domingo, 28 de dezembro de 2008

Crónica sem título

Acontece às vezes...
Nem sempre é fácil encontrar um título que resuma o texto daquilo que se escreve, e aquele que se utiliza geralmente a isso não corresponde com a clareza necessária.

Vamos escrever hoje uma crónica daquelas que o título não aparece. E que crónica?

Os assuntos, umas vezes abundam outras escasseiam e deixam de ter interesse para o leitor.

Não que o tempo que decorre não abunde em assuntos variados mas fica a dúvida da escolha...

Quem escreve é que sabe a dificuldade que encontra quando “lança a mão à pena...” Mas isso era antigamente...Hoje é colocar as mãos sobre o teclado do computador, já não da máquina de escrever, e deixar correr... Pois que seja.

A propósito daquele “lança a mão à pena”, veio-me à lembrança a “Carta para longe” de Armando Cortes-Rodrigues. Actualmente já não se escrevem cartas para as Américas e quase para parte nenhuma. Até as de negócios foram substituídas pela Internet..

No entanto vale a pena lembrar o que escreveu o Poeta :


Maria manda dizer/

o que por tens passado

Triste velhice de quem

Não tem os seus a seu lado.


Não te esqueças de teu pai

lembra-te sempre de mim

Adeus...adeus...que as saudades

Só à vista terão fim!”


Triste velhice de quem

não tem os seus a seu lado!


E quantos partiram para não mais voltarem... Viveram envoltos numa saudade permanente, recordando “o craveiro do balcão” ou a figueira do quintal...

A saudade era tamanha que nem a língua da nova pátria quiseram aprender. A terra pequena e humilde estava sempre presente. Recordavam os feitos de criança, os irmãos e os pais com uma saudade amarga. Aos filhos ensinaram a língua materna para que, em casa, só esse idioma se falasse... E nunca puderam voltar às pedras negras do cantinho natal...

Por cá os pais viveram, e partiram para sempre, embalados na esperança de um dia eles regressarem, porque


Depois que daqui saíste

Nunca mais houve alegria,

Que do céu da nossa vida

Veio a noite e foi-se o dia”.


Tantos que partiram para a terra ficar mais pobre de gente. E essa gente que ficou foi envelhecendo, sempre a olhar para o horizonte, na esperança de um dia o barco voltar ao porto e trazer o seu Manuel, rico e bem trajado, a espalhar alegria e lembranças aos que deixara num dia longínquo. Mas isso raro aconteceu. O Manuel não mais voltou... Todavia ,


A tua cadeira baixa

Lá está (ainda) junto à janela

Como quem ainda espera

Que te venhas sentar nela.”


Muitas crónicas semelhantes se podiam escrever, sobre tantos e tantos que partiram um dia, e foram enriquecer, com o seu trabalho duro, de escravo, as terras da Diáspora. E nunca mais voltaram... E os pais foram envelhecendo, sempre na esperança de um encontro que não se realizou!....

E o Poeta continuou a registar a :


Saudade é como o luar

Que só de noite é que brilha... “


É simples mas repleta de encanto a prece final:


A bênção de Deus te cubra

Com amor, paz e saúde

E lembra-te que a riqueza

Verdadeira é a virtude.”


A crónica acabou. “Até à vista...”


Vila das Lajes,5 de Dezembro de 2008.

Ermelindo Ávila

sábado, 20 de dezembro de 2008

Notas do meu cantinho - O NATAL EM CASA

O Natal está em casa. Mas como era diferente o Natal da minha distante juventude. Simples, modesto, mas não deixava de nos trazer uma alegria sã e comunicativa.

E a 13 de Dezembro era o dia em que normalmente principiava o Natal, com o preparar dos pratinhos ou taças e a colocação neles do trigo a grelar, para estar crescido e viçoso quando se “armava” o altarzinho do Menino Jesus. Começava também a retirar das gavetas ou arcas as toalhas e, dos oratórios, as imagens do Menino para preparar, na véspera do grande dia, o seu trono. um pequeno altar. com dois ou três degraus, feitos de caixas de madeira ou cartão rijo, e coberto com lençol ou toalha branca.

Na Matriz, já noite, iluminada com candeeiros de petróleo e, mais tarde com petromax, principiava no dia 16 –nove dias antes – a devoção da Novena preparatória para a grande Noite. Anos antes, mas ainda no princípio do século vinte, a novena tinha lugar antes de amanhecer, o que obrigava as pessoas a caminhar com os lampiões de velas a alumiar o caminho. Os homens iam preparados, com suas alfaias para dali seguirem para os trabalhos de campo. Bem poucos dispensavam a Novena do Menino Jesus, e a Missa que se celebrava. A Capela lá estava também para executar os cânticos e antífonas próprias da Liturgia daqueles dias.

Depois passou a novena para a noite. Mesmo assim e embora não se houvesse Missa – ainda não havia acontecido o Vaticano II – a Novena era celebrada com a maior solenidade: Veni Santo Spíritus, Oração preparatória, Ladainha de Nossa Senhora, Tota Pulcra es Maria, e Cântico final Ó Infante Suavíssimo... Terminada a novena lá regressavam, novos e velhos, a suas casas para, no dia seguinte, voltarem.

No último dia, a Novena era incorporada nas Matinas cantadas. Uma partitura antiga, quase de música clássica, executada pela Capela e acompanhada a Órgão. A Igreja ficava completamente cheia de fieis que assistiam a todos os actos com o maior respeito e devoção.

(Na Noite de Natal, para evitar qualquer desacato provocado por algum que teria fumos da ceia pantagruélica da noite anterior, - a noite da Calhandra - o Regedor levava em sua companhia dois ou três “cabos de polícia” que dispersava pelo templo. Velhas tradições que cedo acabaram... Actualmente quem fica pelas ceias não vai às novenas...).

A miudagem havia sido deitada ao anoitecer para se levantar a tempo de ir com os pais e mais familiares às Matinas e Missa da Meia Noite. Mas todos iam dispersos e alegres, na esperança de, ao regressar, a casa encontrarem, alguma prenda do Menino Jesus. E bem poucas que eram...

Pela Meia-Noite dava-se início à “Missa do Galo”, cantada pela Capela. Solene e emocionante o Cântico do Glória in excelsis Deo entoado pelo celebrante. As campainhas e os sinos tocavam festivamente, crianças, no coro e no coreto, espalhavam flores pelos assistentes e a capela dava, depois, início à execução de uma partitura de autor célebre.

No final cumprimentava-se, na sacristia, em primeiro lugar o Celebrante e depois as pessoas em redor. E voltava-se a casa com a alma cheia de alegria, e um bem estar confortante.

Os mais novos corriam para descobrir aquilo que o Menino Jesus lhes havia trazido enquanto haviam decorrido as cerimónias na Igreja. E contentes e alegres ficavam quando descobriam qualquer coisa: uns rebuçados, figos passados, um brinquedo, feito artesanalmente pelos pais, durante os dias anteriores, mas sempre de maneira reservada para que não fossem vistos ou descobertos...

Mas que lindo era o Natal daqueles tempos!...

Hoje é tão diferente!


Vila das Lajes, 13 –Dezº - 2008

Ermelindo Ávila

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Natal era assim...

Chegado o mês de Dezembro, todos, novos e velhos, se preparam para celebrar o Natal. Pelas ruas e praças do burgo já há sinais festivos da época que está em casa. Aqui e ali, lâmpadas multicolores embelezam as fachadas dos edifícios públicos e de alguns particulares. Os pinheirinhos já se vão colocando na sala principal e adornando com flores, lâmpadas e outros adornos.

Todos se preparam para o grande Dia. Uns com maior esplendor outros com modestos adereços, já vindos de anos passados.

Hoje, dia 13, dia de Santa Luzia, como é velha tradição, na maioria das casas são colocados em pequenas taças de vidro, os grão de trigo a grelar, afim de estarem despontados e viçosos no dia do Natal. Com eles vai ser enfeitado o pequeno altar, à maneira de trono, armado com caixas e coberto de bonitas toalhas brancas ou de um simples lençol, onde será entronizada a pequena imagem do Menino, uma preciosa relíquia já vinda dos tempos dos avós.

O altar era, em tempos não muito recuados, a preocupação principal. Camélias do jardim, laranjas “americanas” do pomar, os pratinhos de trigo a recordar as antigas searas – agora usa-se o milho em sua substituição - tudo servia para tornar o pequeno trono um mimo de graça, de frescura e encanto, em louvor do Menino.

Nos anos trinta chegou dos Estados Unidos o pinheiro que hoje todos colocam nas suas casas e enfeitam com lampadas eléctricas de variegadas cores, e fitas e adereços coloridos, e, aqui e ali, pequenas imagens do novo “São Nicolau”. Mas, mesmo assim, ainda poucos são os que dispensam o antigo presépio ou altarzinho.

De recordar igualmente as Novenas do Natal, aquelas de que me lembro com alguma saudade, realizadas ao princípio da noite, quando não havia luz eléctrica a iluminar os caminhos.

As famílias – novos e velhos, vinham aos grupos, de perto e de longe, trazendo um lampião a petróleo ou vela – depois vieram os petromax - a iluminar os caminhos do percurso. A Igreja também era iluminada a petróleo.

Aquele crepúsculo dava uma certa interioridade mística, e as músicas ainda em latim, sempre iguais mas sempre belas, eram escutadas com enlevo.

E já não falo na Noite do Natal, com o templo melhor iluminado e os cânticos executados pela Capela, a despertar os mais sonolentos. Que bons , esses tempos idos!
(crónica lida no dia 13-12-08, no Programa manhã de Sábado da RDP-Açores)

