sábado, 13 de setembro de 2008

PARA QUANDO O HOTEL DA VILA DAS LAJES?


Terminaram as Festas da Semana dos Baleeiros e é tempo de se fazer um balanço, desapaixonado mas objectivo, da maneira como decorreram e das deficiências que se notaram.
Há muito deixei de ser repórter. Um trabalho mais próprio da Redacção de qualquer periódico. Mesmo assim não me escuso a fazer um comentário, entre os mais que seriam devidos, e que julgo de oportunidade.
Conversando, muito cordialmente, durante os dias festivos, com um dos intervenientes convidados, disse-me ele que tinha de sair porque o hotel ficava distante. E em jeito de surpresa: Vocês aqui não têm um hotel. Respondi-lhe que tínhamos um mas que devia estar todo ocupado. Referia-me, naturalmente à Aldeia da Fonte, na Silveira.
E o comentário por aqui ficou. Não deixei, porém, de nele pensar com certa amargura. De facto, dentro da Vila das Lajes não existe um hotel, embora possua boas Residenciais e algumas dezenas de camas disponíveis. Têm os seus clientes e são indispensáveis, como é natural. Todavia, isso não basta, pois o turista estrangeiro não conhece a palavra residencial ou pensão. Para ele o significado é diferente.
É urgente a construção de um hotel "dentre muros” do velho burgo. Mais do que qualquer outra construção, mesmo que seja considerada de utilidade pública.
E vou repetir o que já, uma ou mais vezes, aqui escrevi. Não importa o número de “estrelas”. Impõe-se que seja hotel e como tal classificado. É isso que procura o visitante exigente. É um estabelecimento dessa categoria, que existe em todas ou quase todas as vilas açorianas. E o Município não pode nem deve estar ausente dessa iniciativa. Tal como o vêm fazendo as instituições congéneres da Região. E até da Ilha do Pico.
Um hotel, repito, é um factor de desenvolvimento e de atracção turística para qualquer terra que deseja desenvolver-se e promover a sua economia. E a Vila das Lajes dele tanto carece! São os empregos que se criam. São os transportes que se desenvolvem. São os produtos da terra que se comercializam. São uma série de factores que se desenvolvem com a estadia de visitantes em condições de bem-estar e de conforto.
Um apelo muito sério deixo, nestas rápidas linhas, à Câmara Municipal. Sei que está a chegar ao último ano do seu actual mandato mas ainda está a tempo de programar a construção de um hotel, aqui perto. Ou na antiga casa da Maricas do Tomé ou no espaço vazio que foi o “jardim do João Manuel” ao lado do edifício dos CTT. Ficaria na parte central da avoenga vila e contribuiria, além do mais, para dar um aspecto renovado e “civilizado” àquele abandonado local.
E porque não constituir uma empresa municipal, -mais uma, dirão, mas isso que importa? – para a realização de tão necessária estrutura sócio - económica!
Aqui fica o apelo. Haja quem se digne escutá-lo e dar-lhe a devida e concreta realização e os lajenses regozijar-se-ão e saberão aplaudir .
Vila das Lajes,
Setº 2008
Ermelindo Ávila

