sábado, 25 de julho de 2009

SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE BALEAÇÃO

Notas do meu cantinho

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Depois de algum tempo ter passado sobre a intempestiva proibição da caça à baleia nos mares do Atlântico Norte, que somente teve o mérito de acabar com uma actividade de séculos e que era um dos esteios da economia insular, volta a falar-se em baleação.

A Ilha do Pico, onde a actividade tinha o seu centro principal, vai assistir a um seminário, sob o patrocínio do Museu dos Baleeiros. (ainda os responsáveis não entenderam que o chamado Museu do Pico é um nome subjectivo, sem significado e que só serve para estabelecer confusão entre os interessados, principalmente estrangeiros...)

Segundo a informação do Director do Museu dos Baleeiros, transmitida à Comunicação Social, “vão ouvir-se vozes de várias latitudes para um debate e reflexão sobre a importância da baleação nestes espaços, a sua importância na identidade dos locais.”

O Seminário teve início no dia 24, no salão da Filarmónica “Liberdade Lajense” e contou com a participação de conferencistas internacionais convidados, entre eles: Abiana Comerlato (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Baía, Brasil), Luís Freitas (Museu da Baleia da Madeira), James Russell (New Bedford Whaling Museum) Graça Filipe (Economuseu do Seixal), Jan Erik Ringstad (The Whaling Museum Sandefjord da Noruega), Dionísio Pereira Gonçález (Federación Galega pola Cultura Marítima e Fluvial), José António Rodrigues Pereira (Museu da Marinha) e Manuel Francisco Costa (Museu dos Baleeiros).

Foi um encontro de personalidades distintas, oriundas das localidades onde se praticou a caça à baleia, e cujas comunicações não deixaram de interessar a assistência, quase só limitada a quem um dia viveu e sentiu a actividade baleeira correr-lhes pelas próprias veias.

Cada um trazendo as suas experiências museológicas, os trabalhos apresentados e os diálogos que se seguiram mostraram o interesse de uma actividade económica que ainda hoje se reflecte, não apenas nos Museus da especialidade (Whale Museum).

Veio o Seminário substituir a Bienal das Baleias que aqui se realizou com bastante êxito por iniciativa da Secretaria Regional da Economia e que teve o mérito de aqui trazer cientistas das mais diversas partes do mundo?

Para estes eventos como para outros congéneres, há que estar preparado, com pessoal e com equipamentos adequados, para que possam colher os melhores resultados de tão importantes convénios.

Sabemos que nem todos dominam o inglês ou o português. Importa proporcionar a esses que oficialmente aqui vêm os meios indispensáveis para que possam acompanhar os trabalhos com interesse.

A vila das Lajes, vila baleeira, da qual irradiou a actividade para as demais ilhas açorianas, Madeira e Continente, tem a responsabilidade de bem receber quem aqui se desloca com o fim de apresentar estudos ou assistir a seminários ou bienais ou outros eventos semelhantes.

Da visita de tão célebres personalidades lucram as Lajes e os seus habitantes. Que esse particular não seja esquecido, ou mesmo prejudicado!

A Vila das Lajes é, insofismavelmente, o único centro de onde irradiou a baleação. Importa agora que, voltada para si, seja uma escola onde a cultura baleeira tenha sentido atractivo para a tradição dessa extinta actividade. Estão por aí espalhados os sinais da actividade que influenciou a vida, os hábitos e costumes das suas gentes. Interessa mantê-los como elementos atractivos, para quantos possam aqui chegar e aqui se manter apreciando a génese da actividade, não apenas no Museu, que pouco é. Todo o seu conjunto tem de ser aproveitado, explicado, vivido e sentido. Sejam os percursos pedestres, que conduziam os baleeiros às canoas quando as vigias os chamavam para ir mar fora à caça do monstro, sejam os outros locais de lazer e as próprias habitações.

Um sinal atractivo ficará no projectado jardim que valorizará a parte ribeirinha da Vila.

A promoção da vila e dos seus valores materiais tem de ser engrandecida com uma actividade cultural que saia daqui e se espalhe pelos centros de promoção cultural e turística. E aqui convém trazer à colação a necessidade do Museu dos Baleeiros criar a sua própria Revista, onde a temática baleeira seja apresentada, discutida e cultivada, como acontece em outras instituições semelhantes. E até criar uma página na Internet, onde a cultura baleeira seja apresentada e tratada com o devido carinho.

