quinta-feira, 11 de setembro de 2014

NAUFRÁGIOS

A MINHA NOTA


Muita gente naufraga na vida. É bom quando esse “cataclismo” é somente individual. Quando arrasta outros, é muito penoso de suportar e normalmente deixa chagas profundas, quando não mortíferas.
Mas hoje não quero “descer” aos naufrágios individuais - colectivos. Antes quero referir-me àqueles que mares atlânticos arrastavam vidas e haveres: os naufrágios marítimos, e não poucos foram no decorrer dos séculos.
No seu caminhar por esses mares “nunca dantes navegados”, quantas caravelas não ficaram no fundo dos mares atlânticos!... Dizem que a baía de Angra onde, geralmente, aportavam as naus do Infante nas suas rotas marítimas, muitas delas acabavam por ficar nos fundos da baía e que hoje ela é um depósito precioso de riquezas da Índia.
Mas não só na baía de Angra aconteceram naufrágios das caravelas, que ali chegavam cansadas e quase destruídas das longas viagens.
Os naufrágios sempre aconteceram. Ainda hoje se recorda o do “Titanic”, que tantas vias ceifou nos mares entre a América, para onde se dirigia e a Europa. Foi, de certo, o mais aparatoso do século XX. E aqueles que as guerras provocaram?!... Nos mares dos Açores vários aconteceram.
O malogrado escritor Amílcar Quaresma, numa série de notáveis artigos publicados no semanário “O Dever” e que, depois, reuniu em volumes sob o título único de “Maresias”, relata-nos alguns desses naufrágios, principalmente de iates picoenses e de lanchas do Canal. A ele me reporto com a devida vénia e com a minha sincera homenagem pelo excelente trabalho que nos deixou.
No primeiro volume, relata-nos o naufrágio do “Caroline”, um Clipper na Rota do Salitre, e que naufragou no dia 3 de Setembro de 1901 no canal Pico-Faial, no mar da “Meia-Broa”, costa do Pico. Era uma barca de quatro mastros, construída em aço. O acontecimento, decorrido mais de um século, está a merecer a atenção dos governantes portugueses.
No dia 14 de Março de 1910, dá-se, no porto da Madalena, a tragédia do “Amigo do Povo”, barco de boca aberta e de doze toneladas de arqueação. Seguia viagem para a Horta, levando carga diversa e 57 pessoas, das quais 28 morreram. Uma tragédia que enlutou uma grande parte das famílias da Fronteira. Serviu de necrópole acidental a Matriz da Madalena que recolheu os cadáveres dos falecidos na tragédia.
Na costa do Lagedo, Flores, dá-se o encalhe do “Savónia” a 10 de Junho de 1909. Ninguém pereceu mas o barco lá ficou e, os seus pertences estão espalhados pelas ilhas dos Açores.
A “Patriota”, uma chalupa de 19 metros de comprimento, construída em 1925, encalhou, na Baía da Areia na noite de 27 de Setembro de 1926, e ficou totalmente destruída. Era seu proprietário Manuel Joaquim Ávila que, na construção, despendeu 80 contos de reis.
Para afastar os iates do Pico do tráfego entre as ilhas açorianas a Empresa Insulana de Navegação, detentora do tráfego Lisboa-Madeira-Açores, com os navios “Funchal” e São Miguel” substituídos pelo “Lima” e “Carvalho Araújo”, pôs ao serviço do tráfego nos Açores, o “Arnel” e o “Cedros”. O primeiro navegou poucos anos pois encalhou, na noite de 19 de Setembro de 1958 na Baía dos Anjos, em Santa Maria, morrendo 14 pessoas. O navio ficou totalmente destruído e foi abandonado pela Empresa proprietária.
Em 17 de Janeiro de 1969 afundou-se junto do Ilhéu da Praia, na Graciosa, o cargueiro “Terceirense” da E.I.N.. Não fez vítimas, mas toda a carga e equipamento – podia transportar 12 passageiros – se perdeu.
Nos anos vinte, encalhou na Ponta da Prainha do Galeão um cargueiro americano, que viajava da América para a Europa. Não houve vítimas, mas o barco ficou destruído e naufragou. A Alfândega tomou conta do caso e procedeu à arrematação dos salvados. Recordo que a primeira máquina de escrever pertenceu àquela barco e veio para um comerciante desta vila. Foi a primeira máquina de escrever existente nesta zona do Pico. Não sei se ainda existe. Outros haveres foram arrematados pelos picoenses e sucateiros que acorreram ao Pico para adquirir muitos dos salvados. Ainda na década de sessenta conheci um negociante que, com mergulhadores especializados, retirou do fundo do mar muito ferro daquela naufragado navio.
Agora recorda-se o naufrágio do “Cartoline”. Ainda bem!
Lajes do Pico,
Agosto de 2014
Ermelindo Ávila