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

SEMANA DE CULTURA

Enquanto estas linhas escrevo, decorre a já tradicional “Semana dos Baleeiros”. Uma semana não apenas de arte e desporto mas igualmente de cultura.
Nos respectivos programas, organizados nestes decorridos vinte e cinco anos, houve relevantes eventos culturais: Conferências, lançamentos de livros, concertos e outras manifestações artísticas. E nunca faltou uma assistência, diria selecta, para abrilhantar com a sua presença, acontecimentos de notória e plausível cultura.
Este ano o programa não fugiu à já tradicional manifestação artística. As conferências tomaram, um cariz diferente. Foram, essencialmente, de temática religiosa e proferidas por eruditos mestres.
A primeira pertenceu ao Maestro Manuel Emílio Porto. Tratou de um tema do qual, se bem creio, é um verdadeiro Mestre nas ilhas açorianas: Música Mariana. O distinto Maestro fez o historial bastante pormenorizado da música sacra especialmente de temática mariana, revelando uma erudição pouco vulgar para o meio ilhéu . Teve a escutá-lo, na Igreja Matriz, uma assistência atenta e numerosa.
O Dr. Padre Adriano Borges, que pronunciou a sua conferência no dia 27,. tomou a seu cargo o aliciante tema: Maria na História da Igreja.
O Conferencista começou a sua brilhante fala por afirmar:”A evolução do culto mariano iniciou-se e foi-se desenvolvendo, pelo menos nos primeiros séculos, sempre ligada aos mistérios cristológicos. Ou seja, à medida que a teologia sempre auxiliada pela filosofia, ia aprofundando a Cristologia, necessariamente foi-se também meditando na figura da Mãe de Jesus.”
E em conclusão, disse: “A Igreja acredita e defende quatro verdades de fé sobre Maria: a) Imaculada Conceição; b) Virgindade perpétua; c) Maternidade divina; e, d) Assunção em Corpo e alma ao Céu.”
O terceiro conferencista foi o consagrado orador, Doutor Cunha de Oliveira, que, no dia 28, tratou, com a sua conhecida erudição, da Actualidade da devoção a Nossa Senhora de Lourdes. Como anunciou no início da sua brilhante lição, constou esta essencialmente de duas partes. Na primeira tratou de “Interpretar os sinais dos tempos”; e, na segunda. do “fenómeno místico de Lourdes”
A finalizar disse o Doutor Cunha de Oliveira, citando o Prelado Diocesano, D. António de Sousa Braga:
“Nós cristãos deveríamos estar mentalizados e preparados para as mudanças necessárias da sociedade em que vivemos e também na Igreja a que pertencemos (...) Qual fermento que leveda a massa, a vida cristã é uma caminhada permanente de conversão e, portanto, de mudança (o sublinhado é meu), também na forma histórica de presença no mundo”.
Para quantos tiveram a disponibilidade e o prazer de assistir a estas conferências, viveram decerto momentos agradáveis de saber, recordando naturalmente outros anos em que por aqui passaram, nestas decorridas vinte e cinco “Semanas dos Baleeiros”, professores universitários e homens de cultura, que não se escusaram nunca a abrilhantar com suas falas eruditas e eloquentes, as solenidades de Nossa Senhora de Lourdes. E recordo somente um, já falecido, o Doutor José de Almeida Pavão, que foi professor da Universidade dos Açores. Mas tantos mais.
Um outro aspecto das “Semanas dos Baleeiros” é o lançamento de livros de autores picoenses. Não posso referir quantos já foram “oferecidos” ao público mas mais de duas dezenas. Este ano o mesmo aconteceu.
Para assinalar as “Bodas de Prata” do GRUPO CORAL DAS LAJES DO PICO, o seu erudito Maestro e Director, Comendador Manuel Emílio Porto, na sessão comemorativa do evento, realizada no salão de festas da Filarmónica Liberdade Lajense, apresentou “25 Anos a Cantar – Grupo Coral das Lajes do Pico”. ”Um livro para salientar o investimento humano – a disponibilidade, o interesse e a generosidade – fundamentos que mantiveram e consolidaram o percurso, todo feito de prazer, recreio e cultura”, como escreve o seu autor no “Intróito”, ou palavras de abertura. E, depois: “Durante estes 25 anos todos fizeram o grupo. É fundamental que assim continue”.
O livro, de 126 páginas, escrito numa linguagem simples mas vernácula, profusamente ilustrada com fotos recordativas das muitas digressões do Grupo Coral, pelas ilhas, pelo continente, por Espanha e pelo Canadá, foi distribuído, simpaticamente, à quase totalidade da numerosa assistência presente ao concerto comemorativo.
Um outro livro, da autoria da Poetisa e escritora Cisaltina Martins, uma conterrânea que, acidentalmente, nascida na Ribeira do Cabo, Faial, se considera autêntica picoense, mais propriamente sanjoanense, com o sugestivo título “RAIZ DE PEDRA”- foi apresentado durante a Semana, no Centro de Artes e de Ciências do Mar, antiga Fábrica da SIBIL pelo professor Ruben Rodrigues, numa poética fala, intercalada de recitações de poemas do próprio livro. Foi bastante aplaudido.
Livro de Poemas, nele a Poetisa reuniu quarenta e cinco, trabalhos, nos capítulos: raízes de pedra, estados d’alma, raiz de mim, tributos, quadras soltas e outras cantigas.
Com muito sentimento deixo aqui o poema que a Autora dedica à sua falecida irmã a Dra. Fátima Martins, “Como homenagem póstuma, na entrega das Insígnias da Ordem do Infante, em Boston – Junho de 2007:
CAMINHOS DE IMIGRAÇÃO –“As pedras deste chão não são minhas,/outros aqui as puseram p’ra meus passos/ninguém sabe quem foi, homem? Mulher?/ mas sei que foi suor e foi cansaço.
“Não quero mais perder este sentir,/ respeito pela coragem que tiveram/ um Mundo Novo, todo só p’ra mim/ o Mundo que vos deixo e que me deram.
“Tomai-o em vossas mãos devagarinho,/ que é feito de sonho e de cuidados./ Quem saberá dizer se estes caminhos/ são os mesmos d’outros povos imigrados?/
“E se um dia tiverdes de partir/ da terra mais chegada ao coração,/ não tenhais nunca medo de sorrir/ que o sorriso é forma de Oração!”
Culturalmente assim decorreu a “Semana de Nª Senhora de Lourdes” ou “Semana dos Baleeiros”, comemorativa dos 150 anos das Aparições e dos 125 anos do Culto na Matriz das Lajes do Pico.
Vila das Lajes,
Semana dos Baleeiros de 2008
Ermelindo Ávila.