A MINHA NOTA
Muita gente naufraga na
vida. É bom quando esse “cataclismo” é somente individual.
Quando arrasta outros, é muito penoso de suportar e normalmente
deixa chagas profundas, quando não mortíferas.
Mas hoje não quero
“descer” aos naufrágios individuais - colectivos. Antes quero
referir-me àqueles que mares atlânticos arrastavam vidas e haveres:
os naufrágios marítimos, e não poucos foram no decorrer dos
séculos.
No seu caminhar por
esses mares “nunca dantes navegados”, quantas caravelas não
ficaram no fundo dos mares atlânticos!... Dizem que a baía de Angra
onde, geralmente, aportavam as naus do Infante nas suas rotas
marítimas, muitas delas acabavam por ficar nos fundos da baía e que
hoje ela é um depósito precioso de riquezas da Índia.
Mas não só na baía de
Angra aconteceram naufrágios das caravelas, que ali chegavam
cansadas e quase destruídas das longas viagens.
Os naufrágios sempre
aconteceram. Ainda hoje se recorda o do “Titanic”, que tantas
vias ceifou nos mares entre a América, para onde se dirigia e a
Europa. Foi, de certo, o mais aparatoso do século XX. E aqueles que
as guerras provocaram?!... Nos mares dos Açores vários aconteceram.
O malogrado escritor
Amílcar Quaresma, numa série de notáveis artigos publicados no
semanário “O Dever” e que, depois, reuniu em volumes sob o
título único de “Maresias”, relata-nos alguns desses
naufrágios, principalmente de iates picoenses e de lanchas do Canal.
A ele me reporto com a devida vénia e com a minha sincera homenagem
pelo excelente trabalho que nos deixou.
No primeiro volume,
relata-nos o naufrágio do “Caroline”, um Clipper na Rota do
Salitre, e que naufragou no dia 3 de Setembro de 1901 no canal
Pico-Faial, no mar da “Meia-Broa”, costa do Pico. Era uma barca
de quatro mastros, construída em aço. O acontecimento, decorrido
mais de um século, está a merecer a atenção dos governantes
portugueses.
No dia 14 de Março de
1910, dá-se, no porto da Madalena, a tragédia do “Amigo do Povo”,
barco de boca aberta e de doze toneladas de arqueação. Seguia
viagem para a Horta, levando carga diversa e 57 pessoas, das quais 28
morreram. Uma tragédia que enlutou uma grande parte das famílias
da Fronteira. Serviu de necrópole acidental a Matriz da Madalena
que recolheu os cadáveres dos falecidos na tragédia.
Na costa do Lagedo,
Flores, dá-se o encalhe do “Savónia” a 10 de Junho de 1909.
Ninguém pereceu mas o barco lá ficou e, os seus pertences estão
espalhados pelas ilhas dos Açores.
A “Patriota”,
uma chalupa de 19 metros de comprimento, construída em 1925,
encalhou, na Baía da Areia na noite de 27 de Setembro de 1926, e
ficou totalmente destruída. Era seu proprietário Manuel Joaquim
Ávila que, na construção, despendeu 80 contos de reis.
Para afastar os iates do
Pico do tráfego entre as ilhas açorianas a Empresa Insulana de
Navegação, detentora do tráfego Lisboa-Madeira-Açores, com os
navios “Funchal” e São Miguel” substituídos pelo “Lima” e
“Carvalho Araújo”, pôs ao serviço do tráfego nos Açores, o
“Arnel” e o “Cedros”. O primeiro navegou poucos anos pois
encalhou, na noite de 19 de Setembro de 1958 na Baía dos Anjos, em
Santa Maria, morrendo 14 pessoas. O navio ficou totalmente destruído
e foi abandonado pela Empresa proprietária.
Em 17 de Janeiro de 1969
afundou-se junto do Ilhéu da Praia, na Graciosa, o cargueiro
“Terceirense” da E.I.N.. Não fez vítimas, mas toda a carga e
equipamento – podia transportar 12 passageiros – se perdeu.
Nos anos vinte, encalhou
na Ponta da Prainha do Galeão um cargueiro americano, que viajava da
América para a Europa. Não houve vítimas, mas o barco ficou
destruído e naufragou. A Alfândega tomou conta do caso e procedeu à
arrematação dos salvados. Recordo que a primeira máquina de
escrever pertenceu àquela barco e veio para um comerciante desta
vila. Foi a primeira máquina de escrever existente nesta zona do
Pico. Não sei se ainda existe. Outros haveres foram arrematados
pelos picoenses e sucateiros que acorreram ao Pico para adquirir
muitos dos salvados. Ainda na década de sessenta conheci um
negociante que, com mergulhadores especializados, retirou do fundo do
mar muito ferro daquela naufragado navio.
Agora recorda-se o
naufrágio do “Cartoline”. Ainda bem!
Lajes do Pico,
Agosto de 2014
Ermelindo Ávila
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