sábado, 31 de janeiro de 2009

Nota do meu cantinho - OBRAS INCOMPLETAS

Festejou-se com pompa e “circunstância” a inauguração das obras realizadas no porto desta vila, no ano findo, obras há muito reclamadas e que mereceram o aplauso dos lajenses. Embora já aqui tivessemos ocasião de registar, muito suavemente, a nossa congratulação, não deixamos de anotar o nosso reparo, não pelo projecto, mas pela sua execução, voltamos a chamar a atenção para os trabalhos realizados, embora da responsabilidade de uma creditada firma empreiteira, que deixou um tanto a desejar. É ver o que se passa com o molhe que foi construído na zona da antiga “carreira”, cujos blocos nem foram devidamente regularizados , nem mesmo o fundo da lagoa, “criada” pela muralha, foi de molde a permitir o tráfego normal de embarcações que demandam o porto interior, pelo que, se tornou indispensável colocar uma bóia de sinalização (será?).

Vê-se que o pequeno troço de muro, que serviu para dar acesso ao molhe, então em construção, está a desfazer-se com o mar do Sul, não levando muito que este, quando tempestuoso, entre pelo novo molhe e venha a atingir o porto interior e, pior ainda, a própria vila.

Junto da muralha de defesa, que circunda a rua da antiga Pesqueira (actualmente avenida marginal...)foi iniciada a construção de um arruamento, - chamemos-lhe assim - de acesso às antigas casas dos botes da “Lagoa de Cima”. O piso ficou em bruto e os últimos mares de oeste já “limparam” uma parte do material de enrocamento ali depositado. Quando a obra se fizer (?) terá de ser novamente reposto, com o agravamento do respectivo custo. (E os tempos actuais não vão para brincadeiras...) Será porque o Município pretende, e já lá vão uns anos, construir o “passeio marítimo”? Mas a construir-se esse passeio, aliás de interesse turístico, partirá da zona do Clube Náutico, ao que nos é dado saber, e atingirá a zona da Ribeira do Meio, possivelmente até ao Poço. Se assim for será uma maneira inteligente e agradável de ligar, pela costa, a vila àquele subúrbio, integrando-o na parte urbana e permitindo um passeio onde as pessoas, quer as residentes, quer as que nos visitam, possam desfrutar de um dos panoramas mais atractivos da Ilha – a baía das Lajes com a Montanha em fundo, em toda a sua grandeza e esplendor.

A Vila, com a obra realizada, só ficou parcialmente defendida. A zona sul necessita, pois, ser igualmente defendida do mar do Sul e Oeste. De contrário ficará sempre ameaçada em ocasiões de enchente, o que não raro acontece.

Impõe-se que a Vila retome a sua posição de burgo de elegante aspecto, progressivo e urbano, como sempre foi considerado, mesmo sem sair da sua classificação secular: a avoenga vila picoense. E isso lhe basta. Há urgente e imperiosa necessidade de algo mais se executar. A quem cumpre, não sei nem importa. Importa, sim, que a entidade responsável olhe para esta Terra, como gestora de um todo que lhe foi confiado e merece ser, convenientemente, cuidado.

Foi por isso e para isso que o povo lhe confiou um mandato. Ao assumi-lo, voluntariamente, comprometeu-se a zelar pelo sector que passou a gerir.

Aqui não se trata de lugar de simpatia. Trata-se, somente, de organizar e trabalhar com justiça, zelando com imparcialidade e dedicação a todas as ilhas, concelhos, vilas e freguesias. Ou será que uns são filhos e outros enteados?

Confiamos nos gestores públicos. E porque neles confiamos, aqui deixamos, e mais uma vez, este simples reparo.

Vila das Lajes,

16 de Janeiro de 09

Ermelindo Ávila

domingo, 25 de janeiro de 2009

A Cultura nas Lajes

Cá estou uma vez mais com a minha croniqueta nesta manhã de sábado, por sinal a última deste mês de Janeiro.

Nem sempre os assuntos são de molde a despertar interesse nos radiouvintes. Relevem-me a falta.

Esta manhã vou trazer à consideração dos que me escutam, a cultura. Não será um historial minucioso mas um apontamento ligeiro do que representou, em tempos passados, a cultura para esta avoenga Vila.

Os primeiros sinais de cultura foram trazidos pelos frades da Ordem Franciscana que aqui se instalaram em 31 de Agosto de 1627. No convento se ensinavam as línguas mais usuais no tempo, alem do português e do latim. Extintas as ordens religiosas, em 17 de Maio de l832, foi criada a aula de Latim que compreendia retórica e francês. Como professor dessa aula tornou-se célebre o Pe. António Lúcio, professor de grande cultura.