domingo, 14 de dezembro de 2008

A AVIAÇÃO QUE NOS SERVE - 2

Importa lembrar o que foi a construção da pista da Ilha do Pico. O valoroso empreendimento também tem a sua pequena história que aqui registo, muito singelamente, mas com a verdade toda.
De longa data vinha-se falando numa pista para o Pico. A ilha oferecia zonas especiais que poderiam ser satisfatoriamente aproveitadas, se não fosse a contestação permanente que se fazia para que os picoenses não dispusessem de uma pista moderna e capaz de servir a sua população. Certo é que foi escolhida a zona de Santa Luzia. O projecto foi elaborado, somente em planta, e andou pelas Câmaras Municipais da Ilha.
Entretanto, na década de sessenta do século passado, os Presidentes dos Municípios açorianos foram a Fátima, tomando parte numa peregrinação nacional. Ao regressar, os autarcas do ex-distrito da Horta, acompanhados do Governador, em visita de cortesia, foram cumprimentar o Presidente do Conselho. Ao ser apresentado o de São Roque do Pico, Salazar felicita-o porque ia ter o campo de aviação. Interveio, imediatamente, o Governador para informar o Presidente que o campo era na Ilha do Faial. E assim aconteceu.
A inauguração do Aeroporto da Horta realizou-se a 24 de Agosto de 1971. Para o inaugurar deslocou-se ao Faial o Presidente da República, Almirante Américo Tomaz. A Horta não dispunha de hotéis e o almoço foi servido ao Presidente, comitiva e numerosos convidados, na Estalagem de Santa Cruz (antigo castelo de Santa Cruz).
Todavia, os Presidentes dos Municípios picoenses não se aquietaram. Aproveitando o projecto elaborado para o Pico, dirigiram uma petição ao Ministro respectivo solicitando a aprovação do projecto e pedindo para que fossem as Câmaras Municipais autorizadas a proceder à construção da pista. Estava em Lisboa o Governador que, ao tomar conhecimento da atitude dos Presidentes pensou em demiti-los. Mas ficou por aí. Cerca de um ano decorrido, recebiam os Municípios peticionários a cópia do parecer dos Serviços da Aeronáutica e a solicitada autorização para a construção da pista, sem encargos para o Estado. Mas os presidentes peticionários já tinham sido substituídos por haverem terminado o mandato e tudo ficou como dantes...
Entretanto, veio a Revolução Nacional. Para o Pico foi destacada uma força de sargento. O respectivo comandante, no intuito de dar ocupação “aos seus homens”, procurou descobrir uma obra de interesse público em que os pudesse ocupar. Numa das reuniões militares, expôs o seu plano e, por indicação de um dos Militares presentes, natural desta Ilha, ficou resolvido iniciar as terraplanagens para a construção de uma pista, nos campos de Santa Luzia, aproveitando-se o projecto existente . A obra começou com a colaboração dos Serviços Florestais instalados na Ilha. Com certa lentidão os trabalhos foram prosseguindo até que o Governo Regional, então formado, chamou a si o empreendimento. O aeroporto (depois classificaram-no de aeródromo) acabou por ser inaugurado ,com pompa e circunstância, no dia 25 de Abril de 1982. Quase vinte anos depois!...
Mas a pista inaugurada não era aquela de que necessitava e reclamava a ilha. Importava ampliá-la e dar-lhe as infra-estruturas indispensáveis. Decorreram outros vinte anos para que o Governo Regional resolvesse ampliar, em comprimento e largura, a pista do Pico.
Construiu-se nova aerogare, ampla e funcional, mas ainda não se instalaram os depósitos para o fornecimento de combustível às aeronaves...
Depois de muito insistir e reclamar, apareceu um dia o avião da TAP a aterrar no aeroporto do Pico para, semanalmente, fazer uma paragem no Pico, no voo normal para a Terceira. Mas não basta. Muito se reclama, mas nada se consegue. O Pico continua a dispôr somente de um toque semanal...
As férias do Natal estão a chegar. Ao contrário de antigamente, os estudantes que frequentam as Universidades vêm habitualmente passar essa quadra festiva com as famílias. Raros são os que conseguem vir ou regressar directamente de Lisboa para o Pico ou vice-versa. Habitualmente, têm de viajar para o Faial porque a TAP, naquela época, aumentou de doze voos extraordinários as viagens parta Castelo Branco, deixando o Pico apenas com o toque normal.
E pergunta-se: Porquê esta descriminação? As últimas estatísticas publicadas na Imprensa regional informavam que setenta e tal estudantes do Pico frequentavam cursos superiores enquanto a Ilha vizinha tinha cinquenta e tal. E aqueles passageiros do Pico que se vêm forçados a viajar pelo Faial, porque as reservas do avião que sai do Pico andam sempre ocupadas? E quantas serão?
Afinal, o avião não vem para o Pico em escala directa. Passa no Pico em viagem para a Terceira e dali segue para Lisboa. Não será naquela Ilha que as reservas são ocupadas?
Alguém já teve o cuidado de fazer a estatística (hoje a estatística é que é base de todos os estudos e soluções...) dos passageiros do Pico que são obrigados a tomar o avião no aeroporto de Castelo Branco, porque, ou não há avião, ou as reservas estão antecipadamente ocupadas ?
Mas há ainda outra anomalia a registar: Se o aeroporto do Pico não está praticável, os passageiros ou ficam no Faial ou vão para a Terceira. Se o contrário acontece, o avião desconhece o aeroporto do Pico e segue a outra rota. O aeroporto do Pico nunca é alternativa.
O delegado da TAP no Faial – creio que é o mesmo que superintende nos serviços da TAP no Pico – desconhece estes factos? Se deles sabe porque não dá conhecimento à respectiva administração?
Neste sector como em outros mais não há bairrismos doentios nem separatistas. Há somente a realidade dos factos e a constatação de um desprezo que chega a ser vexatório.
E, já agora: Não há bairrismo em São Jorge, na Terceira, ou São Miguel ou nas Flores? Valha-nos Deus...
Porque são votados os picoenses a esta situação humilhante ?
Analisem - se desapaixonadamente os factos e veja-se de que lado está a razão.
Os picoenses, (das albarcas quase desaparecidas) são tão dignos e têm os mesmos direitos que os outros ilhéus - açorianos.
Desculpe o leitor o desabafo, mas há verdades que têm de ser ditas...

Vila das Lajes,
26 de Nov. De 2008
Ermelindo Ávila

domingo, 7 de dezembro de 2008

Poetas do Pico

Uma nova manhã de sábado surge nas manhãs da nossa vida. E Elas são sempre esperadas com grande ansiedade. Despertamos para um dia novo, onde não faltam as surpresas. Elas aparecem quando menos as esperamos. Mas importa estarmos sempre preparados para as receber. São os ventos que sopram, sem que a Meteorologia os anuncie. São as chuvas e os frios que aparecem mais cedo do que o habitual. São as tempestades que assolam o mundo, aqui e ali deixando a morte, a fome, o frio... São as desgraças e calamidades. É a destruição dos bens materiais e a morte de inofensivas pessoas. São os problemas internos que, por vezes, quantas !, nos atormentam.
Todavia nem tudo são tristezas, angústias e penares. Há também alegrias e esperanças, que uma manhã diferente nos anuncia com o raiar esplendoroso do sol nascente. E como sabe bem, consola a alma e o espírito, nesses dias, quase primaveris, olhar a nossa montanha, límpida, imponente, onde os primeiros raios do sol se reflectem , numa beleza ímpar, plena de encanto e magia. Mesmo que seja a estação invernosa porque a Montanha, como disse um Poeta nosso , Doutor José Enes - : o Pico é a
Montanha do meu segredo,
Montanha do meu destino:
Montanha da minha dor;
Montanha do meu chorar;
Da minha louca ambição;
Montanha da minha sorte;.
Ilha de poetas. Abundam as produções literárias do género. E se esses aqui não nasceram que, tão inspiradamente, souberam enaltecer a ilha em versos delicados, pela ilha se enamoraram, e, até, quantos aqui ficaram!
Ilha Maior”, a cognominou o malogrado poeta Almeida Firmino que, nascido em terras alentejanas, no Pico veio terminar uma vida curta, com uma alma repleta de Poesia, deixando uma obra de inestimável valor.
Roberto de Mesquita, consagrado poeta florentino, aqui principiou sua vida profissional, e, talvez no isolamento da ilha, por cá nascesse a verve da sua inspiração poética, fazendo dele um dos maiores Poetas portugueses.
E que dizer de Josefina Canto e Castro? Uma poetisa que, quer em prosa quer em verso, tinha palavras belas quando referia o Pico, a ilha do seu encantamento?!
Amélia Ernestina de Avelar, nasceu na Vila da Madalena em l de Maio de 1949 e faleceu em Angra em 1887, apenas com 38 anos.
Ensaios Poéticos, que a neta Maria Avelar Medeiros Leonardo publicou em 1949, (62 anos após o falecimento da Poetisa) é o seu livro de poesia. Vale a pena escutar algumas passagens do poema Meu Pico:
Pico, meu Pico, eis-te agora
como eu gosto de te ver,
a fronte dominadora
sem tristes véus a erguer
........................................
Ó Pico, assim imponente,
que graça tens a ostentar,
quando a luz do sol poente
vem tua fronte dourar!...
...........................................
Quando a madrugada apenas
principia a alvorecer,
entre jasmins e açucenas
gosto tanto de o entrever...
............................................
No prefácio destes “Ensaios Poéticos”, escreveu outro festejado Poeta faialense, Osório Goularte, e cito: No livro desta Poetisa há um poema consagrado à sua pequena pátria – O MEU PICO – em que ela descreve os vários aspectos daquela montanha com indicações barométricas de estado atmosférico, pois muitas vezes: “Profectiza o temporal, - a guerra dos elementos, - a fúria solta dos ventos”.
E, referindo-se à poetisa, diz ainda Osório Goulart: “Amélia Ernestina Avelar viveu na época da literatura romântica e, por isso, todos os seus poemas têm a feição sentimental, mas como foi, na sua época, uma Poetisa de merecimento, é louvável a intenção dos seus descendentes, prestando-lhe homenagem nesta data comemorativa e recordando uma étape da evolução da Poesia Portuguesa."
Outros Poetas houve que mereceriam ser lembrados. Mas hoje fico por aqui.
BOM DIA!
(crónica lida em Manhãs de Sábado, da RDP-Açores)
Vila das Lajes, 1-Dezº-2008
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A AVIAÇÃO QUE NOS SERVE - 1

Há quase oitenta anos – 13 de Maio de 1927 – o aviador italiano, Pinedo portou à Horta, vindo de New York, no hidroavião Santa Maria. Foi um acontecimento notável que serviu de ensaio a outros pilotos aviadores que se seguiram. No entanto vale recordar que, antes de partir da América, Pinedo avisou para estarem preparadas as baÍas da Horta e, em alternativa, a baÍa das Lajes do Pico, pois eram as únicas que reuniam condições para uma amerissagem segura.
Depois foi o Junkers alemão. Mas outras experiências se seguiram. Em 1933, é a vez da esquadrilha do italiano Italo Balbo, composta de 24 hidros, nove dos quais amerissaram no porto da Horta, seguindo os restantes para Ponta Delgada, onde um deles se perdeu, morrendo o respectivo piloto. (Uma revista ilustrada, da época, chegou a dar o desastre como acontecido na baia da Horta...)
De recordar Lindbergh, com a esposa, viajando no Lockheed Sirius (diziam que era, ao que constou, um jipe anfíbio) e que chegou à Horta em 21 de Novembro de 1933. Pertencia à companhia Pan American, que viria a estabelecer carreiras regulares com os famosos Clipper’s, desde 1939, entre New York e Horta - Lisboa e as mantiveram durante a Segunda Guerra Mundial. Na Horta estabeleceram uma estação de serviço que ali se manteve enquanto os hidros Clipper’s navegaram. Quando passaram a utilizar os aviões terrestres, construíram uma pista em Santa Maria, para onde transferiram os serviços de apoio.
Os Clipper’s fizeram história no porto da Horta. As viagens eram regulares para Lisboa, se o tempo permitia. (1)
Ao contrário do que, posteriormente, veio a suceder, os açorianos que desejavam viajar, via aérea, para Lisboa, tinham de deslocar-se à Horta, para tomar o Clipper, na sua viagem semanal.
Estava-se em plena Guerra Mundial. Chegou a Portugal a notícia de que Hitler pretendia tomar Lisboa. Imediatamente o Governo resolveu transferir-se para os Açores. O primeiro a vir foi o Presidente da República, Óscar Carmona. Mas, para dar ao acontecimento um aspecto natural, resolveram que os Governadores Civis se deslocassem a Lisboa a formalizar o convite para uma “visita” às Ilhas Açorianas. Os Governadores de Ponta Delgada e Angra viajaram até à Horta, numa viagem directa do antigo iate-motor “Ribeirense” e ali tomaram o hidro que os levou à Capital.
Feito o convite, que foi aceite, naturalmente, o Presidente, com a esposa, uma filha e marido, este ajudante de campo do Presidente, e um neto, seu secretário, embarcaram no Carvalho Araújo, com os Ministros da Marinha e do Interior.
O itinerário da Visita Presidencial previa o desembarque na Madalena, donde o Presidente e Comitiva seguiria, depois, para a Horta. O Presidente da Câmara, Manuel Cristiano de Sousa e Simas, esmerara-se para que a Vila apresentasse um aspecto festivo e condigno. Nomeou comissões que tomaram a seu cargo a decoração da Vila. E recordo até que, no largo, existia um poço para abastecimento público. Francisco Machado Joaquim tomou a seu cargo a “construção” de um cesto florido em cima do bocal, onde um grupo de donzelas, trajando roupas regionais, enviava flores à passagem do cortejo. O Presidente apreciou e dirigiu-lhes palavras de gentil cortesia. Um arco triunfal foi erguido à entrada do largo. Tudo metodicamente preparado. Até os Paços do Concelho haviam sido excelentemente decorados com ricas mobílias orientais. Mas, o imprevisto aconteceu.
Soube-se que o Presidente condecorava o Presidente da Câmara que o recebia. Daí o alterar o itinerário da visita... E Carmona foi desembarcar no Cais do Pico, que à pressa se preparou durante a véspera e noite. Ali foi condecorado o Presidente Celestino Freitas.
Por terra, veio o General Carmona para a Madalena, afim de embarcar para a Horta. O Comandante da Legião Portuguesa, Capitão João Costa, que estava de mal com o Governador, o Capitão Moreira de Carvalho, trouxe da Horta para a Madalena o corpo de legionários e postou-o junto dos Paços do Concelho. À Chegada do Presidente ao Cais de embarque, informou-o de que a guarda de honra estava em frente à Câmara Municipal. O Chefe do Protocolo interveio logo dizendo que não era protocolar o Presidente deslocar-se ao local mas o General Carmona respondeu que iria, e foi. Passou revista ao Batalhão legionário e, depois, o Comandante João Costa convidou-o a entrar nos Paços do Concelho, ao que, novamente, se opôs o Protocolo. Carmona aceitou o convite e subiu até ao Gabinete onde lhe foram entregues e à comitiva, as ofertas previamente preparadas. Só não houve condecoração do Presidente do Município...
A seguir o Presidente tomou lugar na tribuna, que foi levantada a meio do Largo, para assistir à passagem do cortejo de rosquilhas do Espírito Santo e depois encaminhou-se para o Cais para embarcar.
Mas a história não fica por aqui. O resto virá depois.
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1) Neste escrito servi-me, com a devida vénia, de “Apontamentos para a História da Aviação nos Açores”, por Carlos Ramos da Silveira e Fernando Faria – 1985.
Vila das Lajes, 25-XI-08 Ermelindo Ávila

