quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FOI-SE O CARNAVAL...


NOTAS DO MEU CANTINHO


.. e voltou a Quaresma. Para os católicos é um tempo forte de oração e de penitência. Prepara a Ressurreição do Senhor. Mas não a penitência dos cilícios e de outros actos de martirização física. Há muitas formas de praticar a penitência. Até com a língua...

Mas, mesmo assim, não quero ficar pelas penitências quaresmais que outrora eram representadas pela abstinências de carnes, de divertimentos e de outras mais do foro íntimo de cada pessoa. É natural que ainda haja quem pratique esses actos ou gestos de renúncia. Se não existissem santos já o mundo teria acabado! Mas eles, os santos, aí andam. Com certeza que nos cruzamos com eles no dia-a-dia da nossa vida. E é o que vale.

Foi-se o Carnaval ou Entrudo. Por cá não foi de estrondo, que eu saiba. Apenas alguns ajuntamentos ou bailes nas sociedades recreativas, encontros nas boites e um ou outro engraçado, mascarado pelas ruas.

Em anos passados tudo era diferente. O Carnaval vivia-se mais nas próprias casas, em ceias melhoradas, onde não faltavam as filhós e as malassadas, que reuniam as próprias famílias e alguns amigos mais íntimos. Depois, vieram, a meados do século passado, os bailes nas sociedades recreativas que, mesmo assim, não eram muitos. E aí eram ainda as famílias dos sócios que se juntavam, recebendo prazenteiramente alguns amigos, vindos de outras vilas e freguesias, que a ninguém se recusava a entrada. Mais tarde foram aparecendo os chamados “conjuntos musicais”, a substituir a antiga viola da terra ou a guitarra e o bandolim, instrumentos de corda que antes se usavam, ou os pianos de algumas casas particulares.

Agora são as boites que estão na moda. Durante a época carnavalesca os jovens combinam viagens para terras distantes a passar as noites nas tertúlias carnavalescas. Regressam a casa ao nascer do Sol e o dia é para o descanso das noitadas perdidas

Antes, os folguedos do Carnaval terminavam à meia-noite –nem mais um minuto – da terça-feira, pois, o dia seguinte - quarta-feira de cinzas - já era Quaresma. E, na generalidade, todos cumpriam. Havia que respeitar a tradição religiosa e não só...

Agora nem disso se faz caso. Os dias e as semanas são iguais e qualquer deles serve para o divertimento

Nas igrejas paroquiais, como ainda agora, celebravam-se as cerimónias de cinzas. Eram e são um sinal de penitência na abertura do tempo quaresmal, ou seja dos quarenta dias que antecedem as comemorações da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo . (Estou escrevendo para um jornal católico e por isso estou à-vontade para assim emitir o meu sentir.)

Apenas uma diversão era própria da Quaresma, o Bela-mente.

Durante o tempo quaresmal tinha lugar, aos Domingos à tarde, a Via-Sacra solene, na Matriz, quando não tinham lugar as procissões próprias do tempo: Penitência e Passos. Ainda há três oratórios públicos, ou Passos, na ruas da Vila. Na freguesia da Piedade conheço ainda um, se bem que haja os sítios dos “Passos Velhos” e “Passos Novos.”

A Procissão de Penitência realizava-se no primeiro domingo de Quaresma com as imagens (de roca) de São Francisco de Assis, Santa Isabel, Rainha da Hungria, Santo Elisiário e Santa Delfina (os Bem – casados, como dizia o povo, e por isso seguiam num único andor) e o Senhor Amarrado à Coluna.

A de Passos era promovida pela Santa Casa da Misericórdia e, normalmente, tinha lugar no terceiro domingo.

Foi numa procissão de Penitência que saiu pela primeira vez – a 14 de Fevereiro de 1864 – a Filarmónica Lajense que, em 1910, passou a denominar-se Filarmónica Liberdade Lajense, ao gosto da época, verdadeira relíquia do nosso passado.

