segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O meu Natal

Vivemos uma noite especial. Os sinos dos campanários das Igrejas católicas repicaram festivamente. Um acontecimento extraordinário foi celebrado, na simplicidade cristã do povo de Deus. Tal como aconteceu há 2010 anos, também agora.

Em anos passados, embora a liturgia da Igreja não houvesse sofrido muitas alterações, os filhos de Deus, de perto e de longe, nesta Noite Santa, como canta o hinário cristão, acorriam aos templos das suas localidades para celebrar a chamada Missa do Galo.
O templo encontrava-se normalmente repleto de fiéis quando o sacerdote, revestido dos mais vistosos e por vezes ricos paramentos, chegava ao altar, rodeado de acólitos, para a celebração. A capela ou o coro estavam prontos, no local costumado, para iniciar os cantos litúrgicos.

Quan Enquanto o antigo relógio da torre dava as doze badaladas, o sacerdote entoava o Glória in excelsis Deo; e a capela continuava: Et in terra pax hominibus bonae voluntatis. Tudo em latim.

Os sinos repicavam então festivamente a anunciar a boa nova. O templo ficava totalmente iluminado com lanternas de petróleo ou, mais tarde, candeeiros incandescentes, e as cortinas que vedavam o Presépio grande, abriam-se a expor a gruta iluminada com um foco eléctrico - onde não faltavam as cidades, os montes e vales, as pastagens e os lagos, nem as figuras de pastores trazendo ovelhas e cordeiros – no qual se encontrava reclinado nas palhas de uma manjedoira, o Menino Deus.

A celebração festiva continuava. Ao Evangelho o celebrante dava as tradicionais Boas Festas aos presentes e a todos os homens de boa vontade.

No final da celebração seguia-se o “beija-pé” do Menino, apresentado pelo celebrante a toda a assembleia. Nesse momento principalmente as crianças corriam para junto do Presépio a ver o Menino Jesus, Sua Mãe e S. José, com o burrinho e a vaquinha ao lado. Para elas tudo era um encanto.

A festa terminava com as tradicionais saudações entre pais e filhos, amigos e conhecidos; todos, afinal, porque não se faziam excepções.

Em regressando a casa, cada um procurava a sua prenda. E havia-as simples e pobrezinhas mas plenas de um sentimento de amor e de alegria, pelo dia especial que se vivia.

Os miúdos procuravam então as prendas do Menino Jesus. Geralmente uns doces ou figos passados. E por vezes um brinquedo simples, de latão ou feito pelo pai, em horas mortas, para que não fossem descobertos antes do grande dia. Até porque o comércio não se aventurava a importar brinquedos, pois eram poucos os pais que os poderiam adquirir.

As horas das refeições eram diferentes das actuais. O almoço era normalmente a refeição principal. A mesa já se encontrava posta. A carne, ou caçoilha, preparada de véspera, e o pão alvo (ou pão de trigo). Da adega, aqueles que a possuíam, fora trazido o vinho de cheiro para aquela ocasião, e a angelica para servir as visitas com os figos passados, secos na época do verão, colhidos das figueiras da casa. Não se conheciam os bolos do Natal, só mais tarde, enviados pelo correio por parentes e amigos imigrados nos Estados Unidos ou cá introduzidos pelos emigrantes americanos.

Pela tarde faziam-se as visitas aos familiares e amigos. Não eram esquecidos neste dia, os velhos pais, os irmãos e os parentes mais chegados. Uma tradição que se cumpria com alegria.

Nas ruas cumprimentava-se toda a gente. Não se faziam excepções. Para todos iam, prazenteiros, os votos de Boas Festas! Ninguém era excluído. O dia era de paz e alegria.

Á noite aconteciam os “Ranchos do Natal”. Não faltava o anjo com uma estrela erguida numa vara, nem os pastorinhos, trajando as roupas do trabalho, com algumas alfaias e as vulgares canecas de leite e outras figuras típicas.

Cantavam loas apropriadas: “É nascida a luz do mundo, / Altos mistérios encerra..../ Glória a Deus nas alturas / E aos homens paz na terra.”

*


Natal de outros tempos! Hoje é algo diferente. Mas este dia não deixa de ser Natal.

A propósito lembro o que escreveu o notável escritor e contista Nunes da Rosa em Pastorais do Mosteiro, e no conto “Folha que passa…”, ou melhor Natal - em 1894, e convém anotar a data : À noite, da janela do meu quarto - cenário morto do meu passado! – quando os sinos da igreja repicavam festivamente, senti uma enorme impressão de choro…Lembrava-me do Natal de outros anos: tanta criança, tanta luz, tanta alegria, tanta mocidade…e tudo morto, tudo esbatido na triste nostalgia de tempos que não voltam!... E chorei naquele dia as minhas primeiras lágrimas de rapaz…” Hoje alguns poderão o mesmo dizer.

E porque é Natal aqui deixo com muito respeito os meus cumprimentos de Boas Festas a todos os que entusiasticamente fazem este tão apreciado Programa - particularmente a Mário Jorge Pacheco e João Almeida; a quantos exercem suas actividades nesta casa, aos colaboradores dispersos pelas Ilhas, aos radiouvintes, não esquecendo conhecidos, amigos e familiares.

Boas Festas do Natal!

Bom dia!

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À laia de conto


A PRENDA DO NATAL


Era o mês de Dezembro. Chovia torrencialmente. O mar estava ovelhado, como dizem os marinheiros, e temia-se que o vapor da carreira não fizesse serviço no porto. A noite foi algo tempestuosa mas, como por milagre, a manhã despertou calma, sem vento nem chuva.

Os marinheiros dirigiram-se para o cais, pois o velho “Lima” devia em pouco aparecer ao lado do Castelete e dirigir-se, em marcha reduzida, para a baía. Lancha e barcos de descarga já estavam prontos a sair a “Carreira” para se dirigirem ao fundeadouro.

Era o mês do Natal e o comércio aguardava, com ansiedade, as mercadorias para a quadra festiva. Além disso, esperava-se algum estudante que viesse passar as férias com a família, não muitos, pois poucos eram aqueles que se davam “ao luxo” de frequentar escolas superiores.

E o “Lima” surgiu ronceiro e um tanto inclinado para bombordo, como vinha sendo habitual. O “Prático da Baía” já estava no “ancoradouro” aguardando o barco, para lhe indicar o local exacto de “deitar o ferro”. Era assim todos os meses, a menos que o mar tempestuoso não permitisse “fazer serviço” e então lá seguia o “Lima” até ao Faial onde desembarcava os passageiros e esperava que o tempo amainasse para, no dia seguinte, nos portos de regresso, fazer o serviço de carga e descarga e tomar algum passageiro, - eram sempre poucos - que nele embarcavam para as ilhas ou para o continente. E, durante os meses de Inverno, quantas vezes isso acontecia!

Há dezenas de anos o Antonico havia embarcado no mesmo navio, rumo a S. Miguel, afim de tomar o vapor que por lá passava algumas vezes no ano, rumo aos Estados Unidos. Um agente de viagens havia-lhe preparado o “visto” no Consulado Americano e reservado a passagem a pedido de um tio que havia emigrado para a Califórnia, ainda rapaz e por lá se fixara, vigiando ovelhas e, depois, trabalhando numa leitaria. Há quantos anos! Por lá se acomodara, casara e já tinha filhos e netos. E nunca mais voltara à terra.

Uma ou duas vezes no ano escrevia aos Pais mas isso deixou de fazer quando eles faleceram.

Agora era o sobrinho que para lá ia, antes de entrar na idade da Tropa, a pedido da irmã que por cá ficara e velara os Pais.

Nos primeiros anos foi difícil a vida do Antonico. O Patrão, um mexicano, era mesmo mau e tratava os trabalhadores do seu “fame” como negros. O Antonico tudo foi suportando. Da soldada que recebia mandava algumas “dólas” aos pais pelo Natal e o resto ia depositando no Banco, a conselho de um companheiro cabo-verdiano.

Passaram-se meses e anos. O Antonico continuava a trabalhar para o mesmo patrão e a juntar dólares. Certo dia, porém, resolveu ir ao banco saber qual o montante das suas economias. Não acreditou. Lá estavam, com juros acumulados, alguns milhares, não poucos. Ficou surpreendido e sem saber como proceder.

