NOTAS DO MEU CANTINHO
Num gesto
singelo de profunda e respeitosa homenagem, trago hoje a este
“Cantinho” a personalidade inconfundível do Professor Doutor
José Enes, de seu nome completo José Enes Pereira Cardoso, que
nasceu nesta ilha, melhor nas Lajes do Pico, em 1924 e faleceu em
Lisboa, quase aos noventa anos, em 2013.
Conhecíamo-nos
desde a infância, e sempre mantivemos uma amizade simples, mas
bastante sincera. Conservo do Professor Doutor José Enes, com muito
respeito, algumas das cartas que me escreveu, principalmente de
Luanda, onde tive o privilégio de com ele passar uma manhã na
Universidade daquela cidade ultramarina. Já lá vão mais de
quarenta anos.
A recordar
o seu “Pensamento e Obra”, realizou-se em Outubro passado um
Colóquio na Universidade dos Açores, nos dias 26 e 27, continuado
em Lisboa nos dias 29 e 30, com o alto patrocínio do Cardeal
Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente. Nada mais sei desse
acontecimento científico e já histórico, porque não tive o grato
prazer de a ele assistir, até porque foi reservado, ao que sei, a
altas personalidades culturais e científicas. (A Imprensa quase
ignorou o notável evento...) No entanto, foi-me possível adquirir o
livro póstumo lançado nessa ocasião, em Ponta Delgada, “Portugal
Atlântico”, - Estudos de Fenomenologia
Política, com Prefácio do Prof. Doutor Carlos E. Pacheco Amaral e
Nota Introdutória da Prof.ª Doutora Maria Fernanda Diniz Teixeira
Enes, esposa do Doutor José Enes. Em Anexo, entre outros, o discurso
pronunciado nesta vila aquando da Homenagem que a Câmara Municipal,
da presidência do Eng. Cláudio Lopes, prestou ao insigne lajense,
na celebração do quinto centenário da instauração do concelho.
E
transcrevo, com a devida vénia e o maior respeito: “Olhei
de relance para o horizonte distante dos meus trabalhos literários,
históricos, culturais, sociológicos, de desenvolvimento económico
e social, de política e de relações internacionais a ver se
divisava alguma memória abordável para a inesperada rota deste cais
baleeiro. (...) E foi na ânsia desta angústia que me surgiu a ideia
salvadora. Já que o Pico e suas gentes a homenageavam pela
originária autoridade histórica da Vila das Lajes, por onde começou
o seu povoamento e sua primeira capital, então esta conferência
oferecia-me a oportunidade de retribuir prestando a minha homenagem
ao Pico e às suas gentes. (...) O que na ansiedade da resposta à
segunda pergunta do Sr. Engenheiro Cláudio relampejou no meu intuito
foi a evocação vivencial do que devo ao Pico e às suas gentes no
que sou e no que tenho feito.”
Recordou
os baleeiros, os marítimos, os ferreiros e aqueles que até foram
poetas, como Amélia Ernestina Avelar, ou Diasde Melo e José Carlos.
Mas antes recorda o Pico, - “A montanha
do meu destino”, poema maravilhoso de
que é Autor. E não esquece alguns notáveis, que por aqui passaram
como Nemésio, Chateaubriand, Sarmento Rodrigues e outros mais. A
conferência que aqui pronunciou no dia dos quinhentos anos da
criação da Vila e, simultaneamente, da homenagem
que o Município, ainda a tempo, prestou ao emérito lajense, é toda
ela um verdadeiro hino de glorificação: “a
evocação vivencial do que devo – diz
– ao Pico e às suas gentes no
que sou e no que tenho feito”
No final da
sua Nota Introdutória escreve a Doutora Maria Fernanda Enes:
“Quando em 2010 sofreu o enfarte do
miocárdio e foi contaminado por uma bactéria hospitalar, recuperou
muito pela ajuda da leitura dos seus poemas, marcados pela
insularidade, e com a audição constante do seu poema “MONTANHA DO
MEU DESTINO” (escrito em Roma em Setembro de 1946 e que ele
titulara simplesmente “Pico”), musicado por um dos seus alunos –
Emílio Porto, de saudosa memória – e cantado pelo Coro da sua
terra natal. As Lajes.”
E com estas
referências – e outras poderia fazer se de maior espaço
dispusesse - expresso com o maior respeito a minha homenagem sentida
e indelével à memória do erudito e notável lajense, excelente e
erudito Amigo (pois
assim sempre e benevolamente me tratou), Doutor José Enes, uma das
personalidades mais distintas, e porque não das mais agigantadas - -
não somente do Pico, sua e nossa ilha querida, mas dos Açores e de
Portugal.
Vila das
Lajes,
Ilha do
Pico,
Novembro de
2015
Ermelindo
Ávila
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