sexta-feira, 13 de novembro de 2015

PROFESSOR DOUTOR JOSÉ ENES

NOTAS DO MEU CANTINHO


Num gesto singelo de profunda e respeitosa homenagem, trago hoje a este “Cantinho” a personalidade inconfundível do Professor Doutor José Enes, de seu nome completo José Enes Pereira Cardoso, que nasceu nesta ilha, melhor nas Lajes do Pico, em 1924 e faleceu em Lisboa, quase aos noventa anos, em 2013.
Conhecíamo-nos desde a infância, e sempre mantivemos uma amizade simples, mas bastante sincera. Conservo do Professor Doutor José Enes, com muito respeito, algumas das cartas que me escreveu, principalmente de Luanda, onde tive o privilégio de com ele passar uma manhã na Universidade daquela cidade ultramarina. Já lá vão mais de quarenta anos.
A recordar o seu “Pensamento e Obra”, realizou-se em Outubro passado um Colóquio na Universidade dos Açores, nos dias 26 e 27, continuado em Lisboa nos dias 29 e 30, com o alto patrocínio do Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente. Nada mais sei desse acontecimento científico e já histórico, porque não tive o grato prazer de a ele assistir, até porque foi reservado, ao que sei, a altas personalidades culturais e científicas. (A Imprensa quase ignorou o notável evento...) No entanto, foi-me possível adquirir o livro póstumo lançado nessa ocasião, em Ponta Delgada, “Portugal Atlântico”, - Estudos de Fenomenologia Política, com Prefácio do Prof. Doutor Carlos E. Pacheco Amaral e Nota Introdutória da Prof.ª Doutora Maria Fernanda Diniz Teixeira Enes, esposa do Doutor José Enes. Em Anexo, entre outros, o discurso pronunciado nesta vila aquando da Homenagem que a Câmara Municipal, da presidência do Eng. Cláudio Lopes, prestou ao insigne lajense, na celebração do quinto centenário da instauração do concelho.
E transcrevo, com a devida vénia e o maior respeito: “Olhei de relance para o horizonte distante dos meus trabalhos literários, históricos, culturais, sociológicos, de desenvolvimento económico e social, de política e de relações internacionais a ver se divisava alguma memória abordável para a inesperada rota deste cais baleeiro. (...) E foi na ânsia desta angústia que me surgiu a ideia salvadora. Já que o Pico e suas gentes a homenageavam pela originária autoridade histórica da Vila das Lajes, por onde começou o seu povoamento e sua primeira capital, então esta conferência oferecia-me a oportunidade de retribuir prestando a minha homenagem ao Pico e às suas gentes. (...) O que na ansiedade da resposta à segunda pergunta do Sr. Engenheiro Cláudio relampejou no meu intuito foi a evocação vivencial do que devo ao Pico e às suas gentes no que sou e no que tenho feito.
Recordou os baleeiros, os marítimos, os ferreiros e aqueles que até foram poetas, como Amélia Ernestina Avelar, ou Diasde Melo e José Carlos. Mas antes recorda o Pico, - “A montanha do meu destino”, poema maravilhoso de que é Autor. E não esquece alguns notáveis, que por aqui passaram como Nemésio, Chateaubriand, Sarmento Rodrigues e outros mais. A conferência que aqui pronunciou no dia dos quinhentos anos da criação da Vila e, simultaneamente, da homenagem que o Município, ainda a tempo, prestou ao emérito lajense, é toda ela um verdadeiro hino de glorificação: “a evocação vivencial do que devo – diz – ao Pico e às suas gentes no que sou e no que tenho feito
No final da sua Nota Introdutória escreve a Doutora Maria Fernanda Enes: “Quando em 2010 sofreu o enfarte do miocárdio e foi contaminado por uma bactéria hospitalar, recuperou muito pela ajuda da leitura dos seus poemas, marcados pela insularidade, e com a audição constante do seu poema “MONTANHA DO MEU DESTINO” (escrito em Roma em Setembro de 1946 e que ele titulara simplesmente “Pico”), musicado por um dos seus alunos – Emílio Porto, de saudosa memória – e cantado pelo Coro da sua terra natal. As Lajes.”
E com estas referências – e outras poderia fazer se de maior espaço dispusesse - expresso com o maior respeito a minha homenagem sentida e indelével à memória do erudito e notável lajense, excelente e erudito Amigo (pois assim sempre e benevolamente me tratou), Doutor José Enes, uma das personalidades mais distintas, e porque não das mais agigantadas - - não somente do Pico, sua e nossa ilha querida, mas dos Açores e de Portugal.
Vila das Lajes,
Ilha do Pico,
Novembro de 2015

Ermelindo Ávila