domingo, 30 de novembro de 2008

Prémio DARDOS



Esta distinção foi-nos atribuída pelo Lajense Dr. Paulo Pereira no seu Basalto Negro, considerando-nos "um caso de verticalidade e clarividência pouco comuns no nosso meio". Tanto o comentário como a distinção são encómios que aceitamos mais pela simpatia de um conterrâneo, que pela justeza das palavras.

A publicação na internet destas Notas que, semanalmente, publicamos no semanário O DEVER e algumas no Diário dos Açores e RDP-Açores, pretendeu, apenas, arquivar esses escritos e simultaneamente facilitar aos lajenses e a outros interessados a nossa opinião e perspectivas de acontecimentos e questões que respeitam à Ilha do Pico e à avoenga Vila das Lajes, a primeira povoação picoense.

Se contribuirmos para a divulgação da nossa terra e o seu desenvolvimento, valerá a pena continuar a utilizar este portentoso meio de comunicação.

domingo, 23 de novembro de 2008

SANTA CECÍLIA - PADROEIRA DOS MÚSICOS

A Igreja Católica celebra hoje a festa de Santa Cecília, Padroeira dos Músicos.
Desde longos tempos que os músicos comemoram a festa da sua Padroeira. Todavia, que eu saiba, foi o Dr. Francisco Garcia da Rosa que, ao chegar de Roma, onde fez estudos universitários, e sendo nomeado Vigário da Matriz da Horta, ali instituiu a festa da Padroeira dos Músicos; festa que tem continuado desde os recuados anos vinte do século passado.
A Horta tem uma tradição musical muito notável e importante.
A Filarmónica Artista Faialense é a mais antiga do ex-distrito e viveu momentos de elevada craveira sob a regência do célebre Mastro Francisco Simaria.
A Ilha do Pico possui um assinalado número de sociedades filarmónicas, algumas delas já centenárias, como é o caso da Liberdade Lajense, fundada em l4 de Fevereiro de 1864; a União Artista, de S. Roque do Pico, fundada em 1880; a Lira Fraternal Calhetense, fundada na Calheta de Nesquim em 1888; a Recreio Ribeirense, de S. Cruz das Ribeiras, fundada em 1900; e a Recreio dos Pastores, fundada na freguesia de S. João, em 1904. Outras mais vão a caminho do século, como é a União e Progresso Madalenense, da Madalena, fundada em 15 de Janeiro de 1917.
A Ilha do Pico possui, actualmente , treze filarmónicas, algumas tunas e vários ranchos folclóricos.
A tradição musical, nos Açores, vem de longa data. E os açorianos souberam mantê-la e levá-la para as terras da Diáspora, onde fundaram excelentes bandas, como é o caso da Califórnia, o Leste americano e o Canadá.
E já não aludo aos coros ou conjuntos orfeónicos, excelentes agrupamentos que estão a causar sucesso pelas terras por onde passam. Regista-se o Grupo Coral da Terra Chã, na Ilha Terceira, o Grupo Coral das Lajes do Pico, o Grupo Coral de São José e o Orfeão Dr. Edmundo Machado Oliveira, de Ponta Delgada, o Grupo Coral da Horta e muitos mais, pois quase todas as Ilhas mantêm com brilho os seus grupos corais. E não refiro, pois a crónica torna-se extensa em demasia, as capelas existentes em quase todas as igrejas paroquiais, algumas delas de excelente qualidade.
No entanto, falar destes conjuntos impõem-se também falar dos grandes mestres que, há mais de cem anos, vem instituindo esses agrupamentos, ensinando alguma música aos seus componentes e estes a outros mais por essas ilhas além.
Da Ilha de São Miguel recordo o Padre Serrão, autor de várias composições sacras de grande valor artístico e clássico, depois outros mais, dos quais destaco o Tenente José Dias.
Da Ilha Terceira não pode esquecer-se o celebrado Padre Borba, autor do Solfejo com que nas Escolas se ensinavam os rudimentos musicais. E muitas partituras espalhadas pelas igrejas açorianas
São Jorge, orgulha-se do célebre maestro e compositor Francisco de Lacerda, que arrebatou os auditórios de Paris.
Nesta Ilha do Pico recordo o Padre João Pereira da Terra que, no então curato da Silveira da Matriz das Lajes, hoje paróquia de S. Bartolomeu, ensinou um bom número de rapazes e fundou uma esplêndida capela que regeu com acentuada mestria. "Dos seus discípulos de então sobressaiu, de forma especial, o grande maestro Pe. José de Ávila”, (como regista o Pe. José Carlos no seu “Padres da Ilha do Pico”). E foi o Pe. José de Ávila o grande impulsionador dos grupos corais dos Açores e não só, e professor de outros que também são ou foram Maestros. De elevada craveira.
Na Matriz das Lajes do Pico, pelas 6 horas da tarde, realiza-se a festividade de CRISTO-REI, SENDO INCORPORADA A Memória da Padroeira dos Músicos, Santa Cecília. Nesta solenidade tomam parte, além da Capela da Matriz, o Grupo Coral das Lajes do Pico e a Filarmónica Liberdade Lajense.
22 de Novembro de 2008
Ermelindo Ávila
(crónica lida no programa MANHÃS DE SÁBADO DA RDP-AÇORES)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A ANTIGA CASA DA CÂMARA

A quase totalidade da actual geração de lajenses ignora que a Câmara Municipal teve uma sede própria – a Casa da Câmara – situada no centro da Vila. Foi assim que procederam todos os concelhos. Era nos centros das Vilas e Cidades que se situavam os edifícios públicos e os particulares de maior relevo ou importância.
Para corroborar a afirmação basta ter presente as actuais cidades de Ponta Delgada, Ribeira Grande, Praia da Vitória e Angra do Heroísmo, onde ainda existem as antigas casas dos Municípios.
No “Meio da Vila” ficavam a velha Igreja Matriz, a “Casa da Câmara”, a Igreja da Misericórdia e as residências dos Morgados.
A Casa da Câmara situava-se ao norte da Matriz. Esta tinha a empena principal – altar mor – voltada para Leste. A Casa da Câmara ficava com a frente voltada a norte e o acesso ao piso superior era feito por duas escadas de pedra, em sentido oposto. No cimo havia um alpendre semelhante ao da Praia da Vitória, embora de menores dimensões. O edifício da Câmara só tinha duas salas. No primeiro piso ficavam as cadeias. Na parte exterior existia um pequeno muro com o sino que, às 9 horas da noite, tocava a recolher.
Na acta da Vereação de 5 de Abril de 1826 consta: “Visto o definhamento que se mostra estar esta casa e sala da Câmara “foi deliberado proceder aos reparos do edifício “correndo este diminuto reparo de conta do Procurador do Concelho...”
Depois, anos decorridos: “Dada a pobreza do concelho e a necessidade de reparar o estado totalmente de ruína em que se acham esta casa do concelho e as cadeias, por proposta do Juiz de Fora, José Prudêncio Telles d’Utra Machado, (que presidia à Vereação), foram convidados os proprietários que se achavam presentes para concorrerem para as obras com o que lhes parecesse.” E logo ali os proprietários presentes, em número de dezasseis, ofereceram madeira, os carretos e o ferro necessário.
Em 21 de Junho de 1830, a casa estava novamente em ruínas e foi arrematada a reparação por 6.400 reis.
Em 1834 os serviços municipais encontravam-se a funcionar no extinto convento franciscano, suprimido por Decreto de 17 de Maio de 1832 de D. Pedro, Duque de Bragança, então em Ponta Delgada. Estando o antigo edifício da Câmara abandonado, a Vereação deliberou pôr em praça a sala dos antigos Paços do Concelho e que estava servindo de aula de Latim. Nova arrematação se procedeu em 5 de Dezembro de 1898. No orçamento desse ano foi inscrita a verba de 60.900 para “conserto da antiga casa da Câmara em consequência do estado de ruína.”
Com o início das obras da Nova Matriz, cuja primeira pedra foi solenemente lançada em 7 de Julho de 1897, foi o edifício demolido , entregando-se os respectivos materiais à Junta de Paróquia, para as respectivas obras.
Após a demolição da Casa da Câmara ampliou-se o largo (meio da Vila) e retirou-se o Pelourinho que lhe ficava na frente (Norte) e cujo pedestal ficou subterrado com as obras executadas no arruamento circundante. Nessa ocasião foram também retiradas as casas de morada do Padre Teodoro, que ficavam por detrás da casa da Câmara, e dela separada por um arruamento.
Mais tarde, quando já se estava a concluir a Matriz, nos anos sessenta do século passado, foram demolidas as casas de Francisco Silva (antiga casa de Manuel Xavier Bettencourt) que ficava a norte e a casa de Manuel Cardoso Serpa, a sul, no enfiamento da Rua do Passal.
Depois de quase quatrocentos anos ser o centro das decisões das Diversas Vereações que por ela passaram, Vereações que eram constituídas pelos homens bons do concelho, como então eram designados os vereadores, desapareceu a velha, secular e histórica casa da Câmara. Dela foi resguardada a pedra que encimava a porta principal, onde estava esculpido o “Escudo Municipal”, nem mais do que a Cruz de Cristo. Disso dá testemunho Lacerda Machado na História do Concelho das Lages de que é erudito Autor. Mas a pedra, que havia sido guardada numa dependência do convento Franciscano, agora a servir de “Paços do Concelho” –interinamente, note-se – desapareceu !... Ignora-se quem tenha sido o benemérito que a haja acautelado...
O Velho convento de Nossa Senhora da Conceição, como era designado oficialmente, hoje considerado “Imóvel de Interesse Público”, por Portaria nº .22/78, de 30 de Março de 1978 do Governo Regional dos Açores, continua a ser propriedade do Estado, como o considerou a Direcção Geral da Fazenda Pública por ofício de 15 de Novembro de 1944.(1)
Assim sendo, não será oportuno considerar a Câmara Municipal a construção de um edifício condigno no centro da Vila, seguindo a tradição que vem dos antepassados do concelho?
____________
1) E. Ávila – “Conventos Franciscanos da Ilha do Pico – (Notas Históricas)”-1990
Vila das Lajes,
15 de Novº de 2008
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Pe Dr. Garcia da Rosa

