domingo, 21 de novembro de 2010

TOPONÍMIA PICOENSE

Todas as Ilhas tem uma variedade grandiosa de topónimo, os mais díspares. De uns sabe-se, mais menos, a origem. De outros, nem por sombras se descobre a origem. E todos eles vêm dos recuados tempos em que os homens enviados pelo Infante, pisaram estas ilhas.

Há dias perguntaram-me a origem do topónimo “Manhenha”. Não soube responder, pois é vocábulo que não encontro nem em enciclopédias nem em dicionários ou vocabulários. Ao menos naqueles que possuo, e são vários.

O escritor Manuel Greves que um dia lhe chamou “a vileta das cem adegas”, nem referiu a origem do termo. O mesmo acontece com outros sítios, existentes na ilha do Pico. Antigo lugar de veraneio e de grande produção de Verdelho, vai-se tornando num subúrbio importante da freguesia da Piedade, com excelentes moradias elegantes e confortáveis.

A Engrade, porque, igualmente, antigo lugar de produção do velho Verdelho, pode relacionar-se com uma passagem da Sagrada Escritura, antigo Testamento, quando alude aos vinhos de Engadi. Será? Deixo a dúvida.

Certo, porém, que a Silveira foi o primeiro lugar onde se iniciou cultura da vinha, com bacêlos trazidos pelo primeiro pároco Frei Pedro Alvares Gigante, ou da ilha de Chipre ou da Ilha da Madeira. Neste particular não são unânimes os historiadores. Para proteger as plantações, dos animais bravos, que já existiam na ilha, mandou cercar o terreno de silvas, dando assim origem ao topónimo Silveira.

Já agora será de interesse referir algumas das denominações das freguesias e lugares do Pico. As primeiras têm quase todas nomes de santos. É ver: Santíssima Trindade, a freguesia sede do concelho das Lajes que manteve essa denominação desde os primórdios até que alguém, aquando da organização do Código Administrativo de 1940, entendeu passá-la para Lajes do Pico, nome até então só atribuído à Vila das Lajes. E Santíssima Trindade, porque naturalmente foi o dia, no recuado ano de 1460, ou próximo, (?) em que os povoadores aportaram à enseada do Castelete, como era norma na época. Apesar da primeira igreja, hoje considerada ermida e cujo titular é São Pedro ter recebido o nome do primeiro pároco, Frei Pedro Alvares Gigante a localidade tomou a denominação de Santíssima Trindade.

Mas, dando uma volta à ilha, encontramos as denominações das seguintes freguesias civis com nomes de santos: São João (Baptista), São Caetano, São Mateus, Candelária (ou Nossa Senhora das Candeias), Santo António do Monte, Madalena (ou Santa Maria Madalena), Santa Luzia, Santo António, São Roque, São Miguel Arcanjo, Nossa Senhora da Ajuda (ou Prainha do Norte), Santo Amaro, Piedade (ou Nossa Senhora da Piedade), Santa Cruz e Santa Bárbara. E qual a origem da denominação Bandeiras?

São João está dividido em dois núcleos: Companhia de Baixo e Companhia de Cima. Segundo informa o historiador General F. S. de Lacerda Machado, em “Os Capitães-Móres das Lages”, o concelho das Lajes tinha 19 companhias de milícia. E acrescenta: “Ainda hoje, na linguagem popular, a freguesia de S. João divide-se em “companhia de baixo” e “companhia de cima”.

Calheta deriva do boqueirão de pequenas dimensões, que forma o porto. E, como tal, há a Calheta, em S, Jorge e Madeira e as Calhetas, em S. Miguel. Do Nesquim, porque, segundo a tradição, era o nome do cão que acompanhou um dos povoadores que ali aportou.

E Terra do Pão? Será epíteto algo depreciativo por ser terra onde se produziam poucos cereais ou, antes, deixou quase de os produzir depois das erupções vulcânicas? No entanto, na zona encosta a S. João, tem óptimas pastagens.

Interessantes os nomes dos lugares e sítios que, naturalmente, devem ter significado quando foram atribuídos pelos primeiros povoadores. Ou uma evocação das terras de origem, ou quaisquer outras razões especiais. Nada ficou escrito que nos dê a explicação. Todavia, Almagreira pode ter origem em almagre, ou argila avermelhada. Cachorro, deriva da figura que está na rocha marítima em frente do local e que se assemelha com uma cabeça de cachorro ou cão. E há o Calhau da Piedade, o Calhau da Candelária, e até o Calhau, na Silveira, lugares que ficam junto à costa, abundantes em pedra rolada. A Miragaia existe na Ribeira do Meio e em Santa Luzia. E, em volta da Ilha, o Cabeço Chão, os Toledos, o Cais do Mourato, a Baía de Canas, a Ponta do Espigão, o Cais do Galego, o Morricão (será Morro-cão, pela configuração da costa?), e a Aguada. Vários desses lugarejos são apreciadas zonas de veraneio. E até alguns têm nomes de pessoas, como sejam a Ponta de Gil Afonso, a Ponta do Sousa, a Ponta da Madre Silva, a Canada de Jorge Dutra ou a Canada de Manuel Velho e tantos outros que tornaria fastidiosa a citação, como aconteceu, ao que parece, com “Bustos e Monumentos”. Assim sendo, leia o texto somente quem nisso tiver interesse ou curiosidade.


Vila das Lajes.

3 de Novembro de 2010

Ermelindo Ávila

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