Vila das Lajes,

13 de Fevereiro de 2010

Ermelindo Ávila

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Quaresma


Estamos na Quaresma. Um tempo forte de vida religiosa. Outrora, nestas semanas que antecedem a Páscoa, as pessoas trajavam de escuro em sinal de penitência. Tinham refeição frugais e esqueciam os divertimentos.

A Igreja aproveitava para conduzir os cristãos ao cumprimento de um dos Mandamentos: Confessar-se ao menos uma vez por ano. Era nos tempos, não muito distantes, em que os cristãos procuravam ser fieis às práticas religiosas vindas de seus antepassados.

Para o cumprimento desse preceito estabeleciam-se “quartéis”. A Paróquia, que nos finais do século dezanove, contava mais de três mil habitantes, era assim dividida, para que as respectivas famílias pudessem, no dia que lhes era destinado, abster-se dos trabalhos rurais e vir ao templo cumprir o preceito. Folheando os roteiros paroquiais da época, num dos anos, por exemplo o de 1884 não encontramos um só faltoso. E a população, nesse ano, era de 3264 indivíduos.

Nos domingos de quaresma realizavam-se, no primeiro a Procissão de Penitência e no terceiro a Procissão de Passos.

Nos restantes, à tarde, era a Via-Sacra solene e com larga afluência de fieis.

Hoje, como disse, é tudo diferente. Nem as missas dominicais têm horário fixo. Em um ou outro, a Eucaristia é transferida para o sábado à tarde. E tudo isso aceitam, os cristãos porque, no concelho, há somente dois sacerdotes com residência fixa, embora fora da sede, ao contrário dos outros concelhos da Ilha. Pois se até as duas mais antigas Ouvidorias foram incompreensivelmente extintas passando a existir somente e com certa pompa, a Ouvidoria da Ilha. E tudo isto acontece na segunda maior ilha da Região! Todavia o concelho têm oito paróquias e cinco ermidas ou centros de culto onde é, com algumas interrupções, celebrada a Missa dominical.

Em certa ocasião encontrava-me no continente e tive de me deslocar num domingo, para outra localidade distante. À hora em que parti para a viagem ainda não tinha possibilidade de assistir à Missa. Informaram-me que não me preocupasse porque no decurso da viagem ia encontrar alguma igreja onde se celebrasse a Eucaristia. E assim aconteceu. No princípio de cada paróquia, num grande placar encontrava-se o horário permanente das missas dominicais. E informaram-me que aqueles horários eram inalteráveis.

Por cá não há essa tradição... Infelizmente.

Mas, não vale a pena continuar. Fico por aqui, com respeito cristão pelo que vai acontecendo.

Bom dia!

(MANHÃS DE SÁBADO 20/ 2/ 2010)

Vila das Lajes

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA NAS ILHAS AÇORIANAS

Foi sempre muito praticada pelo povo açoriano a devoção à Virgem. Como povo católico que é, na generalidade, pode mesmo dizer-se que era e é a sua principal devoção. Há alguns que se dizem agnósticos ou ateus, ao sabor da época que atravessamos, pois é mais elegante, mas, mesmo assim, pouco representam.

É ver o que são as solenidades da Virgem nas diversas Ilhas dos Açores, a par daquelas que são dedicadas ao Santo Cristo dos Milagres, em S. Miguel, ou do Bom Jesus, em S. Mateus do Pico, para não trazer à colação outras festividades que em todas as ilhas se realizam e que os crentes, ou mesmo os não crentes, praticam, as que atraem muitos devotos.

Na realidade, são as festas religiosas que por essas ilhas todas têm mais expressão. Basta verificar que, as chamadas festas de verão, ou actualmente as “Semanas”, têm nos programas, mais ou menos em evidência, uma procissão à Virgem ou a um santo de particular devoção. É ter presente a “Semana do Mar” com a festa de Nossa Senhora da Guia, ou as “Sanjoaninas” em Angra, com o S. João por patrono.

