVILA

As ermidas da Piedade


NOTAS DO MEU CANTINHO


No último domingo de Setembro realiza-se, na Manhenha, freguesia da Piedade, e na sua ermida própria dedicada a S. Tomé, a tradicional festa de Nossa Senhora das Mercês.
A Manhenha era, outrora, um simples lugar de adegas. Manuel Greaves, num dos seus livros, publicados em meados do século passado, denominou aquele interessante subúrbio da Piedade, de “A vileta das cem adegas”. Hoje a Manhenha é um subúrbio da freguesia, onde se fixaram mais de vinte famílias ocupando prédios de recente construção, de magnífica traça, alguns deles construídos por emigrantes, ora regressados, ou que vêm à terra, anualmente, passar a estação calmosa. Tem uma sociedade recreativa a funcionar, diariamente, com o respectivo bar e um excelente restaurante em prédio próprio.
Mas o mesmo acontece nos lugares do Calhau e Cais do Galego, que circundam uma das melhores baías do Pico, ampla e abrigada dos ventos predominantes. O Calhau tem um bom cais a servir o porto de mar que é. Até na Engrade já existe uma dúzia de adegas-vivendas.
Estes lugares, apetecidas estâncias de veraneio, eram grandes produtores do histórico vinho Verdelho, daqui exportado para o Norte da Europa em barcas próprias, e desapareceu com a doença das vinhas, ou filoxera, que as atingiu a meados do século XIX, que foi substituído pela uva “Isabela” ou americana. A Ponta da Ilha é a maior produtora do tradicional “Vinho de Cheiro”, apesar de alguns proprietários terem abandonado uma parte dos terrenos, provocando o desenvolvimento de arvoredo de espécies infestantes. Mas esses mesmos sítios valem pelo clima e pela beleza dos panoramas.
Curiosamente, em todos estes lugares existem ermidas dedicadas aos santos titulares da devoção dos habitantes. A ermida de São Tomé da Manhenha é, talvez, a mais antiga. No Calhau existe a ermida de N.ª Sr.ª da Conceição da Rocha, construída pelo Pe. Manuel Inácio da Silveira Campelo e que, da Terceira, todos os anos vinha passar o verão no aprazível lugar. Durante muitos anos esteve esta ermida abandonada e quase a ruir, até que, no último ano, o respectivo proprietário a restaurou, recuperando a sua traça primitiva.
Porque o Calhau é um excelente porto de mar, os marítimos da localidade ergueram uma ermida dedicada a Nª. Sr.ª da Boa Viagem, cuja festa celebraram no último domingo.
No Cais do Galego é festejado há anos São João pelos proprietários do sítio.
Na Engrade já está organizada uma associação e escolhido o terreno para a construção de uma ermida que, ao que dizem, será dedicada ao Beato João Paulo II.
No lugar dos Fetais um importante núcleo habitacional da freguesia, foi há anos construída uma ampla ermida, dedicada a Santo António, onde semanalmente, e fora da época estival, é celebrada a Eucaristia.
Ficará d´esta arte a paróquia da Piedade a dispor de cinco centros do culto católico, além do magnífico templo, recentemente restaurado, e que é um dos mais belos da Ilha. E, diga-se de passagem, o Pico tem um património riquíssimo nas suas igrejas e ermidas, um conjunto dos mais importantes dos Açores, duma grandeza e beleza arquitectónica pouco vulgares. Afinal, uma demonstração bem visível da religiosidade do seu povo e dos esforços que vem fazendo, ao longo dos cincos séculos de existência, - tenha-se presente o caso bem recente da Matriz da Santíssima Trindade da Vila das Lajes - pelas suas ermidas, igrejas e até os conventos franciscanos. E não são poucos, muito embora alguns estejam a sofrer um certo abandono, aí, ao que consta, à falta de párocos próprios.
A Festa que se celebra na Manhenha é a despedida do verão. Prova-se o vinho, recebem-se os amigos e conhecidos, e até os visitantes que, por vezes, são às centenas e até milhares.


