NOTAS DO MEU CANTINHO
Em tempos idos pouco ou mesmo nada se falava em restauração e muito menos em turismo. Eram dois termos quase desconhecidos no vocabulário destas terras insulares. Como casa de pernoita existia, desde remotos tempos a “Casa da Maria José” que recebia algum viajante ou forasteiro. ´
E a propósito, é curioso lembrar o que nos deixou nas suas “Notas Açorianas”,o escritor faialense, Ernesto Rebello. Aí descreve uma visita à Vila das Lajes, onde chegou ao cair da noite:“Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e requeimados, entremeada aqui e alem por moutas de rasteiras faias, descampados a que se da o nome de mysterios, por serem estes os sítios por onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do Pico...”
“Encaminham-nos para o velho e estragado convento de São Francisco, que domina a villa e no qual um amigo obsequio
só nos havia permitido permanecer num desguarnecido quarto” – “Com algumas dentadas de carne assada, bebi meia garrafa de vinho, estendi-me no chão, numa péssima cama que alli me haviam feito, apaguei a luz e tratei de adormecer.”(1)
E ainda bem que houve um “amigo obsequioso” que lhe conseguiu abrigo no “velho e estragado Convento de São Francisco, donde, anos antes, (Decreto de 17-5-1832) haviam expulsado os frades, seus habitantes.
Mais tarde regressou a Maria José dos Estados Unidos e abriu a sua “hospedaria”, onde recebeu, durante anos, os viajantes que por aqui passavam, incluindo até os membros da Junta Militar, quando aqui se deslocavam em inspecção aos mancebos.
Depois apareceu uma outra “casa de hospedes”, algo mais ampla e com melhor alojamento, de Laureana San Miguel.
Anos decorridos, Delfina Simões, que já explorava a actividade embora de modo algo deficiente, acabou por alugar uma boa casa na rua Direita onde se instalou. Poucos anos decorridos, surgiu a “Pensão Nova”, já com melhores condições de alojamento e serviço.
Entretanto, no Largo, que hoje justamente ostenta o seu nome, por volta de 1953, o activo comerciante e industrial Edmundo Machado Ávila, de saudosa e querida memória, em edifício próprio, que, para o efeito construiu, instalou o Restaurante 1º de Maio, um estabelecimento com óptimas condições que, ao tempo, foi considerado o melhor da ilha. Mas tudo tem fim e o 1º. de Maio teve de encerrar um dia ...
Decorridos alguns anos surgiu a “casa de hóspedes” Castelete, que se manteve alguns anos em actividade, com geral agrado. A seguir surgiu a Residencial Açor, com modernas instalações, que veio melhorar substancialmente as condições de alojamento na vila das Lajes. Hoje está incorporada nos Alojamentos Bela Vista.
O excelente hotel “Aldeia da Fonte”, construído no Caminho de Baixo da Silveira, - extra-muros, diríamos - tem uma função mais específica e uma actividade selecta, dentro do sector.
Apesar de existirem alguns estabelecimentos de restauração, e são ainda poucos, a vila carece de um novo “1º de Maio” que receba e satisfaça, sobretudo, as exigências das várias excursões de nacionais e estrangeiros que por aqui passam.
Como necessita também e urgentemente, mas dentro da Vila, de um estabelecimento hoteleiro de duas, três ou quatro estrelas, e que seja classificado de hotel. É esse o tipo de estabelecimento que os turistas, principalmente estrangeiros, procuram. A classificação de residencial não existe nos seus vocabulários, como alguns já me afirmaram.
O Turismo está em marcha. Ou aproveitamos os seus benefícios ou ficamos para trás... Não pode esperar-se mais tempo! Parar é morrer, diz o velho adágio.
Vila das Lajes, 10 de Julho de 2009
Ermelindo Ávila
l) Rebello, Ernesto, “Notas Açorianas”, in “Arquivo dos Açores”, Vol. VIII, pág. 295
Em tempos idos pouco ou mesmo nada se falava em restauração e muito menos em turismo. Eram dois termos quase desconhecidos no vocabulário destas terras insulares. Como casa de pernoita existia, desde remotos tempos a “Casa da Maria José” que recebia algum viajante ou forasteiro. ´
E a propósito, é curioso lembrar o que nos deixou nas suas “Notas Açorianas”,o escritor faialense, Ernesto Rebello. Aí descreve uma visita à Vila das Lajes, onde chegou ao cair da noite:“Depois de nove horas de jornada, de haver atravessado a serra, subido e descido muita ladeira e cruzado os grandes descampados de pedra roliça e requeimados, entremeada aqui e alem por moutas de rasteiras faias, descampados a que se da o nome de mysterios, por serem estes os sítios por onde passaram as ribeiras de refervente lava das antigas erupções vulcânicas do Pico...”