SEMANA DOS BALEEIROS

NOTAS DO MEU CANTINHO


É agradável para os lajenses viverem estas semanas de Agosto. São as suas semanas maiores, porque nelas se realizam as suas maiores festas do ano.
Em suas casas recebem os familiares que, durante o ano, por razões diversas, estão ausentes. Nas ruas da vila, de momento a momento, encontra-se cara diferentes e, além, delas, amigos e conhecidos que aqui vieram para tomar parte nas suas festas.
É todo um ambiente de amizade, de alegria, de bem-estar numa confraternização contínua que retempera e tonifica.
Recordam-se épocas passadas, amigos que já partiram, acontecimentos que ficaram na história, embora não escrita, mas nas memórias das gentes.
É pois, repito, agradável e saudável, viver estes dias na velha vila picoense, normalmente triste e misantropa, recordando o seu passado de vivências várias, umas alegres e felizes, outras menos risonhas, consoante o estado de espírito de cada um.
Uns recordam com um misto de saudade as antigas festas, embora externamente reduzidas ao sábado da véspera. Mesmo assim não esquecem a noite de concertos, iluminação e fogo preso. E, a propósito deste, há quem ainda se lembre da “batalha” entre o castelo e os soldados, duas peças de bonito efeito.
Normalmente, os concertos tinham a colaboração de uma banda da Horta que aqui chegava ao principio da tarde do sábado, viajando a bordo de uma das antigas lanchas dos Lourenços que, durante as festas, ficava na Lagoa aguardado o regresso da banda, ou Artista Faialense ou Artista Flamenguense, na tarde do domingo, depois da Procissão. Esmeravam-se as bandas, incluindo a “Liberdade Lajense” por executar peças de autores clássicos sendo largamente aplaudidos os solos de cornetim ou trompete e de clarinete.
E falando da Procissão é de recordar o espectáculo que era o queimar de algumas grosas de foguetes, na Ponta do Caneiro, enquanto o andor da Veneranda Imagem de Nossa Senhora de Lourdes, ia percorrendo as canoas baleeiras, cerca de vinte, postadas em frente ao porto e de velas alçadas, se o vento permitia. Mas, não somente na Pesqueira, pois as armações da Ribeira do Meio, situadas, como ainda estão, ao norte da Lagoa, também queimavam algumas dúzias de foguetes à passagem do andor, muito embora já o tivessem feito na Ponta do Caneiro.
Outros, mais novos, têm presentes as festas externas que se iniciaram com a criação da “Semana dos Baleeiros”, em 1983, ano em que se comemorou o primeiro centenário da instituição da Festa de Nossa Senhora de Lourdes.
A “Semana do Baleeiros” tem continuado, embora com programas mais voltados para os espectáculos nocturnos, recreativos, que, aliás, são bastante do agrado da juventude.
A parte cultural, com a série de conferências, foi assim praticamente substituída, não deixando a “Semana” de ter os seus atractivos.
A caça à baleia foi proibida e deixou de praticar-se. No entanto, o que não se pôde proibir é que o povo celebre a sua “Semana dos Baleeiros” com alegria recordando, com saudade, embora, os tempos passados.
As Lajes não deixará de ser a vila baleeira única no Arquipélago e os lajenses, embora muito poucos hajam praticado a arriscada arte, porque era uma verdadeira arte, jamais deixarão de ser baleeiros de tradição e de sangue.
Estamos a viver as festas das Lajes, as suas maiores festas.
Que todos, naturais, residentes ou visitantes as gozem com alegria e que a Senhora de Lourdes, Padroeira dos lajenses, a todos prodigalize as maiores felicidades.

Semana dos Baleeiros de 2014

Ermelindo Ávila  

ERMIDAS E CAPELAS

Notas do meu cantinho

O Pico, desde o seu início ou povoamento, praticou intensamente a religião católica. Nem que tivessem de atravessar a serra ou os baldios para vir às Lajes, primeira povoação da ilha, para se casarem ou baptizarem.
Sabido é que o primeiro templo foi a actual ermida de São Pedro que, na vila das Lajes, serviu de igreja Paroquial de toda a Ilha, enquanto não se construiu a antiga Matriz no princípio do século XVI.
Depois foram aparecendo outras ermidas. Só na paróquia da Santíssima Trindade, além da igreja do convento franciscano, já no seculo XVIII, surgiu a ermida de São Sebastião-o-velho, ao cimo da Almagreira, mais tarde transferida para S. Sebastião, na Ribeira do Meio. De remota era a ermida dos Remédios, demolida a meados do século passado, por se encontrar totalmente arruinada.
Presentemente, existe na Almagreira a igreja-ermida da Rainha Santa Isabel.
Após os sismos de 1718 e 1720, foi reconstruída a igreja da Misericórdia que, decorrido um século, já estava em ruínas.
Resta a ermida de Santa Catarina, num promontório à saída da vila, e que durante centenas de anos esteve ao cuidado da família do antigo morgado.
Ainda pertencente à paróquia da SS.ma Trindade foi construída, nos anos 70, a ermida-igreja do Coração de Maria, no lugar das erras, subúrbio da vila das Lajes.
Tanto na ermida da Almagreira, como na das Terras, exerce-se o culto, quase semanalmente.
Outras ermidas há na área da antiga Ouvidoria.
Nas Ribeiras, existe a secular ermida da Senhora do Socorro, que já serviu de paroquial em Santa Bárbara.
Recentemente, foi construída no Caminho de Baixo das Ribeiras, uma pequena ermida na qual as paróquias de S.ta Cruz e de S.ta Bárbara exercem o culto.
No lugar das Pontas Negras, foi construída, a meados do século passado, uma boa igreja/ermida dedicada a Nossa Senhora de Fátima, onde é exercido o culto, semanalmente, para os paroquianos de Pontas Negras e Ribeira Seca.
No lugar da Ribeira Grande desta freguesia, foi construída uma ermida dedicada a São João Baptista.
Nos Fetais da Piedade, no último século, foi construída uma pequena ermida, dedicada a Santo António, que serve a população local. Na Manhenha, da Piedade existe, de longa data, a ermida de São Tomé onde é venerada e festejada também Nossa Senhora das Mercês. No Calhau da mesma freguesia existe a ermida de Nossa Senhora da Conceição, presentemente restaurada e que data do século XIX.
No mesmo lugar foi construída, há anos, uma pequena ermida dedicada a Nossa Senhora da Boa Viagem.
Na Paróquia da Ribeirinha existe há anos, no sítio da Baixa, uma ermida dedicada ao Apóstolo São Pedro.
Na freguesia da Piedade vai ser inaugurada no dia 14, no lugar da Engrade, uma nova ermida dedicada a São João Paulo II, construída pelos habitantes e veraneantes daquele lugar. Uma pequena ermida onde não faltam as alfaias litúrgicas necessárias uma celebração eucarística.
Fica assim muito valorizado o património católico edificado da zona e da própria Ilha do Pico.
Engrade, Setembro de 2014
Ermelindo Ávila



