segunda-feira, 14 de abril de 2008

A VILA BALEEIRA TEM O SEU LUGAR NO CONTEXTO PICOENSE!

Chegou há dias a Primavera, Num gesto de simpatia apareceu o Sol a brilhar e a aquecer. Mas pouco durou. Hoje apareceu a chuva. A montanha do Pico está encoberta por um denso lençol de nuvens escuras. Nem apetece chegar à janela, pois as ruas estão desertas. Parece que o inverno voltou. E cá ficamos “amarrados” a esta cadeira que está em frente da mesa onde rabisco estas linhas para dar um pouco de expansão a este isolamento que me atrofia constantemente.
Quero escrever a crónica que prometi mas não me chega o assunto que desejo. O espírito paira em outros campos, que desconheço, porque por lá nunca passei.
Do correio chega a correspondência. Não é muita. Também mais não esperava, pois os meus velhos correspondentes vão desaparecendo aos poucos. Os que restam não têm por hábito escrever-me mas apenas telefonam, de tempos a tempos. Alguns jornais chegam, mas também o que trazem pouco interesse me desperta. São os crimes, as desavenças políticas, as revoltas em certas nações, os impostos que ora sobem ora descem para tornar a subir, as eleições que ocorrem ou se preparam em determinados países, e já a campanha anda na rua para o próximo acto eleitoral. E os bilhetes que os políticos vão enviando uns aos outros, demonstrando a sua incapacidade de governar com seriedade as nações que habitam. Presidentes que desfazem o lar por motivos de lana caprina, são capazes de governar uma nação? São capazes de publicar leis justas e de defesa da moral e dos sãos costumes? Mas isso acontece naquelas nações que outrora eram conhecidas como exemplares .
Deixemos, porém, essa política brejeira com os seus mentores que, embora se considerem os barões da ciência e da intelectualidade, não passam de aventureiros inexperientes, sequiosos do mando e das alcavalas que possam usufruir.
Os políticos de ontem, que por acaso morreram pobres e andaram de solas rotas, porque os proventos dos cargos mal davam para socorrer algum necessitado que a eles recorria, são classificados de destruidores da Nação que governaram. Os de agora são os grandes beneméritos e os salvadores da Pátria. Esquecem que encontraram os cofres cheios de ouro e que o esbanjaram, para agora andarem na pedincha…
Eu volto à minha janela. Olho o céu e aqui e ali descubro uns raios de sol. Lembro-me que hoje é sábado e que, segundo o velho ditado popular, “não há sábado sem sol…” Não continuo porque, infelizmente, hoje a parte final já não tem aplicação… O horizonte vai desanuviando e daqui a pouco teremos o pôr do sol. Será belo e esplendoroso como são habitualmente os pôr do sol primaveris e outonais?
Estou e sempre estive, desde o recuado momento em que vim ao mundo, numa ilha. Na frente tenho o Oceano, manso e belo no verão mas bravo e impetuoso no inverno. Além apresenta-se a bela montanha, que, durante o dia, oferece diversos aspectos, ora belos ora anunciando tempo agreste. A montanha que mal sabemos apreciar mas que os outros, nossos visitantes, param e nela se extasiam, está hoje coberta com o seu habitual manto de neve, branco, espelhento, a dar vida e encanto a quem a contempla. Depois, esses montes e vales verdejantes, outrora férteis no pão abundante que nos ofereciam, embora com algum trabalho e, que hoje são matagais abandonados onde viceja toda a casta de espécies daninhas. Mas, no seu conjunto, não deixam de nos dar paisagens luxuriantes e amenas, onde a vista se recreia e o espírito descansa na sua contemplação .
Nas encostas, um pouco distantes, por entre os arvoredos, descobrem-se as risonhas habitações dos nativos que por lá se fixaram há séculos e que, mercê do seu trabalho duro e cansativo, transformaram os lugares abandonados, alguns deles ainda com a vala vulcânica fumegante, em sítios de prazer onde levantaram as habitações, os centros de recreio, as pequenas igrejas onde se recolhem, em prece de agradecimento e petição. São as nossas pequenas aldeias, dispersas pelas encostas da ilha, onde vivem povos trabalhadores, sérios e honestos que, em trabalhos de mutua ajuda, vão fazendo progredir exemplarmente os lugares que habitam e deles não querem sair.
Hoje é sábado, como acima disse. Nas ruas não circulam os alunos da Escola Preparatória e Secundária. Ficaram pelas suas terras para voltarem na segunda-feira e para novamente circularem nos próximos cinco dias da semana escolar, como acontece durante todo o ano lectivo. Como eles alegram e dão vida a estas ruas e praças, que diariamente percorrem nos intervalos das aulas! E são os estabelecimentos comerciais – o supermercado, os cafés, as pastelarias e até os restaurantes que têm uma vida nova, que a todos eles empresta essa juventude brincalhona e hilariante. E são as ruas que se enchem de veículos dos funcionários dos diversos Serviços, que estacionam durante o dia enquanto os proprietários cumprem nos serviços os respectivos horários. Entristeço, porém, quando penso que todo esse movimento um dia desaparecerá e a vila irá entrar, maldosamente, nos estertores da morte…Principalmente quando a juventude for aliciada para outras zonas…