Por cá não se faz excepção. Em 1880 houve na Matriz das Lajes 107 baptismos, tendo sido invocada Nossa Senhora do Rosário para Madrinha de 55 crianças; e, em 1883, ano em que foi entronizada a Imagem de Nossa Senhora de Lourdes, das 84 crianças baptizadas, para 32 foi invocada Nossa Senhora do Rosário

e para 33 Nossa Senhora de Lourdes. E já no ano seguinte Nossa Senhora de Lourdes foi invocada para Madrinha de 38 baptizados, enquanto Nossa Senhora do Rosário foi madrinha de 26. Nesse ano e somente da paróquia da Matriz baptizaram-se 82 crianças. A população da Paróquia rondava os 3 mil habitantes.

* * * * * * * * *

A Igreja Católica festejou no passado dia 11 Nossa Senhora de Lourdes, aparecida em igual data do ano de l858 na cidade francesa de Lourdes.

A devoção a Nossa Senhora de Lourdes espalhou-se rapidamente pelos Açores, apesar dos deficientes meios de comunicação da época. No entanto, escreve Mons. António

Maria Ferreira no seu livro “Perfumes de Lourdes”, (1) editado em 1892, que Lajes do Pico “Foi talvez o primeiro lugar dos Açores onde Nossa Senhora de Lourdes começou a ser publicamente invocada, não obstante ser o Faial a primeira Ilha onde foi exposta ao culto a primeira Imagem de Nossa Senhora de Lourdes”. E continua o distinto articulista: Em ocasião aflictiva para os habitantes daquela vila, num desses dias em que o mar enfurecido, parece, na frase dos lajenses, querer engolir a terra, algumas baleeiras tripuladas por intrépidos marinheiros demandavam o porto, lutando corajosamente com as ondas enfurecidas; mas para os de terra havia iminente risco de os verem despedaçar-se nas penedias que tornam perigosíssima a entrada do porto.

E depois acrescenta: “... envolta com os gritos de angústia que de continuo irrompiam de todos os peitos eram repetidamente ouvidas de diferentes pontos da multidão as exclamações: - Nossa Senhora de Lourdes livrai-os do perigo – Nossa Senhora de Lourdes salvai-os”. Milagre ou não, “o facto é que a tempestade serenou, as embarcações entraram a salvo no porto e da tripulação ninguém sofreu o menor dano.

Em 4 de Setembro de 1883 chegava às Lajes a formosa imagem de Nossa Senhora de Lourdes, tendo-se nesse ano, a festa sido realizada no dia 30, último domingo daquele mês Todavia, nos anos seguintes, até hoje, passou a realizar-se no último domingo de Agosto, liturgicamente dedicado ao Coração Imaculado de Maria.

E, segundo o citado Mons. Ferreira, não só na ilha do Pico se espalhou a devoção a Nossa Senhora de Lourdes. Na Ilha Terceira a

primeira imagem foi colocada na igreja na freguesia dos Altares. Depois foi em São Mateus, e São Tiago na Praia da Vitória; e, em 1891, na Sé Catedral.

Na Ilha de São Jorge foi um padre lajense, que ali paroquiava, o Pe. Francisco Xavier de Azevedo e Castro que, na sua paróquia, Santo Antão da Vila do Topo, entronizou a Imagem de Nossa Senhora de Lourdes, no ano de 1884.

Como se disse, na Ilha do Faial a Imagem da Senhora Aparecida na Gruta de Massabielle foi benzida no dia 16 de Setembro de 1883; e na Igreja Matriz daquela ilha, em 22 de Novembro de 1891. Nos Cedros a imagem de Nossa Senhora de Lourdes foi exposta ao culto em 30 de Novembro de 1893.