Com a morte deste professor, em 8 de Abril de 1868, ficou vaga a aula e nunca mais foi provida pois, entretanto, havia sido criado, em 15 de Maio de 1854, o Liceu da Horta, do qual passou a ser professor António Lourenço da Silveira que, das Lajes, foi transferido para o novo estabelecimento de Ensino Secundário. Autor da História das Quatro Ilhas, havia sido professor de Latim nesta Vila.

De registar a criação do Seminário de Angra, em 15 de Maio de 1854, no qual vieram a matricular-se diversos alunos da Ilha do Pico.

Entretanto, é fundada a Filarmónica Lajense, em 14 de Fevereiro de 1864, a mais antiga da Ilha.

A Ilha do Pico tem, presentemente, um grupo de Filarmónicas de inestimável valor e já centenárias: além da Lajense que, em 1910, indo na corrente do movimento político adicionou o classificativo “Liberdade” à denominação que, assim, passou a “Filarmónica Liberdade Lajense, - existem as filarmónicas centenárias “União Artista”, de S. Roque, fundada em 1880; “Lira Fraternal Calhetense”, fundada em 1888; “Recreio Ribeirense”, fundada em 6 de Janeiro de 1900; “Recreio dos Pastores”, fundada em 23 de Junho de 1907.

No próximo ano a “Liberdade do Cais do Pico” atinge os cem anos, em 10 de Abril. Isto só para referir as centenárias pois a ilha do Pico, com cerca de 15 mil habitantes, possui actualmente treze filarmónicas, o que dá relevo à cultura musical da nossa gente. E deixo de referir o Grupo Coral das Lajes, o Coral da Madalena, as Capelas dos actos litúrgicos. Nada menos de 17 grupos.

Em 1876 por iniciativa de Dom João Paulino de Azevedo e Castro, ao tempo estudante da Universidade de Coimbra e que viria a ser Bispo de Macau, onde faleceu em 1917, foi fundado na Vila das Lajes o Gabinete de Leitura Lajense, com algumas centenas de livros recolhidos nos alfarrabistas daquela cidade. No Cais do Pico, fundou-se, em 8 de Maio de 1882, o Gabinete de Leitura Marques de Pombal.

Na década de trinta do século passado um grupo de lajenses organizou a Biblioteca Popular Lajense que, mais tarde, veio a ser integrada na Câmara Municipal, dando origem à actual Biblioteca Municipal Dias de Melo.

E que dizer do actual Museu dos Baleeiros, um organismo de cultura ímpar que vem merecendo o interesse e acolhimento de muitos cientistas nacionais e estrangeiros, bem como o Centro de Artes e Ciências do mar (antiga fábrica da baleia SIBIL) ?!

Está aberta a inscrição para a XI edição do “Festival Infantil da Canção Baleia de Marfim”, organização do Município Lajense e que, ano a ano, desperta muito interesse em várias ilhas dos Açores, donde vêm diversos concorrentes, de idades compreendidas entre os 5 e 10 anos.

E aqui termino, dado que o assunto não ficou esgotado.

Vila das Lajes, 24 de Janeiro de 2009

Ermelindo Ávila

(Crónica para o programa Manhãs de Sábado da RDP-A)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

OS PATOS DA LAGOA

No ano de 1981 visitei os Estados Unidos da América com minha falecida mulher, de

saudosa memória, Olga Lopes Neves, que havia sido convidada para tomar parte no festival comemorativo do cinquentenário do curso liceal (High School) do “Dartmouth High School”. Vários amigos, familiares ali residentes e antigos colegas tiveram a gentileza de nos convidar para almoços, quer nas próprias casas quer em restaurantes.

Uma antiga professora liceal, da família, convidou-nos para almoçarmos na sua residência nas margens do rio Taunton, onde foi encontrada a célebre Pedra de Dighton. Depois do almoço a nossa anfitriã dirigiu-se para a margem do rio – bastava atravessar a rua – levando um recipiente com os restos do repasto. E qual não foi o meu espanto quando vimos que, da outra margem, um bando de patos se dirigia para o local onde a Senhora se encontrava. Deitou a comida à água e os patos , que eram duas ou três dezenas, fizeram o seu repasto, voltando em seguida para a outra margem.

Passando pela ponte do rio, que ficava ali perto, fomos ver a cabine que guardava a célebre Pedra de Dighton. Os patos já faziam a sexta, no relvado do parque, sob o olhar atento do Guarda Florestal.

