sexta-feira, 7 de agosto de 2009

AS FESTAS

A MINHA NOTA

As festas religiosas, por estas bandas, tinham maior expressão no acto litúrgico propriamente dito. Os dias de novena que antecediam o dia da festa, já eram de festa. A parte da tarde desses dias era destinada ao acto religioso, constituído por hinos e ladainhas cantados pela Capela, por vezes com o reforço de músicos de fora da paróquia e não faltava pregação, muitas vezes a cargo de orador convidado. Nos três últimos dias, a novena terminava com Bênção do Santíssimo, solenemente exposto em seu trono.

A parte externa constava tão somente do arraial nocturno normalmente realizado de véspera, com fogo preso e iluminação à “veneziana”. (A electricidade ainda não tinha cá chegado). O tiroteio entre o castelo e o navio, era por vezes empolgante e dava testemunho do valor artístico do pirotécnico. O fogo de artifício era construído na ilha Terceira, depois passou a ser no Cais do Pico, por artistas dali.

Num dos seus escritos, acerca da origem e solenidade da Festa de Nossa Senhora de Lourdes, na vila das Lajes, sua terra natal, que teve início em 1883, refere o então reitor do Seminário de Angra, depois Bispo de Macau, Dr. João Paulino de Azevedo e Castro:

Durante o dia da festa e na véspera, as proximidades da igreja acham-se vistosamente embandeiradas, e na noite dum desses dias, conforme o tempo o permite, tem lugar uma bonita iluminação chinesa que aqui atrai concurso imenso de espectadores”. (Do artigo Incremento da devoção publicado no “Peregrino de Lourdes” de 27 de Junho de 1889, decorridos que são 120 anos!)

Pelos anos fora era esse como que o figurino das festas religiosas principais da Ilha. Depois, com a criação das Filarmónicas, os arraiais nocturnos passaram a ser constituídos por concertos musicais, para os quais, aqueles agrupamentos musicais se preparavam com os seus melhores reportórios. E que aplaudidos eram pelas centenas de espectadores!

A partir do início da última metade do século passado, tudo se modificou. Nasceram as “Semanas de Festas”. E, embora se mantenham os arraiais nocturnos e os concertos das filarmónicas locais, mais interessam os modernos grupos de música pop, contratados no continente ou em outras ilhas e algumas vezes do estrangeiro. Com tais festejos parece haver diminuído o interesse das populações, principalmente da juventude, pelas solenidades religiosas, embora ainda se mantenha o novenário e a liturgia solene do próprio dia.

É o caso da Festa de Santa Maria Madalena, do Bom Jesus, em São Mateus, Calheta de Nesquim e Criação Velha, de São Roque, na Matriz do titular, e de Nossa Senhora de Lourdes na Vila das Lajes.

Interessa aqui referir que, com excepção da Madalena e Criação Velha, as demais solenidades tinham o concurso e o empenho dos baleeiros locais que contribuíam, com importâncias monetárias, por vezes avultadas, retiradas das respectivas “soldadas”, para o brilhantismo das festividades.

E tanto assim que, ainda hoje, os baleeiros que restam, fazem empenho em estar presentes na procissão de Nossa Senhora de Lourdes, junto das canoas que se instalam em frente das antigas casas dos botes – onde presentemente está instalado o “Museu dos Baleeiros”, - em homenagem sentida Àquela Senhora que os livrou tantas vezes de perigos e mortes iminentes. O mesmo acontecia e ainda acontece em São Roque, na festa de Nossa Senhora do Livramento que se venera na Igreja do Convento franciscano.

Neste momento só pretendi recordar o estilo das festividades de há cem anos. Nada mais.

BOM DIA!

Vila das Lajes.

25 de Julho de 2009 Ermelindo Ávila

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