Na cidade de Ponta Delgada a primeira imagem de Nossa Senhora de Lourdes foi benzida e exposta ao culto na igreja de Nossa Senhora da Esperança no dia 18 de Agosto de 1889. A segunda imagem na igreja das Capelas no dia 9 de Outubro de 1890 e a terceira Imagem na Igreja do Porto Formoso em 12 de Outubro de 1891. Em 8 de Outubro de 1892 foi colocada na igreja do convento de S. Francisco.

Santa Maria honra-se de ter sido a primeira Ilha que, nos Açores, construiu uma capela pública em honra de nossa Senhora de Lourdes inaugurada em Outubro de 1893. A imagem foi benzida na Matriz de Vila do Porto em 25 de Junho e a capela em 22 de Outubro daquele ano.

Interessante registar que, foi tão intensa a popular a devoção à Virgem aparecida na Gruta de Massabielle, que de imediato entrou no cancioneiro popular. É o que nos diz José Carlos no seu livro, “Nossa Senhora de Lourdes na Piedade Açoriana:

Desceste até Lourdes,

ó Mãe de Deus verdadeira

Aparecer a Bernardina,

Confidente mensageira.(2)

_________________________

  1. Ferreira, Presbítero António Maria, Cónego Capitular da Sé, “Perfumes de Lourdes”, edição Tip. “Dois Amigos”, Angra, 1892;

  2. SIMPLÍCIO, José Carlos Vieira, “Nossa Senhora de Lourdes na Piedade Açoriana”, separata do vol. XVII- lº Semestre 1961, da Revista “Insulana”, órgão do I.A.C. de Ponta Delgada.-1963


Vila das Lajes

15 de Fevereiro de 2010

Ermelindo Ávila



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Senhora das Candeias

O Mês de Janeiro é rico em tradições sociais e populares. Já aqui recordei as semanas que antecedem o Carnaval, também já referi as matanças de porto, tradicionais em todas as ilhas. Nas que hoje, por estas bandas vão desaparecendo mercê de circunstâncias várias.

Hoje trago aqui a festa das Candeias, que se realiza no próximo dia 2 de Fevereiro na sua freguesia, a Candelária.

Nesse dia era habitual nas igrejas paroquiais realizar-se antes da Missa, uma procissão de velas, pelo adro da igreja, e se as velas ou círios entravam na igreja acesos era sinal de que teríamos um ano farto de peixe. Mas também esse acto litúrgico desapareceu e, que eu saiba, apenas a freguesia da Candelária celebra a Festa da Padroeira, talvez a sua principal festa litúrgica.

E falando da Candelária, recordo respeitosamente uma figura insigne, dali natural e que, com certeza, é o maior açoriano de todos os tempos, principalmente na vida religiosa e social. Refiro o Cardeal Dom JOSÉ DA COSTA NUNES, nascido naquela freguesia a 15 de Março de 1880, e falecido em Roma em29 de Novembro de 1976.

Aluno do Seminário de Angra, foi para Macau como secretário de Dom João Paulino de Azevedo e Castro, lajense, nomeado Bispo daquela Diocese do Oriente em 1902.

Com o falecimento de Dom João Paulino, em 1918, é nomeado Bispo de Macau, de cuja diocese foi vigário Geral e, depois, Vigário Capitular, muito embora não pertencesse ao respectivo Cabido.

Foi sagrado na Matriz da Horta em 20 de Novembro de 1921 e aí principiou a sua ascensão nobilitante: Bispo de Macau, Arcebispo de Goa e Patriarca das Índias, Vice –Camarlengo da Santa Igreja Romana e, em 19 de Março de 1962 é elevado à púrpura cardinalícia.

Faleceu em Roma no dia 29 de Novembro de 1976, depois de receber a visita do Papa Paulo VI.

Seu corpo foi trasladado para a Igreja Paroquial da Candelária, onde se encontra depositado em capela privada.

