sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

SÃO SEBASTIÃO


NOTAS DO MEU CANTINHO


Trata-se de uma festividade bastante antiga, muito embora a ermida actual não seja a primitiva e já haja sido reparada eintegrada no culto duas ou três vezes. “É muito antiga a devoção que os Picoenses consagram ao Mártir São Sebastião. Talvez por isso – não devendo ser alheia a homenagem ao “Desejado” D. Sebastião – já anteriormente a 1592, existia uma ermida no local denominado hoje “São Sebastião-o-Velho”, ao saínte do lugar da Almagreira, subúrbio da Vila das Lajes, pois nesse ano Bárbara Gaspar, natural da freguesia da Santíssima Trindade (Lajes do Pico) testava em favor daquela ermida. Trata-se de um local muito aprazível, donde se desfruta um magnifico panorama da Vila. Ali possuíam alguns lajenses quintas com as respectivas casas de abrigo, onde passavam a estação calmosa. E foi numa delas, por haver pertencido à Família, que foi oferecido ao General Lacerda Machado, aquando da sua última visita à terra natal, em Setembro de 1940, um jantar ”garden-party” muito concorrido e que o ilustre lajense bastante apreciou, recordando os seus tempos de infância.
O visitador João Baptista do Amaral, que esteve na ermida no dia 29 de Novembro de 1709, deixou no livro das visitas Episcopais da Matriz da Santíssima Trindade o seguinte despacho:” Visitei as ermidas de São Sebastião e de Santa Catarina, sufragâneas a esta Matriz, ambas quase incapazes de nelas se celebrar, pela pobreza e não haver fábrica nas ditas ermidas, pelo que mando ao Rev.do. Vigário recolha as imagens a esta Matriz até que se reparem do necessário e reparado o que fica à disposição e cuidado do Rev.do Vigário, tornarão as imagens para as ditas Ermidas.”(1)
A Ermida de Santa Catarina, naturalmente porque estava junto das propriedades do Morgado Manuel Cardoso Machado Bettencourt, foi reparada e voltou ao culto. (Não refiro a questão judicial que decorreu sobre a sua propriedade). Presentemente pertence à Paróquia ou Diocese, por legado dos antigos proprietários.
A ermida de São Sebastião, no século XVIII foi transferida para a Ribeira do Meio e construída no local onde actualmente se encontra, muito embora o Autor da “História das Quatro Ilhas que formam o distrito da Horta”, haja escrito em 1871: “também no bairro da Ribeira do Meio existe uma ermida de S. Sebastião, que há anos alguns devotos ampliaram: mas apenas lhe deitaram a madeira em cima, e a abandonaram e assim se conserva.”(2). Silveira de Macedo, naturalmente, não teve conhecimento do livro da “Arca das Três Chaves”, cuja propriedade devia ser reservada à Matriz e, naturalmente por isso, não faz referência à anterior ermida no Cimo da Almagreira.
A actual ermida de S. Sebastião tem recebido alguns reparos e, durante muitos anos foi zelada pela Família de Manuel José e, depois, pela do genro Manuel da Rosa. O altar foi mais tarde totalmente construído, na década de quarenta do século passado, pelos Irmãos Rodrigues Quaresma (os Importantes como eram conhecidos) e, recentemente, recebeu novas beneficiações.
No bairro da Almagreira, como diria Silveira de Macedo, foi construída, a meio do povoado, uma ermida dedicada a Santa Isabel, a expensas do luso-americano Manuel de Brum, a qual foi totalmente restaurada, após o sismo de 9 de Agosto 1998, com projecto dos arquitectos Rui Pinto e Ana Rochel, que mereceu mais tarde honrosa classificação.
A festa da Rainha Santa Isabel, por influência do Pe. José Carlos Vieira Simplício, dali natural, beneficiou de grande incremento, introduzindo-se num dos dias o “bodo do leite”, em S.Sebastião-o-Velho, para o que foi, nos últimos anos, construída uma pequena capela onde é recolhida a Imagem da Santa portuguesa, enquanto dura o arraial, e que para ali vai em procissão festiva. Parece que a Festa de Santa Isabel está separada do Bodo de Lei, realizando-se este no mês de Agosto. Trata-se de um aprazível lugar, situado num monte donde se desfruta, como disse, agradável panorama. O bodo de Leite já entrou na tradição das festas populares. É uma festa típica única no género realizada na ilha. Os Lavradores fazem descer algumas das suas vacas leiteiras, vindas das pastagens próximas de S. Sebastião-o-velho e oferecem o leite delas extraído a todos os que ali se encontram.
A festa de Santa Isabel realiza-se no mês de Setembro e atrai àquela zona imensas pessoas, não apenas da freguesia como de diversos lugares da ilha que ali vão passar o dia em aprazível convívio numa zona fora do bulício diário e do calor que, ainda nessa época, se faz sentir.
A festa de São Sebastião tem lugar no próximo domingo, 20 do corrente, (próximo do dia litúrgico) e costuma, igualmente, atrair à Ribeira do Meio (ou Bairro da Ribeira do Meio) muitos forasteiros, uma vez que se festeja o santo protector da doença da peste; quando, na Almagreira, se reza no domingo seguinte, a festa de Santo Antão, protector dos animais, embora a Igreja lhe atribua outra intenção.
E recordo o entusiasmo que, desde estudante, o Padre José Carlos punha na realização das festas do seu lugar, apesar de nunca ter paroquiado por estes lados.
________
1) Avila,E. “Figuras & Factos”, 1993, pág.115
2) Silveira Macedo, A.L., “História das Quatro Ilhas Que Formam o Distrito da Horta”1871, III Vol. Pág.8