Vila das Lajes,
5 de Abril de 08
Ermelindo Ávila

sábado, 5 de abril de 2008

MODERNISMOS...

Estão chegados os novos tempos. Até as horas do relógio já se adiantaram. Tudo vai mudando. As pessoas, o seu trajar, as suas vivências. O mundo que as rodeia.
Todas têm receio dos novos tempos que se aproximam. Mas, afinal, o que é que muda? Os lugares, as paisagens, os campos e as suas produções hortícolas e as sementeiras; o sol que ilumina e aquece, a lua que quebra a escuridão da noite, o mar e os peixes que nele habitam, as aves que enxameiam os parques e os jardins e aproveitam as copas das árvores para nelas instalarem seus ninhos; enfim, todo o mundo habitado pelo ser humano, o próprio homem que, utilizando a inteligência com que foi dotado, procura alterar, dia a dia, os sistemas que estão à sua disposição ?!
Os homens mudam a cada momento que passa. Aceitam de bom grado as pesquisas, as invenções, as descobertas científicas e os novos sistemas de actuação cultural e social. Desprezam, quase sempre, o passado e enveredam por novas vias nem sempre as mais seguras para os levar a um futuro promissor.
A pratica da moral toma novos contornos e tudo se aceita como inovação das ciências.
Os tradicionais, chamados “bons costumes”, são esquecidos ou mesmo desprezados.
A maneira de trajar modifica-se. O vestuário toma novas formas e, das antigas saias caídas até aos tornozelos, passaram as mulheres a usar as mini-saias e saias fingidas, à descoberta do umbigo e, agora, aos próprios seios…Uma modernice que se me afigura sinal de devassidão e despudor.
Os homens ainda mantém as calças e as camisas porque, naturalmente, não lhes será cómodo imitar os ocupantes das selvas africanas e amazónicas. Mas, mesmo assim, substituíram os tradicionais fatos de bom tecido pelas calças de ganga, trajes que, antigamente, só se utilizavam nas fábricas e oficinas e nos trabalhos dos campos. Então, que apreciados eram os “alvaroses”( over all) e as calças de “angrin”, vindos dos E.U. E quanto mais velhos e coçados, mais “elegantes” se tornam para se apresentarem em qualquer acto público. Mais vulgar é agora o abandono da gravata, que passou a “moda elegante”, para acompanhar o progresso. Tudo uma maneira nova de renovar os hábitos clássicos, que, para muitos, se tornaram antiquados e bafientos.
Afinal, um retrocesso que exterioriza o desprezo de alguns por normas e sistemas de sóbrio mas elegante viver.
Estou a ver que algum leitor me vai alcunhar de atrasado, de velho do Restelo. Esquecem-se que a evolução das modas, dos sistemas devem ser feitos cautelosamente, sem apresentarem inovações gritantes e provocantes, num conflito desordenado com um passado recente, digno e respeitável.
Nunca me furtei à evolução das artes, das ciências e dos hábitos e costumes. Antes, sempre os aproveitei, com ordem e tranquilidade, evitando que chocassem e desprezassem a maneira antiga de viver. Tudo tem seu peso e medida. Não desejo voltar aos trajes dos antigos reis e cortesões que, vestindo cedas e brocados, nada cuidavam da higiene corporal. Mas o trajar decente, cómodo e elegante não deve ser desprezado.
E, falando do trajar corporal, recordo os hábitos e costumes que até há bem pouco tempo se praticavam e que hoje são simplesmente esquecidos.
A prática religiosa, está a ser abandonada para dar lugar a um viver mórbido e sensual. Desfazem-se as famílias, abandonam-se os filhos. O que era escândalo passou a ser normal. O crime anda constantemente na rua. Os tribunais enchem-se de processos que, à falta de pessoal, dizem, se vão amontoando nas prateleiras, sem que na rua haja quem evite tanta desordem, tantas arruaças, tantas agressões, tantos assaltos e roubos…
Mas, se as leis ignoram hoje actos de vandalismo, de práticas desonestas, de sensualismo e de atitudes imorais que antes constituíam crimes…
Desapareceu a vergonha e banalizou-se a moral. Qual será o futuro da humanidade?
É caso para se dizer e escrever: Deus super omnia!