E termino esta referência, citando, do testamento espiritual do Cardeal Costa Nunes:

“Entre as poucas obras que saíram das minhas mãos, uma há que me merece cuidado especial: a casa de São José, fundada na terra natal. Quis assim perpetuar a memória de meus saudosos Pais, que tantos exemplos de virtude me deram em toda a sua vida. Quis também beneficiar o povo da Candelária, no meio do qual me orgulho de ter nascido.”


E por aqui me fico.


Bom dia!

Programa Manhãs de Sábado


28-01-2010


Ermelindo Ávila


sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nos 140 anos do DIÁRIO DOS AÇORES


IMPRENSA AÇORIANA

Tenho muito respeito e admiração pela Imprensa. Julgo que é uma das invenções mais brilhantes da humanidade. Por ela se transmitem ideias, as próprias ciências, se cultiva a literatura e se propagam as descobertas científicas.

Processos modernos parece que vão suplantar a imprensa e fazê-la esquecer. Não estou de acordo, pois os jornais e os livros são o meio mais seguro de transmitir a todos, que não somente a um escol, as ideias e os acontecimentos do dia-a-dia.

É por isso que considero o século XIX o mais brilhante no aspecto da cultura literária, principalmente pela divulgação da Imprensa e pela publicação dos inúmeros periódicos, alguns dos quais chegaram a nossos dias e aí estão a exercer com brilho e dedicação a sua actividade formativa e informativa.

Entre esses está o “DIÁRIO DOS AÇORES”, um dos mais antigos jornais portugueses e o segundo açoriano, com o extraordinário mérito de aqui chegar sempre trazido pela mesma família do Fundador Manuel Augusto TAVARES RESENDES.

Em 5 de Fevereiro de 1870, apareceu, na cidade de Ponta Delgada, o “Diário dos Açores”, cuja história é, de facto, brilhante, pela sua acção em prol dos interesses deste arquipélago e, em especial, desta ilha de São Miguel”. Isto nos informa o saudoso jornalista, professor Manuel Jacinto de Andrade no seu magnifico livro “Jornais Centenários dos Açores”- 1994.

Está , pois, “O Diário dos Açores”, a celebrar os cento e quarenta anos de existência. Um acontecimento ímpar que bem merece ser assinalado, não apenas com um número especial, mas com outros feitos promovidos pelos responsáveis políticos e governativos. O “Diário dos Açores” constitui hoje um padrão memorável, onde está arquivada toda a História de São Miguel e dos Açores, igualmente, pois todos os acontecimentos ocorridos durante quase século e meio estão arquivados nas suas páginas.
Estou a colaborar no Diário, como é vulgarmente conhecido, porque um acidente de aviação aconteceu nesta ilha do Pico. Um aviador americano transportava dos Estados Unidos para a Europa um pequeno avião e, julgando estar próximo do aeroporto de Santa Maria, acabou por “aterrar”, durante a noite, na mata do Mistério de Santa Luzia. O certo é que ficou ileso e, no dia seguinte, apareceu na Câmara Municipal da Madalena, onde me encontrava em serviço, a pedir informações. Estávamos na década de sessenta do século passado. Tive com ele os primeiros contactos. Entretanto, a notícia espalhou-se pelo mundo e os telefonemas, com pedidos de informação, não pararam de chegar à minha secretária. Entre eles um do Dr. Manuel Carreiro, Director do “Diário dos Açores” que, durante alguns dias, telefonou a saber pormenores do acontecimento. E, quando o caso estava arrumado, convidou-me para colaborar no seu jornal. E isso aconteceu até à revolução de Abril.

Mais tarde, e com os falecimentos dos irmãos Dr. Manuel e Dr. Carlos Carreiro, assumiu a direcção executiva o excelente e saudoso Amigo J. Silva Júnior que, ao assumir as funções, se lembrou de me convidar para voltar a colaborar. E foi então que, a partir de 1982, para cá voltei e cá me encontro, embora com uma colaboração incipiente e pouco regular.