Casar não queria pois detestava a maneira de viver das americanas. À sua volta não havia portuguesas. Não se ia, pois, “enforcar” com qualquer rapariga desconhecida. Demais, não tinha jeito para negócios e o seu dinheiro, só a render juros, não seria suficiente para a velhice, quando o patrão já não precisasse dele. Conversou com o companheiro. Escreveu à mãe perguntando como era a vida por cá, se havia prédios à venda e se davam rendimento.

A resposta não tardou. O Antonico tomou uma resolução: voltar à terra donde saíra há tantos anos. Aí procurar uma moça prendada com quem casar e constituir a sua família. Comprar alguns prédios e dedicar-se a trabalhar o que era seu. E, se melhor o pensou, melhor o fez.

Despediu-se do “Bosse” e dos poucos amigos que tinha. Foi à “estoa” com o companheiro e comprou alguns fatos e peças de roupa para trazer. Foi à cidade e procurou uma agência de viagens que lhe preparou a documentação e a passagem de regresso. E... num dia de Dezembro, partiu. Estava-se próximo do Natal ou da festa do São Nicolau, como por lá se dizia. As ruas das cidades e vilas já se encontravam iluminadas para a grande festa. Antonico nem nisso reparou. Tinha um fito: chegar à sua terra e abraçar a mãe que já devia estar muito velhinha.

Tudo correu como planeara. Da Califórnia veio em carro de fogo para Boston e aí tomou um dos barcos da Fabre Line que escalavam Ponta Delgada. Quando chegou, o “Lima” já estava na doca. No dia seguinte seguiria para as “Ilhas de Baixo”. Na Alfandega tudo correu pelo melhor. Despachada a carga, tomou o “Lima” e instalou-se na segunda classe. Três dias demorou a viagem, pela Terceira, Graciosa e São Jorge.

Naquela manhã de Dezembro, desembarcou na sua ilha. Não conheceu ninguém mas lembrava-se da casa dos Pais. Não demorou muito a lá chegar e a abraçar a velha Mãe que o recebeu surpreendida e chorosa.

Nunca julguei ver-te mais, meu querido filho! Foi a melhor prenda do Natal que podia ter em toda a minha vida! Que Deus te abençoe e faça sempre feliz, como feliz me fizeste com o teu regresso a esta pobre casa!”


Vila das Lajes

Natal de 2010

Ermelindo Ávila

25 Dezembro 2010

Ermelindo Ávila

sábado, 18 de dezembro de 2010

MANHÃS DE SÁBADO18-12-2010


Nas minhas últimas crónicas tenho referido, com alguma regularidade, as festas do Natal. Afinal estamos na época própria e é sempre agradável recordar o passado, curto ou distante, em que a Festa era esperada com ansiedade e grande entusiasmo.

Hoje é tudo tão diferente. Já não esperamos prendas, nem a consoada, nem as visitas das famílias amigas. É tudo passado, que não esquecido.

Todos os anos é recordado o nascimento do Menino. Uns com sentimento religioso, outros como época de prendas e de encontros de famílias.

Verdade seja que nenhum acontecimento no Mundo teve e tem tamanha repercussão. Nenhum é comemorado há 2010 anos. Todos os outros têm vida efémera. Passado o entusiasmo das primeiras horas, volvem-se ao esquecimento e mais tarde, para os recordar, há que fazer grandes investigações históricas.

O Natal não precisa de novas investigações. Está nos Evangelhos que os chamados apóstolos evangelistas – Lucas, Mateus, Matias e João escreveram.

Vale a pena viver o Natal. Seja a celebração do Menino Deus numa cabana de animais na cidade de Belém, seja a hoje chamada “Festa da Família”.

O povo cristão vive com alegria sã estes dias de Dezembro invernoso e frio, acalentado por uma fé muito antiga mas sempre nova .

O menino Jesus no seu tempo não teve nem prendas nem bolos de Natal. Viveu pobre e ignorado. Apenas doze anos completos se manifestou no Templo aos doutores da Lei para, depois, se recolher à pobre casa de Nazaré, sujeito a Maria e a José.

Aos trinta anos rodeou-se de doze homens rudes que o acompanhavam em todas as caminhadas apostólicas, para celebrar com eles, e só com eles, a ceia pascal, como era tradição judaica. Para o repasto não convidou mais ninguém, nem os Evangelhos, os livros que contèm a história da vida Cristo, referem sequer sua Mãe. E foi nessa última Ceia que instituiu os doze seus Ministros. Depois de abençoar o pão e o vinho, disse-lhes: Fazei isto em memória de mim. A eles e só a eles, homens rudes e simples, transmitiu o poder e o privilégio de renovar o pão e o vinho no Seu Corpo e Sangue; a eles e aos seus sucessores, que não a outros ou outras.

Os católicos continuam a celebrar o Nascimento do Salvador: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade e também àqueles que aceitam viver segundo o evangelho, narração verdadeira da Palavra do Senhor.

Glória ao Menino nascido em Belém de Judá!

Vila das Lajes,

12 de Dezº. de 2010.

Ermelindo Ávila

ÉPOCA NATALÍCIA



Longe vão os tempos em que a época do Natal era vivida com entusiasmo e fervor litúrgico. Em todas as Paróquias realizavam-se as novenas do Menino Jesus, cantadas e com larga assistência de fieis. Antes, as novenas eram de madrugada com Missa privilegiada, o que permitia uma assistência mais alargada.

Os trabalhadores dos campos iam para a Novena já preparados para os trabalhos agrícolas levando as respectivas alfaias. Deixavam-nas no adro para assistir aos actos litúrgicos. Terminados estes seguiam para os campos, alegres e felizes.

Na antevéspera do Natal reuniam-se os amigos na “noite da Calhandra”. E a vítima era, normalmente, um carneiro ou um galo. Qualquer animal ou ave servia para a pantagruélica ceia. Por vezes acontecia desaparecer ao vizinho um bicho mas ele não deixava de ser convidado para o rústico repasto. E quando sabia, raramente se amofinava.

Nos últimos dias de novena iam-se preparando os diversos acepipes, ou uma frugal refeição, conforme as possibilidades de cada qual, mas normalmente era a caçoilha o grande prato da ceia do Natal. Os açougues preparavam-se com antecedência e quase sempre a carne no talho faltava.

Não se conhecias o bolo de Natal, “importado” dos Estados Unidos. Além da caçoilha, prato obrigatório, os doces reduziam-se a uns figos passados vindos do Algarve ou preparados durante o verão, das figueiras da casa. E não havia brinquedos nem árvores do Natal, uma inovação americana que só por cá apareceu com o retorno de alguns emigrantes.

Uma época diferente mas que não deixava de ser feliz.

Ninguém faltava à Missa do Galo, mesmo muitos daqueles que não tinham por hábito frequentar a Igreja. A capela preparava as melhores partituras, algumas velhas de anos, quer para as matinas quer para a Missa solene.

Acontecia virem à Matriz das Lajes pessoas de outras paróquias, para assistirem às Matinas. E isso igualmente sucedia pela Páscoa, pois eram habituais as Matinas da Quinta-Feira e Sexta-feira santas.

As capelas eram agrupamentos musicais que reuniam os melhores músicos da paróquia, alguns com excelentes vozes e lendo as partituras como verdadeiros artistas.

A iluminação era frouxa. Não havia electricidade. Candeeiros de petróleo faziam a iluminação do templo, cujos altares eram adornados com muitas flores e “bancadas” com círios. Nos trajectos serviam os lampiões de azeite de baleia e, mais tarde, os de petróleo ou de velas de estearina. E bastavam para conduzir os grupos até à igreja ou de regresso às respectivas habitações. Mais tarde apareceram os candeeiros incandescentes. Um luxo, que poucos podiam utilizar.


No presépio da igreja era colocado um foco eléctrico para ser aceso no momento do “Glória in excelsis Deo” a imitar a estrela que conduziu os pastores a Belém.

Coisas simples mas que não deixavam de ter o seu significado, com certa pureza evangélica. E o povo aceitava e acorria aos actos litúrgicos, com devoção e piedade. É caso para se dizer: “santos tempos!”

A vida moderna não permite estas singelezas. Talvez se ria quando ler estas reminiscências do passado. Um passado que não está muito distante mas que foi vertiginosamente substituído por um modernismo ateu e pouco dignificante.

A Liturgia teve de adaptar-se aos tempos modernos, simplificando os respectivos actos, para que não se tornassem longos e fastidiosos. Mesmo assim, as igrejas vão-se despovoando por razões diversas, que não vale a pena trazer aqui. Na generalidade, todas as pessoas conhecem as causas do indiferentismo e do abandono dos templos.


