NOTAS DO MEU CANTINHO
Bem amarga foi a notícia que recebi, do
falecimento do notável Bispo Dom Arquimínio Rodrigues da Costa, Prelado Emérito
de Macau, e distinto picoense.
Afinal, com o seu falecimento, fecha-se
o ciclo honroso dos Bispos Picoenses que estiveram à frente da Diocese do
antigo Padroado Português do Oriente, como era conhecido.
Os católicos macaenses jamais o poderão
esquecer, pois foi notável a sua acção missionária desenvolvida na antiga
Cidade do Santo Nome de Deus.
Como
aluno do Seminário, desde 8 de Dezembro de 1938, revelou-se sempre estudante,
sacerdote, professor e Bispo de invulgares qualidades e excepcionais dotes
intelectuais. Escrevi um dia o que um seu antigo professor, Mons. Teixeira me
disse no distante de 1992, e repito: ”o
melhor aluno do seu curso!” Era Licenciado em Direito Canónico pela
Universidade Gregoriana de Roma.

O Governo Português, ciente do Seu
valor e da Obra realizada, em diversos domínios, agraciou Dom Arquimínio, com o
grau de Grande Oficial da Ordem de Benemerência, em 1984, e com a Grã-Cruz da
Ordem de Mérito, em 1988.
Em 13 de Setembro de 1986, a Universidade da Ásia
Oriental de Macau concedeu-lhe o título de Doutor “Honoris Causa” em Filosofia.
Recolheu-se no Pico, em casa de familiares, mas estava
sempre disponível para prestar qualquer serviço, mesmo que fosse de simples padre,
como aconteceu durante muito tempo no curato de Santa Margarida, na freguesia
vizinha de São Caetano, onde Dom Arquimínio se deslocava todas as semanas para
celebrar a Missa Dominical e, antes, ensaiar a respectiva capela que executava
os cantos litúrgicos. Na própria freguesia de São Mateus, sua paróquia, substituía
o organista durante os actos litúrgicos, numa disponibilidade impressionante.
Mas não só. Sempre que o Prelado Diocesano estava
impedido de ir a qualquer Paróquia delegava em D. Arquimínio as respectivas
funções, que ele jamais recusava. E foi assim que foi o Bispo Sagrante da
Matriz da Santíssima Trindade das Lajes e, em várias paróquias, ministrou o
Sacramento do Crisma. Mas uma particularidade há a registar: a sua presença nas
festas principais das paróquias picoenses, onde presidia às Concelebrações e,
várias vezes, tinha a missão da Proclamação da Palavra. Entretanto, um dia
recolheu-se a casa. A doença atingiu-o dolorosamente e manteve-o no leite
alguns anos, sofrendo sem nunca o revelar. Era um santo, na prática e no
exemplo de fé que nos legou.
Dom Arquimínio, além das elevadas
Funções Prelatícias, era um intelectual, orador, escritor e poeta. Não publicou
livros mas o que nos deixou e a Imprensa arquivou revela, na realidade, a Sua
invulgar inteligência e cultura.
A quase totalidade do que escreveu –
pastorais e outros escritos – foi recolhida, felizmente, pelo Pe. Tomás
Bettencourt, no volume “Textos de D. Arquimínio Rodrigues da Costa. Bispo de
Macau” devendo salientar-se um notável trabalho, arquivado no mesmo volume e
que havia sido publicado no jornal “O Dever”: - “Questões Actuais -75 perguntas
e 75 respostas” que principia por “A
religião diminui nas pessoas a capacidade de lutar pelos seus direitos?”
Ao Cardeal Dom José da Costa Nunes, seu antigo Bispo,
dedicou alguns sonetos. Só este a revelar o estro poético do já saudoso Dom
Arquimínio:
Pérola do Oriente! Doce estância!
/ Como passaram céleres os dias/
Em que a meus olhos, meiga, tu
sorrias / Revestida de luz e fulgurância
Parti... Mas a beleza que
irradias, / Venceu dos horizontes a distância:
Seguiu-me tua mágica
fragância / E, ao longe, tu presente em mim vivias
E agora, que de novo te contemplo, / A meus
olhos refulges como um templo/
Onde, ajoelhada, reza e canta a História...
Transponho teus umbrais e fico ouvindo/ O
passado ao presente repetindo /
O hino triunfal da tua glória...
(Macau, Dezembro de 1964) (1)
Com o desaparecimento de Dom Arquimínio
Rodrigues da Costa, aos noventa e dois anos – sessenta e seis de sacerdócio, e
destes quarenta como Bispo – a Igreja sofre um rude golpe e a sua terra natal
fica mais empobrecida de valores.
Nestas singelas palavras, escritas com
muito respeito e admiração indizível, presto humilde homenagem a um dos grandes
Senhores da Igreja e da Pátria Portuguesa.
21
de Setº de 2016
Ermelindo
Ávila.
__________
1) Textos de D.
Arquimínio Rodrigues da Costa , 1999, Coordenação de Pe. Tomás Bettencourt
Cardoso, pág. 464.
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