quarta-feira, 5 de novembro de 2008

AS ESTRADAS E OS CAMINHOS DO PICO

Há meio século a Ilha do Pico, como a das Flores e a de São Jorge, não possuíam uma rede de estradas que cobrissem a totalidade da Ilha . Andava-se por aí a cavalo ou a pé, pois a estrada nacional só cobria a parte norte, da Prainha do Norte à Vila das Lajes.
Em vésperas de eleições iniciavam-se os trabalhos, para a estrada Lajes-Piedade, ali, acima da Ladeira, mas, depois, ficava tudo como dantes.
Felizmente, que esses tempos já pertencem à História e as novas gerações nem sabem o que era vir ou ir a pé, da Piedade à Vila, por caminhos “de cabras” como diziam, subindo e descendo ladeiras íngremes e perigosas.
O circuito ficou completo há meio século e, depois, veio a rede de estradas no interior, para acesso e utilização das pastagens e baldios, obra executada pelos Serviços Florestais, então instalados nestas Ilhas.
Mesmo assim, não deixaram alguns de contestar as obras e impedir que os caminhos florestais passassem pelos seus terrenos, o que evitou a construção de alguns.
Todos os caminhos e estradas estão, na sua quase totalidade asfaltados, com excepção de alguns caminhos vicinais da responsabilidade do Município, privando-se as populações utentes de beneficiarem de direitos iguais aos seus conterrâneos.
Todavia, há situações pontuais que merecem aqui um reparo. A estrada Lajes - Piedade foi recentemente asfaltada, substituindo-se a calçada à portuguesa, que vinha do tempo da sua construção em 1940.
( E que difícil foi conseguir o calcetamento, pois o Empreiteiro não desejava fazê-lo, apesar de constar do respectivo projecto. “O Dever” alertou os poderes públicos mas, mesmo assim, foi preciso moverem-se influências para que o projecto fosse totalmente executado. Foram mais de vinte e um quilómetros de estrada. No tempo dizia-se que era a melhor estrada dos Açores. Mas, porque não houve a devida conservação, o seu fim chegou...)
Contudo não se refizeram as bermas, deixando-se que uma vegetação selvagem prejudique muitas vezes o trânsito dos peões e contribua para os perigos que o trânsito de veículos, que é bastante, muitas vezes provoca. Importa ter em atenção que a Ilha do Pico tem, actualmente, um parque automóvel de cerca de dez mil (!) veículos.
Além disso, a sinalização não é a mais adequada. E os locais de interesse turístico não estão devidamente indicados, como se verifica em outras zonas, mesmo na Ilha.
No início, ao longo da estrada foram plantados pinheiros e outro arvoredo mas deixou-se de atender às podas indispensáveis, constituindo hoje bardos densos que, algumas vezes, impedem a visibilidade das curvas e tapam os panoramas maravilhosos que mereciam ser assinalados para melhor serem apreciados, principalmente pelos visitantes.
No “antigamente” que, parece, todos hoje condenam, as estradas estavam divididas em secções e estas em cantões, entregues, respectivamente, a chefes de conservação e cantoneiros. Anualmente, uma entidade particular – julgo que o Automóvel Clube de Portugal, não sei se ainda existe esta organização – distribuía prémios aos cantoneiros que trouxessem os respectivos cantões, melhor cuidados e floridos.
Se esses servidores do Estado (neste caso Região) existem, desconheço pois, antes, o pessoal cantoneiro envergava farda fornecida pelo Estado. Actualmente, só usam farda, em serviço, os guardas policiais e a guarda republicana... Cantoneiros, não os vejo quando passo nas estradas do Pico. Existirão? E, como disse, que bons serviços prestavam esses modestos trabalhadores, aos utentes das estradas e caminhos!
Tudo isto já escrevi anteriormente. O stato quo mantêm-se. As queixas do Zé continuam. Não há remédio senão voltar a registá-las neste “cantinho” até que Alguém se canse de as escutar e algo faça por esta Terra.
Vila das Lajes,
22 de Outubro de 2008
Ermelindo Ávila

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