sábado, 30 de maio de 2009

AS FOLIAS

NOTAS DO MEU CANTINHO


Assim eram conhecidas as Festas do Espírito Santo. Elas iniciavam-se no primeiro domingo a seguir ao Domingo de Pascoa e iam até o Domingo da Trindade.

Em todas as chamadas Domingas realizavam-se as Coroações - solenidades promovidas por irmãos, que haviam escolhido a sua “sorte” no ano anterior. Em cada Paróquia havia mais do que uma irmandade, as quais preenchiam as Domingas. Hoje mantém-se ainda essa tradição, que se cumpre, de cinco em cinco anos, como já escrevi, nos lugares das Terras e da Almagreira.

Antigamente, o mordomo levava a Coroa à Igreja, acompanhado pela Irmandade, por doze pobres, por alguns convidados, e pelos familiares. E só.

Eram recebidos, à porta da igreja, pelo sacerdote celebrante, normalmente o pároco, que, a seguir, dava inicio à Missa cantada. No coreto já estavam os músicos, com o organista, para executarem, quase sempre, a “Missa de três sustenidos”, partitura muito antiga, cantada por dois ou três músicos, que mais não havia.

No cortejo actuavam os foliões com seus tambores, pandaretas e ferrinhos. Um dos foliões era portador da bandeira, na qual colocavam pães ou meios pães, três ou quatro, daqueles que eram servidos às mesas. Esse costume ainda hoje é mantido.

Os foliões não entravam na Igreja para tocar e cantar as loas apropriadas porque isso lhes foi proibido pelo Bispo de Angra, D. Jerónimo Teixeira Cabral, 9º Bispo da Diocese, (1600 – 1612). Segundo o Cónego Pereira (“A Diocese de Angra na História dos seus Prelados”), “Dom Jerónimo tinha um carácter enérgico e exigente mesmo; e em nada cedia perante a Lei e os direitos da Igreja...”. "Foi esse Prelado que proibiu que os foliões das festas do Espírito Santo bailassem na capela-mor das igreja ao serem coroados os imperadores...”)

Os foliões tinham – e ainda hoje, quando os há – por missão cantar umas loas apropriadas nos trajectos, nos intervalos das filarmónicas, depois que estas apareceram em meados do século XIX, e à chegada a casa do mordomo e durante o jantar. No final deste cantavam a “Despedida”.

Era um momento de saudade e de emoção. Até as cozinheiras (hoje são também cozinheiros) vinham à porta do salão para tomar parte nessa cerimónia da despedida e deitar a sua lágrima de saudade, pois a coroa ia partir para o cortejo de “juntar as rosquilhas, ou vésperas”, quando era dia de “Império”, ou para casa do mordomo do domingo seguinte; e não voltava. Ficava na capela do Império para, à noite, seguir para a casa do novo mordomo.

Não havia rainhas nem damas de honor. Era o elemento masculino que, quase só, tomava parte nos cortejos. Nele iam algumas crianças a lançar pétalas de flores. O portador da Coroa levava uma estola vermelha, traçada no ombro, a qual era transferida, depois da coroação, para aquele que coroava. Normalmente o mordomo da função ou um seu representante.

Cada irmão possuía uma vara pintada de vermelho e que, no topo, ostentava e também pintada, uma coroazinha. Comparecia sempre com ela e formava os chamados quadros do cortejo. Mais tarde principiou a aparecer penas, com cestos de flores .

(Excepção fazia a Irmandade de Santo António. cuja fundação é do princípio do século XX, cujas varas eram e julgo que ainda são pintadas de branco).

A vara era um símbolo sagrado. O irmão guardava-a durante o ano à sua cabeceira e quando falecia ela lá continuava respeitosamente. (Ainda me lembro de ver a vara de meu bisavó paterno junto à cama da minha bisavó. E ela não consentia que alguém a tocasse. “Era a vara do nosso António”, dizia.)

No princípio da década de trinta do século passado, há cerca de oitenta anos, foi trazido dos Estados Unidos da América o estilo da “Rainha” e, a partir daí, muita coisa foi alterada. Poucas são as localidades que conservam as cerimónias das Coroações no seu estilo primitivo.