Vil das Lajes,
30 de Março de 2008
Ermelindo Ávila

quinta-feira, 3 de abril de 2008

CEM ANOS!

No dia 25 de Março, corrente, celebrou a linda idade de cem anos, a Senhora D. Maria da Encarnação Bettencourt, natural das Lajes do Pico e actualmente residente na cidade da Horta, com sua filha, D. Antónia Bettencourt Xavier.
Presentemente encontra-se recolhida a casa, mas conservando a maior lucidez de espirito. Uma relíquia que muito consideramos e respeitamos desde os recuados tempos da nossa adolescência e juventude.
D. Maria da Encarnação residiu na sua casa da Ribeira do Meio, desta Vila enquanto a saúde lho permitiu.
Foi uma senhora de assinaladas qualidades artísticas. Como alguém me dizia há dias, quando lembrava o centenário de tão distinta lajense, D. Maria da Encarnação tinha umas mãos de ouro. Tudo fazia com gosto artístico e aprimorada beleza. Fabricava primorosamente flores artificiais, as mais variadas, com muita arte. Com elas se adornavam as igrejas, como era habitual até ao principio do século passado. E o requinte artístico era tão esmerado que até as rosas, das mais variadas espécies, eram perfumadas, o que lhes dava a sensação de serem naturais. Os arranjos de flores, para noivas, festas religiosas ou funerais eram de aprimorado feitio e gosto. Pintava a carvão, retratos ou paisagens, com elegância e beleza artística. Além de outros trabalhos manuais.
Tudo sabia executar com arte e perfeição.
Como mestras teve a antiga professora D. Maria de Lourdes e a artista D. Virgínia de Lacerda.
Era conhecida por Maria Caxetinha e foi casada com Manuel Bettencourt. É mãe do Engenheiro José Maria Bettencourt e de D. Antónia Bettencourt Xavier, viuva do Engº Tec. Raúl Pedro Xavier.
Falar de D. Maria da Encarnação Bettencourt é recordar Alguém que, nesta vila, era muito querida e estimada pelos seus dotes morais e intelectuais. Uma Senhora que todos respeitavam e admiravam. Com o marido emigrou há anos para os Estados Unidos, onde tinha familiares muito chegados. Depois regressou a Portugal, na década de 90, esteve alguns anos em Lisboa, com o filho, Eng. José Maria. Algum tempo depois, voltou aos Açores e fizou residência na Horta, em casa da filha, D.António, onde vive, presentemente, rodeada do carinho e desvelados cuidados da filha e netas.

Deixámos de a ver e de com ela contactar mas a sua Figura distinta não mais nos esqueceu. Recordamo-la com muito respeito e aquela amizade que nasce na juventude e nunca mais esquece. Valeu-me, porém, para este escrito, a amiga comum, Dra Luisa Machado Rodrigues, que sei, vai estar também presente no centenário da nossa querida e venerável conterrânea.
Não desejo exagerar as qualidades invulgares de D. Maria da Encarnação Bettencourt. Estou somente a lembrar uma Lajense que marcou uma época artística na nossa terra, e que agora celebra cem anos de existência. Um acontecimento invulgar para a maioria dos mortais.
E neste recordar de tantos anos passados, presto aqui a minha homenagem sentida e amiga a tão distinta Senhora que, apesar das suas extraordinárias qualidades e valências artísticas, sempre viveu recolhida e como que apagada, não passando para alguns de uma simples mas exemplar esposa e mãe.
Sei que os filhos, D. Maria Antónia Brum Xavier e Engenheiro José Maria Bettencourt, Netos e mais familiares, se sentem orgulhosos do Pai, da Mãe e dos Avós que tiveram. Nesta hora jubilar, junto da Mãe e Avó, recebem por isso dos parentes, amigos e conhecidos, efusivas felicitações por tão faustoso acontecimento.
Parabéns, por este dia, à Veneranda Aniversariante e aos respeitáveis Filhos e Netos, com os votos de que o Senhor Ressuscitado, conserve , para alegria de todos, a D. Maria da Encarnação Bettencourt.
Vila das Lajes,
25 de Março de 2008
Ermelindo Ávila