Dezembro de 2010.

Ermelindo Ávila

MANHÃS DE SÁBADO 11 - Dezº-2010


Dentro de quinze dias é Natal. Já se vai notando por aí um ar festivo, embora a crise que se anuncia e realmente se vive, não permita grandes e estrondosas manifestações de festa.

As árvores do Natal, que aparecem, são mais simples. As prendas mais modestas, Algumas mesas da ceia do Natal mais frugais. É, na realidade, “o cinto que se aperta”.

Mas de quem é a responsabilidade?

. Pois se povo continua a sua vida modesta, imposta por ordenados e salários baixos e por uma contínua alta de preços, até nos produtos essenciais à vida...

A maioria dos grandes, aqueles que apregoam a crise, nem sabem o que ela é. A alta finança continua a manobrar-se livremente, mantendo os dividendos e os demais rendimentos que auferem das respectivas empresas.

Os pobres, esses sim, são dignos de uma atenção que esporadicamente lhes é prestada. E basta ver o que todos os dias nos apresenta a TV: Os refeitórios comunitários cheios de gente à espera de um prato de sopa, ou a procurar, nos caixotes de lixo, os restos de alimentos dos restaurantes e hotéis. E aqueles que passam as noites na rua - os sem abrigo - à falta de um espaço acolhedor onde possam dormir?

É chocante ver as reportagens que se fazem destas situações de miséria, para as quais os movimentos de solidariedade que surgem por aí, são incapazes, naturalmente por falta de meios, de lhes acudir. E os casos de penúria não são apenas aqueles de que se fazem eco os chamados orgãos da comunicação social mas sobretudo os outros, encobertos e ignorados de uma parte da sociedade.

Dão-se noticias dos movimentos de solidariedade da época natalícia. E o resto do ano? Só haverá fome e miséria nesta quadra festiva?

Época natalícia... Todos procuram vive-la o melhor que lhes é possível. As ruas das vilas e cidades vão-se enfeitando com luzes de cores variegadas. As casas vão armando os presépios, nem todas com certeza, e levantando as Árvores do Natal.

Nestas pequenas terras a generalidade das pessoas procura, o melhor que pode, preparar a ceia do Natal, numa tradição familiar de confraternização e amizade. É o que por cá se regista, principalmente nas colectividades oficiais e particulares. E ainda bem que isso acontece.

Na verdade, no decorrer do ano, o Natal é uma época diferente na qual recordarmos aquele Menino que nasceu pobre e para o qual os Pais nem tiveram uma enxerga para o reclinar.

Está o povo cristão a comemorar o nascimento do Redentor. Na evocação dos Anjos, na Noite Santa, pelas Igrejas ainda ressoa o Glória in excelsis Deo. E nos lares cristãos, que aliás bem poucos vão sendo – basta ter presentes as estatísticas que nos indicam os casamentos católicos que ainda se realizam, - levantam-se pequenos altares em homenagem ao Infante Santo.


Valha-nos isso!

Bom dia!


6 de Dezembro de 2010.

Ermelindo Ávila

sábado, 4 de dezembro de 2010

O TRIGO E OUTROS CEREAIS

Longe vão os tempos em que, na parte Sul da ilha do Pico, os campos apresentavam, em chegando o Verão, belas cearas de trigo, à mistura com os verdejantes milheirais. Hoje é tão diferente passar por esses extensos campos e vê-los quase só destinados a milho “basto” para forragens. Mas nada é novidade. Nestes cinco séculos de vida, que estas ilhas levam, as culturas foram sendo adaptadas às exigências da vida decorrente, sem apelo nem agravo.

O trigo foi o primeiro cereal que os povoadores para cá trouxeram, embora não se adaptasse a todos os terrenos. É o que nos narra Gaspar Frutuoso, quando se refere à chegada dos primeiros povoadores à Ilha de São Miguel e que se fixaram na Povoação: Dizem que estes mesmos (povoadores) desta primeira povoação foram os primeiros que nesta ilha semearam trigo, e os campos em que foi semeado eram tão abundantes e férteis, que o trigo não dava espiga mas fazia uma cana grossa coberta de grandes e largas folhas, como dizem acontecer no Brasil...” – “E posto que a Povoação que agora se chama Velha, não desse trigo naqueles primeiros anos que o semearam, depois o deu em grande abundância e o melhor da ilha...”(1)

A ilha do Pico, dada a natureza dos terrenos, produzia pouco trigo. Raro era o ano em que esse cereal sobejava e algum podia ser exportado.

Mais tarde, em 1670, Denis Gregório de Melo, capitão - general dos Açores introduziu a cultura do milho.

A batata branca, ou batata comum, chegou aos Açores e foi distribuída pelas ilhas em 1775; e a batata doce, trazida de S. Miguel, chegou ao Pico em 1860, generalizando-se a sua cultura por toda a ilha. Só mais tarde apareceu na ilha do Faial. Todavia o inhame já era conhecido no Pico, no século XVI (2).

Com a introdução do milho e da batata doce, as culturas do trigo deixou de ter algum interesse passando o trigo a ser um cereal nobre, não só pelo trabalho que exigia, mas também pelo pouco valor nutritivo.

Até meados do século passado o trigo era raramente cultivado e a produção somente destinada a casos especiais, como sejam as funções de Coroa ou casos de doença.

Todavia não deixa de se registar a sua cultura. Os terrenos de natureza especial, principalmente menos pedregosos, eram sempre os mesmos – “o serrado do trigo” era assim designado em cada casal agrícola.

Embora o trigo não fosse cultivado todos os anos, era guardado cuidadosamente para ser utilizado em ocasiões especiais, como sejam: além das Coroações, os casamentos e baptizados, as matanças dos porcos, as festas da Páscoa e do Natal, e poucas mais.

Muitos lavradores possuíam eiras, utilizadas somente pelos proprietários, vizinhos e amigos. Nesta vila conheci três eiras: uma no alto de Santa Catarina, que ainda lá se encontra, embora arruinada, uma no juncal, perto da entrada do muro do Caneiro, praticamente desaparecida e uma outra, no Verdoso, perto da lagoa interior que lá se encontra e que era constituída por uma grande laje, no meio da qual existia (existe?) um buraco onde era colocado o “moirão”.

O dia da debulha era de festa. Até as refeições eram melhoradas. De véspera trazia-se do baldio ou das pastagens os animais necessários para serem empregados na debulha.

O trigo havia sido apanhado (ceifado) dias antes e disposto, em molhos, junto das paredes do serrado, para enxugarem.

Na eira, enquanto não se iniciava a debulha, algumas senhoras iam escolhendo as palhas mais sãs para a feitura de chapéus e outros artefactos. A restante palha, depois de retirado o grão, era destinada a colchões. A moínha destinava-se à alimentação de animais.

Maria Fernanda Simões escreveu um interessante trabalho sobre o percurso do trigo, como o classificou no Prefácio o Dr. Dinis Borges. Vale a pena lê-lo. Apesar de estar ausente da terra natal há muitos anos, soube registar em “Saudades dos Tempos Que Já Lá Vão”, uma das fainas mais interessantes da vida campesina e que praticamente desapareceu. É pena.

Permito-me transcrever, do livro citado, estas duas expressivas quadras:

Não há debulhas nas eiras,

Não há trilho e moirão,

Não há trigo pelas jeiras,

Não há brindeiras de rolão.

Tudo se foi e se abalou.

A ilha é diferente agora,

Apenas a saudade ficou

Desse passado de outrora.”


Vila das Lajes, 25-11-2010

Ermelindo Ávila

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  1. Frutuoso, Doutor Gaspar, “Livro Quarto das Saudades da Terra”- vol.l pág.18

  2. Ávila, E. “Ilha do Pico – Suas origens e suas gentes (Notas Históricas)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

ACONTECIMENTO DA SEMANA

Decorreu em Lisboa a 21ª cimeira da NATO. Quem teve a oportunidade de assistir, pela TV, à chegada dos representantes das nações, ficou algo ciente do que se passa pelo mundo da Política.

Ainda me lembro da fundação da organização da NATO, ou OTAN como inicialmente era conhecida essa nova sociedade, que veio após a segunda Grande Guerra de 1939-45. E parece que tudo ficaria por aí. Havia o exemplo da antiga Sociedade das Nações, que igualmente surgira após o termo da Guerra 1914-1918 e que não deixará de ser um verdadeiro fracasso.