Presentemente há muita bibliografia publicada sobre as festas do Espírito Santo nos Açores. A “Casa dos Açores de Lisboa” promoveu há alguns anos um Congresso sobre o Espírito Santo nos Açores mas,

mesmo assim, apesar da erudição dos conferencistas, creio que não se penetrou intrinsecamente na origem, manutenção e finalidades destas festas tão caras ao povo açoriano. Exigem um estudo imparcial, profundo e aturado. Fica para outro.


Vila das Lajes, 28 de Maio de 2009

Ermelindo Ávila

quarta-feira, 27 de maio de 2009

SÃO NUNO ÁLVARES PEREIRA

NOTAS DO MEU CANTINHO


No último domingo, de Abril, a Igreja Romana elevou às honras dos Altares, o Beato Nuno de Santa Maria, figura portuguesa de grande projecção nacional e histórica e da própria Igreja Católica que já o havia declarado Beato pelo Papa Bento XV, em 23 de Janeiro de 1918.

D. Nuno Alvares Pereira nasceu em Cernache do Bomjardim, Santarém, em 24 de Junho de l360, filho do Prior da Ordem Hospitaleira de S. João, D. Álvaro Gonçalves Pereira e da dama do Paço, D. Iria Gonçalves Carvalhal. Casou aos quinze anos, com D. Leonor do Alvim, de quem teve uma filha, D. Beatriz, a qual viria a casar em 1401 com D. Afonso, conde de Barcelos. D. Beatriz faleceu em 1414, deixando alguns filhos.
Comandou as tropas portuguesas, como Condestável do Reino.

No Alentejo, Nun’Alvares começava o ciclo das proezas, em que se fundiam o amor terreno da Pátria e o amor místico de Deus, batendo nos Atoleiros, em 6 de Abril de l384, mercê de um famoso quadro de infantaria as tropas castelhanas”(1) .

Um ano depois, a 14 de Agosto de 1385, dá-se a batalha de Aljubarrota. Nela as tropas do Condestável destroçam as de Castela, novamente. A meados de Outubro de 1411 Nun’Alvares Pereira ganha a terceira batalha de Valverde. E termina a sua actividade no mundo.
Em 1393 partilha com os companheiros de armas numerosas terras que lhe foram doadas; em 1393 instala no convento de Lisboa os frades da Ordem do Carmo, com os quais estreitou relações de especial afecto. Consorcia-se em 1401 sua filha D. Beatriz com D. Afonso, conde de Barcelos, filho natural de D. João I. Quando do falecimento, em 1414, da condessa de Barcelos, sua filha, o pai projecta recolher-se à clausura monástica.(2)

Ainda participa na expedição a Ceuta mas em 1422 reparte com os netos os seus títulos de domínio, despojando-se de todos os bens materiais e recolhendo-se ao convento onde professa no dia 15 de Agosto de 1423, dia consagrado pela Igreja à Assunção de Nossa Senhora ao Céu.

Deixa de ser O Condestável do Reino para ser somente um frade carmelita sujeito à regra monástica, onde termina seus dias a 1 de Novembro de 1431.

O povo desde logo dirige-lhe preces e os poderes reais solicitam ao Papa Urbano VIII para que proceda à sua beatificação. Em 1674 é renovado o pedido a Clemente X. No entanto, só a 23 de Janeiro de 1918 o Papa Bento XV deliberou elevar Nuno de Santa Maria às honras dos altares, o que veio agora a ser confirmado por Bento XVI, com a canonização solene, a 26 de Abril de 2009. Haviam decorrido quase quinhentos e setenta e oito anos sobre a morte gloriosa do extraordinário Santo Português.

Certo é que a sua memória nunca deixou de ser invocada e os milagres alcançados por seu intermédio são às dezenas.