Vila das Lajes do Pico,
7 de Jan, 2013
Ermelindo Ávila



sábado, 12 de janeiro de 2013

Terminou o Natal chegados que somos aos Reis


NOTAS DO MEU CANTINHO


O mês de Dezembro é sempre um mês especial. Iniciam-se as comemorações natalícias. As casas preparam-se para armarem os presépios e as árvores de Natal. Os estudantes vão chegando, nem todos infelizmente, para passar as férias com as respectivas famílias.
Outrora, as festividades natalícias começavam, propriamente, no primeiro dia da novena preparatória. No entanto, o Presépio, constituído por um pequeno altar erguido na sala principal, só era armado na véspera de Natal, quando o trigo, “posto de molho” no dia de Santa Luzia (13 de Dezembro) já estava crescido.
Na véspera do Natal era uma azáfama enorme, de velhos e novos, a preparar o grande dia. Os idosos dedicavam-se à cozinha a preparar a caçoilha e a cozer as massas de trigo para o almoço do dia seguinte. Os novos encarregavam-se do Presépio: Um altarzinho, formado por dois ou três caixotes, de dimensões diferentes, uma toalha de linho que só servia no Presépio, as taças com o trigo dispostas nos degraus do altar, algumas laranjas americanas trazidas nesse dia da Quinta, e castiçais com velas para “alumiar” o Menino e os vasos com camélias.
Em algumas casas apareceu mais tarde, por influência americana, a Árvore do Natal: um pequeno pinheiro, decorado com bolas coloridas e cordões de várias cores e, quando possível, “séries” de pequenas lâmpadas eléctricas, algumas preparadas artesanalmente, pois só mais tarde é que o comércio começou a importá-las e vendê-las.
Na sala eram colocados os cartões de Boas Festas chegados dos Estados Unidos, enviados pelos familiares e amigos e portadores de alguns dollars para o jantar da festa.
Entretanto, haviam chegado, igualmente, as sacas com roupas e brinquedos para as crianças enviados pelos parentes da Diáspora, que nunca esqueciam a época festiva. E até enviavam os especiais bolos do Natal, em embalagens próprias, de lata (folha de flandres). Por vezes demorava a chegada pois era obrigatória a paragem na Horta a fim de serem inspeccionadas pela Alfândega, não houvesse contrabando...
Antes que as Festas terminassem, já estavam ensaiados e com vestes reparadas, os ranchos dos “Reizes”. E no dia 6 lá vinham eles das diversas localidades, um menino vestido de anjo, trazendo uma vara alta encimada por uma estrela, depois os três Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar, com ceptros e coroas (eram de papelão colorido...) trajando vestes multicolores e compridos mantos a imitar os mantos reais.
Normalmente, cantavam hinos ou canções dos poetas locais, todos alusivos à ocasião.
Uma evocação simpática que se mantém em algumas localidades, ainda hoje, e que em imensas pessoas (velhas e novas) para apreciarem os trajes e escutar as loas dos Magos que, segundo um Tratadista da Sagrada Escritura, vieram dos três continentes então conhecidos na época do Nascimento do Menino Jesus: Europa, África e Ásia.
Por cá havia uns “reis” tradicionais, vindos das diversas localidades da Ilha, que todos os anos visitavam os presépios das pessoa conhecidas. Presentemente, com a facilidade de transportes, esses grupos organizam-se ainda em toda a ilha, e percorrem as igrejas e os salões, principalmente, para cantar ao Menino Jesus. Com esses grupo anda sempre um “velho”, encarregado de angariar alguns euros para fazer face às despesas dos trajes e dos transportes. Mas, ainda bem que esses ranchos aparecem. Uma bela maneira de perseverar uma tradição bastante antiga, das mais antigas que conheço, e que serve para, na sua quase ingénua pureza, recordar os Acontecimentos extraordinários de há dois mil anos.

