Não é
desprimoroso o título. Já Frei Diogo das Chagas, que pela ilha
andou em 1641, a dar fé ao probo historiador Lacerda Machado, se
referia à freguesia da Ponta da Ilha que tinha como orago Nossa
Senhora da Piedade.
E, nesse
ano, a ilha já possuía treze freguesias, sendo as três mais
antigas a Vila das Lajes, as Ribeiras e a Ponta da Ilha.
É de dar
crédito ao que nos deixou Frei Diogo das Chagas, no seu Espelho
Cristalino em Jardim de Várias Flores, que
se conservou em manuscrito até 1989, muito embora a parte
respeitante às ilhas do antigo Distrito da Horta já houvessem sido
publicadas por diligência de Ferreira de Serpa.
E é Frei
Diogo das Chagas que nos relata:
“O
primeiro homem, que se pratica por certo haver entrado nesta Ilha
para a povoar foi um tal Fernando Alvares Evangelho, o qual vindo-a
buscar a tomou pela parte do Sul, e vindo no barco buscar a costa
saltou em terra onde se diz penedo negro. “
Trazia um
cão consigo que também saltou em terra. O resto dos companheiros,
temendo o mar que se levantou, abandonaram a ilha, só voltando um
ano depois e desembarcando nas Ribeiras, onde Jordão Alvares Caralta
se fixou; e o Fernando Alvares começou pela Ribeira do Meio, onde,
segundo a tradição, existem as ruínas da casa, junto da Ribeira,
que teve o seu nome até que uma burra, morrendo na ribeira, lhe
roubou a denominação e hoje é conhecida por “Ribeira da Burra”.
Mas,
afinal, donde vieram os primeiros povoadores? Naturalmente, da ilha
Terceira, já povoada. Outra versão não é compreensível. Aliás é
essa a opinião de Lacerda Machado. Os povoadores haviam percorrido a
costa das Ribeiras e não do Faial. A forma minuciosa como Frei Diogo
das Chagas se refere ao descobrimento da ilha causa certa surpresa ao
organizador da publicação do “Espelho
Cristalino...”, o douto Professor Doutor
Artur Teodoro de Matos que, no Prefácio da edição citada, (1989)
escreve:
“
Contendo matéria em grande parte diferente,
mas de incontestável interesse histórico, é o capítulo dedicado à
ilha do Pico.”
Como
já referi em anterior escrito, Frei Diogo das Chagas era irmão do
Guardião do Convento Franciscano das Lajes e, visitando os conventos
da Ordem existentes nas Ilhas, por cá se demorou algum tempo, o
suficiente para consultar os arquivos paroquiais todos os documentos
de interesse: documentos esses que desapareceram no “ano do
barulho”, em 1862.
Por tais
documentos se verifica a ligação simpática (digo eu) que existe
entre A Ponta da Ilha e a Ilha Terceira, donde vieram naturalmente os
povoadores e para onde têm caminhado, ao longo dos anos, várias
famílias da Piedade e Ribeirinha.
Basta
referir que, os Azevedos Gomes eram naturais da Piedade e de Santo
Amaro. A esposa do laureado escritor Vitorino Nemésio era, pois,
oriunda da Piedade o que levou um neto, Dr. Gonçalo Nemésio, a
escrever a notável monografia “Os Azevedos
da Ilha do Pico”.
De referir
ainda a médica Dra. Maria Teodora Pimentel, a primeira médica dos
Açores. E tantos mais. A lista é enorme e não cabe neste arrazoado
singelo.
Os lajenses
sempre tiveram uma ligação muito especial àqueles sítios, onde
alguns, na hoje progressiva freguesia da Piedade, tinham suas vinhas
e casas de veraneio provenientes de heranças familiares. Era lá que
cultivavam o vinho verdelho.
Mas
o espaço que me reservam não permite mais dizer. Por aqui fico com
uma palavra de saudação às gentes da Ponta da Ilha, nestes dias a
festejar a sua Padroeira, Nossa Senhora da Piedade.
Vila
das Lajes, 30 de Agosto de 2012
Ermelindo
Ávila
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