domingo, 7 de março de 2010

Pe. MANUEL ALVERNAZ BETTENCOURT

NOTAS DO MEU CANTINHO

O Pe. Manuel Alvernaz, creio que natural da Prainha do Norte, desta ilha, paroquiou na freguesia da Calheta de Nesquim, na década de vinte do século passado. Pessoa de trato simples mas amável, tinha a simpatia geral dos seus paroquianos e a eles se dedicava com entusiasmo e simplicidade. Um padre do seu tempo, como tantos outros, sempre interessado não apenas pela vida religiosa mas igualmente pelo bem estar social e económico do seu povo.

Sentindo o isolamento da sua paróquia e as dificuldades económicas em que vivia, a ele se ficou a dever a fundação da Cooperativa Progresso Calhetense, cuja finalidade principal era beneficiar os sócios, e muitos eram, na aquisição dos géneros. Mais tarde, A Cooperativa veio a alargar a sua actividade, construindo uma lancha de passageiros e carga, a primeira que existiu no Grupo Central do Arquipélago..

Construiu um edifício próprio e nele instalou o seu estabelecimento comercial de fazendas e géneros afins, mercearia, louças e ferragens.

A actividade comercial da Cooperativa floresceu nos primeiros anos sendo considerado um dos estabelecimentos mais completos da ilha.

Além do estabelecimento a Cooperativa, como acima referi, construiu, em 1925, uma lancha a motor para passageiros e carga, a lancha “Calheta” que acabou ou está a acabar seus dias no porto da Madalena. Esta lancha foi construída em Santo Amaro pelo mestre Manuel António Furtado Simas (mais conhecido pelo Mestre Manuel Bentes). Amílcar Goulart Quaresma classifica-a “a Rainha das Lanchas”. (1) Foi vendida em 1931 para a Horta e mais tarde foi incorporada na frota da “Transmaçor – Transportes Marítimos Açorianos”. E que lágrimas não derramou a população da freguesia da Calheta ao ver partir do porto, a sua querida lancha|!

Tive o prazer de nela viajar de Angra para o Pico, pois a “Calheta”, inicialmente, como referi, fazia viagens entre o Faial, Pico, S. Jorge e Terceira. Era um prazer, no final da Primavera, vê-la entrar na baia de Angra, sob o comando do mestre José Goulart, tendo como maquinista o Alziro e depois o José Trindade . Foram seus marinheiros, entre outros, o João da Antonica, da Piedade, o Francisco Goulart, de Santa Cruz,, o Jorge Goulart , se a memória me não falha, e outros mais.

Com a saída do Pe. Manuel Alvernaz para pároco e ouvidor de Santa Cruz da Graciosa, por volta de 1927, a Cooperativa caiu em decadência e acabou por fechar.(2) O prédio foi vendido, para saldar dívidas, já a meados do século passado.

Alguns dos antigos empregados do estabelecimento comercial vieram mais tarde a estabelecer-se na freguesia por conta própria.

Foi uma época de certo esplendor económico que se ficou a dever ao antigo Pároco, e que os calhetenses ainda recordam com saudade.

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As notas aqui publicadas foram coligidas de “Calheta de Ontem e de Hoje”, um trabalho excelente organizado pelas Alunas do Curso de Malhas e Bordados, que teve lugar naquela Freguesia, sob a direcção da Professora D. Teodolinda Soares, Coordenadora do Curso de Educação Permanente , no ano de 1994-95; uma verdadeira monografia histórica , com trinta e dois capítulos, manuscritos pelas próprias alunas e que bem merece ser publicada em livro. Fica o repto à Junta de Freguesia.

Vila das Lajes,

23 de Fevereiro de 2010

Ermelindo Ávila

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  1. Goulart, Amílcar – “Maresias”-Vo.III -



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