Mas, para além da modesta colaboração, desde há muitos anos que leio e admiro o “Diário dos Açores”.

A Redacção de “O Dever”, de que fui Editor e redactor, recebia “O Diário”, que o seu Director, o combativo jornalista Pe. Xavier Madruga, lia e admirava, mantendo com os seus Directores, os Irmãos Carreiros, como dizia, relações de simpatia e amizade. E do jornal me falava sempre que algo de interesse, para nós, nele se publicava.

E é por isso tudo, e algo mais que não interessa para aqui trazer, que cá me encontro, enquanto a Direcção e Redacção o entenderem. E, trazendo à liça a Redacção, não possa esquecer a figura carismática do Manuel Jorge que, durante muitos anos, tinha como sua casa a Redacção do Diário, onde sempre o encontrávamos a redigir uma notícia ou reportagem, ou a fazer a revisão cuidada dos linguados, que a Tipografia lhe trazia.

Recordei os falecidos que conheci. Que me desculpem os novos.

Nesta evocação saudosa, presto a minha homenagem respeitosa a quantos foram capazes de trazer até hoje este histórico e benemérito “Diário”, uma relíquia do Passado e um bastão valioso da Imprensa actual.

Longos e frutuosos anos de vida!


Vila das Lajes, Pico,

29 de Janeiro de 2010

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A PRAÇA DA VILA

NOTAS DO MEU CANTINHO

Nos primeiros decénios do século passado, a Praça era o principal lugar da Vila. Ali se realizavam os actos oficiais, os arraiais e outras festas públicas. A entrada da Vila, pelo Norte, era má pois a Ladeira, hoje Rua de São Francisco, encontrava-se no seu estado primitivo, torta e de piso irregular.

As Câmaras de então procuraram resolver o mais razoável possível a precária situação, promovendo a construção dos muros laterais e a pavimentação. Depois foi a construção do antigo “Largo das Casas Velhas” que antes, se limitava ao espaço entre a casa do António Laureano e as velhas casas, onde Edmundo Machado Ávila veio a construir os seus prédios. Traçada assim uma rua, a ligar a antiga rua da Pesqueira com a ladeira de São Francisco, fez-se desaparecer as ruínas da velha casa existente, transformando todo o espaço em largo. E foi aí que a Câmara Municipal, em 1940, mandou construir o actual Cruzeiro, a comemorar o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal.

Com as obras de reconstrução da muralha de defesa da vila, em 1936, procedeu-se ao alargamento do largo da Pesqueira, a permitir uma melhor varagem das canoas baleeiras e barcos de pesca artesanal.

Com a construção do largo do Cruzeiro, que então tomou a denominação de “Largo Vigário Gonçalo de Lemos”, que foi pároco da Matriz desta vila, e a quem Filipe de Castela mandou confiscar os bens por ser partidário de Dom António, Prior do Crato, o movimento da vila passou a centrar-se naquele sítio, fazendo-se ali, a paragem das camionetas da carreira. Ali se realizava o arraial da Festa de Lourdes. Durante muitos anos a população, na época estival, passava as noites, utilizando os bancos que a Câmara mandara instalar ao redor do Cruzeiro.

Mas, como nada se mantém e tudo se modifica, feitos diversos arranjos no sítio onde estava a casa da Pesqueira (que foi recentemente demolida), e as instalações do Whale Watching, hoje é por ali que param os veraneantes e turistas, gozando da brisa marinha e da bela inconfundível vista que a Montanha, em dias de luar, a todos oferece. Realmente, o panorama da Baia das Lajes não tem igual por estes lados...

Dest’arte desapareceu o movimento urbano do antigo “Meio da Vila”. Apenas nele se realiza anualmente o “Império de São Pedro”.