A Ilha do Pico vai saindo do seu marasmo de incultura. Aqui e ali vai promovendo, manifestações artísticas e de boa formação intelectual. É agradável isso assinalar. E, fazendo-o, apoiamo-nos, principalmente, nos vários jornais que têm surgido ao longo de quase dois séculos e que hoje estão representados pelos semanários “O Dever” na Vila das Lajes, já no 92º ano de publicação ininterrupta; na Vila da Madalena, o “Ilha Maior”, no 21º ano ; e o “Jornal do Pico”, da Vila de São Roque, a ultrapassar o 5º ano de publicação. E não aludimos os vários boletins paroquiais e, ainda, os que publicam as Escolas do Ensino Secundário.
O movimento bibliográfico é notável para uma ilha de 15 mil habitantes. São vários os escritores picoenses da actualidade. Alguns deles de notável craveira intelectual. Uns da lei da morte se foram libertando ; mas há ainda aqueles que estão na pujança do seu talento e da sua cultura e vem publicando obras, de géneros vários, que honram e dignificam a cultura açoriana e continental.
Mais de três centenas de títulos arquivo nas minhas modestas estantes, de autores picoenses. E eles são naturais de todas as freguesias da ilha. Desde o conto, a poesia, o romance, o ensaio, a história... Dá gosto compulsá-los de vez em quando e deleitarmo-nos com a sua leitura.
Diz o conhecido Cónego Pereira no seu magnifico trabalho “Padres Açorianos –Bispos -Publicistas - Religiosos”, Angra, 1939, que Fr. João da Fé – picoense – que viveu no século dezoito, professou na Ordem de S. Francisco e foi Lente e Guardião do Convento da Horta, logo que o mesmo foi construído. Depois passou a Provincial da sua Ordem, nos Açores. Publicou: “Panegírico ao muito alto e Poderoso Rei de Portugal, D. João V, pregado na festa da sua gloriosa aclamação que celebrou a fidelíssima ilha do Faial, aos 25 de Abril de 1707. "
Trata-se, pois, do primeiro trabalho impresso, que se conhece, da autoria de um picoense. E tantos outros se seguiram...
No dia 14 de Novembro de 1958 – ocorreram ontem cinquenta anos - faleceu em Angra o Dr. Francisco Garcia da Rosa, que foi vigário da Paróquia da Conceição, daquela cidade , Cónego da Sé e professor do Seminário. Era natural da freguesia de São João Baptista, desta Ilha.
Sobre o erudito picoense, diz o Cónego José Augusto Pereira, no seu trabalho já citado, que o Dr. Garcia da Rosa publicou em “A União” (5 –Agosto - 1937) um trabalho sobre A Restauração Artística de uma Igreja Notável, referindo-se à Igreja de São Sebastião da Ilha Terceira. Desenvolvendo o mesmo assunto, apresentou ao Congresso Açoriano em Lisboa (realizado em Lisboa em 1938), um trabalho intitulado Uma velha igreja gótica na Ilha Terceira. E publicou a conferência, que em 1939, pronunciara no Teatro Micaelense, a quando da deslocação do Orfeão de Angra, sob o título: Origem, decadência e Restauração da Polifonia Sacra. E diversos estudos históricos no Boletim do I.A.C. Em 1943, publicou a Oração de Sapiência, intitulada “Maria Santíssima e as Belas Artes", proferida na abertura solene do Seminário de Angra no ano lectivo de 1942-43.
O Dr. Garcia da Rosa faleceu há precisamente cinquenta anos. No entanto é justo que, nesta ocasião, lhe preste a minha sincera homenagem, pois trata-se de uma figura que sempre me dispensou grande amizade e que muito respeitei mas que, infelizmente, anda esquecida.
Outros há que merecedores são de igual lembrança, porém, ela não cabe na crónica de hoje. Mas, nunca os esquecerei.
(crónica lida no programa da RDP-Açores MANHÃS DE SÁBADO).
Ver também o trabalho de Ermelindo Ávila, sobre o mesmo tema publicado em Figuras & Factos, vol.I pag 69.
Vila das Lajes, 15 de Novembro de 2008 Ermelindo Ávila

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

NO RESCALDO

NOTAS DO MEU CANTINHO

Terminaram as campanhas eleitorais para as eleições regionais. Os resultados foram frustrantes para algumas. Outros cantam vitória. O povo, esse ficou retido nas suas casas alheio à euforia dos políticos. Não será essa a leitura que se pode fazer dos 53 por cento de abstenções?
Todos os interessados em conseguir lugar no Parlamento, um emprego aliciante e que sabe bem aproveitar... fizeram promessas e mais promessas, distribuíram a rodos cartazes, objectos utilitários embora marcados pelas suas siglas, andaram de porta em porta com folhetos em que haviam impresso seus programas - promessas... E pouca diferença faziam uns dos outros. Mas alguns dos empreendimentos de que há muito se reclama, ficaram totalmente no esquecimento. Ignoramos a razão mas tudo leva a crer que houve o receio de levantar ondas, por razões que bem se compreendem. Podiam entrar em conflito parlamentar com os parceiros de outros círculos e isso todos quiseram evitar.
Todavia, não faltaram propósitos e afirmações para a solução de alguns empreendimentos que ,há muito, já têm solução satisfatória.
Um dos assuntos que não vimos devidamente tratado foi o Turismo na ilha do Pico. Esquecimento ou propósito?
Ainda agora estou escutando pela voz dum político nacional que o Turismo é a principal actividade económica da Ilha da Madeira. Há muito que o sabemos. E quem por lá passa depara-se, em toda a ilha, com luxuosos e avantajados estabelecimentos hoteleiros que não foram construídos para servir os nativos mas aqueles que, de todas as partes do Mundo e desde há longas décadas, ali chegam para momentos de lazer e de gozo paisagístico.
E as ilhas açorianas? Nada têm para oferecer ao Turismo? Não refiro S. Miguel porque é um caso à parte, muito embora, quando se refere qualquer invento naquela Ilha, se diz: “Nos Açores”.. . E à ilha...nada falta! Agora, vão-se “inventando” novas estruturas que às outras ilhas nada interessam, mas é Açores...
O Turismo nasceu em São Miguel, há muitos anos, por uma firma comercial e industrial, cujos proprietários, não sendo dali, há mais de um século ali se fixaram e na ilha têm desenvolvido a sua operosa actividade. E igualmente na Ilha do Faial.
No mês de Agosto de 1939 encontrava-me em Ponta Delgada. Passava as tardes no antigo café “Giesta”, situado ao lado da Matriz. Um pouco além, havia sido inaugurado, meses antes, o “Bureau” de Turismo, que estava a cargo do excelente amigo Silva Júnior. E como órgão, suponho, desse estabelecimento - posto de turismo, havia sido criado e circulava, ainda sob a direcção do distinto Dr. Agnelo Casimiro, o jornal “A Ilha”, onde tinha assento um grupo de distintos e intelectuais jovens micaelenses. Alguns eram bons amigos. Recordo-os com saudade, entre eles Victor Pedroso.
Um dia “A Ilha” , secundada pelos outros jornais micaelenses da época – Diário dos Açores, Correio dos Açores e Açoriano Oriental (ainda em primeira série), anunciaram a inauguração do Campo de Golfe das Furnas, para o que chegara dos Estados Unidos um milionário americano com o seu secretário. Uma “matança de porco” era o elemento atractivo. E, nessa véspera de domingo, a cidade despovoou-se para assistir à “matança” e à inauguração, pois na ilha ainda não havia praticantes daquele desporto.
O campo lá ficou para nacionais e estrangeiros e ainda hoje existe.
Na Ilha do Pico, há duas dezenas de anos, se não mais, constituiu-se uma sociedade para a construção de um campo de golfe. A Câmara Municipal cedeu o terreno. As obras iniciaram-se. Muita terra de quintais da vila foi transportada para o Mistério da Silveira para regularização do campo. Mas as obras ficaram em meio. Não sei se ainda existe a sociedade promotora. Sei que o campo não foi concluído e a ilha ficou privada de uma estrutura indispensável ao desenvolvimento do Turismo que, repito, é a indústria do futuro. O Pico faz parte dos Açores ou Região. Tem um potencial enorme que está desprezado e que muito poderá contribuir, quando devidamente aproveitado, para a implantação e desenvolvimento do Turismo. E não precisa de serem suspensos PDM...
Explicam que o Pico não tem força política para solucionar os seus problemas e que nunca caminhará com firmeza para o futuro porque será sempre um servidor submisso e calado...
Pois que assim seja. Mas, não se enganem os políticos. Tempos virão em que o castão da bengala se virará para o chão...
A abstenção venceu nas passadas eleições. Uma ou muitas razões houve para que isso acontecesse É isso que não se quer ver nem se analisa.
Vila das Lajes, 28-Outubro-2008
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

AS ESTRADAS E OS CAMINHOS DO PICO

Há meio século a Ilha do Pico, como a das Flores e a de São Jorge, não possuíam uma rede de estradas que cobrissem a totalidade da Ilha . Andava-se por aí a cavalo ou a pé, pois a estrada nacional só cobria a parte norte, da Prainha do Norte à Vila das Lajes.
Em vésperas de eleições iniciavam-se os trabalhos, para a estrada Lajes-Piedade, ali, acima da Ladeira, mas, depois, ficava tudo como dantes.
Felizmente, que esses tempos já pertencem à História e as novas gerações nem sabem o que era vir ou ir a pé, da Piedade à Vila, por caminhos “de cabras” como diziam, subindo e descendo ladeiras íngremes e perigosas.
O circuito ficou completo há meio século e, depois, veio a rede de estradas no interior, para acesso e utilização das pastagens e baldios, obra executada pelos Serviços Florestais, então instalados nestas Ilhas.
Mesmo assim, não deixaram alguns de contestar as obras e impedir que os caminhos florestais passassem pelos seus terrenos, o que evitou a construção de alguns.
Todos os caminhos e estradas estão, na sua quase totalidade asfaltados, com excepção de alguns caminhos vicinais da responsabilidade do Município, privando-se as populações utentes de beneficiarem de direitos iguais aos seus conterrâneos.
Todavia, há situações pontuais que merecem aqui um reparo. A estrada Lajes - Piedade foi recentemente asfaltada, substituindo-se a calçada à portuguesa, que vinha do tempo da sua construção em 1940.
( E que difícil foi conseguir o calcetamento, pois o Empreiteiro não desejava fazê-lo, apesar de constar do respectivo projecto. “O Dever” alertou os poderes públicos mas, mesmo assim, foi preciso moverem-se influências para que o projecto fosse totalmente executado. Foram mais de vinte e um quilómetros de estrada. No tempo dizia-se que era a melhor estrada dos Açores. Mas, porque não houve a devida conservação, o seu fim chegou...)
Contudo não se refizeram as bermas, deixando-se que uma vegetação selvagem prejudique muitas vezes o trânsito dos peões e contribua para os perigos que o trânsito de veículos, que é bastante, muitas vezes provoca. Importa ter em atenção que a Ilha do Pico tem, actualmente, um parque automóvel de cerca de dez mil (!) veículos.
Além disso, a sinalização não é a mais adequada. E os locais de interesse turístico não estão devidamente indicados, como se verifica em outras zonas, mesmo na Ilha.
No início, ao longo da estrada foram plantados pinheiros e outro arvoredo mas deixou-se de atender às podas indispensáveis, constituindo hoje bardos densos que, algumas vezes, impedem a visibilidade das curvas e tapam os panoramas maravilhosos que mereciam ser assinalados para melhor serem apreciados, principalmente pelos visitantes.
No “antigamente” que, parece, todos hoje condenam, as estradas estavam divididas em secções e estas em cantões, entregues, respectivamente, a chefes de conservação e cantoneiros. Anualmente, uma entidade particular – julgo que o Automóvel Clube de Portugal, não sei se ainda existe esta organização – distribuía prémios aos cantoneiros que trouxessem os respectivos cantões, melhor cuidados e floridos.
Se esses servidores do Estado (neste caso Região) existem, desconheço pois, antes, o pessoal cantoneiro envergava farda fornecida pelo Estado. Actualmente, só usam farda, em serviço, os guardas policiais e a guarda republicana... Cantoneiros, não os vejo quando passo nas estradas do Pico. Existirão? E, como disse, que bons serviços prestavam esses modestos trabalhadores, aos utentes das estradas e caminhos!
Tudo isto já escrevi anteriormente. O stato quo mantêm-se. As queixas do Zé continuam. Não há remédio senão voltar a registá-las neste “cantinho” até que Alguém se canse de as escutar e algo faça por esta Terra.
Vila das Lajes,
22 de Outubro de 2008
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O MUNDO EM CRISE

