quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

ENCONTROS



Percorri várias das Ilhas açorianas, em encontros diversos: uns por dever da profissão que então exercia, outros por convite de amigos que me consideravam membro da mesma “confraria”.
E foi assim que tive o prazer, grato prazer, de encontrar diversas personalidades, quer destas Ilhas, quer do Continente ou até mesmo do Estrangeiro.
Recordo ainda alguns que já eram elementos festejados das Letras e que, até então, só conhecia de nome.
Em diversos desses encontros tive ocasião de apresentar, afoitadamente, alguns estudos sobre os temas a que me tenho dedicado. Vários encontram-se arquivados nos livros desses congressos, por determinação, que não minha, dos respectivos promotores.
Agora, neste meu recanto, vou recordando algumas dessas distintas personalidades que já partiram, como foi o caso mais recente do falecimento de Manuel Machado, escritor radicado em Oslo, onde foi director da respectiva Biblioteca.
Já desapareceram Pedro da Silveira, poeta florentino há muito radicado em Lisboa, Madalena Ferin, mariense, também vivendo na capital portuguesa, Dias de Melo, “velho amigo “ como me tratava, quase “de casa”. Daniel de Sá, bondoso e distinto amigo de largos tempos. À colação trago também Almeida Firmino e o P. José Idalmiro. Eu sei lá!... Uma quase infinidade deles, que já partiram...
Da carreira profissional, que bons amigos já perdi. Quase todos: - João Gabriel de Ávila, João Branco, Raul Correia da Silva, Manuel de Madeiros Resende, e outros mais. Que óptimos momentos passamos juntos nessas tertúlias “profissionais”, que mais serviam para encontros de velhos amigos...
Não posso nem devo esquecer o Dr. Carreiro da Costa, Victor Pedroso, Silva Júnior, Emanuel Felix e João Afonso, para só estes trazer à barra. Ficam outros mais que nunca serão esquecidos mas não tenho coragem, por razões várias, de aqui trazer. E que bons Amigos que foram, muito embora sempre os haja considerado como personalidades superiores, de alta craveira social e cultural. Só um lembro hoje, por ser conterrâneo e amigo de velha data: o Doutor José Enes, falecido no ano findo.
De alguns deles guardo ofertas de seus livros com deferentes autógrafos muito simpáticos e bastante amigos. Os livros para aí ficam para serem, provavelmente, apreciados mais tarde...
Dos vivos, poucos embora, não trago aqui seus nomes. Eles compreenderão o resguardo...
Conheci Manuel Machado num dos referidos encontros. Viera propositadamente da Noruega onde viveu, como acima disse, os últimos anos, depois de andar pela França e pela Inglaterra. Era natural das Lajes, ilha Terceira. Intelectual de festejado mérito, deixou uma obra literária, em português e em norueguês, de considerável valor, alguma dela publicada em Portugal.
Neste recordar saudoso dos tempos que passaram e dos Amigos que já partiram, há naturalmente lacunas que peço me relevem, pois a memória, cansada que está, já não tem possibilidades de tudo e todos referir. Fica somente este singelo apontamento a recordar Figuras e factos que passaram na minha vida e que não voltam. Uma palavra de homenagem para todos, vivos e falecidos!


Lajes do Pico,
7 de Janeiro de 2015

Ermelindo Ávila

domingo, 15 de fevereiro de 2015

SERÁ QUE NÃO É PERMITIDO ANDAR PELA BEIRA-MAR?