O Seminário que acaba de realizar-se deixou em todos os que por lá passaram uma certeza; Não basta meia dúzia de conferências, de anos a anos para trabalhar tão interessante e actual temática. Ela tem de ser promocionada, permanentemente, para não cair no olvido.

Excelente o trabalho de recuperação e manutenção da antiga frota baleeira, como agora se anuncia. Todavia importa promover que as regatas locais passem a ter um âmbito nacional e mesmo internacional para que não passem ao esquecimento.

A baleação encerra um património cultural e artístico que se deve salvaguardar. E muitas entidades têm nisso sérias responsabilidades.

Vila Baleeira, Julho de 2009

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Os milheirais

NOTAS DO MEU CANTINHO

Falo muito nos povoadores porque foram que , naturalmente, deram início à nossa história insular.

Do Minho ao Algarve, para aqui vieram os portugueses de então, povoar estas terras ignotas, sem conhecimento dos mares e dos ventos que, principalmente no inverno, as ilhas assolavam e continuam a fazê-lo nos nossos dias.

Foi esse desconhecimento dos mares e das terras que lhes eram destinadas, que obrigou Fernando Alvares Evangelho a ficar aqui abandonado, um ano inteiro, (reza a história) até que os companheiros da jornada voltarem e aqui se instalaram.

Esse nosso avoengo devia ser homem de rija tempera, destemido e audacioso, para ficar neste ermo desértico, com o cão –seria um “cão de água”? – que sempre o acompanhou e ajudou na caça do gado bravio com que se alimentou.

É uma história e não estória de fantasmas, aquela que nos deixou Fernão (ou Fernando) Alvares.

Quando chegaram os companheiros já ele conhecia os terrenos, os montes e vales e os sítios onde se deviam instalar. Foi o verdadeiro percussor. Como que o enviado especial para preparar as terras que os companheiros desembarcados, por indicação dele, na enseada de Santa Cruz das Ribeiras, haviam de ocupar, desbravar e semear com as sementes que traziam em suas bagagens.

Inicialmente a alimentação das gentes da ilha do Pico era constituída por algum trigo, abóboras, (havia quem colhesse dez a doze mil) e também erva dentabrun (raiz de erva parecida com feijão). Quando faltava o pão de trigo, único cereal conhecido, valiam-se de talos de funcho e nabos. A terra dava muita fruta especialmente pêssegos, marmelos, maçãs e figos. O vinho era do melhor. Muitos enxames de abelhas produziam bom mel.

Há noticia do inhame em 1752. O milho foi introduzido na ilha em 1670 por Denis Gregório de Melo, capitão-mór general dos Açores.

A batata branca ou batata comum chegou aos Açores, e distribuiu-se pelas ilhas, em 1775 e veio de São Miguel para o Pico em 1860.

Nos chamados “anos de fome”, os povos tinham dificuldade em importar cereais. Valiam-se, pois, de raízes de fetos e outras ervas. Ainda conheci uma tia avó que nos contava que, num desses anos, “iam por terra dentro” à procura das raízes que, depois de secas, era trituradas e moídas e dessa farinha faziam um bolo, que, embora intragável, servia para “matar a fome”.

Não há muitos anos o Sul do Pico era um celeiro de milho e de algum trigo. Nesta época quem atravessasse a estrada das Lajes à Piedade, regalava-se ao contemplar os campos de milho, uns verdejantes ainda outros a amarelecer, enquanto o trigo se ia ceifando e conduzindo para as eiras, afim de ser debulhado.

Saudades desses tempos que, parece, não voltam, pois é triste olhar agora para os campos e vales infestados de vegetação selvagem que quase “come” as casas.

E as desfolhadas?

Eram o gáudio da juventude, principalmente quando aparecia uma maçaroca vermelha. Rapazes e raparigas tinham de manter-se com certo recato, pois estavam sob a vigilância dos mais idosos, até dos pais ou parentes...

A meio do serão, o dono vinha servir figos passados e aguardente, pelos mais idosos, pois a gente nova não apreciava a bebida.

De vez em quando, um dos presentes lançava uma cantiga de desafio, que era normalmente correspondida por um outro ou outra conforme o tema apresentado. E tudo decorria com ordem e harmonia. Outros tempos...

Hoje, como disse e repito, passar por esses campos e vê-los cheios de vegetação selvagem ou milheirais destinados à silagem, mete pena e causa dó, como dizia o velho adágio.