São assustadores os momentos que vivemos. A crise financeira que, ao que se julga, principiou nos Estados Unidos, atingiu a Europa, e está a produzir os efeitos mais nefastos. Até aqueles que haviam amealhado grandes fortunas, dum momento para o outro, perderam milhões. Eles, porém e como vulgarmente se diz, não ficam “descalços”. No entanto a crise não deixa de reflectir-se, sobretudo, nos mais pobres e necessitados. E é ver o que se está a passar... Os créditos foram congelados (dizem que é por poucos dias...) os géneros sobem, os combustíveis, e a electricidade igualmente.
Para aqueles que têm compromissos a solver, a vida tornou-se um pesadelo.
As empresas construtoras vêem diminuir os empreendimentos públicos pela recessão dos orçamentos do Estado, da Região e das Autarquias. Daí surge, naturalmente, o desemprego dos trabalhadores da construção civil e não só. E o pior ainda, é que não encontram novas colocações.
Afinal tudo caminha para uma crise sem solução aparente, que teve início na Banca e se propaga vertiginosamente, para o Comércio e Indústria, para os empreendimentos públicos e para as próprias pessoas. E que vai ser de certas famílias, sem as habitações, sem os empregos , sem garantias de trabalho certo?!
Infelizmente, não é nova a crise, embora se apresente com contornos diferentes. Ciclicamente, elas acontecem. E as suas consequências são sempre as mais devastadoras.
Em 1930 uma crise financeira atingiu diversos estabelecimentos bancários dos Açores (para só a estas ilhas me reportar) e as falências sucederam-se, levando atrás de si outras actividades e economias familiares. Quem disso se não recorda? Houve quem viesse, anos decorridos, tomar a posição desses bancos e caixas mas os depositantes só receberam uma parte dos seus depósitos, ( 75% ?) depois de estarem anos vários sem receber quaisquer rendimentos ou juros. Famílias houve que ficaram seriamente atingidas pela crise e sem a totalidade dos seus depósitos, que eram fruto das suas economias domésticas, conseguidas à custa de muito trabalho e de grandes sacrifícios. Até emigrantes retornados ficaram quase na pobreza porque perderam uma boa parte das suas economias. Salvaram-se aqueles que, ao chegar, empregaram o seu dinheiro na aquisição de propriedades imobiliárias: pastagens e terrenos de semeadura. Outros tiveram de regressar às terras de origem para refazerem o seu património, e alguns por cá ficaram quase na miséria.
O falecido escritor picoense, Dias de Melo, no seu belo romance Pedras Negras, dá-nos, com grande realismo, uma panorâmica, do que foi a crise após a guerra 1914-1918. É a falência do Banco Nossa Senhora da Vida e a decadência de Francisco Marroco, o “Senhor Americano”, ao qual “tudo se desfez e perdeu: a alegria, a fortuna, o sonho, a vida que sonhara para os filhos”. E quantos Franciscos Marrocos não houve por essas ilhas?! Este capítulo de Pedras Negras é bastante realista e doloroso... Irá repetir-se?
Verdade é que os bancos desapareçam quase totalmente. Outros vieram mais tarde tomar-lhes a posição e desenvolver o negócio. É ver os que estão fixados por todos os “cantos” destas ilhas. Mas não são já pertença dos açorianos... Em trinta anos fizeram-se fortunas extraordinárias e talvez escandalosas. A esses milionários do século chegará a crise? Creio que a maior crise se vai reflectir naqueles que, iludidos com as facilidades de crédito - empréstimos a médio e longo prazo com baixos juros – vão sentir o “aperto”. E é pena. Foram esses que contribuíram para o desenvolvimento económico da Região, movimentando os fundos bancários, construindo novas habitações, criando novas empresas comerciais e industriais, reorganizando a economia com bases que pareciam sólidas, e proporcionando à Banca negócios avantajados que lhes permitiu alargar o crédito a novos empreendimentos e auferir proventos avantajados.
Não sou nem financeiro nem economista. Todavia a minha experiência de longos anos ensina-me que o momento actual pode ser uma repetição do que aconteceu na década de trinta do Século passado, cerca de oitenta anos decorridos. E como a experiência nos ensina que a história repete-se, julgo que a geração actual tem à sua frente um gravíssimo problema que só será resolvido com muito critério e sacrifícios de não poucos. E estes, normalmente, reflectem-se, como sempre, mais intensamente, nas classes remediadas e pobres.
Que me engane eu!
Vila das Lajes.
14 de Outubro de 08
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

UMA LOTA ORIGINAL!...

Num dos meses do Verão foram inauguradas as obras realizadas no porto interior (lagoa) da vila das Lajes e, conjuntamente, a muralha (parte) de defesa a cortina da Vila. Aplaudimos os trabalhos realizados mas nunca deixamos de referir que tais obras, principalmente a muralha, ficavam incompletas, pois é indispensável dar-lhe continuidade para Sul, até ao Calhau Grosso, ao menos, para que a Vila fique resguardada dos temporais de Sul, Sudoeste e Oeste, bastante frequentes.
Não se completou o troço de muralha entre o muro do Caneiro e a muralha de defesa ora construída, dizem que por falta de projecto que, entretanto, estava a ser elaborado...
O porto interior ou lagoa, não foi aquilo que estava inicialmente projectado: amarrações para setenta embarcações que ficaram reduzidas a cinquenta. Mas nem assim, pois a prancha central foi modificada, retirando-se-lhe as guardas transversais afim de serem amarrados os barcos de vigia de baleias, e neles puderem embarcar os visitantes...
Nem o fundo do agora porto interior, nem mesmo o do porto exterior agora “criado”, foram devidamente regularizados, obrigando as embarcações a desvios na entrada, que não deixa por isso de ser perigosa.
Já aqui deixámos o nosso agrado pelas obras realizadas, mas antes de se conhecerem algumas das mazelas que posteriormente
vieram a ser detectadas. Todavia, porque logo vieram ao conhecimento público, não posso nem devo deixar de aqui registar o meu reparo.
Não há sinais de se vir a construir definitivamente o troço de muralha que a Empresa Empreiteira lançou para a circulação dos seus veículos, durante as obras, e que lá se encontra ainda embora obstruído a evitar que os veículos e as pessoas atinjam o molhe exterior.
No início do muro de acesso ao cais, antigo caneiro, foi construída, pela Câmara Municipal, há cerca de trinta anos uma casa
para Lota, que sempre funcionou a contento quer dos pescadores quer dos compradores pois reunia as condições de higiene e laboração. E até no Inverno era utilizado pelos pescadores e outros parceiros, para as tardes de lazer...
Com as obras do chamado “porto de recreio”, ou “marina”, como alguns dizem, houve que destruir o edifício da Lota. Os respectivos serviços e pessoal foram transferidos ou incorporados nos serviços da Madalena, onde é já prática corrente concentrar tudo o que existia nesta Vila, naturalmente para lhe dar maior grandeza...
A vila das Lajes foi privada do serviço de lota ou, melhor dizendo, da possibilidade de adquirir peixe no seu porto, onde ainda existem mais de duas dezenas de embarcações de pesca local.
E a propósito: ainda me recordo das grandes pescarias de chicharro que se faziam no “limpo”, zona da baía das Lajes onde aquela espécie se concentrava em grandes cardumes. Esse pescado era tratado no areal que existia na Lagoa antes da construção da nova muralha (1936). Depois de tratado era vendido ou seco para a troca de géneros ou uso no Inverno. Outros tempos, dirão...
Agora o pescado é concentrado na actual Lota (a de Santa Cruz das Ribeiras também deixou de existir ?) e, depois de cumpridas as formalidades legais, posto à disposição dos vendilhões que, geralmente, se desembaraçam do pescado antes de chegarem às Lajes.
E neste vai-e-vem o peixe que resta, percorreu 70 quilómetros”!...
Além dos lajenses serem privados de ter peixe fresco, como estavam habituados desde que a ilha é povoada de gente. Ficam sujeitos a adquirir peixe congelado, que não é nem será nunca da qualidade do fresco.
Está anunciada, para 13 do corrente mês, a inauguração da nova peixaria na Vila das Lajes: um contentor, pintado de fresco, instalado ao lado do edifício da escola do primeiro ciclo, para funcionar das 7,30H às 11,30H de cada dia, naturalmente com o pescado da véspera ou congelado. Não será?
Não deixa de ser um tanto frustrante a situação. Ou serei apenas o único que neste imbróglio não tem razão?
Julgo que a Vila das Lajes merecia melhor tratamento, pelo seu passado histórico, pelos seus honestos e dignos pescadores que ainda os há e de excelente qualidade profissional e pelas suas gentes em geral, nada inferiores aos seus vizinhos.
Isto, entenda-se, sem deixar de realçar as obras realizadas no porto.
Custa escrever crónicas deste teor mas também é difícil suportar tanto atropelo aos direitos e à dignidade pessoal e profissional dum povo digno e laborioso como é e sempre foi o da MINHA TERRA.
É por esse meu povo, porque a ele pertenço, e só pela defesa dos seus direitos legítimos, que ainda aqui estou.
Vila das Lajes,
11 de Outubro de 2008
Ermelindo Ávila