Mas não bastou a NATO. Depois veio a ONU e, mais tarde, a União Europeia.

E se estão circunscritos os conflitos armados, principalmente ao Afeganistão, e ao qual a NATO tem prestado a maior atenção, - Portugal lá tem um contingente militar - há outros não menos devastadores que estão a alterar constantemente as estruturas sociais e económicas das Nações.

Foi interessante ver a chegada dos representantes das Nações à Praça das Nações, em Lisboa. Para Portugal não deixou de ser um momento prestigiante e dignificante, que trouxe à antiga capital do histórico Império, as personalidades mais distintas do Mundo Político, deste a Rússia, a Alemanha, aos Estados Unidos da América.

Dizia-se que, nesta cimeira, seria deliberada a extinção da NATO. Depois, que isso só se verificaria mais tarde. Afinal, uma confusão de ideias e de interesses que está longe de encontrar uma solução pacífica e promotora de paz, de progresso, de desenvolvimento económico e social, de bem-estar das pessoas, a braços com uma crise de que não há memória. O que é certo é que a NATO saiu reforçada com o novo acordo estratégico. E ficou assente que a Aliança vai trabalhar no sentido de reduzir as armas nucleares.

Os portugueses, apesar de tudo, vivem horas amargas. São os salários e ordenados que diminuem. São os impostos que aumentam. São as regalias sociais que praticamente desaparecem.

É desolador escutar as notícias que diariamente nos trazem os meios de comunicação social. Não vislumbramos um futuro de paz e de bem-estar. Parece que voltámos aos tempos recuados em que os anos da fome atormentavam todos os povos.

Não deixaram de ser deselegantes as manifestações hostis contra a NATO, que o mesmo é contra os Representantes das Nações, que se encontravam em Lisboa, promovidas por forças políticas que pouco parece interessarem-se com os problemas nacionais.

Estou no ocaso da vida. O futuro que me espera é pouco risonho. Já não faço projectos nem tenho aspirações. Mas, em certa medida, não deixa de preocupar-me o futuro dos meus netos e bisnetos. Horas amargas com certeza os esperam. Infelizmente. A menos que o mundo dê uma volta grande e os homens que o governam tenham a consciência da responsabilidade que lhes cabe na preparação do futuro.

E, como diziam os velhos almanaques:

Deus super omnia!

Vila das Lajes,

Novº 2010.

Ermelindo Ávila

domingo, 21 de novembro de 2010

TOPONÍMIA PICOENSE

Todas as Ilhas tem uma variedade grandiosa de topónimo, os mais díspares. De uns sabe-se, mais menos, a origem. De outros, nem por sombras se descobre a origem. E todos eles vêm dos recuados tempos em que os homens enviados pelo Infante, pisaram estas ilhas.

Há dias perguntaram-me a origem do topónimo “Manhenha”. Não soube responder, pois é vocábulo que não encontro nem em enciclopédias nem em dicionários ou vocabulários. Ao menos naqueles que possuo, e são vários.

O escritor Manuel Greves que um dia lhe chamou “a vileta das cem adegas”, nem referiu a origem do termo. O mesmo acontece com outros sítios, existentes na ilha do Pico. Antigo lugar de veraneio e de grande produção de Verdelho, vai-se tornando num subúrbio importante da freguesia da Piedade, com excelentes moradias elegantes e confortáveis.

A Engrade, porque, igualmente, antigo lugar de produção do velho Verdelho, pode relacionar-se com uma passagem da Sagrada Escritura, antigo Testamento, quando alude aos vinhos de Engadi. Será? Deixo a dúvida.

Certo, porém, que a Silveira foi o primeiro lugar onde se iniciou cultura da vinha, com bacêlos trazidos pelo primeiro pároco Frei Pedro Alvares Gigante, ou da ilha de Chipre ou da Ilha da Madeira. Neste particular não são unânimes os historiadores. Para proteger as plantações, dos animais bravos, que já existiam na ilha, mandou cercar o terreno de silvas, dando assim origem ao topónimo Silveira.

Já agora será de interesse referir algumas das denominações das freguesias e lugares do Pico. As primeiras têm quase todas nomes de santos. É ver: Santíssima Trindade, a freguesia sede do concelho das Lajes que manteve essa denominação desde os primórdios até que alguém, aquando da organização do Código Administrativo de 1940, entendeu passá-la para Lajes do Pico, nome até então só atribuído à Vila das Lajes. E Santíssima Trindade, porque naturalmente foi o dia, no recuado ano de 1460, ou próximo, (?) em que os povoadores aportaram à enseada do Castelete, como era norma na época. Apesar da primeira igreja, hoje considerada ermida e cujo titular é São Pedro ter recebido o nome do primeiro pároco, Frei Pedro Alvares Gigante a localidade tomou a denominação de Santíssima Trindade.

Mas, dando uma volta à ilha, encontramos as denominações das seguintes freguesias civis com nomes de santos: São João (Baptista), São Caetano, São Mateus, Candelária (ou Nossa Senhora das Candeias), Santo António do Monte, Madalena (ou Santa Maria Madalena), Santa Luzia, Santo António, São Roque, São Miguel Arcanjo, Nossa Senhora da Ajuda (ou Prainha do Norte), Santo Amaro, Piedade (ou Nossa Senhora da Piedade), Santa Cruz e Santa Bárbara. E qual a origem da denominação Bandeiras?

São João está dividido em dois núcleos: Companhia de Baixo e Companhia de Cima. Segundo informa o historiador General F. S. de Lacerda Machado, em “Os Capitães-Móres das Lages”, o concelho das Lajes tinha 19 companhias de milícia. E acrescenta: “Ainda hoje, na linguagem popular, a freguesia de S. João divide-se em “companhia de baixo” e “companhia de cima”.

Calheta deriva do boqueirão de pequenas dimensões, que forma o porto. E, como tal, há a Calheta, em S, Jorge e Madeira e as Calhetas, em S. Miguel. Do Nesquim, porque, segundo a tradição, era o nome do cão que acompanhou um dos povoadores que ali aportou.

E Terra do Pão? Será epíteto algo depreciativo por ser terra onde se produziam poucos cereais ou, antes, deixou quase de os produzir depois das erupções vulcânicas? No entanto, na zona encosta a S. João, tem óptimas pastagens.

Interessantes os nomes dos lugares e sítios que, naturalmente, devem ter significado quando foram atribuídos pelos primeiros povoadores. Ou uma evocação das terras de origem, ou quaisquer outras razões especiais. Nada ficou escrito que nos dê a explicação. Todavia, Almagreira pode ter origem em almagre, ou argila avermelhada. Cachorro, deriva da figura que está na rocha marítima em frente do local e que se assemelha com uma cabeça de cachorro ou cão. E há o Calhau da Piedade, o Calhau da Candelária, e até o Calhau, na Silveira, lugares que ficam junto à costa, abundantes em pedra rolada. A Miragaia existe na Ribeira do Meio e em Santa Luzia. E, em volta da Ilha, o Cabeço Chão, os Toledos, o Cais do Mourato, a Baía de Canas, a Ponta do Espigão, o Cais do Galego, o Morricão (será Morro-cão, pela configuração da costa?), e a Aguada. Vários desses lugarejos são apreciadas zonas de veraneio. E até alguns têm nomes de pessoas, como sejam a Ponta de Gil Afonso, a Ponta do Sousa, a Ponta da Madre Silva, a Canada de Jorge Dutra ou a Canada de Manuel Velho e tantos outros que tornaria fastidiosa a citação, como aconteceu, ao que parece, com “Bustos e Monumentos”. Assim sendo, leia o texto somente quem nisso tiver interesse ou curiosidade.


Vila das Lajes.

3 de Novembro de 2010

Ermelindo Ávila

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS

A Agência local da Caixa Geral de Depósitos comemora hoje trinta anos de actividade, como instituição independente, nesta vila. Simultaneamente inaugura a sede privativa dos respectivos serviços, um imóvel recentemente construído para esse fim na rua principal das Lajes.

Há muitos anos que os Serviços da CGD funcionavam neste concelho, tal como nos restantes do País, anexos à Tesouraria da Fazenda Pública. E, funcionando como estabelecimento bancário, era o único onde os cidadãos podiam fazer as suas transacções bancárias, depositando e levantando as suas modestas economias.

