terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A VIRGEM IMACULADA APARECEU EM LOURDES HÁ 150 ANOS

Foi no dia 11 de Fevereiro de 1858 que Nossa Senhora apareceu pela primeira vez na Gruta de Massabielle, em Lourdes. Cento e cinquenta anos são decorridos e a mensagem da Virgem à vidente Bernardette é completamente actual
Passados vinte e cinco anos sobre o extraordinário acontecimento, a Imagem de Nossa Senhora de Lourdes era solenemente intronizada na Matriz da Santíssima Trindade, das Lajes do Pico, pois fora a primeira terra açoriana onde Nossa Senhora havia sido publicamente invocada sob o título de Senhora de Lourdes.
É o que nos narra Monsenhor António Maria Ferreira no seu livro “Perfumes de Lourdes” editado em 1902; e aí escrevia o erudito sacerdote: “LAGES DO PICO – Foi talvez o primeiro logar dos Açores onde Nossa Senhora de Lourdes começou a ser publicamente invocada não obstante ser o Faial a primeira Ilha onde foi exposta ao culto público a primeira Imagem de Nossa Senhora de Lourdes. Em ocasião aflitiva para os habitantes daquela villa, num desses dias em que o mar embravecido parece, na frase dos lajenses, querer engolir a terra, algumas canôas baleeiras, tripuladas por intrépidos marinheiros demandavam o porto, lutando corajosamente com as ondas enfurecidas; mas para os de terra havia iminente risco de os verem despedaçar-se nas penedias que tornam perigosíssima a entrada do porto.
As proximidades da lagoa, cuja bacia forma o porto, achavam-se apinhadas de povo que pressuroso havia acudido a presenciar aquele triste espectáculo. Nos momentos de maior angústias aparece ali um filho da localidade que era considerado por todos como tendo sido objecto de uma insigne graça de Nossa Senhora de Lourdes. A sua presença e a sua palavra conseguiram serenar um pouco aqueles corações aflictos inspirando-lhes uma tal confiança na miraculosa Senhora de Massabielle, que d’envolta com os gritos de angústias que de contínuo irrompiam de todos os peitos eram repetidamente ouvidos de diferentes pontos da multidão as exclamações de: - Nossa Senhora de Lourdes livrai-os do perigo – Nossa Senhora de Lourdes salvae-os.
O facto é que a tempestade serenou, as embarcações entraram a salvo o porto, e da tripulação ninguem sofreu o menor damno. Desde então a confiança em N. Senhora de Lourdes começou a ganhar os corações entre aquele bom povo e a sua devoção dia a dia conquistava terreno. Estava por esta forma inaugurada naquela vila e no arquipélago e diocese dos Açores o culto público em honra da Virgem dos Pireneus… Era isto em fins de 1882”
A igreja universal celebra a festa de Nossa Senhora de Lourdes a 11 de Fevereiro, dia da primeira aparição. Este ano, porque se comemoram cento e cinquenta anos sobre tal acontecimento, há diversos eventos programados a nível universal, entre eles um congresso em que as aparições serão estudas à luz da fé, da ciência e dos tempos actuais.
A Matriz da Santíssima Trindade da vila das Lajes comemora também os cento e quinze anos da devoção e festa à Senhora que, durante este tempo todo foi a Protectora dos lajenses e dos seus homens do Mar. Não pode nem deve ser esquecida esta efeméride. Nisso tem responsabilidades acrescidas a própria Diocese que não pode esquecer tão relevante acontecimento. E é aqui, neste solar abençoado pela Virgem, que tem de ser lembrado, com o devido respeito e grande solenidade o faustoso acontecimento.
É de não esquecer o que nos diz o Grande Lajense que foi Dom João Paulino de Azevedo e Castro, no artigo que, sob o título “Incremento da devoção” escreveu e foi publicado, em 27 de Julho de 1889, no antigo jornal de Angra, “Peregrino de Lourdes”:
“Muito concorreu para aumentar a devoção a Nossa Senhora de Lourdes a liberal magnificência de que usou o Santo Padre Leão XIII enriquecendo de graças o culto da sua devota imagem, a pedido daqueles que desde o começo se acharam sempre à frente de movimento tão consolador. Em 1884 foram expedidos de Roma dois rescritos, concedendo as seguintes indulgências: 1ª plenária no dia da festa a quem visitar a imagem de Nossa Senhora na sua igreja, desde a véspera até ao sol posto, orando ali pelas intenções do Sumo Pontífice, havendo-se previamente confessado e comungado; 2ª parcial de l00 dias por cada vez que visitar a imagem de Nossa Senhora tendo ao menos o coração contrito; 3ª indulgência de altar privilegiado aplicável aos defuntos por quem se celebrar a Santa Missa no altar da Santíssima Virgem.
Em próximo texto falaremos das dezoito Aparições de Nossa Senhora àquela que hoje veneramos nos altares sob a invocação de Santa Bernardette.