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

FÉ E SENTIDO

Nos recenseamentos da população, ordinariamente realizados de dez em dez anos, os inquiridos tinham de responder (ainda terão?) qual a religião que professavam. A grande maioria dos portugueses declarava ser católica, embora alguns esclarecessem que não eram praticantes.
Raros eram os casamentos civis, e a ninguém era proibido fazê-los. Quase todos os jovens optavam pelo casamento católico. Além do mais, uma tradição de longos séculos e que ninguém contestava, embora tivesse liberdade para o fazer.
Todavia, mais de um século decorrido, algo era bem diferente. Quem examinava os roteiro paroquiais raramente encontrava um freguês que não tivesse cumprido os preceitos da Igreja Católica. E podemos mesmo acrescentar que, v.g., no ano de 1878 – há precisamente cento e trinta anos, a população da freguesia da Santíssima Trindade, Ilha do Pico, era constituída por 1141 indivíduos do sexo masculino, 1575 do sexo feminino e 541 eram de idades inferiores a sete anos. No total, 3257 indivíduos. Curioso referir que, nesse ano, estavam ausentes ou emigrados, vinte e sete maridos.
Todos os que estavam na idade canónica de cumprirem os preceitos pascais o haviam feito sem qualquer excepção.
Este pequeno preâmbulo vem a propósito do livro “Entre o Culto e o Sentido – Fé professada, calculada e vivida em meio urbano” que o Professor da Universidade dos Açores, Doutor Octávio H. Ribeiro de Medeiros acaba de publicar.
Na “Introdução” escreve o Autor: “Em Portugal a percentagem de católicos é agora de 89,9% - 9,4 milhões de pessoas. Contudo, segundo o Recenseamento da Prática Dominical de 2001, o numero total de praticantes não chegou aos 2 milhões de fiéis.”
Para esta descida preocupante de praticantes da Religião Católica, o Autor apresentou diversas causas e recorda as palavras de ordem segundo o Papa: ”É precioso mudar o estilo de organização da comunidade clerical portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do Concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos baptizados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja."
Na realidade, há um desinteresse, uma apatia da parte da família católica que está a concorrer para a desintegração da própria Igreja local.
Fazem-se as festas tradicionais com alguma concorrência mas mais presente nos actos externos...
“Legalizam-se” situações aberrantes dos indivíduos, com reflexos naqueles que se confessam (confessavam) católicos. E julga-se natural certas práticas que antes eram atentatórias da dignidade humana.
Fé e Sentido”, com 266 páginas de texto, é um trabalho exaustivo de estudo e análise da época sócio-religiosa em que vivemos; trabalho bastante documentado com gráficos e dados estatísticos, que termina com esta afirmação do douto Mestre da “Sociologia Católica Açoriana”: “Na sociedade actual, a valorização do hic et nunc, vai dominando cada vez mais a vida fazendo com que a vivência do homem moderno tarda a circunscrever-se em coordenadas humano-temporais, dando origem a uma forma diferente de ser homem, empenhado em outras buscas e entregue a outras esperanças, de preferência intra-mundanas.”
A hora que se vive é de autêntica tribulação. Não se assume a responsabilidade da prática de determinados actos e vive-se num labirinto de incertezas e contrariedades, de consequências bastante funestas.
O Mundo, o mundo que nos fica ao pé da porta, abandonou os seus dogmas essenciais e entregou-se ao desvario, à apatia dos seus próprios valores.
Um materialismo bárbaro transformou-se em pseudo doutrina privilegiada, mas pertinente.
Quando voltará o homem a ocupar o seu lugar numa sociedade honesta, disciplinada, respeitadora dos valores sagrados, que transforme a iniquidade em valores humanos, dignos e capazes de promoverem uma vida de respeitabilidade, seriedade, responsabilidade e amor?
Vila das Lajes,
11 de Outº de 2008
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

BOTOS E POMBAS

O Escritor faialense, Ernesto Rebello, nas “Notas Faialenses”, publicadas no “Arquivo dos Açores”(1886) dedica o capitulo XIX do seu notável trabalho, à caça dos “Botos e Pombas”,na Vila das Lajes. E para cá chegar, ao cair da noite, da Madalena às Lajes, levou nada menos de “nove horas de jornada”.
Na alegre perspectiva daquela povoação, maxime para quem vem fatigado e batido de chuvas e ventanias, acrescendo ainda que nessa ocasião estávamos no fim do inverno, que os dias bons eram ainda raros e que uma nortada aguda nos fazia assoprar nos dedos e embrulhar aconchegadamente nuns cobertores de lã, que nos haviam emprestado pelo caminho.
Os nossos companheiros de jornada eram um rapaz da vila, que tinha ido ao Faial, donde regressava, por causa do recrutamento, um homem da Madalena, que tinha a seu cargo os dois péssimos burros que montávamos e um cão rafeiro, de raça ordinaríssima, que durante todo o caminho matara, na serra, dois coelhos, dos quais o arrieiro logo se apoderara, e pela estrada vários ratos de enormes proporções.”
E não continuo a transcrição, para aqui dizer o que Ernesto Rebello nos narra da caça aos botos e pombos.
Botos são o que a moderna Ecologia chama Golfinhos e que era caçados para deles extrair o óleo ou azeite que alimentava as candeias...A sua carne não era utilizada, ao contrário da toninha cuja carne era uma das peças basilares da alimentação dos picoenses. Mas deixemos essas histórias que causam engolios aos actuais ecologistas...
No entanto, só esta afirmação de E.R.:”Os lajenses dão certa solenidade a esta pesca”. E não só.
Quantas pessoas, de diversas origens, se deslocavam à Vila das Lajes para assistir à caçada”!
Não menos interessante a narrativa da caça ao pombo da rocha na qual tomou parte Ernesto Rebello que, referindo o companheiro Francisco e a irmã Maria, que o acompanharam, faz esta afirmação:
Agradeci-lhe muito a bela noite que me havia feito gozar e atrevi-me a oferecer à pequena Maria uma moeda de seis tostões”.
Desapareceram os pombos da costa mas, em suas substituição trouxeram para o pombo trocaz, culturas uma espécie prejudicial às culturas como se tem verificado ultimamente.
Mas, porque não caça ao coelho bravo que prolifera por esses campos, atravessa as estradas com grande desfaçatez e tudo destrói onde entra. E dizem os prejudicados agricultores e vinhateiros que basta um coelho para destroçar uma vinha. Eles por ai andam despreocupadamente nesses campos que vão-se tornando em autênticos matagais.
Há anos houve quem teve a infeliz ideia de trazer para cá os pardais, que acabaram por dar cabo, quase completamente, do antigo canário cujo canto, no campo em manhãs primaveris ou nas casa que os recolhiam, tudo alegravam com seu trinado.
Mas hoje refiro o torcaz, uma espécie que quase não existia e que, para regalo dos caçadores, para cá trazido livremente, sem qualquer protesto ou impedimento legislativo da entidade fiscalizadora, ao que nos consta.
A Ilha do Pico vai-se tornando uma verdadeira coitada onde amanhã somente poderão ocupa-la as aves selvagens, mas não todas, pois até o milhafre, que aqui se alimentava do rato, vai desaparecendo.
As cagarras, com a sua musica rofenta, em noites escuras, vai desaparecendo. O pombo da costa não existe. Mas teima-se em introduzir outras espécies prejudiciais às culturas para que não faltem boas peças aos praticantes da caça.
Vila das Lajes,
1 de Outº de 2008
Ermelindo Ávila

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

PROFESSOR DIAS DE MELO

A notícia chegou-me rápida. Não a esperava e por isso enorme foi a surpresa e a mágoa que senti, muito embora o soubesse bastante doente.
A última vez que falámos, ao telefone, já era difícil entender a sua fala. Depois soube que saía a passeio, curto embora, mas que deixara de escrever. Naturalmente, fiquei preocupado pois sabia que tal atitude era sinal de curta existência.
Morreu o escritor, professor José DIAS DE MELO, um homem que levou a sua vida a cultivar a literatura, a escrever prosa e verso e, sobretudo, a utilizar a baleação como tema apaixonado.
Como poucos escreveu muito sobre a saga baleeira. As três dezenas de livros que deixou isso confirma. O último, A MONTANHA COBRIA-SE DE NEGRO é, com certeza, o seu canto do cisne.
Ainda este verão esteve no Pico, para assistir ao Império da Trindade, na sua freguesia, a Calheta de Nesquim. Na freguesia de São Mateus, onde passava semanas, na sua adolescência e juventude, quando a Tia Professora ali leccionava, foi-lhe prestada uma homenagem – a mais bonita que lhe fizeram, no seu próprio dizer.
Quando cá vinha, não se esquecia de passar por esta casa que conhecia desde a juventude. Nem que fossem escassos minutos. “Vou todas as semanas à vila, às Lajes, encontrar-me com os amigos que lá tenho...”, Poeira do Caminho – Reminiscências do Passado, Vivências do Presente” -2004, p. 211. E não falhava.
Dias de Melo escreveu muito. Era a sua grande paixão. Acompanhava-o o gravador e o bloco de notas. Em casa, na Rua de São Gonçalo, ou no Alto da Rocha do Canto da Baía, uma pequena mesa lhe servia para a máquina de escrever e, mais recentemente, para o computador, a que se afeiçoara como bem poucos. Embora de idade octogenária, tinha um espírito lúcido, jovem mesmo, como bem poucos, que sabia analisar os acontecimentos com uma clarividência extraordinária.
Milhas Contadas foi um dos seus livros preferidos. Julgo que a história triste dele e da Esposa, que falecera muito nova. Depois veio Poeira do Caminho, onde ficaram registadas Reminiscências do passado e vivências do presente.
No Poeira do Caminho escreveu: “ Será Milhas Contadas o meu último livro? Não sei.
“De qualquer modo, sem o deixar da mão, comecei e trabalho neste novo livro de alguns dias, poucos, para cá. Caso o chegue a acabar, gostaria de conseguir um livro diferente, escrito com temas vários anteriormente pensados ou, e principalmente, que me surgissem na altura do próprio texto ou, mais importante, da vida vivida no dia-a-dia, ou por mim no meu o próprio passado, ou por outros, vivos ou mortos, no passado deles e a que eu próprio tenha assistido ou que por eles, ou por outros me tenham sido contados.
” (pág. 19).
E não foram os últimos livros. Como disse, há “A Montanha Cobria-se de Negro”, que somente foi distribuído no Pico e, creio que, no Faial. E talvez outros escritos... pois Dias de Melo não parava de escrever. Tinha esse vício, nobre vício!
José de Melo, como era conhecido na sua freguesia natal – a Calheta de Nesquim, deste Pico que ele tanto amava - não teve tempo para mais... Deixou, todavia, uma obra notável e rica de cultura e de saber. Alguns dos originais dos seus livros ofereceu-os a amigos...
Dias de Melo partiu. Tinha as “milhas contadas” . Mas deixou uma obra literária que muito tarde será igualada. Dedicou-a, principalmente, à baleação pois o mar era a sua grande paixão. Como diria o José Garcia Tavares, que Dias de Melo recorda em Poeira do Caminho (pág.123): “Depois de tudo o que tem escrito sobre nós, os homens do mar, em barco de que eu seja mestre, o senhor não compra nenhum peixe, diz o que precisa e leva-o . E não me fale em pagamentos que me ofende.”
É cedo ainda para lembrar a extraordinária, notável e volumosa obra do Escritor e Poeta, Professor José DIAS DE MELO. Como disse, cerca de trinta volumes. Uma autêntica “Biblioteca”.
E mais não posso escrever. Perdi um Amigo. Amigo que, quando na sua Cabana do Pai Tomás, no Alto da Rocha do Canto da Baía, me visitava semanalmente.
Aqui deixo, comovido e sentidamente, este singelo ramalhete de violetas, a José DIAS DE MELO, Amigo de muitos anos, nem eu sei quantos...
Vila Baleeira,
24 de Setembro de 2008
Ermelindo Ávila

sábado, 13 de setembro de 2008

PARA QUANDO O HOTEL DA VILA DAS LAJES?