Em parêntesis, registo que nos foi agradável ver este cuidado, tanto da senhora como do funcionário florestal, pelos patos que, com o seu esvoaçar lento, davam uma nota de vida e alegria ao ambiente.

Não menos agradável foi estar junto da célebre Pedra que, segundo o Dr. Manuel Luciano da Silva, “Tem gravado o nome de Miguel Corte Real, as Armas de Portugal e a Cruz da Ordem de Cristo”. E uma inscrição que parece dizer que o Miguel foi ali rei dos índios. A pedra contem de facto uns arabescos. Decifrá-los?

No seu livro “Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton”, o Dr. Manuel Luciano Da Silva informa que “Até Agosto de 1963 , a Pedra de Dighton jazia na margem esquerda do rio Taunton, mergulhada entre a corrente da praia-mar e da baixa-mar.” Em 1963, o

Departamento dos Recursos Naturais de Massachusetts pôs fim a uma tão longa controvérsia, demonstrando que a rocha era um bloco de seixo e não de recife.



A pedra foi retirada do rio e colocada sobre um paredão resguardado mas actualmente (quando a visitámos) já se encontrava recolhida numa cabine dupla, completamente fechada. No entanto, por permissão do guarda que nos acompanhava, tive o privilégio de me sentar sobre o célebre monumento.

Todavia o que mais importa neste escrito são os “nossos” patos da Lagoa do porto desta vila. Tarde soube da sua existência, mas, depois, agradava-me observá-los nas suas voltas no varadouro e rua adjacente. Interessante mesmo vê-los seguir pelo passeio da muralha e, só então, onde existe a passadeira que permite passar dali para o relvado em frente do Museu, eles atravessavam a rua para ir poisar no relvado.

Num dos meus raros passeios àquela zona, presenciei um(a) deles fazer o dito percurso com um rancho de patinhos atrás de si. Fiquei encantado. Lembrei-me dos patos do rio Taunton, e regozijei-me com aquela simpática presença. Mas foi por pouco tempo...

Mais tarde tive conhecimento, com mágoa, que um qualquer energúmeno havia destruído os simpáticos bichos e ainda a grande maioria dos adultos. E, que eu saiba, minguem se atreveu a contestou a proeza.

Fiquei contristado e só tive pena de não existir por cá uma sociedade protectora dos animais, como os há em outras terras civilizadas, que velasse pela existência dos patos da Lagoa, e promovesse as acções necessárias à penalização de quantos lhes causassem dano.

Deixem viver e “fazer a sua vida” os patinhos da Lagoa, que ali apareceram nem sei como, mas que são um sinal de civilização. Já foram a S. Francisco da Califórnia, como aliás a outras cidades americanas, e já se encontraram, na beira rio, com as centenas de aves que andam nos largos e ruas, sem que haja alguém que se atreva a molestá-las? E se o fizer conte com a acção enérgica da Polícia que por lá anda. Disso dou testemunho.

Vila das Lajes, 8 de Janeiro de 2009

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Moinhos de Vento

Já foi assunto aqui tratado em anterior crónica. (15-11-2001). Todavia nem todos os leitores se lembram do escrito. Vale a pena, por isso tão somente, repeti-lo. Tanto mais que, um velho Amigo, há muito desaparecido do n úmero dos vivos, escrevia-me, a propósito de uma crónica então publicada neste Semanário, e citava o velho e conhecido adágio: “Água mole em pedra dura...”

A paisagem picoense alterou-se imenso nos últimos anos. Desapareceram os moinhos de vento que tanta graça lhe emprestava e a arborização selvagem veio descendo as encostas da ilha, assenhoreando-se dos sítios mais aprazíveis. É o caso das criptomérias que, tomando “posse” das velgas lavradias, se vai aproximando das habitações conjuntamente com as faias e os incensos. (Não serão estes os nomes técnicos mas são aqueles pelos quais as populações conhecem a arborização da Ilha.)
Não digo que se restaurem os antigos moinhos de vento para voltarem à sua actividade de farinação do milho. Até porque o milho já é muito escasso e as poucas moagens motorizadas que existem são suficientes para atender aos que a elas recorrem.

Interessa antes restaurar os moinhos como elementos atractivos de um turismo que cada vez mais nos visita a procura de sítios, construções ou imóveis diferentes da aqueles que habitualmente encontram em outras terras e lugares.


