Julgo que a ilha tem duas actividades que sempre, desde os inícios destas ilhas como terras habitadas, foram exercidas pelas suas populações e delas retiraram os meios de subsistência e sobrevivência. Tornaram, mesmo, os seus habitantes conhecidos como os melhores das restantes ilhas do ARQUIPÉLAGO.
O Padre António Cordeiro, falando do Pico na sua obra “História Insulana”, escreve (pág. 473): “...é tão húmida em seus fundos esta ilha, que seus frutos não necessitam de rega, nem de mais agua os gados, pois dá toda a hortaliça, e muito bela, e há homem que de abóboras recolhe mil e duzentas; e há tão grandes nabos, que chega cada um a meia arroba de peso; e há tanta carneirada, que um só homem dá oitenta carneiros ao dízimo, e cento e trinta pedras de lã; e dá fruta de espinho confessa Frutuoso que é a melhor de todas as Ilhas; e de pêssegos, marmelos, figos, e maçãs é (e com excelência) fertilíssima, como também gados de toda a casta, e vacas, porcos, ovelhas e cabras;...”
“O maior fruto, e o mais célebre desta grande ilha do Pico é o seu muito, e excelente vinho, e quantas mil pipas de cada ano, bem se colhe, que da tal ilha se provêm em grande parte as outras ilhas, as armadas, e frotas, que a ela vão, os Estrangeiros que o vão buscar, e muito que vai para o Brasil, e também vem para Portugal...” –
E o mesmo douto historiador diz ainda: “E não só a terra, mas também o seu mar em roda, é muito frutífero, porque além de em todo o circulo ser mar de muito pescado, é de peixes mui selectos e de estima, como de Salmonetes, Escolares e de outros que há em outras ilhas, e muito mais do que se colhem no Fayal, ilha tão vizinha sua...”.
“Nem é fruto menos estimável a muita e singular madeira desta ilha.” E refere o Teixo e o Cedro, exportadas especialmente para a ilha Terceira.
Cordeiro, na sua “História Insulana”, da era setecentista, não fala em peixes monstros, como Frutuoso. Estes viriam mais tarde, como é o caso da baleia, cuja exploração da sua caça apenas durou um século...Não refere igualmente a fabricação do queijo que depois viria a tornar-se um dos produtos mais excelentes e célebres da ilha. O afamado “Queijo do Pico”!.
Segundo o Dr. Manuel Alexandre Madruga, na Monografia sobre a freguesia de São João, o queijo do Pico é fabricado na ilha, mas principalmente naquela freguesia, desde remotas eras. Todavia, o seu fabrico, só veio a ser regulamentado pelo Decreto nº 19 669, de 30 de Abril de 1931, quando era Ministro da Agricultura o picoense, Coronel Henrique Linhares de Andrade.
Presentemente a ilha do Pico dispõe de duas unidades industriais ligadas à agro-pecuária: a fábrica de lacticínios do Mistério (Picolaze) e o matadouro industrial. Aqui refira-se que já em 1932 era publicado, no Boletim do Ministério da Agricultura, (Ano XIII, Nasal a 4), um estudo sobre a “Agricultura no Distrito da Horta”, dos Engenheiros José Augusto Fragoso e Jácome de Ornelas Bruges e do Médico-veterinário Joaquim Tiago Ferreira, no qual se preconizava que era “indispensável um matadouro industrial para abater o gado dos grupos central e oriental, destinado ao mercado de Lisboa, economizando-se assim a favor das ilhas uma verba anual importantíssima com as despesas de transporte para o Continente,...”
Não escrevo que o Matadouro chegou tarde, como aconteceu, mas, antes, que ele ainda não tem a actividade desejada para que a Lavoura se desenvolva satisfatoriamente.
Todavia, todas essas actividades, mercê de circunstâncias várias, estão a ser ultrapassadas. Urge, pois, que outras actividades se instalem convenientemente, para que se possibilite o desenvolvimento da ilha e se faculte mão-de-obra à juventude, não só àquela que ainda por cá anda mas principalmente para aqueles jovens que saíram da Ilha e cá ainda não voltaram por carência de emprego.
É por isso indispensável desenvolver a industria de Turismo, alargando-a aos mais diversos sectores sociais. O que existe na ilha é precário e limitado. O Turismo não é somente a oferta de camas, e estas são necessárias, mas, igualmente, outras actividades – e volto a falar no Campo de Golfe que tarda em chegar – que sejam aliciantes para aqueles que venham a escolher a Ilha para repouso ou lazer, ou mesmo para aqueles outros que aqui chegam nos meses de Verão para vigiar baleias – Whale Watching – como já acontece.
Retardar é permitir que outros avancem e ocupem o lugar que à Ilha pertence!.
Vila das Lajes,
24 de Abril de 2009
Ermelindo Ávila
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