quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FOI-SE O CARNAVAL...


NOTAS DO MEU CANTINHO


.. e voltou a Quaresma. Para os católicos é um tempo forte de oração e de penitência. Prepara a Ressurreição do Senhor. Mas não a penitência dos cilícios e de outros actos de martirização física. Há muitas formas de praticar a penitência. Até com a língua...

Mas, mesmo assim, não quero ficar pelas penitências quaresmais que outrora eram representadas pela abstinências de carnes, de divertimentos e de outras mais do foro íntimo de cada pessoa. É natural que ainda haja quem pratique esses actos ou gestos de renúncia. Se não existissem santos já o mundo teria acabado! Mas eles, os santos, aí andam. Com certeza que nos cruzamos com eles no dia-a-dia da nossa vida. E é o que vale.

Foi-se o Carnaval ou Entrudo. Por cá não foi de estrondo, que eu saiba. Apenas alguns ajuntamentos ou bailes nas sociedades recreativas, encontros nas boites e um ou outro engraçado, mascarado pelas ruas.

Em anos passados tudo era diferente. O Carnaval vivia-se mais nas próprias casas, em ceias melhoradas, onde não faltavam as filhós e as malassadas, que reuniam as próprias famílias e alguns amigos mais íntimos. Depois, vieram, a meados do século passado, os bailes nas sociedades recreativas que, mesmo assim, não eram muitos. E aí eram ainda as famílias dos sócios que se juntavam, recebendo prazenteiramente alguns amigos, vindos de outras vilas e freguesias, que a ninguém se recusava a entrada. Mais tarde foram aparecendo os chamados “conjuntos musicais”, a substituir a antiga viola da terra ou a guitarra e o bandolim, instrumentos de corda que antes se usavam, ou os pianos de algumas casas particulares.

Agora são as boites que estão na moda. Durante a época carnavalesca os jovens combinam viagens para terras distantes a passar as noites nas tertúlias carnavalescas. Regressam a casa ao nascer do Sol e o dia é para o descanso das noitadas perdidas

Antes, os folguedos do Carnaval terminavam à meia-noite –nem mais um minuto – da terça-feira, pois, o dia seguinte - quarta-feira de cinzas - já era Quaresma. E, na generalidade, todos cumpriam. Havia que respeitar a tradição religiosa e não só...

Agora nem disso se faz caso. Os dias e as semanas são iguais e qualquer deles serve para o divertimento

Nas igrejas paroquiais, como ainda agora, celebravam-se as cerimónias de cinzas. Eram e são um sinal de penitência na abertura do tempo quaresmal, ou seja dos quarenta dias que antecedem as comemorações da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo . (Estou escrevendo para um jornal católico e por isso estou à-vontade para assim emitir o meu sentir.)

Apenas uma diversão era própria da Quaresma, o Bela-mente.

Durante o tempo quaresmal tinha lugar, aos Domingos à tarde, a Via-Sacra solene, na Matriz, quando não tinham lugar as procissões próprias do tempo: Penitência e Passos. Ainda há três oratórios públicos, ou Passos, na ruas da Vila. Na freguesia da Piedade conheço ainda um, se bem que haja os sítios dos “Passos Velhos” e “Passos Novos.”

A Procissão de Penitência realizava-se no primeiro domingo de Quaresma com as imagens (de roca) de São Francisco de Assis, Santa Isabel, Rainha da Hungria, Santo Elisiário e Santa Delfina (os Bem – casados, como dizia o povo, e por isso seguiam num único andor) e o Senhor Amarrado à Coluna.

A de Passos era promovida pela Santa Casa da Misericórdia e, normalmente, tinha lugar no terceiro domingo.

Foi numa procissão de Penitência que saiu pela primeira vez – a 14 de Fevereiro de 1864 – a Filarmónica Lajense que, em 1910, passou a denominar-se Filarmónica Liberdade Lajense, ao gosto da época, verdadeira relíquia do nosso passado.

Vila das Lajes,

13 de Fevereiro de 2010

Ermelindo Ávila

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