NOTAS DO MEU CANTINHO


Quando os navegadores do Infante chegaram a estes mares do meio do Atlântico e encontraram estes pináculos, saídos das águas profundas, por aqui se fixaram junto às costas e aí construíram suas habitações. Desses minúsculos povoados surgiram, anos após anos, as vilas e as freguesias e depois as cidades. (A lista não está ainda completa...) E foi para o mar que seus olhares curiosos se voltaram na esperança de outros mais aparecerem. E olhando esse mar largo viram passar os transatlânticos, levando e trazendo os açorianos que decidiram emigrar. Depois, alguns voltaram. E é estendendo os olhares por esses mares fora que viram e vêem os grandes monstros marinho, que ontem foi sustento de muitos e hoje é regalo para os que aqui aportam. E é sempre o mar que contemplam, para além da Montanha que domina céus e mares, não fosse hoje a sétima maravilha de Portugal.
Os ilhéus só se sentem bem “viajando” pela beira-mar para receber, em dias de calma intensa, a frescura das suas águas ou, ao entardecer, contemplar estáticos, os maravilhosos pôr do sol.
Há quarenta anos que o Arquipélago dos Açores passou a ser uma Região autónoma, com administração própria. Antes eram os Distritos Autónomos embora com limitados poderes. O distrito da Horta, constituído pelas ilhas do Pico, Faial, Corvo e Flores, tinha, a partir de 1940, uma Junta Geral Autónoma de poderes limitados. Superintendia somente nos Serviços Agro- Pecuários e pouco mais. A instrução e as obras públicas estavam a cargo do Estado, o que, mesmo assim, valeu se realizassem algumas obras de vulto, quer portuárias, quer das estradas e dos Serviços Florestais. No entanto, a vila das Lajes somente beneficiou da estrada Lajes-Piedade, do hospital sub-regional, hoje praticamente desactivado, e da muralha de defesa na zona da Lagoa, e esta porque a que existia foi derrubada pelo ciclone de 1936. E assim ficou estes anos todos.

Com a instituição do Governo Regional pouco mais se adiantou. A registar todavia o muro quebra-mar da Carreira para o Poção. E este sem qualquer aspecto “urbanístico”.
O que tem acontecido é a sede do concelho, paulatinamente, vir a ser despovoada de Serviços – e hoje não os cito - obrigando os jovens a uma emigração “interna” desastrosa, promotora de uma defraudação aniquilante e que impede o desenvolvimento e progresso da primeira povoação picoense.
A beira-mar era, e é, para os lajenses, a zona mais apetecida. Contemplar a baía com a esbelta Montanha a dominá-la; ver a diminuta navegação que passa, já que retiraram para outras bandas a que, normalmente, aproava ao porto das Lajes; o esvoaçar das aves marinhas no enorme Juncal – a “Ban baixe muro”(1) – plataforma costeira sem aproveitamento embora, mas onde proliferam espécies biológicas as mais raras e variadas; e, utilizando o “muro do caneiro” que circunda a Lagoa pelo Sul, percorrê-lo, em passeios matinais ou tardes calmas, para admirar o encanto que é o pôr do Sol, ao lado de montanha, por lajenses e não só.
Em certa ocasião, alguns anos decorridos, um artista Pintor que nos visitava, disse-me, muito espontaneamente, que o pôr do Sol visto das Lajes era belo mas difícil de pintar pelas continuas mudanças das cores que apresentava.
Pois, até dessa pequena dádiva da Natureza nos querem privar, ao que por aí consta, proibindo o livre trânsito até ao Caneiro!
E quem vai admirar o Monumento aos Baleeiros, lá erguido há anos em homenagem aos homens que, à perigosa faina, se dedicaram em anos idos?
Nas outras terras implantam-se, junto do mar, as mais variadas construções. Sejam as “portas do mar”, sejam as “salas” de embarque e desembarque. Aqui, utilizando uma autonomia administrativa que aos lajenses bem pouco beneficiou, pretende-se fechar um passeio que tanto é do seu agrado e largamento utilizado pela suavidade do piso e pela paisagem que oferece, já que mais não têm...
As zonas marítimas sempre foram espaços livres onde as populações se juntavam, por vezes, para as merendas, para a pesca “de pedra”, para gozar o ambiente suave e ameno. O mesmo acontecia no Caneiro, durante muitos anos, porto de embarque de cargas e passageiros, dos barcos da Insulana e até das “lanchas do Faial”. Nunca foi, pois seria uma verdadeira aberração, tributada essa utilização. Fazê-lo agora é o que de mais anacrónico pode acontecer.
Deixem a terra livre, deixem que as pessoas façam os seus passeios, de pé ou de automóvel, pelo “muro do Caneiro”, para admirarem as belezas naturais que a Natureza lhes oferece, já que outras não possuem, que nenhum prejuízo trarão aos serviços públicos que, segundo julgo, nem a iluminação pagam. Aliás um direito que usufruem desde remotas eras.
Só pagando uma taxa será permitido ir até ao Caneiro?
- Valha-nos Deus!
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1) Ávila,Sérgio e Outros – “Lajes do Pico Ban baxe Muro´”-2011