Engrade, Piedade,
24-Setº.-2012
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

FREGUESIA DA PONTA




Não é desprimoroso o título. Já Frei Diogo das Chagas, que pela ilha andou em 1641, a dar fé ao probo historiador Lacerda Machado, se referia à freguesia da Ponta da Ilha que tinha como orago Nossa Senhora da Piedade.
E, nesse ano, a ilha já possuía treze freguesias, sendo as três mais antigas a Vila das Lajes, as Ribeiras e a Ponta da Ilha.
É de dar crédito ao que nos deixou Frei Diogo das Chagas, no seu Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, que se conservou em manuscrito até 1989, muito embora a parte respeitante às ilhas do antigo Distrito da Horta já houvessem sido publicadas por diligência de Ferreira de Serpa.
E é Frei Diogo das Chagas que nos relata:
O primeiro homem, que se pratica por certo haver entrado nesta Ilha para a povoar foi um tal Fernando Alvares Evangelho, o qual vindo-a buscar a tomou pela parte do Sul, e vindo no barco buscar a costa saltou em terra onde se diz penedo negro. “
Trazia um cão consigo que também saltou em terra. O resto dos companheiros, temendo o mar que se levantou, abandonaram a ilha, só voltando um ano depois e desembarcando nas Ribeiras, onde Jordão Alvares Caralta se fixou; e o Fernando Alvares começou pela Ribeira do Meio, onde, segundo a tradição, existem as ruínas da casa, junto da Ribeira, que teve o seu nome até que uma burra, morrendo na ribeira, lhe roubou a denominação e hoje é conhecida por “Ribeira da Burra”.
Mas, afinal, donde vieram os primeiros povoadores? Naturalmente, da ilha Terceira, já povoada. Outra versão não é compreensível. Aliás é essa a opinião de Lacerda Machado. Os povoadores haviam percorrido a costa das Ribeiras e não do Faial. A forma minuciosa como Frei Diogo das Chagas se refere ao descobrimento da ilha causa certa surpresa ao organizador da publicação do “Espelho Cristalino...”, o douto Professor Doutor Artur Teodoro de Matos que, no Prefácio da edição citada, (1989) escreve:
Contendo matéria em grande parte diferente, mas de incontestável interesse histórico, é o capítulo dedicado à ilha do Pico.”
Como já referi em anterior escrito, Frei Diogo das Chagas era irmão do Guardião do Convento Franciscano das Lajes e, visitando os conventos da Ordem existentes nas Ilhas, por cá se demorou algum tempo, o suficiente para consultar os arquivos paroquiais todos os documentos de interesse: documentos esses que desapareceram no “ano do barulho”, em 1862.
Por tais documentos se verifica a ligação simpática (digo eu) que existe entre A Ponta da Ilha e a Ilha Terceira, donde vieram naturalmente os povoadores e para onde têm caminhado, ao longo dos anos, várias famílias da Piedade e Ribeirinha.
Basta referir que, os Azevedos Gomes eram naturais da Piedade e de Santo Amaro. A esposa do laureado escritor Vitorino Nemésio era, pois, oriunda da Piedade o que levou um neto, Dr. Gonçalo Nemésio, a escrever a notável monografia “Os Azevedos da Ilha do Pico”.
De referir ainda a médica Dra. Maria Teodora Pimentel, a primeira médica dos Açores. E tantos mais. A lista é enorme e não cabe neste arrazoado singelo.
Os lajenses sempre tiveram uma ligação muito especial àqueles sítios, onde alguns, na hoje progressiva freguesia da Piedade, tinham suas vinhas e casas de veraneio provenientes de heranças familiares. Era lá que cultivavam o vinho verdelho.
Mas o espaço que me reservam não permite mais dizer. Por aqui fico com uma palavra de saudação às gentes da Ponta da Ilha, nestes dias a festejar a sua Padroeira, Nossa Senhora da Piedade.

Vila das Lajes, 30 de Agosto de 2012
Ermelindo Ávila