Nuno Alvares “trouxe sempre fundidos no seu coração o amor de Deus e o amor da Pátria. Foi Monge e foi Soldado; foi Santo e foi Herói. Teve o duplo misticismo – o do Céu, e o da sua terra. Na hora mais aguda das batalhas, esquecido de tudo, ajoelhava e rezava. E, como os maiores místicos, possuía o sentido rectilínio do equilíbrio e das realidades. Era um espírito positivo de patriota, animado pela fé mais viva da crença mais alta.”...”Nuno Alvares é a encarnação suprema da Pátria portuguesa: está nos altares, porque a Igreja o reconheceu merecedor do culto; e está nos corações dos portugueses fiéis que vêem nele o símbolo do seu amor pátrio.
Sem a sua espada vigorosa e sã, Portugal teria caído possivelmente na órbita de Castela, e tudo quanto fez em prol da civilização, andaria hoje escrito em língua estranha.” (3)

Estava já o Santo Contestável recolhido ao Convento do Carmo quando foi celebrado ,em Medina, no dia 30 de Outubro de 1431, o tratado de Paz com Castela. No dia imediato (?) “a morte arrebatava aquele que da demorada e viva luta entre Portugal e Castela, tanto se celebrizara o Condestável Nuno Alvares Pereira morria no catre humilde de uma estreita cela do seu convento do Carmo, em Lisboa...”( 4)

Viveu na Terra pouco mais de setenta anos.

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1)-Pimenta, Alberto – “Elementos de História de Portugal,”, 1836 – pág. 90

2)-“Enciclopédio Luso-Brasileira de Cultura”.1973, Vol. 14º

3)-Pimenta, Alberto, o.c. pág. 105

4)-“História de Portugal” por Damião Peres e outros. Vol. III. pág. 25.


Vila das Lajes, 2 de Maio de 2009

Ermelindo Ávila



segunda-feira, 25 de maio de 2009

Genuíno Madruga

Estava agendada para o próximo sábado a chegada, ao porto das Lajes do Pico, do intrépido navegador solitário GENUÍNO MADRUGA, célebre picoense e açoriano pelo seu feito histórico de haver dado, pela segunda vez, a volta ao mundo no pequeno iate “Hemingway”.

Genuíno Madruga partiu do porto das Lajes do Pico no sábado de Lourdes de 2007. Deu a volta ao Mundo, passando pelo cabo Horn, um feito que poucos tiveram a ousada coragem de realizar. Registe-se que foi ele o 1º português a passar do Oceano Atlântico para o Pacífico – Leste - Oeste . Uma proeza ímpar!

Contava aqui chegar no próximo sábado do Espírito Santo a 30 do corrente mês. Infelizmente, depois de sair do S. Luís do Maranhão no Brasil, rumo à Ilha do Pico, foi atingido por um violento temporal que lhe partiu o mastro e esfrangalhou a vela, provocando o atraso na viagem. Não se sabe, pois, quando chegará. Naturalmente com alguns dias de atraso.

De rija tempera, determinado e destemido, GENUÍNO MADRUGA é o representante altamente categorizado duma Família distinta da Ilha do Pico, que nunca soube voltar as costas a qualquer revés da vida!

Conheci os avós, os pais, os tios e primos. De alguns fui amigo sincero e leal. Uma amizade que ainda hoje perdura nos descendentes.

A Família Madruga, de São João do Pico, distinguiu-se sempre pela sua conduta irrepreensível, pela sua tenacidade e de uma maneira notável pelo saber estar na vida. Todos eles inteligentes, persistentes e mestres em todas as artes que entendiam cultivar, formavam um clã especial, admirado e respeitado, sem menosprezar ou afastar amizades, que sempre souberam manter com simpatia e admiração.

Genuíno Madruga está de volta. Espero que em poucos dias o seu “Hemingway” dê entrada no porto das Lajes do Pico, donde partiu há cerca de 22 meses.

Estou a vê-lo partir, velas enfunadas, rumo ao horizonte, onde se foi “escondendo” nas doiradas nuvens de um poente maravilhoso, outrora caminho certo da navegação que, da Europa, partia para as Américas.

Agora esperamo-lo com muito entusiasmo e alegria para lhe tributarmos a homenagem do nosso reconhecimento pelo feito heróico, semelhante àqueles que praticaram os portugueses de Quinhentos e que passaram ao esquecimento. Bem vindo!

20-5-09
(Crónica lida no programa da RDP-Açores - Manhãs de Sábado)

– Ermelindo Avila

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Serviços judiciais

Notas do Meu Cantinho


Há mais de cinquenta anos tratei deste mesmo assunto. Dez anos antes tinha sido extinto, pelo Dec. nº. 37047, o Segundo Julgado Municipal, que havia existido neste concelho.