Vila das Lajes,

14 de Agosto de 2009

Ermelindo Ávila

domingo, 19 de julho de 2009

RESTAURAÇÃO E TURISMO

NOTAS DO MEU CANTINHO

Em tempos idos pouco ou mesmo nada se falava em restauração e muito menos em turismo. Eram dois termos quase desconhecidos no vocabulário destas terras insulares. Como casa de pernoita existia, desde remotos tempos a “Casa da Maria José” que recebia algum viajante ou forasteiro. ´
E a propósito, é curioso lembrar o que nos deixou nas suas “Notas Açorianas”,o escritor faialense, Ernesto Rebello. Aí descreve uma visita à Vila das Lajes, onde chegou ao cair da noite:“Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e requeimados, entremeada aqui e alem por moutas de rasteiras faias, descampados a que se da o nome de mysterios, por serem estes os sítios por onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do Pico...”
“Encaminham-nos para o velho e estragado convento de São Francisco, que domina a villa e no qual um amigo obsequio
só nos havia permitido permanecer num desguarnecido quarto” – “Com algumas dentadas de carne assada, bebi meia garrafa de vinho, estendi-me no chão, numa péssima cama que alli me haviam feito, apaguei a luz e tratei de adormecer.”(1)
E ainda bem que houve um “amigo obsequioso” que lhe conseguiu abrigo no “velho e estragado Convento de São Francisco, donde, anos antes, (Decreto de 17-5-1832) haviam expulsado os frades, seus habitantes.
Mais tarde regressou a Maria José dos Estados Unidos e abriu a sua “hospedaria”, onde recebeu, durante anos, os viajantes que por aqui passavam, incluindo até os membros da Junta Militar, quando aqui se deslocavam em inspecção aos mancebos.
Depois apareceu uma outra “casa de hospedes”, algo mais ampla e com melhor alojamento, de Laureana San Miguel.
Anos decorridos, Delfina Simões, que já explorava a actividade embora de modo algo deficiente, acabou por alugar uma boa casa na rua Direita onde se instalou. Poucos anos decorridos, surgiu a “Pensão Nova”, já com melhores condições de alojamento e serviço.
Entretanto, no Largo, que hoje justamente ostenta o seu nome, por volta de 1953, o activo comerciante e industrial Edmundo Machado Ávila, de saudosa e querida memória, em edifício próprio, que, para o efeito construiu, instalou o Restaurante 1º de Maio, um estabelecimento com óptimas condições que, ao tempo, foi considerado o melhor da ilha. Mas tudo tem fim e o 1º. de Maio teve de encerrar um dia ...
Decorridos alguns anos surgiu a “casa de hóspedes” Castelete, que se manteve alguns anos em actividade, com geral agrado. A seguir surgiu a Residencial Açor, com modernas instalações, que veio melhorar substancialmente as condições de alojamento na vila das Lajes. Hoje está incorporada nos Alojamentos Bela Vista.
O excelente hotel “Aldeia da Fonte”, construído no Caminho de Baixo da Silveira, - extra-muros, diríamos - tem uma função mais específica e uma actividade selecta, dentro do sector.
Apesar de existirem alguns estabelecimentos de restauração, e são ainda poucos, a vila carece de um novo “1º de Maio” que receba e satisfaça, sobretudo, as exigências das várias excursões de nacionais e estrangeiros que por aqui passam.
Como necessita também e urgentemente, mas dentro da Vila, de um estabelecimento hoteleiro de duas, três ou quatro estrelas, e que seja classificado de hotel. É esse o tipo de estabelecimento que os turistas, principalmente estrangeiros, procuram. A classificação de residencial não existe nos seus vocabulários, como alguns já me afirmaram.
O Turismo está em marcha. Ou aproveitamos os seus benefícios ou ficamos para trás... Não pode esperar-se mais tempo! Parar é morrer, diz o velho adágio.

Vila das Lajes, 10 de Julho de 2009
Ermelindo Ávila

l) Rebello, Ernesto, “Notas Açorianas”, in “Arquivo dos Açores”, Vol. VIII, pág. 295

quarta-feira, 8 de julho de 2009

GENTES DO PICO

Notas do meu cantinho

Decorreram os meses, os anos e os séculos... As famílias foram aumentando. Uma decisão arrojada houve de tomar-se. Na realidade esta gente do Pico é extraordinária. Ontem e hoje!... Com esforço e audácia. soube transformar a pedra em pão e trazer do mar oceânico o monstro que, durante anos e anos, mais de um século, foi a fartura da sua casa.