Na Ilha do Pico somente existia a Caixa Económica Picoense, fundada na Vila da Madalena em 12 de Junho de 1904. Tinha sucursais nos concelhos de S. Roque e Lajes e o capital social era de l1.000$ escudos, moeda insulana ! Na década de cinquenta do século passado veio a ser adquirida pelo Banco Português do Atlântico, que a transformou em sua Agência privativa. Depois, surgiram na ilha outras dependências bancárias, que, apesar das nacionalizações operadas após a Revolução de Abril, se têm mantido.

Hoje estão estabelecidas na vila das Lajes agências do Banco BANIF – Açores, da Caixa Agrícola e da Caixa Económica do Montepio Geral, além da Caixa Geral de Depósitos.

No concelho existem ainda agências do Montepio e do BANIF, situadas na freguesia da Piedade.

Além das Agências da Caixa Geral de Depósitos, em S. Roque do Pico estão sedeadas as agências dos Bancos BANIF e da Caixa Económica do Montepio Geral; e, na Vila da Madalena, a Caixa Económica da Misericórdia de Angra, e os Bancos BANIF, Santtander Totta, e Espírito Santo dos Açores.

Ao que é de supor, dada a situação económica da Ilha, não devem as referidas dependências ter depositantes com grandes volumes de capital, resultantes de aforros domésticos, quase sempre diminutos, uma vez que não existem as Grandes Indústrias e Comércio e não se vislumbram fortunas individuais.

Têm, todavia. o mérito de facilitar o crédito a Pequenos industriais, a particulares e até às entidades públicas. Um serviço de apreciável valia que os picoenses jamais deixarão de apreciar.

A Caixa Geral de Depósitos inaugura hoje a sua nova sede nesta vila. Trata-se de um edifício moderno, embora de linhas sóbrias, condizente com os rédios que lhe ficam à ilharga, o que só merece louvores. Foi construído de raiz na rua principal da vila e tem o mérito de contribuir para o embelezamento urbanístico do burgo, ao mesmo tempo que as novas instalações proporcionarão um melhor serviço de atendimento ao público e de conforto aos respectivos funcionários.

Sabemos que o País atravessa um momento difícil e preocupante, com uma economia débil e a provocar a derrocada financeira quer do próprio Estado, quer das empresas e até dos particulares. Ninguém sabe qual será o dia de amanhã.

O desgaste da economia, - quem a provocou?, resta saber - faz cair as famílias na pobreza tornando Portugal num País do Terceiro Mundo.

Nem sabemos o que nos espera. A meados do século dezanove, houve por aqui aquilo que o povo classificou de “Ano da fome”. Comiam os pobres, que quase era toda a população, excepção a duas ou três casas morgadias, raízes de fetos e outras plantas.

O Pico passou muitas calamidades, com as erupções vulcânicas e abalos sísmicos, vendavais e ciclones que provocaram, em épocas diversas, a carência de cereais. Foi essa uma das razões que levaram os picoenses a emigrar, de “salto” para os Estados Unidos . Para os Brasis, como diziam, foram dezenas de cais, que representaram centenas de indivíduos.

Sinceros parabéns aqui deixamos aos gestores da CGD e aos próprios lajenses e picoenses pela inauguração das novas instalações do acreditado e valioso estabelecimento de crédito. Para os dedicados funcionários as melhores felicitações pelo magnífico ambiente de trabalho que lhes é proporcionado.


Vila das Lajes,

5-11-2010

Ermelindo Ávila

domingo, 7 de novembro de 2010

QUANDO CHEGARÁ A NOSSA VEZ ?

Quando foi instalado o primeiro Governo dos Açores, a Secretaria Regional do Turismo, de então, promoveu a aquisição de parcelas de terreno nas vilas das Lajes e da Madalena, para a construção de unidades hoteleiras.

Na vila das Lajes foi adquirida uma parcela do antigo “Serrado de S. Pedro”, serrado esse mais tarde comprado pelo Município, que nele instalou o Parque de Campismo.

A parcela de terreno da SRT ( ainda será pertença da Região?) nunca foi aproveitada para o fim a que era destinada, tendo sido lá colocado um campo de jogos (com piso de areia), só utilizado no Verão e que pode ser instalado em qualquer outro local...

Serve ainda o espaço para parque de embarcações de recreio que ali estacionam na época de Inverno.

No terreno destinado ao Parque foram plantadas algumas árvores e arbustos, para maior conforto dos utilizadores, que, na época do estio, vindos principalmente do estrangeiros, lá montam suas tendas. Mesmo assim, o espaço, de dois ou três milhares de metros quadrados, nunca é totalmente ocupado.

Vem-se reclamando há muito a construção, na vila das Lajes, de uma unidade hoteleira. Isso, para além das “Residenciais” que já existem, pois nem todos os visitantes nelas se instalam, preferindo ir algumas vezes para outros hotéis da ilha, depois de estar ocupado o “Aldeia da Fonte”, único hotel existente, embora distante da Vila cerca de cinco quilómetros.

Há quem pense na construção de uma unidade hoteleira, (não importa o número de estrelas, já o dissemos várias vezes), mas tudo isso não passa de intenções ou projectos mal conseguidos ou nunca apoiados.

Conheço terras em que os Municípios tomaram a iniciativa de construir hotéis que, depois, alugaram ou venderam a particulares e eles continuam a funcionar com proveito para quem os explora e para as próprias localidades que desses estabelecimentos usufruem.

Além de representar um elemento de progresso e desenvolvimento económico para a terra, dado que a indústria de turismo é a única com futuro na Região; - agora que a ilha, ou melhor a Montanha que lhe dá o nome, foi considerada uma das sete maravilhas naturais de Portugal, que não somente do Arquipélago; - considerando que na Vila das Lajes está em franca actividade o “Whale Watching”, atraindo inúmeros visitantes para desfrutarem do excelente espectáculo de ver baleias no seu próprio ambiente – santuário das baleias, como já foi classificado; - há que atrair a

juventude, dando-lhe postos de trabalho, com a garantia da sua estabilidade económica.

Sabe-se que o momento que passa é de contenção financeira, mas há investimentos que não devem ser protelados sob pena do asfixiamento total das respectivas localidades. O espaço, que acima refiro, está livre. É localizado em zona agradável, tendo em fundo um dos mais belos panoramas da Ilha: a Montanha com toda a sua grandeza, o mar com uma enseada onde se tomam os banhos – e são muitos os que no verão lá se recreiam -, e o encanto incomparável dos poentes, mesmo em fundo, que são o deleite dos artistas e dos sensíveis à beleza estética da natureza.

É pois tempo de se pensar a sério, projectar sem delongas e promover a construção do Hotel de São Pedro, para que a Vila das Lajes, capital mundial da baleação artesanal, como há dias foi brilhantemente classificada, não pare no seu desenvolvimento e se proporcione, aos seus jovens, postos de trabalho eficientes e duradoiros, já que outras actividades não se vislumbram de momento.

Parar é morrer, diz o velho adágio...


Vila das Lajes,

26 de Outubro de 2010

Ermelindo Ávila

sábado, 6 de novembro de 2010

REIVINDICANDO...

Anunciou a Empresa de Electricidade dos Açores que ia transferir para a ilha do Pico dois engenhos de produção eólica existentes na ilha do Faial, aumentando assim a capacidade de produção de energia eléctrica da Ilha do Pico.

Ao tomar essa decisão a EDA continua a ignorar (ou desprezar)a energia hidroeléctrica que não é aproveitada na ilha, muito embora esteja de posse do projecto ( e projecto é mais do que simples estudos..) do aproveitamento da Lagoa do Paul, há bastantes anos realizado e, por razões várias, “posto de parte”.

Já tantas vezes, desde há muitos anos, que trago o assunto a estas colunas, que não vale a pena mais referir.O futuro encarregar-se-á de julgar o ou os responsáveis.

E trazendo ao pretório o tema da electricidade, vale perguntar que destino vai ter, depois de quase três décadas de abandono, o antigo edifício da extinta central eléctrica desta vila. Nos outros concelhos os respectivos edifícios tiveram aplicação imediata. O desta vila aguarda pelas calendas gregas para ser utilizado por um serviço de interesse social ou público.

Um pouco além existe ainda o grande edifício da antiga fábrica de conservas de peixe, uma parte do qual foi ocupada pelo antigo matadouro, hoje dispondo, felizmente, de instalações adequadas e modernas.