Na periferia da Vila era interessante, aqui há meio século, ver os moinhos do mistério, da Ladeira Nova (Biscoitos), do Juncal e da Terra da Forca, de velas (ou panos) enfunados, e escutar, aqui perto o búzio a chamar os interessados para a moenda. Do que estava no Mistério ficou o “monte”. Desapareceram os outros. Há poucos anos foi retirada a pedra do “monte” do moinho do Juncal”(...)”Não digo que se restaurem todos estes instrumentos de vitalidade, mas mal não ficaria que o da “Terra da Forca” fosse restaurado para enriquecimento da paisagem, dando-se-lhe uma utilidade turística. Outras terras estão a restaurar os seus moinhos e até em algumas nações da Europa isso acontece.”

(Crónicas da Minha Ilha, II Vol. 2002)
Já houve quem pensasse em reconstruir o moinho do Juncal. O monte em pedra podia ser substituído por cimento com revestimento em pedra. Sendo redondo o mar não tem possibilidade de o destruir, como se verificou antes com o que ali existia. Era uma maneira simples de “dar vida”, digamos, aquele descampado que hoje não passa de verdadeiro pasto de ratazana que é necessário eliminar.
Mas não esqueçamos o moinho da “Terra da Forca”. Que agradável era aquele pequeno promontório, que desapareceu quase com uma terraplanagem que ali fizeram para a implantação de uma garagem que , praticamente, não funciona.
O pequeno monte, que fica na continuação do Castelete, era local aprazível, com um maravilhoso panorama em frente, donde se desfrutava a beleza da encosta da ilha, com a vila no sopé, e, depois, a Ribeira do Meio, a Almagreira, a Silveira e ao norte da baia, a freguesia de São João, já na encosta da Montanha, sempre bela, a dominar todo o espaço.

Tudo mudou. Tudo se muda ou, melhor, se destruí. Para melhor? Não creio.Julgo que não é utópica a ideia da reconstrução de alguns dos moinhos, que existiram – e eram dezenas - ao redor da Ilha. Não será empreendimento muito dispendioso. Não estou a sonhar. Ainda possuo a faculdade de pensar...
A Ilha do Pico tem de se voltar a sério para o Turismo, uma actividade que promete ter futuro, se for explorada com seriedade e entusiasmo. Mas a ilha do Pico deve ser tratada como um todo importante e não apenas parcelarmente. E mais não adianto.

Vale a pena os picoenses, aqueles que o são de raiz e de sentimento, pensarem a sério e maduramente no futuro da ilha. E esse futuro será tanto mais promissor para as gerações vindouras quando, todos unidos, procurarmos proporcionar o necessário e indispensável desenvolvimento sócio – económico a esta Terra e às suas gentes.

Vila das Lajes, 2 de Janº de 2009

Ermelindo Ávila


MANHÃS DE SÁBADO

(Programa da RDP-Açores)

MATANÇA DO PORCO


O mês de Janeiro, que há pouco teve inicio, era, em anos passados, o grande mês das famílias rurais, principalmente. E por um acontecimento simples: “a morte desejada, como a classificou um articulista da antiga revista “O Eco Cedrense”, na edição de 25 de Dezembro de 1929 – há quase oitenta nos. Nem mais nem menos do que a matança do porco. E escrevia:

...na morte do porco não há tristezas, nem choros, nem lágrimas, mas sim uma sincera e franca satisfação, que aquela morte é de há muito desejada."

E o articulista descreve minuciosamente as diversas fases, preparatórias e subsequentes, do desejado evento, tal como sucedia por estas ilhas. E acontecia com certa normalidade. Havia mesmo o dito: “Ano em que não se mata porco é um ano de fome.” Mas hoje são quase raras as matanças.

Se ainda as há em casa de algum lavrador, elas são realizadas no Matadouro Industrial, evitando-se o trabalho, que não era pouco, da apanha e secagem das “vassouras” ou ramos de mato – urze – e além de preparativos trabalhosos mas indispensáveis.

O que mais interessava à gente miúda era, propriamente, os dois dias destinados ao festim. Pedia-se dispensa na escola e, no primeiro dia – o dia da matança – era a ida para a costa do mar assistir à lavagem e preparação das tripas do animal , necessárias aos enchidos e a própria bexiga que, cheia de ar, servia por algum tempo, ou instantes, conforme a duração..., de bola de jogo.

No segundo dia era a distribuição dos “presentes” –uma travessa com toucinho, carne e uma morcela – por pessoas amigas, ou familiares, ou até por algum “senhor” a quem o dono da casa devia favor. E todos os miúdos procuravam escolher os destinatários, pelas ofertas que recebiam.

Não raro seguia-se a pequena folga. Não faltavam o tocador de viola e velhos e novos com seus pés de dança.