Terminaram as Festas da Semana dos Baleeiros e é tempo de se fazer um balanço, desapaixonado mas objectivo, da maneira como decorreram e das deficiências que se notaram.
Há muito deixei de ser repórter. Um trabalho mais próprio da Redacção de qualquer periódico. Mesmo assim não me escuso a fazer um comentário, entre os mais que seriam devidos, e que julgo de oportunidade.
Conversando, muito cordialmente, durante os dias festivos, com um dos intervenientes convidados, disse-me ele que tinha de sair porque o hotel ficava distante. E em jeito de surpresa: Vocês aqui não têm um hotel. Respondi-lhe que tínhamos um mas que devia estar todo ocupado. Referia-me, naturalmente à Aldeia da Fonte, na Silveira.
E o comentário por aqui ficou. Não deixei, porém, de nele pensar com certa amargura. De facto, dentro da Vila das Lajes não existe um hotel, embora possua boas Residenciais e algumas dezenas de camas disponíveis. Têm os seus clientes e são indispensáveis, como é natural. Todavia, isso não basta, pois o turista estrangeiro não conhece a palavra residencial ou pensão. Para ele o significado é diferente.
É urgente a construção de um hotel "dentre muros” do velho burgo. Mais do que qualquer outra construção, mesmo que seja considerada de utilidade pública.
E vou repetir o que já, uma ou mais vezes, aqui escrevi. Não importa o número de “estrelas”. Impõe-se que seja hotel e como tal classificado. É isso que procura o visitante exigente. É um estabelecimento dessa categoria, que existe em todas ou quase todas as vilas açorianas. E o Município não pode nem deve estar ausente dessa iniciativa. Tal como o vêm fazendo as instituições congéneres da Região. E até da Ilha do Pico.
Um hotel, repito, é um factor de desenvolvimento e de atracção turística para qualquer terra que deseja desenvolver-se e promover a sua economia. E a Vila das Lajes dele tanto carece! São os empregos que se criam. São os transportes que se desenvolvem. São os produtos da terra que se comercializam. São uma série de factores que se desenvolvem com a estadia de visitantes em condições de bem-estar e de conforto.
Um apelo muito sério deixo, nestas rápidas linhas, à Câmara Municipal. Sei que está a chegar ao último ano do seu actual mandato mas ainda está a tempo de programar a construção de um hotel, aqui perto. Ou na antiga casa da Maricas do Tomé ou no espaço vazio que foi o “jardim do João Manuel” ao lado do edifício dos CTT. Ficaria na parte central da avoenga vila e contribuiria, além do mais, para dar um aspecto renovado e “civilizado” àquele abandonado local.
E porque não constituir uma empresa municipal, -mais uma, dirão, mas isso que importa? – para a realização de tão necessária estrutura sócio - económica!
Aqui fica o apelo. Haja quem se digne escutá-lo e dar-lhe a devida e concreta realização e os lajenses regozijar-se-ão e saberão aplaudir .
Vila das Lajes,
Setº 2008
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

SEMANA DE CULTURA

Enquanto estas linhas escrevo, decorre a já tradicional “Semana dos Baleeiros”. Uma semana não apenas de arte e desporto mas igualmente de cultura.
Nos respectivos programas, organizados nestes decorridos vinte e cinco anos, houve relevantes eventos culturais: Conferências, lançamentos de livros, concertos e outras manifestações artísticas. E nunca faltou uma assistência, diria selecta, para abrilhantar com a sua presença, acontecimentos de notória e plausível cultura.
Este ano o programa não fugiu à já tradicional manifestação artística. As conferências tomaram, um cariz diferente. Foram, essencialmente, de temática religiosa e proferidas por eruditos mestres.
A primeira pertenceu ao Maestro Manuel Emílio Porto. Tratou de um tema do qual, se bem creio, é um verdadeiro Mestre nas ilhas açorianas: Música Mariana. O distinto Maestro fez o historial bastante pormenorizado da música sacra especialmente de temática mariana, revelando uma erudição pouco vulgar para o meio ilhéu . Teve a escutá-lo, na Igreja Matriz, uma assistência atenta e numerosa.
O Dr. Padre Adriano Borges, que pronunciou a sua conferência no dia 27,. tomou a seu cargo o aliciante tema: Maria na História da Igreja.
O Conferencista começou a sua brilhante fala por afirmar:”A evolução do culto mariano iniciou-se e foi-se desenvolvendo, pelo menos nos primeiros séculos, sempre ligada aos mistérios cristológicos. Ou seja, à medida que a teologia sempre auxiliada pela filosofia, ia aprofundando a Cristologia, necessariamente foi-se também meditando na figura da Mãe de Jesus.”
E em conclusão, disse: “A Igreja acredita e defende quatro verdades de fé sobre Maria: a) Imaculada Conceição; b) Virgindade perpétua; c) Maternidade divina; e, d) Assunção em Corpo e alma ao Céu.”
O terceiro conferencista foi o consagrado orador, Doutor Cunha de Oliveira, que, no dia 28, tratou, com a sua conhecida erudição, da Actualidade da devoção a Nossa Senhora de Lourdes. Como anunciou no início da sua brilhante lição, constou esta essencialmente de duas partes. Na primeira tratou de “Interpretar os sinais dos tempos”; e, na segunda. do “fenómeno místico de Lourdes”
A finalizar disse o Doutor Cunha de Oliveira, citando o Prelado Diocesano, D. António de Sousa Braga:
“Nós cristãos deveríamos estar mentalizados e preparados para as mudanças necessárias da sociedade em que vivemos e também na Igreja a que pertencemos (...) Qual fermento que leveda a massa, a vida cristã é uma caminhada permanente de conversão e, portanto, de mudança (o sublinhado é meu), também na forma histórica de presença no mundo”.
Para quantos tiveram a disponibilidade e o prazer de assistir a estas conferências, viveram decerto momentos agradáveis de saber, recordando naturalmente outros anos em que por aqui passaram, nestas decorridas vinte e cinco “Semanas dos Baleeiros”, professores universitários e homens de cultura, que não se escusaram nunca a abrilhantar com suas falas eruditas e eloquentes, as solenidades de Nossa Senhora de Lourdes. E recordo somente um, já falecido, o Doutor José de Almeida Pavão, que foi professor da Universidade dos Açores. Mas tantos mais.
Um outro aspecto das “Semanas dos Baleeiros” é o lançamento de livros de autores picoenses. Não posso referir quantos já foram “oferecidos” ao público mas mais de duas dezenas. Este ano o mesmo aconteceu.
Para assinalar as “Bodas de Prata” do GRUPO CORAL DAS LAJES DO PICO, o seu erudito Maestro e Director, Comendador Manuel Emílio Porto, na sessão comemorativa do evento, realizada no salão de festas da Filarmónica Liberdade Lajense, apresentou “25 Anos a Cantar – Grupo Coral das Lajes do Pico”. ”Um livro para salientar o investimento humano – a disponibilidade, o interesse e a generosidade – fundamentos que mantiveram e consolidaram o percurso, todo feito de prazer, recreio e cultura”, como escreve o seu autor no “Intróito”, ou palavras de abertura. E, depois: “Durante estes 25 anos todos fizeram o grupo. É fundamental que assim continue”.
O livro, de 126 páginas, escrito numa linguagem simples mas vernácula, profusamente ilustrada com fotos recordativas das muitas digressões do Grupo Coral, pelas ilhas, pelo continente, por Espanha e pelo Canadá, foi distribuído, simpaticamente, à quase totalidade da numerosa assistência presente ao concerto comemorativo.
Um outro livro, da autoria da Poetisa e escritora Cisaltina Martins, uma conterrânea que, acidentalmente, nascida na Ribeira do Cabo, Faial, se considera autêntica picoense, mais propriamente sanjoanense, com o sugestivo título “RAIZ DE PEDRA”- foi apresentado durante a Semana, no Centro de Artes e de Ciências do Mar, antiga Fábrica da SIBIL pelo professor Ruben Rodrigues, numa poética fala, intercalada de recitações de poemas do próprio livro. Foi bastante aplaudido.
Livro de Poemas, nele a Poetisa reuniu quarenta e cinco, trabalhos, nos capítulos: raízes de pedra, estados d’alma, raiz de mim, tributos, quadras soltas e outras cantigas.
Com muito sentimento deixo aqui o poema que a Autora dedica à sua falecida irmã a Dra. Fátima Martins, “Como homenagem póstuma, na entrega das Insígnias da Ordem do Infante, em Boston – Junho de 2007:
CAMINHOS DE IMIGRAÇÃO –“As pedras deste chão não são minhas,/outros aqui as puseram p’ra meus passos/ninguém sabe quem foi, homem? Mulher?/ mas sei que foi suor e foi cansaço.
“Não quero mais perder este sentir,/ respeito pela coragem que tiveram/ um Mundo Novo, todo só p’ra mim/ o Mundo que vos deixo e que me deram.
“Tomai-o em vossas mãos devagarinho,/ que é feito de sonho e de cuidados./ Quem saberá dizer se estes caminhos/ são os mesmos d’outros povos imigrados?/
“E se um dia tiverdes de partir/ da terra mais chegada ao coração,/ não tenhais nunca medo de sorrir/ que o sorriso é forma de Oração!”
Culturalmente assim decorreu a “Semana de Nª Senhora de Lourdes” ou “Semana dos Baleeiros”, comemorativa dos 150 anos das Aparições e dos 125 anos do Culto na Matriz das Lajes do Pico.
Vila das Lajes,
Semana dos Baleeiros de 2008
Ermelindo Ávila.

domingo, 31 de agosto de 2008

A VIRGEM DE MASSABIELLE

O Pico, a Ilha dos Marinheiros está em festa. Comemora aquele dia distante em que os baleeiros lajenses, depois de um dia de trabalhos e de lutas com o monstro marinho, se fizerem ao porto e nele se viram impedidos de entrar, como tantas vezes aconteceu, porque vagas alterosas tapavam a entrada. E foi nessa ocasião que a Virgem, vinte e cinco anos antes aparecida a Bernardete na Gruta de Massabielle, invocada insistentemente, em altos brados, pelas gentes da vila das Lajes, que circundavam o porto, amainou as ondas e os botes entraram sãos e salvos na Lagoa. Cento e vinte e cinco anos são decorridos. Os lajenses não mais esqueceram o “milagre” e, a partir desse dia redobrou a devoção e a confiança na Senhora de Lourdes, hoje considerada a Padroeira das Lajes e não só. Todo os picoenses confiam na protecção daquela Senhora, que “os tem salvado mil vezes”. Só não se compreende por que não Lhe haja sido outorgado esse justo título oficial.
Há cento e cinquenta anos a França vivia tempos de verdadeiro paganismo. O dia 11 de Fevereiro de 1858 – quarta-feira gorda – era o dia em que inaugurava “os regozijos profanos que antecedem as austeridades quaresmais”.
A Igreja católica, por seu lado, promovia actos de desagravo, seguidos pelos católicos que restavam da devassa da Revolução.
Em Lourdes, cidade dos Pirinéus, vivia com a sua pobreza, a família dos Soubirous. Todavia, com muito trabalho, procurava suprir, embora deficientemente, as carências domésticas. E escreve Henrique Lasserra: “...não tinha sequer um pouco de lenha para fazer o seu magro jantar”.
Coube à filha mais velha ir junto das margens do rio Gave apanhar lenha para fazer o jantar desse dia. E foi então, quando juntava os gravetos para fazer o seu feixe, juntamente com uma irmã e uma vizinha, que, junto de uma pequena gruta cavada na rocha que ficava na margem do rio, lhe apareceu “uma mulher de incomparável esplendor”.
“O vestuário, de um pano desconhecido (que trazia) e tecido sem dúvida na misteriosa fábrica, que veste o lírio dos vales, era branco como a pura neve das montanhas e de mais magnificência, na sua simplicidade, do que o trajo de Salomão na sua glória.
“O manto comprido chegava ao chão, com castas dobras, deixava aparecer os pés que pousavam no rochedo e pisavam levemente os ramos da roseira brava. Sobre cada um dos seus pés de virginal nudez desabrochava a Rosa mística , cor de ouro.
“Adiante um cinto azul celeste ligando-lhe a cintura, caía em duas pontas compridas, que chegavam quase aos pés. “ (Henr. Lasserre)
Em tempos recuados (não muitos...) as jovens picoenses tinham por norma cumprir “promessas” vestindo-se à Lourdes, como diziam: Uma túnica ou vestido branco preso na cintura com uma faixa ou fita azul cujas pontas desciam até à beira do vestido. Não deixava de ser elegante e de trajar bem a devota, que assim se apresentava, diariamente, quer em serviços, quer em actos religiosos ou cívicos. Um contraste com as actuais indumentárias, onde uma parte sensível do corpo não merece ser recolhida...
No mesmo sentido, as mais adultas, casadas ou viúvas, cumpriam promessas trajando à Carmo, ou seja vestido de cor castanha, com escapulário e cinto de coiro com pala. Em Angra, as senhoras usavam os vestidos encimados por um colarinho branco à volta do pescoço. E muitas trajavam assim durante toda a vida.
Hoje seria uma velharia ridícula para algumas...
Foi a primeira aparição d’Aquela que, no último dia das Aparições, havia de revelar o Seu Nome: EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO!
Confirmava-se assim o dogma proclamado pelo Papa Pio IX, em
8 de Dezembro de 1654, pela bula INEFFABILIS DEUS e que a Igreja Universal celebrou festivamente, muito embora em Portugal já o rei D. João IV houvesse proclamado, de Vila Viçosa, em 25 de Março de 1646, a Imaculada Conceição - Padroeira de Portugal. Pelo Breve Eximia dilectissimi, de 8 de Maio de 1871, o Papa Clemente X, confirmava a proclamação de João IV.
Vinte e cinco anos decorridos sobre as aparições de Nossa Senhora em Lourdes, e apesar das dificuldades de comunicação que retardavam imenso a chegada de qualquer notícia a estas Ilhas, já os lajenses imploravam, publicamente, por intermédio da Virgem, a misericórdia divina, para os Baleeiros em perigo eminente. E o milagre aconteceu. E o voto, ao contrário de outros que caíram no esquecimento, é cumprido há cento e vinte e cinco anos!
A Virgem Imaculada aparecida em Lourdes, a uma inocente menina, filha do povo, está sempre presente, quando invocada, em todas as empresas. Ela não falta às Suas promessas.
A Virgem Imaculada aparecida a Bernardete, há 150 anos, continua
a ser, a protectora dos lajenses e picoenses. Que a Senhora vele por nós nestes tempos calamitosas que se aproximam.