“Encaminham-nos para o velho e estragado convento de São Francisco, que domina a villa e no qual um amigo obsequio
só nos havia permitido permanecer num desguarnecido quarto” – “Com algumas dentadas de carne assada, bebi meia garrafa de vinho, estendi-me no chão, numa péssima cama que alli me haviam feito, apaguei a luz e tratei de adormecer.”(1)
E ainda bem que houve um “amigo obsequioso” que lhe conseguiu abrigo no “velho e estragado Convento de São Francisco, donde, anos antes, (Decreto de 17-5-1832) haviam expulsado os frades, seus habitantes.
Mais tarde regressou a Maria José dos Estados Unidos e abriu a sua “hospedaria”, onde recebeu, durante anos, os viajantes que por aqui passavam, incluindo até os membros da Junta Militar, quando aqui se deslocavam em inspecção aos mancebos.
Depois apareceu uma outra “casa de hospedes”, algo mais ampla e com melhor alojamento, de Laureana San Miguel.
Anos decorridos, Delfina Simões, que já explorava a actividade embora de modo algo deficiente, acabou por alugar uma boa casa na rua Direita onde se instalou. Poucos anos decorridos, surgiu a “Pensão Nova”, já com melhores condições de alojamento e serviço.
Entretanto, no Largo, que hoje justamente ostenta o seu nome, por volta de 1953, o activo comerciante e industrial Edmundo Machado Ávila, de saudosa e querida memória, em edifício próprio, que, para o efeito construiu, instalou o Restaurante 1º de Maio, um estabelecimento com óptimas condições que, ao tempo, foi considerado o melhor da ilha. Mas tudo tem fim e o 1º. de Maio teve de encerrar um dia ...
Decorridos alguns anos surgiu a “casa de hóspedes” Castelete, que se manteve alguns anos em actividade, com geral agrado. A seguir surgiu a Residencial Açor, com modernas instalações, que veio melhorar substancialmente as condições de alojamento na vila das Lajes. Hoje está incorporada nos Alojamentos Bela Vista.
O excelente hotel “Aldeia da Fonte”, construído no Caminho de Baixo da Silveira, - extra-muros, diríamos - tem uma função mais específica e uma actividade selecta, dentro do sector.
Apesar de existirem alguns estabelecimentos de restauração, e são ainda poucos, a vila carece de um novo “1º de Maio” que receba e satisfaça, sobretudo, as exigências das várias excursões de nacionais e estrangeiros que por aqui passam.
Como necessita também e urgentemente, mas dentro da Vila, de um estabelecimento hoteleiro de duas, três ou quatro estrelas, e que seja classificado de hotel. É esse o tipo de estabelecimento que os turistas, principalmente estrangeiros, procuram. A classificação de residencial não existe nos seus vocabulários, como alguns já me afirmaram.
O Turismo está em marcha. Ou aproveitamos os seus benefícios ou ficamos para trás... Não pode esperar-se mais tempo! Parar é morrer, diz o velho adágio.
Vila das Lajes, 10 de Julho de 2009
Ermelindo Ávila
l) Rebello, Ernesto, “Notas Açorianas”, in “Arquivo dos Açores”, Vol. VIII, pág. 295
1 comentário:
Hoje, em conversa telefónica com um amigo que se encontra no Pico, em visita de turismo, foi-me dito que, em termos de restauração, a nossa Ilha deixa muito a desejar. Disse-me ele que, na generalidade, existe pouca simpatia, por parte de quem serve as pessoas e muito pouco cuidado na confecção dos alimentos. Com peixe e carne de tão boa qualidade, como é possível não ter arte (Bom gosto) para que quem nos visita daqui saia deliciado, com vontade de voltar e que nos recomende aos seus amigos!?
Queixava-se ele, também, do custo das passagens e da aventura por que passou, para chegar ao Pico. Depois de duas tentativas falhadas para aterrar, no Faial - era um grupo de 5 pessoas com destino à nossa Ilha - , o avião derivou para a Terceira, acabando por regressar a Lisboa e só os trazendo, de volta, no dia seguinte. Coloco a seguinte questão: Estaria o aeroporto do Pico inoperacional, ou já encerrado? Ou nunca será, apesar dos avultados investimentos, alternativo ao de Castelo Branco!?...
Com situações como esta, não há turismo que nos valha! Infelizmente.
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