terça-feira, 1 de abril de 2008

Que turismo nos espera?

Estão a chegar ao fim, pelo que nos é dado observar, os trabalhos de construção da futura marina do porto das Lajes do Pico. Tudo faz crer que aquele espaço, conquistado à lagoa interior, com óptimo resultado, poderá ser utilizado pela navegação de recreio ainda no corrente ano, o que não deixa de ser uma excelente valia para a Vila Baleeira dos Açores.
Mas para que o turismo se possa implantar nesta terra e venha a ser um factor económico de assinalada valia, importa que outros empreendimentos se realizem com brevidade, para que assim, todo o conjunto estrutural seja convenientemente utilizado e seja elemento de progresso e desenvolvimento a renovar a economia local.
Interessante o que no Pico se tem feito no sector hoteleiro, principalmente no chamado turismo rural e nas residenciais, já que os hotéis, infelizmente, andam daqui arredados, (propositadamente?) evitando que até as entidades regionais daqui se afastem pela carência de camas condizentes com a categoria dos ocupantes…
Porque se protelou a construção do Hotel previsto para o Mistério? Porque se evitou a construção de um estabelecimento hoteleiro junto do parque de campismo?
Um parque jamais poderá substituir um hotel. Demais os ocupantes, durante o verão, são grupos de estudantes, nacionais ou estrangeiros, ou outros visitantes de recursos económicos limitados e que pouco contribuem para a economia local. ?!.
Afastar qualquer construção de interesse público do meio urbano da vila e contribuir para o seu atrofiamento e aniquilamento. É preciso que isso se compreenda e se tenha em consideração, sem prejuízo do seu património artístico e da sua classificação de zona urbana histórica.
Todavia o turismo não exige somente bons hotéis, devidamente classificados e equipados, servidos por profissionais experientes e simpáticos.
O Whale Watching é uma atracção de comprovados méritos, mal grado a concorrência de que vai sofrendo . Mas até esses que vêm para observar baleias e outros animais marinhos que aqui, na nossa frente, estacionam meses e anos, nem por cá pernoitam, na sua quase totalidade, por falta de hotel. (Isto sem esquecer a “Aldeia da Fonte”, algo desviada)
.(Um dos operadores disse-me há dias que uma baleia, com uma falha no rabo, estaciona na baia das Lajes, que ele saiba, há mais de sete0 anos.)
O turista deseja, também, ocupar os chamados “tempos livres” . Aqui recorda-se uma vez mais a necessidade de concluir o campo de golfe ou encontrar novo espaço onde se possa instalar um novo campo, pois o Mistério é enorme – cerca de cinco hectares de terreno, com três quilómetros de largura, junto da ER., que ninguém aproveita.
Mas não há somente que providenciar sobre os momentos de lazer. Algo mais há que ter em atenção, como ainda há dias diziam os intervenientes no programa semanal da RTV, “Prós e Contras”. Cada ilha deve dispor de serviços de saúde capazes de atenderem não somente os casos resultantes de sinistros ocasionais como de outras doenças que surjam ao visitante durante a sua estadia na ilha. E esses serviços não devem ficar simplesmente pela transferência, (embora rápida), em transporte adequado, para uma das ilhas-“capitais”. Isso não aceita o visitante estrangeiro, habituado a ter junto da residência a assistência imediata para qualquer caso de doença que lhe surja.
Tudo isso deve ter-se em consideração, se queremos promover as ilhas da Região e nela explorar um turismo eficiente e positivamente promotor de melhoria económica.
A Ilha do Pico, com um potencial turístico enorme, que quase desconhecido e mal aproveitado anda, tem de ser considerada com medidas, embora de excepção, eficientes e rápidas, se não desejamos ver passar ao largo um bem que à Ilha pertence.
Sabemos que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, mas cruzar os braços perante um potencial que, noutras bandas, seria avaramente aproveitado, não deixa de nos causar pena e angústia.
Saibamos “vender” por bom preço aquilo que é nosso, que muito é: as paisagens, dominadas pela alta montanha, os por de sol, o ar que respiramos, a água que bebemos e usamos, o clima ameno e confortável, as frutas deliciosas que mal aproveitadas são, esses mairoços que se espalham pelas terras e que são um testemunho eloquente dos muitos penares e canseiras dos nossos avós que tanto lutaram para nos deixarem os campos verdejantes, as vinhas e as pastagens que ainda disfrutamos. Afinal, esse extraordinário património que aí está, agora mal aproveitado e quase abandonado.