Uma história algo rocambolesca que deixei em branco, apesar dos enormes prejuízos que causou ao povo do concelho.

Está em curso mais uma reforma judicial, de tantas que tem havido ao longo da existência de Portugal.

Narra a História que nos primeiros séculos de vida portuguesa a Justiça era irregular. Valiam os chamados homens bons que assistiam aos juízes nomeados ou eleitos.

No século XIX existiam ainda os Juízes de fora que administravam a Justiça nos próprios concelhos e presidiam aos Municípios.

Já em 1862 a Câmara havia mandado preparar algumas salas (celas) do Antigo Convento para a instalação do Tribunal que estava prometido. A seguir foi construída a cadeia, nos baixos do mesmo edifício, uma para cada sexo, na zona do rés-do-chão, onde actualmente se encontram instalados os serviços da PSP.

Mas o Tribunal não passou de mera promessa. Mais tarde foi criado, por Decreto de 29 de Dezembro de 1899, o Julgado Municipal, que só veio a ser instalado em 4 de Maio de 1902 sob a presidência do juiz doutor Sebastião d’Ávila Furtado. Foi um acontecimento notável que trouxe a esta Vila diversas individualidades distritais entre elas o Governador Civil, Visconde de Leite Perry. Nem durou três décadas pois, com a revolução de Maio de 1926, o Julgado foi extinto, sendo o Escrivão transferido para a Comarca de Santa Cruz das Flores e o Oficial de Diligências para o Comando da PSP da Horta.

Os arquivos foram recolhidos na Sede da Comarca, no Cais do Pico.

Na Câmara dos Deputados, o deputado Teófilo Ferreira, do distrito da Horta, havia proposto, em longo discurso, a criação de uma comarca de terceira classe na Vila das Lajes, a solicitação da Câmara Municipal, mas nada conseguiu, muito embora um projecto de Lei nº 81 – 1, de 31 de Janeiro de 1880, obtivesse parecer favorável das Comissões de Legislação Civil e Fazenda.

Em 1933 foi o Julgado Municipal das Lajes, restaurado pelo Decreto nº. 19900, e inaugurado solenemente, em 1 de Outubro daquele ano. Ficou instalado nas antigas salas dos Paços do Concelho, que sempre se encontraram aptas a receber os respectivos serviços e dispondo ainda do antigo mobiliário, de natureza especial, da Sala de Audiências.

Porque estava vago o lugar de Conservador de Registo Civil, Juiz nato, presidiu à Sessão de Abertura o Presidente da Câmara de então, Leonardo Xavier de Castro Amorim que, no respectivo discurso, afirmou: “A instalação do Julgado Municipal deste concelho das Lajes do Pico representa a satisfação plena de uma das maiores aspirações dos seus habitantes”.

Presente esteve como Sub-Delegado do Procurador da República, o Doutor Raposo de Oliveira, Advogado na Horta.

Curiosamente, vindo do Continente, encontrava-se nesta Vila o Escrivão nomeado para o Julgado, um tal Barbosa, que aguardava há meses a instalação do Tribunal Municipal...

O Julgado entrou em funcionamento e chegou a ter movimento superior à própria Comarca, que, não só abrangia os concelhos de São Roque e Madalena, como ainda tratavam dos processos, cujos valores excediam a alçada respectiva, muito embora aqui começassem os actos iniciais.

Uma nova Reforma Judicial extinguiu novamente todos os Julgados Municipais do País. Registe-se todavia que, devido a grandes influências políticas de um natural do concelho, residente na capital do País, foi restaurado o Julgado Municipal da Calheta de São Jorge, mas pouco tempo depois voltou a ser extinto.

Com a anunciada reforma judicial parece que algumas Comarcas vão ser extintas. Prevê-se, no entanto, a criação de Juízos de Paz, entidade que já existiu mas acabou por extinguir-se, embora previsto no Estatuto Judiciário. E não era de somenos importância a sua criação.

Pelo que se sabe, através dos meios de comunicação social, a Justiça em Portugal deve ser a Organização mais bem desorganizada, dada a morosidade com que os processos são resolvidos.