Séculos e séculos viveu pobre mas feliz, até que um dia despertou do letargo que a atrofiava e compreendeu a sua situação de pobreza e quase de miséria.

Decorriam os anos. Os barcos passavam ao largo. Eram um aliciamento para sair da ilha, para a emigração. E o picoense nunca mais desistiu de “dar o salto”. Certa noite fez-se ao mar e tomou uma dessas barcas que passavam junto da costa, depois de haver combinado a fuga com o engajador. E não foi um apenas. Foram tantos e tantos. Centenas, milhares? Outros açorianos lhes seguiram as pegadas. Bastos anos andaram por esses mares ignotos, à caça do monstro marinho, até que, mais tarde, puderam chegar a terra firme e por aí se fixaram. A grande maioria. Outros regressaram, anos volvidos.

Dos que se fixaram em estranhas terras, por lá ficaram seus descendentes, hoje espalhados pelas sete partidas do mundo. Vamos encontrá-los no Oriente e no Ocidente, nos Brasís e nas Américas, nas nações europeias e africanas. Eu sei lá!

Embora inicialmente com penoso sofrer, os picoenses adaptam - se e vivem em toda a parte. Que o diga o nosso herói picoense, Genuíno Madruga, que os foi encontrar em quase todas as partes do mundo.

Na verdade, hoje os tempos são outros. Os meios de comunicação entre os diversos povos são diferentes. Diferentes e rápidos. As velhas baleeiras recolheram aos portos de armamento para serem desmanteladas. Já não é possível “embarcar de salto”.

Todavia, abalar para a França ou Luxemburgo não é aconselhável, pois a crise também chegou a esses e outros países.

Nos tempos que decorrem há, que “inventar” outros meios de sobrevivência.

Porque não voltar à terra e promover novos processos de aproveitamento das belgas e nesgas de campos que ainda restam e que uma vegetação selvagem deles se vai apossando quase criminosamente?!... Mas, afinal, a Ilha tem ainda muito que aproveitar.

Verdade que tudo exige esforço, entusiasmo e dedicação, embora já não se careça de fazer “maroiços”, “currais” de vinha ou abrir socalcos nas terras inclinadas (os vales das ladeiras...) Basta restaurar tudo aquilo que os antepassados nos deixaram, e muito foi. E já é suficiente.

O Pico precisa voltar-se para si. Redescobrir os meios necessários à sua sobrevivência. Trabalhar a terra e dela tirar o que seja necessário à sua subsistência e que ela lhes pode dar com fartura, e tanto é. Modernizar as culturas e substituir as sementeiras. Adequar aos terrenos, as adubações ou estrumes orgânicos.

Não será um erro importar a laranja, a maçã, a pêra, e até as uvas, e outras frutas que a ilha sempre produziu e até exportou? Importa restaurar os pomares ou quintas de frutas! E até a floricultura... Que lindas, e algumas de aroma inebriante, são as nossas flores!

Na ilha faltam as oficinas artesanais. Onde estão os ferreiros, os funileiros, os sapateiros, os barbeiros, os alfaiates, as modistas ou costureiras, as rendeiras, e até os merceeiros ou, como hoje se diz, o “comércio tradicional”, e tantos mais? E só estes e estas refiro...

Mas não apenas as oficinas. Outras actividades podem e devem ser incrementadas afim de proporcionarem emprego à juventude, evitando-se o êxodo que actualmente ainda se verifica, com mágoa, para outras terras, muitas vezes sem quaisquer vantagens.

Na situação em que a Ilha se encontra, quase sem juventude e com uma população cansada, cumpre aos Serviços Públicos assumir a responsabilidade de promover com urgência e eficácia o desenvolvimento do Pico, criando-se incentivos, tão necessários, à fixação de gente válida e capaz de assumir o encargo das tarefas que se tornam indispensáveis realizar. Importa considerar que o Homem do Pico há muito deixou de ser aquele que os Irmãos Bullar,s descrevem no seu livro “Um Verão nos Açores e um Inverno no Vale das Furnas” .

Demais a terra do Pico mantém as mesmas potencialidades de que nos fala Raul Brandão em “Ilhas Desconhecidas” (pág. 105,): O Pico é a mais bela, a mais extraordinária ilha dos Açores, duma beleza que só a ela lhe pertence, duma cor admirável e com um estranho poder de atracção. É mais que uma ilha – É uma estátua erguida ate a céu e moldada pelo fogo – é outro Adamastor ,como o do Cabo das Tormentas.-

E diz ainda o mesmo Autor: De repente surge ... um souto verde de castanheiros, um campinho de milho, figueiras redondas e baixinhas, pedra vulcânica ... que dá o chá e o café e todas as culturas tropicais; os frutos do continente, e laranjas e nêsperas mais deliciosas ainda pelo sofrimento ... Cria-se a oliveira e o castanheiro ao lado do ananás silvestre, que amadurece ao ar livre e enche a horta de perfume... as figueiras...os vinhos... o milho e o trigo...