Vila das Lajes
Agosto de 2008
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O NAVEGADOR GENUÍNO MADRUGA

A Ilha do Pico tem dado, ao longo da sua vida de mais de cinco séculos, homens notáveis e que se hão distinguido nas artes, na cultura e nas ciências.
Há instantes, os meios de comunicação social deram a notícia do navegador solitário GENUÍNO MADRUGA ter pisado terras de Timor. Emocionou-me a notícia tal como aconteceu quando o vi sair no seu veleiro pelo porto das Lajes rumo ao mar alto no início da volta ao mundo, faz precisamente agora um ano. E recordei a Família Madruga, a família do Genuíno. Uma Família amiga que nunca esquecerei.
A Ilha do Pico tem dado, ao longo da sua vida de mais de cinco séculos, homens notáveis e que se hão distinguido nas artes, na cultura e nas ciências.
A Família Madruga é uma Família de artistas. Os seus filhos andam por aí com seus trabalhos de pintura, como ontem executavam primorosamente a gravura. E não só aqui. Uma Madruga, imigrada no Brasil, lá se distinguiu como a artista Alex Madruga, festejada pela Imprensa.
Aqui lembro o Fernando, presentemente em Macau. Estava-se no tempo da chamada guerra colonial. O Fernando e outro companheiro, partiram, clandestinamente, para a Europa. Chegaram a Paris. O companheiro por aí ficou. O Fernando seguiu e um dia chegou à antiga possessão portuguesa de Macau. Por lá ficou. Estabeleceu-se na ilha de Coloane com café e restaurante, numa rústica cabana. Mas nem por isso lhe faltaram os fregueses. O café fornecido pelo Fernando era uma especialidade e toda a gente macaense, ou de visita, para lá corria a tomar a bica. Conversámos e perguntei-lhe se após a anexação, voltava ao Pico. Respondeu-me que ficaria, porque os chineses eram seus amigos. Gostavam dos pratos que apresentava e serviam-se das hortaliças que o Fernando cultivava no pequeno terreno que circundava o restaurante. Certo é que, passados meses, a Imprensa noticiou a concessão de um terreno, em território chinês, para o Fernando fazer horta.
O Dr. Manuel Alexandre Madruga, licenciado em Belas Artes, ficou pela Horta como professor. Os filhos ingressaram igualmente nessa área artística: são arquitectos e pintores. E recordo, igualmente, o Pe Genuíno Madruga, um segundo Pe Américo.
E aqui impõe-se lembrar uma Senhora que me impressionou na adolescência distante. Refiro D. Maria das Dores Madruga, professora em São João, sua terra natal, que leccionou até ao limite de idade – 70 anos – e que sofreu imenso ao abandonar as alunas, passando todos os dias pelo edifício escolar à hora da abertura da escola. Não se conformava que a lei lhe impusesse tão brusca saída, tal a dedicação que votava ao Ensino e, sobretudo, às suas alunas.
O irmão, Manuel Alexandre Madruga sénior, era proprietário de terrenos ao sul desta vila. No tempo não havia veículos motorizados. Era o seu carro de um só boi que, diariamente, fazia a viagem de São João às terras da Queimada. E fazia-o sem pressas, muito calmamente. E se vinha de madrugada, a noite levava-o a casa. Era uma pessoa extraordinária. É o tronco de todos os Madrugas. À descendência transmitiu a calma, a serenidade, a inteligência...
O Genuíno, depois de descer o Atlântico, passar o cabo Horn, um feito notável, atravessar o Pacífico, costeando ilhas e ilhotas, chegou à antiga ilha portuguesa de Timor. Foi recebido festivamente pelos muitos portugueses que ainda lá se encontram e, talvez, por alguns nativos.
Timor é uma terra muito querida para os picoenses. Por lá andaram Dom Jaime Garcia Goulart, seu primeiro Bispo, o Pe. José Pereira da Silva Brum, o Pe. Isidoro da Silva Alves, o Pe. José Carlos Vieira Simplício, e outros mais.
Quem não recorda a odisseia do Pe. Brum, que aqui chegou com um grupo de sete alunos, que passaram a frequentar o Externato Lajense, e que, depois, caminharam para o continente, onde reorganizaram suas vidas. Um deles voltou a Timor já sacerdote.
Foi nessa terra que Genuíno Madruga acaba de aportar com o seu “Hemingway“. Vai refazer energias, reabastecer-se, restaurar o barco, para regressar à Terra-Mater.
Cá o esperamos com prazer e alegria... os que cá estiverem...

Vila Baleeira,
12-08-2008
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A CANOA BALEEIRA

Quando se presta a homenagem que é devida e merecida, a Mestre Francisco José Machado e/ou à Família dos Mestres Experientes ou Machados ?
As Lajes do Pico pode orgulhar-se de possuir a patente de invenção da Canoa Baleeira, que agora só é utilizada em regatas locais, nacionais e internacionais.
A história da sua criação anda por aí, nem sempre de harmonia com a verdade. Convém por isso repeti-la, para que justiça seja feita a quem teve a ideia de substituir a antiga baleeira importada dos Estados Unidos da América por um novo tipo, maior, mais elegante e veloz.
E vou repetir o que anteriormente escrevi sobre este assunto (Crónicas da Minha Ilha, Vol. II, ´pag.82 – 2002):
Francisco José Machado desde novo teve a vocação para a construção naval. Não encontrando quem o quisesse ensinar, abalançou-se a construir uma pequena embarcação que registou na Delegação Marítima com o nome de “Experiência”. Daí passou a ser conhecido por “Mestre Experiente”.
Depois, servindo-se de uma canoa baleeira daquelas que então eram importadas dos Estados Unidos, construiu a primeira canoa, muito mais aperfeiçoada e elegante, e que denominou de “São José”. Mas volto ao que escrevi há seis anos, e repito: “Foi este artista que construiu o primeiro bote ou canoa baleeira nos Açores, embora tomando por modelo, que soube aperfeiçoar com arte e esmerada técnica, as canoas que, até então, eram importadas dos Estados Unidos da América.“
Barco de uma elegância e beleza estética, que ainda hoje não existe outra que a iguale. Tanto assim, que o Museu de New Bedford (ou outra entidade americana, não posso afirmá-lo, neste momento) mandou construir, por um calafate picoense, o Mestre João Silveira Tavares, de Santa Cruz das Ribeiras, duas canoas para a sua escolta de regatas à vela e a remos.
Depois do Mestre Francisco José, - que, além de outras canoas e embarcações, também construiu as lanchas de passageiros e carga, “Lourdes” e “Hermínia”, as quais, durante dezenas de anos, prestaram óptimos serviços às populações do Sul do Pico e Faial, - os filhos Manuel José Machado, António José Machado e Joaquim José Machado continuaram a construir canoas, lanchas motorizadas e bateis de pesca. Nas Lajes, dedicou-se a igual actividade António dos Santos Fonseca, construindo. na década de vinte, a “Margarida”, primeira lancha baleeira e, depois, algumas canoas, entre elas a “Liberdade” e a “Maria Celeste”. E, pelo Pico além, foram surgindo outros calafates, cujas canoas tinham por modelo aquela que primeiro havia construído o mestre Francisco José Machado. E construíram-se canoas para todas as Ilhas dos Açores e Madeira, onde se explorava a caça à baleia.
Com a proibição da caça, as canoas, foram adquiridas pelo Governo Região e distribuídas por diversas entidades, incluindo Juntas de Freguesia, que passaram a utilizá-las em regatas desportivas. Daí não veio nem vem mal algum. Só se não compreende que, sendo embarcações que tiveram um destino específico, fossem distribuídas por portos onde, ao que julgo, nunca existiu a actividade baleeira.
Em regatas, sempre foram utilizadas as canoas baleeiras, e basta trazer aqui o que escreve Marcelino de Lima nos “Anais do Município da Horta”, referindo-se à visita de Suas Majestades o Rei Dom Carlos e a Rainha D. Amélia, em 28 de Junho de 1901: “ Diversos arcos triunfais se levantaram nas ruas do trajecto (do Cais â Câmara Municipal), destacando-se o armado pelas companhias baleeiras.” “No segundo dia, depois de ouvir missa, visitaram os navios estrangeiros, seguindo depois para bordo do S. Gabriel, donde assistiram a uma regata à vela e a remos, de canoas baleeiras e embarcações de recreio.” Sabe-se que venceram as regatas as canoas do porto das Lajes e tão agradado ficou Dom Carlos, que ofereceu às armações lajenses, participantes nas regatas, uma canoa baleeira.
O cientista, Professor Almeida Langhans, há anos de passagem nesta Vila, entrevistou o construtor Manuel Alves Machado, neto do Mestre Francisco José Machado, que lhe fez uma descrição bastante pormenorizada da construção da canoa baleeira.(Existe uma cópia desse documento no Museu dos Baleeiros).
O Professor Langhans refere-se a “esse portento da arquitectura naval que é a Canoa Baleeira Açoriana”, ou esse espantoso bote, que é a canoa baleeira e que outros cientes já consideraram como a embarcação mais bela do Mundo. Será? Assim o creio..
Felizmente, uma das canoas construídas pela Família Machado,- a “Santa Teresinha” - está arrecadada e exposta no Museu dos Baleeiros. Mas é pena que as canoas tenham saído do seu “meio ambiente” e fossem parar a outros portos sem qualquer tradição baleeira. Ao menos que as conservem como rico património histórico de uma actividade que foi florescente e que, hoje ainda, mal conhecida é.!
Já agora e a propósito: quando se presta a homenagem que é devida e merecida a Mestre Francisco José Machado e/ou à família dos Mestres Experientes ou Machados?
Vila Baleeira,
21 de Julho de 2008
Ermelindo Ávila