Vila das Lajes, Maio 2009

Ermelindo Ávila

domingo, 17 de maio de 2009

SANTO CRISTO

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “...a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus.” É um sentimento intrínseco. Difere de pessoa para pessoa. Cada qual, consequentemente, tem o direito de a praticar livremente, de crer em Deus e nas Três Pessoas da Santíssima Trindade. Crer, pois, no Filho é crer igual e simultaneamente no Pai e no Espírito Santo. Deus é Trino e Uno.

Assim se explica a devoção, particular e pessoal, ao Filho de Deus, Jesus Cristo, sob as mais diversas invocações, mas especialmente aquelas que recordam a Sua Paixão.

Na generalidade, para os Açorianos, quer vivam nestas ilhas, e de um modo afectivo em São Miguel, quer estejam radicados na Diáspora, a grande devoção é tributada ao SANTO CRISTO DOS MILAGES, cuja imagem foi oferecida pelo Papa Paulo III e é venerada no Seu Santuário da Esperança, desde 1541. O mesmo Senhor é também invocado nestas ilhas, em Imagens idênticas que recordam a apresentação do “Ecce Homo” no Pretório de Pilados: - Santo Cristo, na Paróquia da Silveira e na ermida dos Toledos, na Ilha do Pico; Santo Cristo em Santa Cruz da Graciosa; Santo Cristo na Caldeira de S. Jorge e na Praia do Almoxarife, do Faial; ou, ainda, Senhor da Pedra, em Vila Franca do Campo; Senhor Jesus em Santa Cruz das Ribeiras; Senhor Jesus das Preces, na Matriz das Lajes do Pico, além do Santo Cristo da Misericórdia de Angra. No Seu Santuário de São Mateus, venera-se a imagem do Bom Jesus, trazida do Brasil, em 1862 pelo emigrante Francisco Ferreira Goulart; e também nas Paróquia da Calheta de Nesquim e da Criação Velha. Recordem-se igualmente as paróquias de Santa Cruz da Lagoa, em São Miguel; Matriz da Praia da Vitória; Matriz de Santa Cruz da Graciosa; Paróquia de Santa Cruz das Ribeiras; e Matriz de Santa Cruz das Flores.

Como já referi, a devoção ao Santo Cristo dos Milagres está arreigada na alma do Povo Açoriano, em qualquer parte onde se encontre. Isso explica que, no Brasil, há diversos Centros de Culto dedicados ao Bom Jesus. Nos Estados Unidos e no Canada existem paróquias e igrejas cujo titular é o Santo Cristo, e Imagens da mesma invocação em diversas igrejas portuguesas.

Poetas e Prosadores têm produzido excelentes trabalhos, de seus estros brilhantes, como é o caso do recente livro do escritor Daniel de Sá, de temática cristológica.

E dos Poetas só deixo esta quadra:

Santo Cristo! Esperança Bendita!

Do cristão que vos ama e adora

A Minh’alma vagueia aflita

Glória a Cristo na última hora.

E esta outra do hino do Bom Jesus da Calheta de Nesquim:

Viva o Bom Jesus!

Viva o Rei que nos remiu!

Seu Sangue Divino

As portas do céu abriu.

Nestes dias solenes o povo cristão está voltado para o Santuário de Santo Cristo dos Milagres, de Ponta Delgada. Ali, sem respeitos humanos, se ora ao Senhor, implorando graças diversas: a cura de um doente, a solução de um problema familiar, o emprego de um filho ou do marido... E tantos mais!

C á de longe, também nos permitimos endereçar nossas preces ao Senhor do Pretório:

Santo Cristo dos Milagres volvei Vosso olhar de misericórdia para este Mundo em crise; atendei as preces de Vossos filhos e acudi a todos, com a solução dos seus problemas. A saúde dos que sofrem, e, sobretudo, a paz que anda arredia das famílias e da própria sociedade.

Senhor Santo Cristo, tende piedade da humanidade aflicta!

BOAS FESTAS

17 de Maio de 2009

Ermelindo Ávila

(Crónica para o programa da RDP-A Manhãs de Sábado)


sábado, 16 de maio de 2009

TURISMO: O FUTURO

Esgotadas as potencialidades agro-pecuárias e industriais da ilha do Pico, só resta, segundo os economistas, a também indústria do Turismo, única que poderá trazer a esta ilha e à Região divisas estrangeiras.