Vila Baleeira,
Fevereiro de 2008
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

APROXIMA-SE O CARNAVAL

Ficaram para trás, perdidos nos horizontes da vida, os acordes festivos da época natalícia. Chegados ao “Dia de Reis” apagaram-se as luzes coloridas das casas e das ruas, algumas de excelentes efeitos e todas elas com motivos da época. A chamada rua Direita da Vila, quase a única que mereceu as atenções da Municipalidade, era de surpreendente efeito.
Em alguns lugares houve os chamados concertos do Natal e nesse aspecto as Lajes também lucrou bastante com a Cantata do Natal, na Matriz da Santíssima Trindade das Lajes, executada pelo seu, nosso, Grupo Coral, como singelamente é designado e conhecido, um organismo, melhor dito uma verdadeira Instituição cultural que, conjuntamente com a Filarmónica Lajense, que está a atingir quase século e meio de existência, muito dignificam a avoenga Vila.
E antes que a Quaresma chegue - tempo litúrgico preparatório da Páscoa do Redentor - temos o Carnaval, com as quintas-feiras de amigos e amigas, compadres e comadres, dias esses destinados a encontros e confraternizações onde, antigamente, não faltavam as tradicionais “folgas” com os “bailes de roda” e as “chamarritas”, (Alguns dizem ser uma corruptela de chama-a-Rita).
Era também o tempo destinado às “matanças dos porcos”, uma época de fartura e de verdadeira confraternização entre familiares e amigos que hoje, praticamente, desapareceu do nosso meio lajense. As criança e os jovens deliravam com estas festas familiares. O dia da “matança” era “feriado” nas respectivas famílias. As crianças dispensavam-se de ir à escola e a falta era retirada no dia seguinte talvez com o “presente de porco” que se lavava à Senhora Professora.
Nesse dia não apenas os familiares eram chamados a tomar parte na festa. Á noite havia a ceia com os convidados, por vezes as pessoas principais do lugar, que todos apreciavam uma boa jantarada de morcela, fígado, e outros manjares tradicionais.
Depois era o bailado ou “chamarrita”, e até os “bailes de roda” que se prolongavam até à meia-noite, nunca além, pois o dia seguinte era de grandes “trabalheiras” com o derretimento do toucinho e a preparação das carnes na salgadeira, para os jantares de uma boa parte do ano.
Mas estava-se no Carnaval ou Entrudo. Havia os improvisados actores que, mascarados, percorriam nas quintas-feiras, sábados e domingos, as casas daquelas famílias que recebiam tais personagens. E por vezes era hilariante a sua actuação. Quase sempre o recordar de algum facto ocorrido durante o ano transacto: um namoro, o escândalo de um casal desavindo, um negócio mais escuro, e outros mais acontecimentos pouco vulgares. Tudo era trazido a Terreiro, como se dizia, mas tratado com subtileza e sem ofensas pessoais. Acontecia também a exibição de ranchos e de cantares ou a apresentação de uma pequena comédia quase sempre improvisada no próprio dia. Mas o que salvava eram os trajes picarescos que os mascarados apresentavam e que, quase sempre eram a imitação de alguma figura que havia caído na voz, quantas vezes malidicente, do povo!…
Os “mascarados” ou actores improvisados, eram recebidos, anos a seguir, em determinadas casas, que se tornavam tradicionais. Nelas se reuniam familiares e amigos, para “ver mascarados”. Era quase uma obrigação dos donos dessas habitações, para evitarem que os filhos miúdos saíssem à rua durante a noite. As ruas não eram iluminadas, pois a electricidade só chegou por volta de 1932.
Por vezes apareciam grupos de cantadores e bailarinos, já então a darem um estilo diferente ao Carnaval. Em salas particulares tinham lugar, também, reuniões dançantes, com assistência restrita. Depois deixaram de realizar-se nas ruas os jogos carnavalescos, passando para os salões das sociedades recreativas – Filarmónica e Grémio – apenas os bailes que, durante anos, atraiam pessoas de toda a Ilha. Hoje somente na Filarmónica se promovem, de anos a anos, as reuniões dançantes, pois o Grémio ou Sociedade L e Recreativa deixou de funcionar à falta de sede.
Estamos em plena época carnavalesca. Festejá-la é incerto pois a juventude foi desaparecendo e a que resta não tem grande entusiasmo por este estilo de Carnaval. Prefere as modernas “boites” com todos os seus inconvenientes…
O Carnaval da primeira metade do século passado, deixai que aqui o registe, vive na nossa saudade e dos poucos que restam dessa época algo distante !…

Vila das Lajes
Janeiro de 2008
Ermelindo Ávila