Vila das Lajes do Pico,
2 de Janeiro de 2013
Ermelindo Ávila

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

= 2 0 1 3 =


NOTAS DO MEU CANTINHO

Há treze anos teve início o terceiro milénio da Era Cristã. Doze anos se passaram. Hoje, como disse, entramos no décimo terceiro. Uma data aziaga para os portugueses. Sempre afastaram o 13 tal como os chineses têm horror ao 8. Outros povos terão números diferentes.
Seja como for, não traz bons auspícios o ano que agora começa. Herdámos uma crise que, para nós portugueses, não será fácil afastar. Mas não só uma crise, mas várias. A crise económica resulta da crise de valores. E tanto assim que nos deixámos orientar, para não dizer governar, pelas instituições estrangeiras que hoje “dominam” Portugal. E essa crise que nos atingiu, resultou no encerramento de actividades produtoras e, consequentemente, no desemprego, na dificuldade em adquirir os bens essenciais à subsistência das pessoas, daí resultando a miséria e a fome... E a fome persiste, apesar da “criação” algo tardia dos bancos de alimentos que ultimamente surgiram num gesto de solidariedade e de inter-ajuda muito plausível.
Mas não basta ter uma sopa fornecida pela caridade pública, para sobrevivermos. Há outras necessidades vitais que importa assegurar. Os pais têm de prover o sustento dos filhos mas também preparar-lhes o futuro, com o ensino apropriado. E este parece faltar-lhes, pois fecham as escolas por falta de verbas para a sua manutenção, afastam-se os professores e, consequentemente, diminui a frequência às escolas médias e superiores. Vamos voltar a um pais de analfabetos? O tempo o dirá.
Desaparecendo os técnicos com cursos superiores e os operários habilitados e especializados como mestres nas escolas técnicas, as fábricas não podem funcionar, uma vez que a mão-de-obra utilizada será incapaz de competir com as congéneres estrangeiras.
É talvez por isso que se estão a promover as privatizações das indústrias, dos serviços públicos, e das demais instituições que contrabalançam a economia nacional.
Todo esse panorama horripilante não resulta do ano aziago mas antecedeu-o drasticamente. E não vejo forma aceitável de melhorar a situação actual.
Provocou-se a emigração mas não aquela que, de há um século para cá, se processou de maneira organizada e que serviu para trazer ao País milhares ou milhões de divisas estrangeiras, principalmente do Brasil, depois dos Estados Unidos e, mais recentemente, do Canadá. Mas os emigrantes afastaram-se em grande parte por causa da paridade do Euro.
Hoje é tudo muito diferente. A vida não permite amealhar e aqueles que partem não pensam regressar. E é, principalmente, a juventude que parte, deixando para trás uma nação sem futuro. E sem futuro, porque quase só ficam os deficientes e os velhos, que superlotam os asilos de mendicidade - hoje chamam-lhes lares da terceira idade - quase todos sem esperança de vida.
As terras estão abandonadas porque não há braços válidos que as trabalhem e a muitas delas não chegam, dada a natureza acidentada das ilhas, os meios mecânicos para as arrotear. E a importação de géneros torna-se quase impossível porque as populações não dispõem de divisas para adquirir os bens essenciais à sua subsistência. como acima refiro.
Se a juventude sai, não há a constituição de famílias novas. Não existindo estas, não haverá natalidade. Sem gente nova não haverá geração que garante a sobrevivência do futuro.
Portugal vai voltar àquilo que era há quase mil anos? É, concerteza, doloroso isso pensar mas não se pode fugir da realidade.
Naturalmente, não assistirei a essa derrocada fatal, mas não deixa de penalizar-me o que possa acontecer, no futuro, à Nação Portuguesa que tantos mundos novos deu ao mundo.
Serei pessimista neste meu “prognóstico” para o ano de 2013 ? Preferia estar enganado.
Apesar da minha maneira algo pessimista de encarar o futuro, não deixarei de aqui expressar os meus votos de um ano novo próspero e feliz, para todos os portugueses e, principalmente, como é natural, para aqueles que um dia se atreveram a povoar estas ilhas e aqui continuam.

Ilha do Pico,
Dezembro de 2012.
Ermelindo Ávila