Julgo que a ilha tem duas actividades que sempre, desde os inícios destas ilhas como terras habitadas, foram exercidas pelas suas populações e delas retiraram os meios de subsistência e sobrevivência. Tornaram, mesmo, os seus habitantes conhecidos como os melhores das restantes ilhas do ARQUIPÉLAGO.

O Padre António Cordeiro, falando do Pico na sua obra “História Insulana”, escreve (pág. 473): “...é tão húmida em seus fundos esta ilha, que seus frutos não necessitam de rega, nem de mais agua os gados, pois dá toda a hortaliça, e muito bela, e há homem que de abóboras recolhe mil e duzentas; e há tão grandes nabos, que chega cada um a meia arroba de peso; e há tanta carneirada, que um só homem dá oitenta carneiros ao dízimo, e cento e trinta pedras de lã; e dá fruta de espinho confessa Frutuoso que é a melhor de todas as Ilhas; e de pêssegos, marmelos, figos, e maçãs é (e com excelência) fertilíssima, como também gados de toda a casta, e vacas, porcos, ovelhas e cabras;...”

O maior fruto, e o mais célebre desta grande ilha do Pico é o seu muito, e excelente vinho, e quantas mil pipas de cada ano, bem se colhe, que da tal ilha se provêm em grande parte as outras ilhas, as armadas, e frotas, que a ela vão, os Estrangeiros que o vão buscar, e muito que vai para o Brasil, e também vem para Portugal...” –

E o mesmo douto historiador diz ainda: “E não só a terra, mas também o seu mar em roda, é muito frutífero, porque além de em todo o circulo ser mar de muito pescado, é de peixes mui selectos e de estima, como de Salmonetes, Escolares e de outros que há em outras ilhas, e muito mais do que se colhem no Fayal, ilha tão vizinha sua...”.

Nem é fruto menos estimável a muita e singular madeira desta ilha.” E refere o Teixo e o Cedro, exportadas especialmente para a ilha Terceira.

Cordeiro, na sua “História Insulana”, da era setecentista, não fala em peixes monstros, como Frutuoso. Estes viriam mais tarde, como é o caso da baleia, cuja exploração da sua caça apenas durou um século...Não refere igualmente a fabricação do queijo que depois viria a tornar-se um dos produtos mais excelentes e célebres da ilha. O afamado “Queijo do Pico”!.

Segundo o Dr. Manuel Alexandre Madruga, na Monografia sobre a freguesia de São João, o queijo do Pico é fabricado na ilha, mas principalmente naquela freguesia, desde remotas eras. Todavia, o seu fabrico, só veio a ser regulamentado pelo Decreto nº 19 669, de 30 de Abril de 1931, quando era Ministro da Agricultura o picoense, Coronel Henrique Linhares de Andrade.

Presentemente a ilha do Pico dispõe de duas unidades industriais ligadas à agro-pecuária: a fábrica de lacticínios do Mistério (Picolaze) e o matadouro industrial. Aqui refira-se que já em 1932 era publicado, no Boletim do Ministério da Agricultura, (Ano XIII, Nasal a 4), um estudo sobre a “Agricultura no Distrito da Horta”, dos Engenheiros José Augusto Fragoso e Jácome de Ornelas Bruges e do Médico-veterinário Joaquim Tiago Ferreira, no qual se preconizava que era “indispensável um matadouro industrial para abater o gado dos grupos central e oriental, destinado ao mercado de Lisboa, economizando-se assim a favor das ilhas uma verba anual importantíssima com as despesas de transporte para o Continente,...”

Não escrevo que o Matadouro chegou tarde, como aconteceu, mas, antes, que ele ainda não tem a actividade desejada para que a Lavoura se desenvolva satisfatoriamente.

Todavia, todas essas actividades, mercê de circunstâncias várias, estão a ser ultrapassadas. Urge, pois, que outras actividades se instalem convenientemente, para que se possibilite o desenvolvimento da ilha e se faculte mão-de-obra à juventude, não só àquela que ainda por cá anda mas principalmente para aqueles jovens que saíram da Ilha e cá ainda não voltaram por carência de emprego.