FESTAS MAIORES

A MINHA NOTA



Todas as localidade celebram as suas festas maiores. Normalmente, são as festas dos Padroeiros ou dos santos de maior devoção. E nisto estou somente a referir as festas de carácter religioso, pois outras se realizam sem que haja qualquer referência à religiosidade local. É o caso da Maré de Agosto, da Semana do Mar, do Cais Agosto, ou da Festa do Chicharro.
Mas, nesta ocasião, refiro somente as solenidades religiosas que se celebram com mais ou menos brilhantismo nas diversas paróquias da Ilha. Ontem, foram as festas de Santa Maria Madalena, depois a do Senhor Bom Jesus Milagroso, em São Mateus, na Calheta de Nesquim e, agora é do orago São Roque. No fim do mês, Nossa Senhora de Lourdes, nas Lajes do Pico.
Na generalidade, em todas elas os católicos, e não somente, primam por fazer das suas festas as melhores de todas no desejo de as tornar atrativas dos forasteiros.
E bom será, enquanto as populações se interessarem pelas festas das suas terras, sinal de que o espírito religioso e cristão não desapareceu da ilha.
Em tempos passados, quando a ilha não dispunha de estradas mas somente de caminhos rurais, que não permitiam o trânsito automóvel, as pessoas deslocavam-se a pé para as freguesias mais próximas, a fim de assistirem às festas locais e aos respetivos arraiais. E a festas consistiam, geralmente, de Missa solene, cantada, procissão e arraial abrilhantado por uma filarmónica, quando esta existia na própria freguesia ou nas freguesias próximas. Uma ou outra festa incluía um arraial nocturno, com um concerto pela filarmónica e fogo preso. O fogo vinha, com a devida antecedência, nos barcos do Pico, construído pelos pirotécnicos que existiam na Ilha Terceira. Mais tarde, fixou-se no Pico o pirotécnico MAMEDE que passou a fazer fogo de artifício de excelente qualidade e não menor efeito. A iluminação era feita com candeeiros com velas, pois, nesses tempos, a electricidade ainda cá não chegara. E a que trabalhos obrigava essa primitiva iluminação! Durante semanas, nas tardes dos domingos, grupos de senhoras, reuniam-se para restaurar as lanternas, com papel transparente e de diversas cores pois, nos arraiais, muitas lanternas ardiam.
Em certa ocasião, dizia-me uma Senhora que vivia numa das freguesias do Sul do Pico: Eu, com meu marido e os nossos filhos vamos a todas as festas e arraiais das vizinhanças, pois não temos outros divertimentos ou distrações.
Hoje, como acima escrevo, é tudo tão diferente. A facilidade de transportes, algum desafogo económico, o estilo que se imprimiu aos festejos, com programas excepcionais de cultura e recreio, atraem, normalmente, grande número de forasteiros, principalmente, a juventude.
Mas as festas maiores dos Açores são as Festas do Espírito Santo, que têm lugar na época do Pentecostes e que juntam milhares de pessoas. Ainda no corrente ano, num notável trabalho de investigação realizado pelo Jornal do Pico, nos tradicionais jantares do Espírito Santo devem ter-se reunido mais de vinte mil convivas, além dos muitos milhares de pães, rosquilhas e vésperas distribuídos não só as pessoas que estão nos «Impérios«, mas igualmente aqueles que por eles passam.
E, no presente ano, estão a terminar as festas. Aquelas que faltam realizar que sejam vividas com alegria, ordem e paz.


Povoação,
7-08-2014
Ermelindo Ávila