Por estes lados em todo o mês, do Natal ao Carnaval, era o tempo das matanças. Sinal de abundância nos meses de Inverno, quando escasseavam outros produtos, principalmente o peixe, devido ao mau estado do mar, que não permitia não apenas a pesca mas também os trabalhos do campo

Tempos diferentes. Tempos de paz, de harmonia familiar, convívio fraterno, alegria franca e bom viver, como dizia o povo.

Se a crónica não é a narração completa de um acontecimento familiar, ocorrido ao longo dos anos, é, todavia, um recordar de tempos de uma vivência simples e harmoniosa que não volta.


7 de Janeiro de 2009

Ermelindo Ávila



sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

ANO VELHO - ANO NOVO

NOTAS DO MEU CANTINHO

Ainda ontem, um ontem que já vai distante, estávamos no segundo século da era cristã. Todavia, foi já há oito anos que entrámos no terceiro milénio. Hoje iniciamos o primeiro dia do ano de 2009. O tempo passa com uma velocidade tremenda.

Na última edição deste semanário (O DEVER) um ilustre articulista recordou um trabalho que havíamos publicado em 1962. Não foi há muito, julgava eu, que escrevi e publiquei esse trabalho. No entanto, já se passaram 46 anos!

E durante este tempo, quantos acontecimentos se deram, uns maravilhosos outros bem tristes e amargos! Mas não vou recordá-los porque seria fastidioso. Ficam só para mim... É bom que esqueçamos algo do passado mau que aconteceu. Melhor ficar pelo ano de 2008 que ontem findou. Dá matéria de sobra para que possa ser analisado com calma e serenidade e dessa analise se tirarem as ilações devidas. Mas não é trabalho para este escrito, que, afinal, não pode referir tudo o que há acontecido nestes 366 dias (foi ano bissexto...) que ontem terminaram.

Em diversas nações está na rua uma onda de terrorismo que provoca a destruição e a morte de milhares de vítimas inocentes. É a guerra em toda a sua desenfreada acção criminosa contra povos indefesos: adultos e crianças indefesas.

São os atentados bombistas a causar a morte e a destruição .

Uma crise tremenda instalou-se na sociedade mundial, provocando malefícios sem conto. A fome atinge muitos povos, até mesmo neste Pais “à beira mar plantado”. São os bancos com depósitos sem cobertura... São as empresas, sem puderem acorrer ao crédito, a caírem em falência. São, daí, os operários e serventuários a caminhar desastrosamente para o desemprego.

São as famílias “espoliadas” das suas casas que adquiriram com certo entusiasmo embora com enormes sacrifícios e que delas ficam desapossadas, porque não tem capacidade financeira para saldar as prestações vencidas e com os juros em ascensão desmedida.

São os professores em luta permanente contra inexplicáveis medidas governamentais que exigem, aos respectivos serviços, avaliações que reputam vexatórias.

São os operários despedidos das fábricas que encerram às dezenas ou centenas por ruptura financeira.

São os preços dos géneros de primeira necessidade, a subirem drasticamente, impossibilitando as famílias de minguados recursos de os puderem adquirir, consoante as respectivas necessidades.

É uma pobreza envergonhada que se vai instalando a pouco e pouco atingindo, sobretudo, as crianças e os velhos, que têm de valer-se – quantas vezes !...- dos caixotes do lixo para recuperarem algum alimento, ali deixado por outros mais abastados...

E pior vai ser o ano que hoje se inicia dizem os economistas e analistas .

Na realidade, uma crise tenebrosa se instalou, mesmo nos países ricos, como é o caso dos Estados Unidos da América, que a todos atinge e que dificilmente será debelada.

Portugal está também em crise pois não podia fazer excepção... Por reflexo não tardará que essa crise chegue aos Açores onde, aliás, já se nota a subida de preços de vários géneros de utilização doméstica. Já está anunciada a subida dos preços da electricidade...

Antigamente publicavam-se nestas Ilhas almanaques, onde vinham diversas informações do tempo e presságios dos sucessos que poderiam vir a acontecer. E terminavam “Deus super omnia”.

Assim digo eu neste meu primeiro escrito de 2009: Que o Senhor a todos ampare e proteja na hecatombe que se avizinha. Que a paz se mantenha e que os mais abastados olhem pela sociedade que os rodeia, promovendo eventos que permitam dar trabalho aos desempregados e conforto aos que, dia-a-dia lhes prestam serviços, num esforço por vezes sobre-humano, para garantirem a sua sobrevivência e dos seus familiares.

Vila das Lajes, 1 de Janeiro de 2009

Ermelindo Ávila