É por isso indispensável desenvolver a industria de Turismo, alargando-a aos mais diversos sectores sociais. O que existe na ilha é precário e limitado. O Turismo não é somente a oferta de camas, e estas são necessárias, mas, igualmente, outras actividades – e volto a falar no Campo de Golfe que tarda em chegar – que sejam aliciantes para aqueles que venham a escolher a Ilha para repouso ou lazer, ou mesmo para aqueles outros que aqui chegam nos meses de Verão para vigiar baleias – Whale Watching – como já acontece.

Retardar é permitir que outros avancem e ocupem o lugar que à Ilha pertence!.


Vila das Lajes,

24 de Abril de 2009

Ermelindo Ávila

terça-feira, 12 de maio de 2009

Estudantes em férias

A Minha Nota


Estão a chegar as férias escolares. Este mês os alunos do Ensino Superior cumpriram a praxe da chamada “Queima das Fitas”.

É um dia que, quase de natureza oficial, se dão por terminados os cursos escolhidos e, quer se queira quer não, se pensa no futuro. Um dia de despedida da escola, dos professores e dos colegas. Acontece que alguns nunca mais se encontram. Outros dão começo a uma vida nova, quase sempre a dois, mas que, terminadas as efervescências da juventude, por vezes acaba ingloriamente. Não acontecerá com todos mas, infelizmente, com alguns...

Contava-me certo licenciado – aqui há umas dezenas de anos - que, no dia que acabou o seu curso de Direito chegou a casa radiante, esperando uma manifestação de regozijo e alegria da parte do Pai, quando a este disse: Meu Pai terminei o meu Curso. O Pai escutou-o muito calmo e respondeu-lhe: Muito bem, meu Filho. Até aqui tiveste Pai que providenciou pela tua vida e pelos teus estudos. Agora trata de ti. E dizia-me o doutor V.:- “Nunca havia pensado nisso. Foi o dia mais triste da minha vida!”

Com certeza que situações destas não acontecem presentemente. Os tempos são outros e os Pais procuram acompanhar os filhos, em todas as circunstâncias da vida consoante as suas possibilidade

Em breves dias os estudantes estarão nas suas terras, para passarem as férias junto das famílias, que os recebem sempre saudade e muito carinho, embora algo preocupadas com o futuro dos seus meninos. É natural.

Mas há que pensar a sério no futuro.

As populações vão envelhecendo. Por estas lados a juventude quase desapareceu, em razão de factores vários: Uns acompanharam os pais emigrantes e emigraram também. Outros migraram para o continente português ou para outras ilhas, onde é mais fácil encontrar emprego.

Alguns foram até às Universidades e, concluídos os cursos, por lá ficam.

Poucos pensarão nas terras de origem, E é pena pois todas as terras desejam ver os seus filhos junto de si. Há deles imensa Necessidade. São os jovens que substituirão os velhos nas suas tarefas. São eles que ocuparão os lugares que vão ficando vagos... São eles e não outros, que hão-de promover as próprias terras natais, já pensando em projectos que, uma vez postos em execução, poderão ser capazes de proporcionarem emprego para outros jovens e desenvolverão os meios ambientes com iniciativas promissoras e progressivas.

Que venham os nossos jovens estudantes. Que gozem com alegria umas boas férias e que consigam um futuro repleto de felicidades, bem-estar social, familiar e cultural, são os votos sinceros a amigos que aqui lhes deixo.


Vila das Lajes, 4 de Maio de 2009

Ermelindo Ávila

sábado, 9 de maio de 2009

TRANSPORTES DE OUTRAS ERAS

NOTAS DO MEU CANTINHO


...e não muito distantes. A primeira metade do século passado (século XX) foi uma das mais ricas em transportes marítimos.

De quinze em quinze dias vinham de Lisboa os paquetes “Lima” e “Carvalho Araújo” – antes foram o “Funchal” e o “São Miguel”, que percorriam todos os portos das Ilha, alguns alternadamente. Traziam a mercadoria para o comercial e aqui, pelo menos no Pico, carregavam gado vivo, para ser abatido no continente, queijos e manteiga, e outros produtos regionais. A mala, incluindo os jornais e outras publicações do continente e das Ilhas também aqui chegavam de quinze em quinze dias, uma vez pelas Lajes e outra por São Roque. Mas a demora dos navios nos portos permitia, normalmente, que se dessem as respostas no mesmo barco. A menos nos meses de inverno, quando o tempo não permitia que os navios escalassem os portos do itinerário estabelecido.

