Notas do meu cantinho
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Depois de algum tempo ter passado sobre a intempestiva proibição da caça à baleia nos mares do Atlântico Norte, que somente teve o mérito de acabar com uma actividade de séculos e que era um dos esteios da economia insular, volta a falar-se em baleação.
A Ilha do Pico, onde a actividade tinha o seu centro principal, vai assistir a um seminário, sob o patrocínio do Museu dos Baleeiros. (ainda os responsáveis não entenderam que o chamado Museu do Pico é um nome subjectivo, sem significado e que só serve para estabelecer confusão entre os interessados, principalmente estrangeiros...)
Segundo a informação do Director do Museu dos Baleeiros, transmitida à Comunicação Social, “vão ouvir-se vozes de várias latitudes para um debate e reflexão sobre a importância da baleação nestes espaços, a sua importância na identidade dos locais.”
O Seminário teve início no dia 24, no salão da Filarmónica “Liberdade Lajense” e contou com a participação de conferencistas internacionais convidados, entre eles: Abiana Comerlato (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal da Baía, Brasil), Luís Freitas (Museu da Baleia da Madeira), James Russell (New Bedford Whaling Museum) Graça Filipe (Economuseu do Seixal), Jan Erik Ringstad (The Whaling Museum Sandefjord da Noruega), Dionísio Pereira Gonçález (Federación Galega pola Cultura Marítima e Fluvial), José António Rodrigues Pereira (Museu da Marinha) e Manuel Francisco Costa (Museu dos Baleeiros).
Foi um encontro de personalidades distintas, oriundas das localidades onde se praticou a caça à baleia, e cujas comunicações não deixaram de interessar a assistência, quase só limitada a quem um dia viveu e sentiu a actividade baleeira correr-lhes pelas próprias veias.
Cada um trazendo as suas experiências museológicas, os trabalhos apresentados e os diálogos que se seguiram mostraram o interesse de uma actividade económica que ainda hoje se reflecte, não apenas nos Museus da especialidade (Whale Museum).
Veio o Seminário substituir a Bienal das Baleias que aqui se realizou com bastante êxito por iniciativa da Secretaria Regional da Economia e que teve o mérito de aqui trazer cientistas das mais diversas partes do mundo?
Para estes eventos como para outros congéneres, há que estar preparado, com pessoal e com equipamentos adequados, para que possam colher os melhores resultados de tão importantes convénios.
Sabemos que nem todos dominam o inglês ou o português. Importa proporcionar a esses que oficialmente aqui vêm os meios indispensáveis para que possam acompanhar os trabalhos com interesse.
A vila das Lajes, vila baleeira, da qual irradiou a actividade para as demais ilhas açorianas, Madeira e Continente, tem a responsabilidade de bem receber quem aqui se desloca com o fim de apresentar estudos ou assistir a seminários ou bienais ou outros eventos semelhantes.
Da visita de tão célebres personalidades lucram as Lajes e os seus habitantes. Que esse particular não seja esquecido, ou mesmo prejudicado!
A Vila das Lajes é, insofismavelmente, o único centro de onde irradiou a baleação. Importa agora que, voltada para si, seja uma escola onde a cultura baleeira tenha sentido atractivo para a tradição dessa extinta actividade. Estão por aí espalhados os sinais da actividade que influenciou a vida, os hábitos e costumes das suas gentes. Interessa mantê-los como elementos atractivos, para quantos possam aqui chegar e aqui se manter apreciando a génese da actividade, não apenas no Museu, que pouco é. Todo o seu conjunto tem de ser aproveitado, explicado, vivido e sentido. Sejam os percursos pedestres, que conduziam os baleeiros às canoas quando as vigias os chamavam para ir mar fora à caça do monstro, sejam os outros locais de lazer e as próprias habitações.
Um sinal atractivo ficará no projectado jardim que valorizará a parte ribeirinha da Vila.
A promoção da vila e dos seus valores materiais tem de ser engrandecida com uma actividade cultural que saia daqui e se espalhe pelos centros de promoção cultural e turística. E aqui convém trazer à colação a necessidade do Museu dos Baleeiros criar a sua própria Revista, onde a temática baleeira seja apresentada, discutida e cultivada, como acontece em outras instituições semelhantes. E até criar uma página na Internet, onde a cultura baleeira seja apresentada e tratada com o devido carinho.
O Seminário que acaba de realizar-se deixou em todos os que por lá passaram uma certeza; Não basta meia dúzia de conferências, de anos a anos para trabalhar tão interessante e actual temática. Ela tem de ser promocionada, permanentemente, para não cair no olvido.
Excelente o trabalho de recuperação e manutenção da antiga frota baleeira, como agora se anuncia. Todavia importa promover que as regatas locais passem a ter um âmbito nacional e mesmo internacional para que não passem ao esquecimento.
A baleação encerra um património cultural e artístico que se deve salvaguardar. E muitas entidades têm nisso sérias responsabilidades.
Vila Baleeira, Julho de 2009
Ermelindo Ávila
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