domingo, 17 de julho de 2016

CAPELAS DO ESPÍRITO SANTO

NOTAS DO MEU CANTINHO


         Capelas ou copeiras dos Impérios, onde se realizam as festividades do Divino Espírito Santo. Elas proliferam por toda a ilha, como aliás, por todas as ilhas açorianas.
         Em ocasiões de calamidade – sismos ou temporais – que destruíram ou danificaram bastante as respectivas igrejas, era nessas pequenas capelas que se celebravam os actos do culto, enquanto a igreja não era restaurada. Foi o caso da actual paróquia da Silveira, então curato, quando em 1925,  se deu o terrível incêndio da respectiva igreja, que até derreteu a pedra, o vidro das janelas e a telha do tecto, os actos do culto passaram a ser na capela do Espírito Santo que data de 1720, ano em que se deu a última crise sísmica que assolou a ilha do Pico.
         Algumas dessas capelas são de excelente construção, merecendo das respectivas Irmandades um cuidado extremo. Como é o caso da capela da Ribeira do Meio, diariamente iluminada, e cujo adro que a circunda é praticamente o centro de reunião dos  vizinhos.
         Quem der uma volta à Ilha vai encontrar umas dezenas de capelas ou copeiras, dedicadas à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Mas elas existem em todos os lugares habitados, onde anualmente se realizam os Impérios do Espírito Santo: lugares, vilas e cidades. É, v.g., o caso do Império dos Nobres, na Horta, ou dos “Quatro Cantos”, em Angra. Creio em Ponta Delgada também existirem capelas congéneres.
         Não faço referência aos Impérios da ilha do Pico, - referir os de todas as ilhas seria um trabalho exaustivo - porque esse levantamento vem sendo feito com muito acerto pelo “Jornal do Pico”, que já realizou um trabalho excelente.
         Vários têm sido os estudos realizados sobre a devoção do Espírito Santo, ou da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, por muitos estudiosos e eruditos escritores açorianos, devendo pôr em merecido destaque, porque me parece único, a tese de doutoramento do Revmo Vigário Geral da Diocese de Angra, Cónego Doutor Hélder Fonseca Mendes, “Do Espírito Santo à Trindade” que, na opinião do falecido Doutor Costa Garcia, foi do melhor que se publicou em Portugal sobre a devoção ao Espírito Santo.
         Depois de descrever as cerimónias festivas, diz o erudito Autor: “Vemos nos Açores as marcas de uma religião inculturada, corporal, sentimental, activa, participativa, de autogestão, com apreço pelas raízes e pela história, pela consciência de pertença, pela ligação unitária à cultura, rica de gestos, capaz de criar hábitos e costumes, que privilegia o dom e a alegria sobre a penitência e o sacrifício, pelos relatos que se contam e pela iniciação aos mais novos, pela capacidade de fazer festa, pela gratuidade, pela igualdade entre todos, pela atenção ao pobre que naquele dia é sacramentalmente incensado, pela densidade simbólica, pelas relações próximas e afectivas, pela abundância partilhada, pela admiração e reconhecimento do sagrado.(1) 
         Os impérios ou capelas  do Espírito Santo estendem-se por todas as ilhas.
         A vila das Lajes possuiu um em madeira, que não teve duração de muitos anos. Ainda se encontram fotos que o localizam em frente da Matriz, então em construção. Deve ter sido levantado depois da cisão  havida no princípio do século passado entre os irmãos da Ribeira do Meio e da Vila. Fora combinado na Irmandade que o Império do Domingo, em vez de se fazer no adro de São Francisco (os serviços paroquiais já funcionavam na Igreja do Convento) por ser acanhado, deveria passar a realizar-se no Meio da Vila. Todos concordaram, mas o certo é que, terminada a Missa, os irmãos da Ribeira do Meio, em vez de se dirigirem com os restantes para a Vila, encaminharam-se todos para a Ribeira do Meio e foram fazer o seu Império no cruzamento das ruas da Almagreira, S. Sebastião e Estrada nacional.
         Na freguesia da Piedade a primitiva capela, depois de abandonada em razão dum corte dos álamos, passou a uso particular e foi demolida com o alargamento da rua que parte do “Império”, como ainda se denomina, para o Calhau.  


Setembro 2015
Ermelindo Ávila




1) Mendes, Hélder F. , Do Espírito Santo à Trindade                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             

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