NOTAS DO MEU CANTINHO
Capelas ou copeiras dos Impérios, onde
se realizam as festividades do Divino Espírito Santo. Elas proliferam por toda
a ilha, como aliás, por todas as ilhas açorianas.
Em ocasiões de calamidade – sismos ou
temporais – que destruíram ou danificaram bastante as respectivas igrejas, era
nessas pequenas capelas que se celebravam os actos do culto, enquanto a igreja
não era restaurada. Foi o caso da actual paróquia da Silveira, então curato,
quando em 1925, se deu o terrível
incêndio da respectiva igreja, que até derreteu a pedra, o vidro das janelas e
a telha do tecto, os actos do culto passaram a ser na capela do Espírito Santo
que data de 1720, ano em que se deu a última crise sísmica que assolou a ilha do
Pico.
Algumas dessas capelas são de excelente
construção, merecendo das respectivas Irmandades um cuidado extremo. Como é o
caso da capela da Ribeira do Meio, diariamente iluminada, e cujo adro que a
circunda é praticamente o centro de reunião dos
vizinhos.
Quem der uma volta à Ilha vai encontrar
umas dezenas de capelas ou copeiras, dedicadas à Terceira Pessoa da Santíssima
Trindade. Mas elas existem em todos os lugares habitados, onde anualmente se
realizam os Impérios do Espírito Santo: lugares, vilas e cidades. É, v.g., o
caso do Império dos Nobres, na Horta, ou dos “Quatro Cantos”, em Angra. Creio
em Ponta Delgada também existirem capelas congéneres.
Não
faço referência aos Impérios da ilha do Pico, - referir os de todas as ilhas
seria um trabalho exaustivo - porque esse levantamento vem sendo feito com
muito acerto pelo “Jornal do Pico”, que já realizou um trabalho excelente.
Vários têm sido os estudos realizados
sobre a devoção do Espírito Santo, ou da Terceira Pessoa da Santíssima
Trindade, por muitos estudiosos e eruditos escritores açorianos, devendo pôr em
merecido destaque, porque me parece único,
a tese de doutoramento do Revmo Vigário Geral da Diocese de Angra, Cónego
Doutor Hélder Fonseca Mendes, “Do Espírito Santo à Trindade” que, na opinião do
falecido Doutor Costa Garcia, foi do melhor que se publicou em Portugal sobre a
devoção ao Espírito Santo.
Depois de descrever as cerimónias
festivas, diz o erudito Autor: “Vemos nos
Açores as marcas de uma religião inculturada, corporal, sentimental, activa,
participativa, de autogestão, com apreço pelas raízes e pela história, pela
consciência de pertença, pela ligação unitária à cultura, rica de gestos, capaz
de criar hábitos e costumes, que privilegia o dom e a alegria sobre a
penitência e o sacrifício, pelos relatos que se contam e pela iniciação aos
mais novos, pela capacidade de fazer festa, pela gratuidade, pela igualdade
entre todos, pela atenção ao pobre que naquele dia é sacramentalmente
incensado, pela densidade simbólica, pelas relações próximas e afectivas, pela
abundância partilhada, pela admiração e reconhecimento do sagrado.(1)
Os impérios ou capelas do Espírito Santo estendem-se por todas as
ilhas.
A vila das Lajes possuiu um em madeira,
que não teve duração de muitos anos. Ainda se encontram fotos que o localizam
em frente da Matriz, então em construção. Deve ter sido levantado depois da
cisão havida no princípio do século
passado entre os irmãos da Ribeira do Meio e da Vila. Fora combinado na
Irmandade que o Império do Domingo, em vez de se fazer no adro de São Francisco
(os serviços paroquiais já funcionavam na Igreja do Convento) por ser acanhado,
deveria passar a realizar-se no Meio da Vila. Todos concordaram, mas o certo é
que, terminada a Missa, os irmãos da Ribeira do Meio, em vez de se dirigirem
com os restantes para a Vila, encaminharam-se todos para a Ribeira do Meio e
foram fazer o seu Império no cruzamento das ruas da Almagreira, S. Sebastião e
Estrada nacional.
Na freguesia da Piedade a primitiva
capela, depois de abandonada em razão dum corte dos álamos, passou a uso
particular e foi demolida com o alargamento da rua que parte do “Império”, como
ainda se denomina, para o Calhau.
Setembro
2015
Ermelindo
Ávila
1)
Mendes, Hélder F. , Do Espírito Santo à
Trindade