Lajes do Pico,
Fevereiro de 2015
Ermelindo Ávila


CARNAVAL

A MINHA NOTA


Chegados somos ao Carnaval ou Entrudo, os três dias que precedem a quarta-feira de cinzas ou entrada na Quaresma.
E os dicionários definem o Entrudo ou carnaval como dias de praticar jogos com água, talco, tinta, etc. Dias de folguedos – mascarados, em que se comem viandas e guisados de carne.
Por aqui eram as filhós, as fatias douradas; os torresmos e a linguiça, para aqueles que matavam porcos.
Mas esses hábitos tradicionais de comemorar o carnaval hoje são raros ou mesmo já quase desapareceram.
Ponta Delgada ainda há poucos anos conservava a “batalha das limas e água”. E, naturalmente, mantém esse “violento” desporto. Nas outras ilhas, ao menos no Pico, é costume que há muito desapareceu. Conservavam as máscaras e o enfarinhar, com farinha de trigo ou pó de arroz ou talco, mas isso também foi a pouco e pouco, desaparecendo. Aliás era, por vezes, uma maneira grosseira de festejar o carnaval. Foi substituído, e bem, pelos bailes de fantasias nas sociedades recreativas ou em algumas, poucas, casas particulares.
Na freguesia da Piedade havia o “bando”, um pregão pouco cortês, onde eram apresentadas, entre “chacotas”, as mazelas ocorridas durante o ano e que, na terça-feira de Entrudo eram apregoadas, e ainda são, de cima de um muro, aos muitos curiosos que lá apareciam e que, dada a maneira como eram apresentadas, eram motivo de grande hilaridade. Chamavam-lhe o“testamento do burro”, embora o animal tivesse caído de uma rocha e morrido há vários anos.
Há meio século, o carnaval era comemorado nas quatro semanas que antecediam a Quaresma. Não passavam de simpáticas e acolhedoras reuniões familiares, nas quintas-feiras de amigos e amigas, compadres e comadres e nos sábados e domingos seguintes. Essas reuniões familiares serviam para ver algum mascarado que aparecia com seus entremezes a divertir os assistentes. Numa ou noutra sala, se o espaço permitia, bailava-se, a tradicional chama-rita nos intervalos das passagens dos mascarados. Depois, foram aparecendo as sociedades recreativas e era nelas que os bailes passaram a realizar-se, com notória frequência e com alguns figurantes fantasiados. Uma maneira, aliás simpática, de festejar a quadra, e passar o serão dentro daquele espírito de fraterna convivência que era tradicional.
Presentemente, com as transformações sociais que se operaram, nem se sabe se estamos na época carnavalesca muito embora nas últimas quintas-feiras os amigos e as amigas, os compadres e as comadres se hajam reunido para uma “jantarada” que, outrora, seria a ceia.
Estamos, pois, chegados à Quaresma. Um tempo forte para os católicos que os demais nem a isso ”ligam”, como dizem empavonadamente.
Mais um carnaval está a decorrer. Que todos se divirtam com ordem, paz e harmonia.


Lajes do Pico,
Fevereiro de 2015

Ermelindo Ávila