Com a velocidade que tudo atingiu, naturalmente que hoje esse sistema de transportes seria obsoleto. Mas era garantido.

No verão, apesar do tempo permitir o normal percurso dos barcos da Insulana, como era conhecida a Empresa Insulana de Navegação, os picoenses dispunham de outro sistema de transportes, mais rudimentar, menos cómodo, mas igualmente regular. Eram os barcos do Pico, como eram conhecidos nas Ilhas dos Grupos Central e Oriental (do Faial a S. Miguel). Levavam e traziam carga e por vezes mala do correio e passageiros, estes em condições mais precárias, principalmente quando se dirigiam a S. Miguel, pois a viagem durava uma noite entre aquela ilha e a ilha Terceira.

Iniciavam as viagens no mês de Maio-Junho e terminavam em Outubro.

“Espírito Santo” era nome muito antigo, usado pelos iates da ilha Graciosa. Aqui também houve um “Espírito Santo” que desapareceu no ciclone de Agosto de 1893, segundo nos narra Francisco Borba no seu trabalho O Espírito Santo / As vidas e um barco publicado no “Boletim do Museu Etnográfico da Graciosa”, (Nºs 5 ,Janeiro de 1993). Estavam ancorados na Lagoa e o Iate S. João Baptista, o caiaque Espírito Santo e o barco Bom Jesus. Foi no Espírito Santo que perdeu a vida o jovem de vinte anos Manuel Machado, cujo corpo não mais apareceu.

Com a substituição dos navios “Lima” e “ Carvalho Araújo” pelo transatlântico “Funchal”, (mais tarde substituído pelo “Angra”) que só passou a escalar os portos de Ponta Delgada, Angra e Horta, apareceram os navios “Cedros” e “Arnel”, que o povo passou a denominar “os Carvalhinhos”. Tiveram vida efémera. O “Arnel” naufragou na Ilha de Santa Maria e o “Cedros” foi cedido para a Madeira. Apareceu, depois, um barco de maior porte que os Carvalhinhos, o “Ponta Delgada”, que também saiu para o Continente. Os iates do Pico foram proibidos de navegar até S. Miguel e, mercê de determinação governamental que limitou o percurso somente até à Ilha Terceira, acabaram por desaparecer. Afinal uma história triste que bastante abalou a economia picoense. O “Andorinha” foi vendido para Ponta Delgada e acabou seus dias na doca daquela cidade destruído pelo temporal de 4 de Outubro de 1947. O “Ribeirense”, transformado em traineira da pesca da albacora, também terminou na mesma doca, então com a denominação de “Mareante”, nome do seu novo proprietário. O “Terra Alta” definhou-se no porto da Madalena...E, dos outros mais, não sei do seu fim, com certeza inglório.

Afinal, os grandes prejudicados acabaram por ser os picoenses, porque, privados de um meio de transporte económica e a servi-los atempadamente.

Vieram os aviões. A SATA percorre diariamente ( quando os ventos permitem...)todas as ilhas, mas as tarifas são tão elevadas que ninguém se dá ao luxo de viajar por prazer. Normalmente em casos de doença ou motivos fortes que a isso obriguem.

Não faço aqui a história dos nossos “Barcos do Pico”. Ela é longa e heróica. Vem de séculos, com os iates à vela. Merece por isso melhor e mais amplo tratamento. Aqui deixo somente pálida lembrança dessas “Andorinhas” de Mar, como se lhes chamou um poeta açoriano.

Uma lembrança que quer ser uma homenagem devida a quantos tiveram a coragem de andar sobra frágeis quilhas, por essas águas salgadas, numa prestação de serviços nunca agradecidos como bem mereciam principalmente os mestres José de Macedo Gaspar e João Silveira Alves, sem esquecer tantos outros que foram servidores dedicados dos povos destas ilhas.

Vila das Lajes, 16 de Abril de 2009

Ermelindo Ávila