Mas aqueles espaço, tal como o da central , deve ter uma utilização de interesse público. Há anos constou que ali seria instalado um estabelecimento hoteleiro. Mas, ao que se vê, não passou da intenção. E que importante e necessário é que a Vila possua urgentemente de um hotel, qualquer que seja o número de “estrelas” com que seja classificado, pois é sabido que o turismo está a procurar o Pico, principalmente agora que a nossa Montanha foi considerada uma das sete maravilhas de Portugal.

E por aqui não pode ficar a vila das Lajes, estagnada no seu desenvolvimento. Com a construção do novo campo de jogos em Santa Catarina, hoje considerada uma verdadeira zona comercial e industrial, importa dar um aproveitamento utilitário à zona marinha, principalmente a que foi ocupada pelo antigo campo de jogos.

O antigo jornal “AS LAGES”, no numero 13, de 15 de Outubro de 1914 – são decorridos noventa e seis anos! – referia uma planta de modernização da Vila, apresentada à Câmara pelo então capitão Francisco Soares de Lacerda Machado, na qual se indicava o aproveitamento da zona ” construindo uma avenida junto ao muro que circunda a vila”. E o autor do projecto, no nº 15 do mesmo periódico, em artigo intitulado “A Modernização da Vila”, escreve:

Desde já podia-se fazer muito: marcando-se o alinhamento da avenida marginal e a sua ligação com as ruas transversais, o que não custa dinheiro, pôr-se-iam em hasta pública os terrenos disponíveis. Os arrematantes seriam obrigados a tapa-los convenientemente, Ficaria, assim delimitadas as novas vias, restando apenas a cargo da câmara os pavimentos”.

Os terrenos, na posse de particulares, poderiam ser ocupados por construções urbanas, evitando-se a fuga para zonas periféricas da população, como vem acontecendo.

Agora que o grande espaço está devidamente regularizado, parece que é a ocasião apropriada para se dar execução à planta que o dedicado lajense, General F. S. Lacerda Machado apresentou à Câmara em 1914 e que durante muitos anos esteve exposta, em quadro, na sala nobre do Município.


Vila das Lajes,

Outº 2010

Ermelindo Ávila

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

RECORDANDO A ANTIGA BALEAÇÃO

É pena que as Bienais da Baleia não hajam continuado. Uma iniciativa interessante que, em duas épocas, trouxe a esta Vila e Ilha, vários cientistas interessados no estudo da baleação e que se ficou a dever ao antigo Secretário Regional da Economia, o Professor Universitário, Doutor Duarte Ponte.

O laureado escritor açoriano Manuel Ferreira publicou na Colecção Gaivota, da Secretaria Regional da Educação e Cultura, um valioso trabalho sob o título “O Morro e o Gigante”, que mais não é do que o título do primeiro dos seis textos que o volume encerra. A edição é de 1981, muito embora “O Morro e o Gigante” esteja datado da Primavera de 1955. E é sempre actual para os picoenses, muito embora haja decorrido mais de meio século sobre a sua primeira publicação.

Presentemente, já não se caça a baleia. Uma resolução discutível da União Europeia pôs fim a uma actividade de mais de dois séculos, iniciada pelos norte-americanos nos mares do Atlântico e trazida para os Açores pelos picoenses que, havendo saído “de salto”, em noite “escura”, um dia voltaram à ilha e aqui continuaram essa extraordinária actividade, que foi pão para a boca de muitas famílias e que mais tarde, assenhoreada por industriais oportunistas, veio a encher alguns bolsos.

Escrito numa linguagem vernácula e acessível a qualquer leitor, mesmo àquele que, de modestos conhecimentos seja detentor, “O Morro e o Gigante” é um perfeito trabalho narrativo da antiga actividade baleeira, quer na utilização da terminologia da baleação aqui introduzida pelos velhos baleeiros, quer pela descrição própria da caça e que merece ser trazida ao conhecimento da geração actual.

Marcelino Lima, outro escritor açoriano, escreveu também “À caça da baleia”, um texto do seu livro “Por Causa de um ramalhete”, publicado anteriormente, em 1933.

Embora o Autor descreva com certo relevo a vivência do antigo baleeiro “de salto”, e seja fiel ao emprego dos vocábulos estrangeiros, não é tão minucioso e realista na descrição da caça local como M.F., muito embora narre uma “arriada” no Cais do Pico onde, parece, exercia ao tempo funções públicas.

Ao ler Manuel Ferreira julga-se estar em presença de um autêntico baleeiro, dada a correcta e minuciosa narração que faz de uma caçada do gigante dos mares.

Não refiro hoje a obra, por demais conhecida, do escritor e saudoso amigo Dias de Melo, com certeza o maior escritor da saga baleeira.

Porque se me afigura de interesse, com a devida vénia, cito Manuel Ferreira:

É um espectáculo bruto, primitivo, infernal. Um quadro do princípio do mundo, de outro mundo, caricato e desconhecido. Num escárnio, contra a grandeza de todos os Impérios, o rei dos mares, o maior animal do mundo, sem nada que o iguale na terra ou no mar, força bruta, sem termo nem comparação, já nada é e nada pode – vencido e diminuído, por meia dúzia de homens de pé descalço, arremendados e desconhecidos – na história de todos os dias e de todos os tempos.

Referindo-se ao porto baleeiro das Lajes do Pico, escreve ainda M.F.:

As canoas, para cima das cem, à compita, numa aguarela de cores e de costados, ajuntavam-se e dividiam-se, pelo mar largo, conforme as empresas e distintivos. Cada ilha com duas e três companhias. Só as Lajes do Pico, à sua parte, com mais de meia dúzia de sociedades e alcunhas de guerra: “Toucinhos” e “Frades”, “Judeus” e “Senhoras”, “Serrafilhas”, “Queijeiros” e “Misérias”.

Actualmente, as canoas distribuídas pelos clubes navais, só servem para disputar regatas à vela e a remos. E, por enquanto, ainda há quem as tripule, mesmo que sejam meninas, como acontece.

A maioria ou quase totalidade das pessoas desconhece hoje aquilo que foi a caça à baleia. Pois se já são decorridos 27 anos sobre a proibição... (A última baleia foi caçada pelas canoas das Lajes no ano de 1987 !)

Agora outra actividade a substitui: “Ver baleias”, ou, em linguagem inglesa, “Whale Watching”. Mesmo assim há muitos, nacionais e estrangeiros, que se interessam pelo novo desporto, aqui introduzido pelo francês Serge Viallelle, pioneiro da nova actividade nos Açores e que acaba de ser galardoado com medalha de Mérito Turístico, Grau de Prata.

É pena que as Bienais da Baleia não hajam continuado. Uma iniciativa interessante que, em duas épocas, trouxe a esta Vila e Ilha, vários cientistas interessados no estudo da baleação e que se ficou a dever ao antigo Secretário Regional da Economia, o Professor Universitário, Doutor Duarte Ponte.

Espero que venham a continuar.


Vila das Lajes,

16 de Outº de 2010

Ermelindo Ávila

BUSTOS E MONUMENTOS - 6

29 - Os Pastores de São João – Na Monografia que publicou no Boletim do Núcleo Cultural da Horta (Vol.1-nº.2) o Dr. Manuel Alexandre Madruga refere “A indústria do queijo, originária da própria freguesia, pois foi ali que se fabricou o primeiro queijo do Pico...” A indústria conseguiu grande fama, quer nas ilhas quer no continente, “Ainda hoje se fabrica queijo em S, João, como há uma centena de anos, utilizando-se os processos que permitiram a sua grande fama“, como diz o mesmo autor. O Decreto nº 19:669, de 30 de Abril de 1931, publicado quando era Ministro da Agricultura o picoense, Coronel Henrique Linhares de Lima. estipulou que “Á indústria caseira da Ilha do Pico é permitido o fabrico de queijo completo, tipo Pico (S. João). Não resultou a execução do decreto governamental. Os Serviços respectivos tornaram-se em meros fiscais, obrigando os produtores a cumprir exigências por vezes inaceitáveis. Mas o queijo de S. João não deixou de fabricar-se em moldes caseiros e a ter procura dos consumidores. Os pastores continuaram a palmilhar veredas e atalhos para recolher, todas as manhãs, lá nas pastagens do alto, o leite das suas vacas. Tal como o baleeiro picoense, o pastor é quase um herói, mormente nos tempos que decorrem, em que as dificuldades são enormes. Bem mereceram o monumento – o pastor e a pastora, sua companheira, que a respectiva Junta de Freguesia lhe dedicou.

