Os católicos estão a viver a grande semana. Domingo comemoraram a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. Agora estamos a celebrar a Semana Santa: Flagelação, Coroação de espinhos, Crucifixão e Morte do Salvador e Sua Ressurreição.
É, na realidade, a Grande Semana celebrada por aqueles que professam a Doutrina Cristã. Mesmo assim, nem todos...
Vivemos uma época em que Cristo está esquecido. A prática religiosa está quase abandonada. São raros aqueles que ainda cumprem os preceitos evangélicos. Na realidade, há um afastamento confrangedor do culto católico pelos cristãos baptizados.
As vocações vão rareando, o clero vai desaparecendo, as igrejas vão-se esvaziando. As celebrações da Eucaristia dominical acontecem, muitas vezes, a horas incertas porque, em outras paróquias, serviços há que “exigem” a presença do sacerdote. Parece que vivemos numa estranha terra de missão. Afinal, uma situação de angústia que cada um vai sofrendo, muitas vezes caladamente e a seu modo.
E o Senhor continua a sofrer os tormentos da Paixão e Morte, embora de maneira mística. E sofre nos casais desavindos, nos filhos, vítimas dos desentendimentos e separações dos pais e entregues a instituições mercenárias, nos irmãos doentes, com maleitas incuráveis, nos idosos abandonados em Lares da terceira idade, sem o calor familiar e o conforto espiritual. E sofre naqueles que perderam os empregos e divagam famintos pelas ruas, pernoitando debaixo das arcadas, como dizia João de Deus na “Cartilha Maternal”. Nos drogados e nos abandonados moral ou fisicamente.
E o Cristo sofredor continua a ser crucificado!
Celebrados os Mistérios da Paixão, surge logo a Ressurreição. Aqui e ali os sinos voltam a repicar festivamente, lançando um alerta aos cristãos esquecidos, de que Cristo ressuscitou. Os cânticos festivos ecoam por alguns dos templos católicos, pois nem todos celebram a Páscoa da Ressurreição.
Mas, na maioria das habitações há festa e alegria com o partir dos folares e o distribuir das amêndoas e de outros doces e guloseimas, principalmente pelos mais jovens, mantendo-me, mesmo assim, uma tradição secular e cristã.
E cristã porque, em anos não muito distantes, a Quaresma era um tempo de renúncia e de sacrifícios. Das mesas, mesmo as daquelas famílias mais “remediadas”, eram afastados os doces e os acepipes. Refeições frugais, onde raramente aparecia a carne e os jejuns eram uma prática quase diária. Cumpria-se, assim, o preceito da Igreja que obrigava, na Quaresma, o jejum e a abstenção de carne em alguns dias da semana, se bem que actualmente essa determinação seja inadequada aos tempos que correm.
Os divertimentos eram suspensos para só voltarem após o Domingo da Ressurreição. Nem cantares, nem bailes, nem teatros, nem outros folguedos, mesmo simples e inofensivos. As semanas da Quaresma eram tempos de renúncia e de sacrifícios. E ninguém se insurgia contra tais determinações da Igreja, Mãe atenta ao bem espiritual dos filhos.
Agora, o que era excepção transformou-se em regra. Não importa o que obriga. Interessa viver com alegria e bem-estar os dias que passam. A vida é curta. Há que gozá-la. Mas que vida? Julga-se que o ser humano se extingue com a morte física... E depois?...
Com algumas reservas escrevo esta nota, se bem que ela exprima algo do que sinto e vivo neste ocaso da vida. Nada mais.
O Senhor ressuscitou. Aleluia!
Boas Festas Pascais!
Vila das Lajes do Pico
Páscoa de 2010.
Ermelindo Ávila
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