Estarei a sonhar? Talvez não!


Vila das Lajes, 28 de Junho de 2009

Ermelindo Ávila

domingo, 5 de julho de 2009

IMPÉRIO DE SÃO PEDRO

NOTAS DO MEU CANTINHO

Há 69 anos que se realiza nesta vila das Lajes do Pico o “Império de São Pedro”. Foi no ano de 1940, ano do Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal, que se restaurou o Império, pois há vários anos que o mesmo não era realizado.

Anos passados o Império tinha lugar no mesmo dia da Festa do Apóstolo, titular da primeira Igreja da Ilha do Pico, aquela pequena ermida que se encontra junto da lagoa à Maré onde desembarcou o primeiro povoador, Fernão Alvarez Evangelho.

Nos últimos anos o Império estava reduzido à distribuição de “rosquilhas de aguardente”, pela crianças presentes, uma dádiva do então mordomo das festas, João de Deus Macedo, antigo comerciante.

Com a celebração do Duplo Centenário, entendeu a Comissão Executiva das comemorações restaurar o Império, até porque nenhum outro se realizada, há muito, na Vila sede do concelho e antiga capital da Ilha. Foi um êxito. A partir de então o Império de São Pedro não mais deixou de se realizar e no próximo ano contará setenta anos, o que não deixa de ser um acontecimento de relevo para uma terra como esta nossa. Nesse primeiro ano a Câmara Municipal assumiu o encargo de contribuir com diversas “contas” de rosquilhas. Creio que dez. No anos seguintes tal não foi necessário pois os lajenses espontânea e generosamente passaram a realizar, por conta própria, o Império e sempre o tem “levantado” –na expressão popular - com entusiasmo e dedicação - , acrescentando-lhe o jantar aos irmãos e convidados. Um evento que reúne, em fraterno e alegre convívio, algumas centenas de pessoas.

Tem-se anunciado que a Vila das Lajes celebrava a festa do seu Padroeiro. Afinal é puro engano. O Padroeiro da freguesia ou paróquia é e sempre foi a Santíssima Trindade. Só com a publicação do novo Código Administrativo, em 1940, a freguesia civil passou a denominar-se de Lajes do Pico. No entanto a Paroquia e Igreja Matriz sempre tiveram por titular a Santíssima Trindade. Já Frei Diogo das Chagas, em “Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores”, uma obra que, segundo o Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, foi escrita entre os anos de 1646 e 1654, aproximadamente, diz que na Ilha do Pico existiam treze freguesias, entre as quais, a primeira: Villa das Lagens – Orago A Trindade. (sic).

Lamentável é que a freguesia não tivesse conservado o mesmo título, pois ainda hoje a alteração estabelece confusão em certos documentos, como sejam os do Registo Civil.

Realmente há alterações que não se justificam como sejam as de natureza toponómica. Referindo-se à ribeira da Burra, no principio da Ribeira do Meio, Lacerda Machado, na sua História do Concelho das Lages, faz este judicioso comentário:

“...Jurdão Alvares Evangelho começou a sua (povoação) polla parte aonde se diz Ribrª do meio.

“Confirmando esta tradição, conservou sempre o nome de Fernão Alvares a que, desde algumas dezenas de anos, estupidamente se chama da burra, fazendo-se desaparecer da toponímia local uma expressão que representava apreciável vestígio histórico e veneração pela memória do primeiro povoador, fundador da vila. Esta começou junto á ermida de S. Pedro, onde becos estreitos e tortuosos bem claramente indicam o início da povoação, confirmando a tradição e a história”.

Foi pena que a ribeira não conservasse o primitivo nome. Hoje continua a ser ribeira da burra ou ribeira do Alqueve, como também passou a ser conhecida.

O já tradicional Império de São Pedro realizou-se na passada segunda-feira com grande concurso de pessoas vindas de todas ou quase todas as freguesias da ilha e até da vizinha ilha do Faial.

Votos faço para que se mantenha por muitos e largos anos!


Vila das Lajes, 30 de Junho de 2009

Ermelindo Ávila