30 - Monumento ao Baleeiro de S. Roque. Na plataforma em frente à antiga fábrica da baleia das Armações Reunidas, hoje transformada em Museu da Indústria Baleeira, a Câmara Municipal mandou colocar um monumento dedicado Baleeiro. Foi inaugurado no dia 27 de Julho de 2000, sendo presidente da Câmara o Engenheiro Manuel Joaquim Neves da Costa, conforme a placa no mesmo colocada. O Monumento representa uma canoa com um trancador empunhando um arpão em gesto de o enviar a um cachalote. Uma homenagem bastante expressiva àqueles que, durante tantas dezenas de anos, se dedicaram à arriscada faina.

31- Homenagem aos primeiros povoadores - Em S. Miguel Arcanjo ergue-se um monumento,”Uma cruz, lavrada em escórias basálticas assinalando no sopé desta extinta cratera vulcânica, (o Cabeço de S. Miguel Arcanjo), a vivência dos seus antepassados”. Nele foi descerrada uma placa em bronze que diz: “Homenagem da Câmara Municipal de S. Roque do Pico aos Primeiros Povoadores que no século XV fixaram residência no Cabeço de S. Miguel Arcanjo - 21 de Setembro de 1992.

32 - Monumento aos militares que lutaram no Ultramar – Em quase todas as freguesias da Ilha vem sendo colocados, todos os anos, ora numa ora noutra, placas com os nomes dos militares que serviram na guerra colonial. Homenagens merecidas a quem perdeu a vida ou a desgastou ao serviço de Portugal, nas antigas Províncias Ultramarinas. A Ilha conta umas boas centenas de jovens que por lá andaram. Infelizmente nem todos voltaram. A pedra - monumento erigido no largo em frente à Matriz desta vila, tem a seguinte inscrição: “Homenagem às vítimas da guerra colonial e aos cidadãos deste concelho que nela perderam a vida:

Gabriel Pereira Bagaço – 29 - 07 - 1968 – Guiné

José Leal Goulart – 2 - 04 - 1971 - Angola

António Alberto Machado Garcia - 14 – 07 – 1970 – Angola

José Cardoso Carias - 28- 09 – 1962 - Angola

José Vieira da Silva Cardoso - 17 – l2 – 1965 – Moçambique

Gabriel Jorge da Silva - 11 – 03 – 1969 – Moçambique

Silvino Barbosa Amaral - 15 . 11- l973 – Moçambique.”

Impossível é outras referir, por se tornar extenso em demasia esta nota de homenagem que, afinal, a todos deseja envolver com respeito e gratidão.


Vila das Lajes,

29 – Setº - 2010

Ermelindo Ávila


segunda-feira, 18 de outubro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - V

25 – Estátua de D. Dinis - Para comemorar o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal, foi destinada ao Pico a estátua de D. Dinis, oferecida pela Câmara Municipal de Lisboa. Discutiu-se ao tempo onde a mesma deveria ser colocada e a grande maioria opinava pelo concelho das Lajes visto o primeiro povoador se ter fixado na zona que hoje é a Vila das Lajes. e onde existe ainda a primeira igreja dedicada a S. Pedro. Actualmente é, como sempre foi, o mais antigo templo da Ilha. O Coronel Linhares de Lima, vice-presidente da Comissão Nacional das Comemorações, não aceitou as razões que lhe foram apresentadas e determinou que a estátua ficasse na sua terra natal. E assim aconteceu. À cerimónia da inauguração da Estátua de D. Dinis, junto ao antigo porto do Cais do Pico, que teve lugar no dia 16 de Agosto de 1940 presidiu o Governador do Distrito, tendo a presença de todas as autoridades concelhias, além de numeroso público.

26 - Cruzeiro da Independência e Restauração - Uma vez que a estátua de Dom Dinis, destinada à Ilha do Pico, fora colocada em S. Roque, o Presidente da Comissão Distrital das Comemorações atribuiu ao Município Lajense um subsídio para a construção de um cruzeiro - monumento para assinalar na vila das Lajes o Duplo Centenário da Independência e Restauração de Portugal. O projecto foi de António Garcia, ao tempo desenhador da Junta Autónoma das Estradas, que fazia parte do departamento de fiscalização da estrada Lajes - Piedade, em construção. A obra de pedreiro foi dirigida pelo hábil Mestre Manuel Macedo Bettencourt e executada pelos pedreiros da sua Companhia. A inauguração realizou-se no dia 1 de Dezembro de 1940, e, numa das faces do cunhal, foi colocada uma lápide em mármore com a indicação do acontecimento; placa que foi retirada há poucos anos, sem qualquer explicação pública. Todavia o Cruzeiro, uma obra grandiosa, continua no largo principal da Vila a assinalar o faustoso acontecimento.

27 - Padrão Henriquino - Em 1960 Portugal celebrou o V centenário da Morte do Infante de Sagres. O acontecimento revestiu-se de grandes solenidades pelo Continente e Ilhas. O ex-distrito da Horta marcou pelos actos oficiais que realizou para recordar D. Henrique, aquele que promoveu de forma assombrosa o descobrimento e povoamento destas ilhas. O concelho das Lajes do Pico assinalou não só o V Centenário do Falecimento de Dom Henrique como associou ainda o V. Centenário do povoamento da Ilha, promovendo uma sessão solene e a inauguração dum monumento, (embora de contextura algo diferente e um pouco deslocado do primitivo local), ao lado da Maré, frente ao penedo negro onde desembarcou o primeiro povoador, Fernão Alvares Evangelho. O Padrão lá está, no que hoje é denominado Largo de S. Pedro, pois ao lado fica a primitiva Igreja, dedicada ao Apóstolo que dera o nome ao primeiro Pároco, Frei Pedro Gigante. No topo do monumento duas datas existem: l460 – 1960. Na ocasião da inauguração o orador de então afirmou: “Este padrão...não constitui um monumento qualquer a embelezar o local. Na sua matéria bruta encerra o sentimentos patriótico de todos os picoenses, homenageando a memoria do Infante, cujo centenário a Nação entusiasticamente vem de comemorar: e assinalando o local aonde aportou o primeiro povoador. Igualmente presta homenagem ao sacrifício, valentia e heroicidade daqueles que, num esforço assombroso, desbravaram a terra, levantaram as habitações, povoaram a ilha e a integraram nos bens do Reino de Portugal”.

28 - Monumento aos Baleeiros – Trata-se de um monumento em homenagem aos baleeiros de toda a Ilha. Aqueles que praticaram a actividade, a partir da época de cinquenta, do século passado, têm seus nomes gravados nas placas de mármore que cobrem o monumento, obra do artista Pedro Cabrita dos Reis, de renome internacional. A inauguração oficial teve lugar no dia 28 de Agosto de 2001, integrada na ”Semana dos Baleeiros” e foi bastante concorrida. A extensa placa do cais exterior do porto das Lajes, onde foi implantado o monumento, encontrava-se repleta de assistentes e de antigos baleeiros. Nas duas faces do Monumento estão gravados os nomes dos baleeiros e a denominação das armações respectivas, os nomes dos construtores e dos botes e lanchas de reboque que construíram e, numa das faces do pórtico, encontra-se a seguinte inscrição: Sendo impossível reunir todos os nomes daqueles que, durante mais de um século, fizeram da baleação a sua actividade principal, inscrevem-se neste monumento os nomes dos homens, Sociedades e património que constam dos registos oficiais a partir do ano de 1954. Uma homenagem justíssima àqueles que, durante mais de um século, tanto contribuíram com os seus trabalhos e canseiras, e alguns com as próprias vidas, para o desenvolvimento de uma actividade industrial que muito beneficiou a economia local.


Vila das Lajes,

29 – Setº - 2010

Ermelindo Ávila


terça-feira, 12 de outubro de 2010

CRÓNICAS

Escrever uma crónica é algo difícil. Tem de saber-se trabalhar, com correcção, o assunto escolhido. Mas, quando não há assunto?...

A crónica pode considerar-se um escrito simples e narrativo mas também pode ser destinado ao tratamento adequado de um assunto que surja e que mereça uma análise apropriada ou até mesmo narrar, em jeito de reportagem, um acontecimento que haja ocorrido.

São tão diversos os temas que podem ser tratados numa crónica!...

