terça-feira, 2 de março de 2010

O PICO E AS ILHAS DA COESÃO

Coesão tem sua origem na palavra latina cohaerentia cujo significado é ajuntamento. José Pedro Machado (Dicionário da Língua Portuguesa,) dá-lhe o significado de união de partes semelhantes. António de MORAIS Silva, além deste, atribui-lhe ainda o significado de harmonia. Por seu lado, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, além da sua formação etimológica e de outros significados, diz que é unidade lógica.

Vem isto a propósito das chamadas Ilhas da Coesão. Não discutimos a sua classificação. Estranhamos, sim, é a exclusão da Ilha do Pico desse grupo de protecção por parte dos Poderes regionais. E, naturalmente para justificar a injustificável decisão de umas ilhas serem mais protegidas. E depois vem defender-se a situação dizendo que o Pico ficou mais protegido não pertencendo ao grupo. Se não foi esta ao menos foi a ideia que me ficou das palavras de um governante.

E dest’arte anda o Pico sozinho a navegar neste mar encapelado...

O Governo acaba de anunciar a “nacionalização” dos campos de golfe de algumas ilhas. O campo de golfe do Pico há anos iniciado e parece que quase concluído não é referido. No entanto, fala-se na construção do campo da ilha vizinha.

Não há muito alguém dizia-me que só valem as ilhas que têm cidades. Será? E acrescento: e as ilhas de Coesão. O resto, como diz o povo, é paisagem?

Há dias noticiou a Imprensa que foi a Escola Básica e Secundária das Lajes do Pico que, no último ano escolar, nos Açores, aquela donde maior número de alunos finalistas transitaram para o Ensino Superior.

Se nos alegra esse acontecimento por um lado, e de facto, é isso compreensível, por outro, não deixa de causar apreensão e preocupação. É que isso representa, na realidade, o despovoar contínuo da ilha e o seu pernicioso envelhecimento.

Não será de reconhecer que a ilha é uma das que apresenta, em diversos sectores, um grau elevado de cultura? Basta recordar que uma freguesia há onde não existem analfabetos há muitas dezenas de anos: Santo Amaro. Mas não só. O número de filarmónicas, as bibliotecas e museus oficiais e não somente (já se esqueceu a vultuosa colecção de whiskies do falecido João Quaresma?), os jornais, as sessões culturais e outros mais eventos, apesar de tudo, são uma demonstração clara do elevado grau de cultura destas gentes picoenses.

Mas isso não basta. Importa algo mais fazer para que a juventude, licenciada ou não, se fixe na ilha, promova novas actividades económicas e contribua para o seu progresso e desenvolvimento. Isso representa uma das tarefas mais urgentes a desenvolver pelos governantes, regionais ou municipais, que todos têm grandes responsabilidades nesse sector.

Estudar, formar-se, conseguir uma licenciatura ou agora o mestrado, é muito importante e a juventude actual tem de caminhar com segurança para o futuro. Mas ficar-se afastado da ilha, quase sempre só beneficiará o próprio e não terá reflexos positivos na vida colectiva da sociedade que o criou e o manteve, muitas vezes com bastos sacrifícios, durante a formatura.

Importa, pois, que se ofereça oportunidade a alguns de voltarem para, com a sua iniciativa, com ideias novas, ajudarem a promover a terra que lhes foi berço Já isto referi algumas vezes, com certa amargura.

É necessário e urgente que os poderes públicos tenham isso em atenção e que os novos se sacrifiquem um pouco pelo futuro da terra que lhes foi berço. De contrário, quando um dia voltarem à terra, só vão encontrar uma reserva selvagem.


Vila das Lajes, 22 de Fevereiro de 2010

Ermelindo Ávila

1 comentário:

miriam disse...

Querido amigo!
O meu comentário não é ainda ao seu post, mas sim apenas (e por agora) à alegria de encontrar um blogue seu!
Grande abraço!!