NOTAS DO MEU CANTINHO
Há semanas, neste mesmo sítio, foi publicado o artigo A Praça da Vila. Nem tudo foi dito. Importa, pois, voltar ao assunto.
Em 1940 comemorou-se o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal. A Câmara Municipal de Lisboa ofereceu duas estátuas, já retiradas e armazenadas, para as ilhas dos Açores. A do Infante Dom Henrique foi destinada ao largo que ostentava o nome do Filho de D. João III, enquanto a de Dom Dinis foi destinada à Ilha do Pico, pois o Vice-Presidente da Comissão Nacional, Coronel Linhares de Lima, dela natural, havia apresentado um projecto para que a ilha passasse a ter o nome do Rei Lavrador. Mas, a tempo, houve quem descobrisse a intenção e conseguisse que o projecto fosse chumbado na Câmara Corporativa. No entanto a estátua, destinada ao Pico, para cá veio e foi colocada no porto de São Roque, o que não deixou de ser uma afronta à própria história, uma vez que a primeira terra povoada foi a Vila das Lajes. Mas águas passadas...
O Governador Civil de então, Capitão Moreira de Carvalho, ciente da verdade histórica, concedeu ao Presidente da Câmara das Lajes uma importância para a construção de um Cruzeiro que, na vila avoenga, assinalasse o acontecimento histórico que se comemorava.
O cruzeiro, projecto do desenhador Armando Garcia, da Junta Autónoma das Estradas, (que aqui estava em missão de serviço, para acompanhar a construção da Estrada Lajes - Piedade), foi construído pelos pedreiros da companhia do Mestre Manuel Macedo Bettencourt e inaugurado no 1º de Dezembro daquele ano. O largo, triangular, foi ajardinado e nele colocados bancos de jardins. O espaço exterior onde se encontravam as ruas, tinha um piso irregular, dada a sua inclinação, constantemente danificado pelas chuvas. Tornou-se, pois, necessário proceder ao respectivo calcetamento, que foi executado em paralelepípedos. Entretanto lançaram-se os passeios laterais das ruas principais, com blocos de pedra lavrada; tudo trabalho dos pedreiros locais. (Companhias do Mestre Manuel Macedo e do Mestre José Dutra). Para isso foi utilizada uma planta executada pelas Obras Públicas.
Anos decorridos, com o desenvolvimento do trânsito automóvel, houve necessidade de dar uma rega de asfalto nas ruas, evitando a poeirada que se levantava e invadia as próprias habitações laterais.
O piso dos passeios continuou em terra batida. No entanto, alguns moradores foram fazendo a cobertura em cimento, na frente dos seus prédios.
Há poucos anos a Câmara Municipal mandou revestir as ruas principais com calçada portuguesa, um trabalho condizente com a antiguidade da Vila. Foi pena que ficasse incompleto, pois deixou de fazer-se o respectivo nivelamento, daí resultando os altos e baixos que se verifica na calçada. Será ainda tempo de realizar esse trabalho?
Na antiga rua Direita (hoje Rua Capitão - Mór Garcia Gonçalves Madruga) existiam duas ermidas, uma dedicada à Senhora dos Remédios e que sempre conheci abandonada e sem tecto e a outra, da Misericórdia, construída na Praça em cumprimento de voto feito a quando das erupções vulcânicas de 1718 e 1720, foi demolida para que os materiais fossem utilizados na Matriz nova. No local da primeira foi construído o edifício destinado aos bombeiros e que presentemente é a Biblioteca Municipal Dias de Melo e o Auditório Municipal.
O local da antiga Misericórdia foi arrematado em 1914 por um particular, que o transformou em jardim até que há anos foi desaterrado e como tal se encontra...
Mas volto à transcrição do que escreveu Lacerda Machado:
Com o meu projecto tive a honra de remeter â exma. Câmara um ofício - memória, cuja leitura recomendo às pessoas bem intencionadas pelo progresso da vila, no qual se demonstra claramente que, apesar desse plano ser relativamente grandioso, é contudo exequível. // Desde já podia fazer-se muito marcando o alinhamento da avenida marginal e a sua ligação às ruas transversais, o que não custa dinheiro, pôr-se-iam em hasta pública os terrenos disponíveis. Os arrematantes seriam obrigados a tapa-los convenientemente.(...) A verba proveniente da venda dos terrenos poderia ser aplicada, por exemplo, na abertura das Ruas do Saco e da Miragaia, ligando-as com a Rua Nova, como está no projecto ou ainda no alinhamento da Rua Direita, em direcção à casa do falecido padre; Ouvidor, como também se vê no traçado.
Infelizmente nada se fez. A avenida foi prejudicada pela construção do campo de jogos e as ligações às ruas transversais foram ignoradas deixando-se construir prédios que impedem o seu prolongamento. Mas ainda há algo afazer. Basta que se tenha o sentido da realidade e o amor à terra lajense, como diz o erudito historiador lajense, uma das pessoas que mais se interessou pelo progresso e desenvolvimento desta terra.
Ainda conheci na antiga sala nobre da Câmara Municipal a planta - projecto de modernização da vila, da autoria de F.S. de Lacerda Machado, em quadro especial. Onde parará hoje?
Vila das Lajes,
10-2-2010
Ermelindo Ávila
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