Entendo que, além disso, a crónica deve ser feita num estilo simples e em linguagem acessível. Mormente quando se trate de crónica a ocupar, em tempo e dia certo, um espaço do jornal ou de um programa radiofónico. Não deve esquecer-se que os programas da rádio ou da TV são escutados muitas vezes e/ou vistos por muitas pessoas que pouco sabem ler ou mesmo são quase analfabetas que, infelizmente, ainda as há por esse mundo de Deus. Como é natural, esses radiouvintes não entendem, muitas vezes, linguagem rebuscada e, como tal, inacessível à maioria das pessoas.

Os dicionaristas dão à crónica diversos significados. José Pedro Machado, entre outros, diz no seu dicionário que a crónica é a “Narração histórica, redigida segundo a ordem do tempo em que se deram os factos.” Por outro lado o Dicionário Houaiss, além dessa definição, muitas outras trás, entre elas, diz que a crónica “Originalmente se limitava a relatos verídicos e nobres, entretanto grandes escritores a partir do século XIX passaram a cultivá-la, reflectindo com argúcia e oportunidade a vida social, política, os costumes, o quotidiano, etc. Do seu tempo, em livros, jornais e folhetins.”

E não trago aqui o grande cronista Fernão Lopes, autor da Crónica Geral do reino de Portugal, narrador e escritor primoroso, fundador da grande prosa portuguesa, no dizer de um seu biógrafo.

Saber escrever em bom português não carece de ir aos dicionários rebuscar termos impopulares. Basta fazer uso de linguagem correntia, e num estilo perfeito, sem que a gramática seja ignorada mas, antes, tratada com respeito e dignidade.

Não deve ignorar-se que muitos há, mesmo alguns que não foram além da Instrução Primária ou Ensino Básico, que até sabem redigir com certa elegância e propriedade de termos.

No entanto, e isso também acontece quantas vezes, o escriba, irreflectidamente com certeza, “dá ponta – pés” na gramática sem que de tal se aperceba !

Que se saiba, ao menos, tratar bem o “sujeito”, o “predicado” e os “complementos”, colocando-os nos seus devidos lugares e nos tempos certos, é o que importa.

A crónica está no fim. Não era aquela que o ou os leitores naturalmente esperavam. É a que foi possível neste momento. Não se destina a escritores eruditos, que felizmente alguns são, mas aos que se entretêm com coisas de menos importância, rabiscadas por outros que simples são como eles.




Vila das Lajes,

9 de Outubro de 2010.

Ermelindo Ávila

domingo, 10 de outubro de 2010

BUSTOS E MONUMENTOS - 4

20 - Pe. José Amaral Mendonça. Natural do Cabeço Chão - Bandeiras, onde nasceu a 16 de Abril de 1884, paroquiou na Luz, Graciosa, em Santa Bárbara das Ribeiras e, finalmente, em S. Luzia do Pico, donde se retirou por motivo de doença, para a freguesia natal, falecendo em 29 de Setembro de 1962. “Pobre e humilde, sem nunca ter tido assento em pólos de destaque, civis ou eclesiásticos – vivendo horas dramáticas com os seus paroquianos soube sempre estar ao lado deles na compreensão, ampará-los nas frustrações, lutando e vencendo ao travar a dura batalha pela promoção dos seus valores éticos e sociais.” Calejou as mãos nos trabalhos de pedreiro, ajudando os paroquianos a restaurar as suas casas ou a construir novas para os casais que se formavam (Pe. José Idalmiro A. Ferreira, in “Esta Terra Esta Gente!”). Razões de sobra teve a Câmara Municipal de S. Roque em colocar no Largo entre à Igreja de S. Luzia uma placa assinalando nome de tão prestigiosa personalidade: “Largo Pe. José Medeiros Mendonça – 450º Aniversário do Concelho de S. Roque do Pico – 29-6-1992”. Na mesma data outra placa foi inaugurada no muro do adro da Igreja onde se lê: “Passou fazendo o Bem. Ao Pe. José Medeiros Mendonça, Pároco 1920 – 1960 – Memória do seu Povo – 29-6-1992” .

21 – João Bento de Lima. Foi um dos políticos mais sagazes que houve na Ilha do Pico, antes do 28 de Maio. Funcionário Municipal , donde retirava a subsistência, era o chefe político do concelho que mais adeptos contava, pela maneira como a todos tratava e servia. Toda a ilha conhecia o sr. João Bento de Lima e a ele recorria, principalmente quando tinha qualquer causa pendente no tribunal da comarca. Por essa razão a Câmara Municipal colocou à entrada do adro que dá acesso ao convento franciscano do Cais do Pico, onde então funcionavam o Tribunal, a Câmara Municipal e as demais repartições públicas, um plinto com o medalhão de João Bento de Lima, em homenagem ao prestante cidadão. A placa diz: “João Bento de Lima – Homenagem dos Picoenses – Nasceu a 13-12–1859. Faleceu a 11–7-1917 – Inaugurada a 1- 1- 1933”.

22Dr. Manuel José da Silva - Nascido nos Estados Unidos da América do Norte, onde estavam imigrados os Pais, no ano de 1892, tinha ele dois anos quando veio com os pais para S. Miguel Arcanjo, da freguesia e concelho de S. Roque do Pico, donde eram naturais os progenitores. Feita a escola primária a seguir frequentou os liceus da Horta e de Ponta Delgada. Concluído o curso liceal, matriculou-se na faculdade de medicina na Universidade de Coimbra, frequentando Simultaneamente os cursos de Filosofia e de Direito. (Esta Terra –Esta Gente). Ainda não havia concluído o curso universitário e é convidado para Deputado por Oliveira de Azeméis. Nunca mais abandonou a Política. Foi incansável na defesa dos interesses das ilhas açorianas, tendo conseguido alguns serviços e melhoramentos, muito embora fosse curto o seu mandato, pois, com a Revolução de 28 de Maio, teve de afastar-se da política, fixando residência na Horta, depois de ter passado, com outros companheiros faialenses, alguns meses como deportado em Angra. Faleceu, de doença que não perdoa, na sua casa da Horta a 7 de Maio de 1935. Em 21 de Setembro de 1993 a população de São Miguel Arcanjo prestou-lhe condigna homenagem, descerrando, em pedestal de basalto, uma placa em bronze, onde se lê: Homenagem ao seu muito ilustre conterrâneo, o Doutor Manuel José da Silva. Do povo de São Miguel Arcanjo. Á cerimónia da inauguração, além de muitos picoenses, compareceu a Família do homenageado.

23Dr. José Machado Serpa - Nasceu na freguesia da Prainha do Norte a 9 de Março de 1864 e faleceu na Horta, onde residia, a 20 de Dezembro de 1945, aos 81 anos de idade. Conheci-o e com ele estive algumas vezes na Redacção do “Correio da Horta”, onde ia muitas manhãs para se encontrar com o jornalista Raul Xavier. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra e iniciou a sua actividade como subdelegado do Procurador da Republica no Tribunal da Boa Hora. Depois foi Conservador do Registo Predial na Ribeira Grande. Informa o escritor Manuel Greaves ( “In Memoriam “ -1948): Em 1888 iniciou e redigiu um semanário político, Folha Insulana . Em Coimbra, em 1886, publicou um opúsculo sobre A Indústria piscatória nas ilhas do Faial e Pico. Quando estava de Conservador do Registo Predial da Ribeira Grande, publicou Monografia do concelho do Nordeste. Quando faleceu estava a publicar em jornais da terra um estudo – A fala das nossas gentes. Este trabalho já se encontra publicado em livro. E diz ainda Manuel Greaves: “Machado Serpa foi uma das mais distintas figuras que passou pelos Açores.” Foi eleito Senador e deixou de exercer as funções judiciais. Com a implantação da República foi nomeado Governador Civil da Horta. Foi uma Figura notável e um humorista de grande verve, criando simpatia por onde passava. Defendeu sempre os interesses do Distrito com grande paixão. Deixou a política com o 28 de Maio e passou a residir na sua casa da Horta, conservando porém todos os haveres herdados dos Pais. Na casa onde nasceu, na Prainha, foi descerrada uma placa, em bronze, que lá se conserva, e que diz: Nesta casa nasceu a 9-3-1864 o ilustre Senador e Magistrado Dr. José Machado Serpa – Homenagem da Prainha do Norte . 15 de Agosto de 1988.


27-09-2010

Ermelindo Ávila