Vila Baleeira dos Açores,
Março de 2008
Ermelindo Ávila

No Lançamento do livro "BALADA DAS BALEIAS"

Julguei que não voltaria a esta sala com a incumbência de “botar palavra”.
No entanto, novamente aqui estou para colaborar, apenas, no lançamento de um livro que fala de baleias e que aqui é trazido para apreciação dos lajenses, aqueles que foram baleeiros, e poucos são e aqueles outros que não sendo baleeiros, viveram e vivem ainda intimamente essa actividade que tanto prestigiou esta Vila Baleeira.
Também não fui baleeiro mas tive familiares baleeiros. Meu avô, Ermelindo dos Santos Madruga, foi um baleeiro em terras americanas e aqui igualmente. Para cá trouxe, no sangue e na alma, a arriscada faina de apanhar baleias. Ajudou a fundar a Companhia das Senhoras, cujo nome oficial era “União Lajense, Limitada”. A sede ou “casa dos botes” é aquela que, incorporada neste Museu, fica junto da oficina de ferreiro. E tive tios e primos e, porque não, bons e excelentes amigos e até afilhados que desde a juventude se dedicaram à caça da baleia. Foi até um deles que, contra todas as determinações oficiais, apanhou a última baleia que deu entrada neste porto lajense, e a última caçada nas diversas ilhas do Arquipélago. – Refiro Manuel Macedo Portugal de Brum.
Este livro, pelo documentário fotográfico que contem, é já um livro histórico. Nele se encontram pessoas, as canoas, as baleias, um conjunto de elementos que já constituem peças do passado, passado do qual nos orgulhamos e vangloriamos.
“BALADA DAS BALEIAS” é lançado no Museu dos Baleeiros. Está no lugar certo. O Museu onde nos encontramos, é a instituição mais rica e histórica da Ilha do Pico. Aqui se arquiva e revive o Passado, de saudosa memória. Um passado de que, repito, todos os lajenses e picoenses, se devem orgulhar.
Razão tinha quando, em l6 de Fevereiro de 1969 (artigo que o diário “Açores” então publicou) escrevi: “Hoje, a caça à baleia, a indústria baleeira, melhor dito, vive os derradeiros momentos”. E terminava o texto: “E quando a actividade fosse apenas histórica notícia, dísticos descritivos serviriam para elucidar os visitantes, das designações e utilidades dos diversos apetrechos e palamenta, porque então o MUSEU BALEEIRO (assim o designei) seria, realmente uma atracção turística. Não valeria a pena pensar-se a sério no Museu, antes que tantos valores artesanais se percam ou vão enriquecer os museus doutras terras? – Salvemos enquanto é tempo, o nosso património histórico”. (1)
Felizmente que alguém ouviu o meu grito de alarme. O Museu dos Baleeiros – a beneficiar de uma ampla ampliação - (e não o museu baleeiro, que isso pouco importa), é uma realidade a enriquecer o património cultural e histórico desta que, jamais deixará de ser a Vila Baleeira.
A cerca de quarenta anos de distância, cá nos encontramos todos dentro destas paredes históricas a celebrar um acontecimento que não deixa de ser igualmente histórico e enriquecedor do Património lajense.
Por aqui fico. Desculpai-me a pobreza do dizer e a evocação de um passado que só a minha avançada idade podia permitir .
_______
1) Ávila, Ermelindo, in “Crónicas da Minha Ilha” – 1995, pág.127.

Vila Baleeira, Museu dos Baleeiros, 28 de Março de 2008
Ermelindo Ávila