Mas, esta praça tem sua história, porque era ali que estava a antiga Casa da Câmara, cujo local está transformado em largo, bem como as casas que existiam a Sul, pertencentes a Francisco Silva e às irmãs do P. Teodoro, no lado Norte da antiga Matriz, e que foram demolidas, estas pela construção da Matriz nova e a do Silva para alargar o adro em frente. Quando na Horta se procedeu à electrificação da cidade, a respectiva municipalidade ofereceu à Câmara desta Vila, um candeeiro em ferro, com cerca de cinco metros de altura, que foi implantado no meio da praça, e que passou a ser iluminado a petróleo, até que um doente mental destruiu os candeeiros de iluminação da vila. Mais tarde, com a instalação da luz eléctrica, em 1932, o candeeiro foi electrificado mas, com a alteração da iluminação pública, entrou em desuso, sendo depois retirado e “exumado” junto ao muro da orla marítima...

Todavia, há que realçar que é neste largo, antiga praça da vila, que ainda existem os melhores prédios urbanos, que pertenceram aos antigos morgados, à Família Lacerda, ao Comendador Homem da Costa, às Famílias Castros e Machado Soares. Em ruínas está a que pertenceu a João Pereira de Lacerda e que foi construída nos finais do século XVIII, conhecida por a casa da “ Maricas do Tomé”

E basta por hoje.


Vila das Lajes,

19 de Janº- de 2010

Ermelindo Ávila


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Quintas-feiras de amigos e de comadres

Na passada quinta-feira era tradicional os amigos reunirem-se em ágape festivo para dar início à temporada do Carnaval. Daí o chamar-se ”Quinta-feira de amigos”. Depois vinha a “quinta-feira de Amigas”, a seguir a de “Compadres” e por último, e antes do Domingo do Carnaval ou Entrudo, a “Quinta-feira de comadres”. Uma época, afinal, que não permite festividades externas, pois está-se na estação invernosa, e que dura tem sido no ano corrente, com frio, chuvas intensas, e o Pico esbranquiçado de neve, o que não deixa de ser espectáculo agradável para aqueles que por cá vivem.

Como disse, o inverno continua a querer quebrar-nos os ossos, como se diz, mas as festas carnavalescas foram e estão no esquecimento. Os compadres vão desaparecendo pois os actos que os exigiam pouco se realizam, e outros os vão substituindo.

Os “mascarados” quase sempre de inocentes invocações, já não aparecem. As casas que os recebiam foram encerradas, mercê de causas diversas. A juventude de outrora, de são e correctos costumes, desapareceu.

Agora os novos procuram as “boites”, normalmente a partir da madrugada do dia seguinte. E vão longe, com certeza para estarem afastados da família e puderem viver esses momentos de alforria mais livremente.

As antigas ceias, onde se provavam as primeiras linguiças e o bom vinho da colheita desse ano, passaram ao esquecimento. E nem as “fatias douradas” ou as filhós aparecem. Foram substituídas por outros doces ou acepipes. Já não se usa a aguardente caseira – de vinho ou de figo – mas o brandy, e a “angelica” deu lugar ao “Whisky”.Tudo diferente. Tudo modernizado.

Desapareceram os tocadores da chamada “viola da terra”, e os cantadores que, por vezes, improvisavam famosas quadras de humor. O mesmo com os bailes regionais, somente usados nos poucos “ranchos folclóricos”, que, ainda existem, normalmente para animar festas de carácter oficial.

Vivemos uma época diferente que procura esquecer o passado e dá lugar a inovações que pouco têm de artísticas. Mas são os tempos e com eles nos temos de conformar.

Porém, tenho alguma pena que as quintas-feiras que antecedem o Carnaval não sejam lembradas em reuniões de família e de amigos, como era habitual.

E por aqui me fico recordando uma juventude muito distante mas que era despreocupada e feliz. Vamos com os tempos...

Bom dia!

(Programa Manhãs de Sábado de 23-01-10)

Vila das Lajes.

19 de Janeiro de 2010

Ermelindo Ávila