sábado, 12 de janeiro de 2013

Terminou o Natal chegados que somos aos Reis


NOTAS DO MEU CANTINHO


O mês de Dezembro é sempre um mês especial. Iniciam-se as comemorações natalícias. As casas preparam-se para armarem os presépios e as árvores de Natal. Os estudantes vão chegando, nem todos infelizmente, para passar as férias com as respectivas famílias.
Outrora, as festividades natalícias começavam, propriamente, no primeiro dia da novena preparatória. No entanto, o Presépio, constituído por um pequeno altar erguido na sala principal, só era armado na véspera de Natal, quando o trigo, “posto de molho” no dia de Santa Luzia (13 de Dezembro) já estava crescido.
Na véspera do Natal era uma azáfama enorme, de velhos e novos, a preparar o grande dia. Os idosos dedicavam-se à cozinha a preparar a caçoilha e a cozer as massas de trigo para o almoço do dia seguinte. Os novos encarregavam-se do Presépio: Um altarzinho, formado por dois ou três caixotes, de dimensões diferentes, uma toalha de linho que só servia no Presépio, as taças com o trigo dispostas nos degraus do altar, algumas laranjas americanas trazidas nesse dia da Quinta, e castiçais com velas para “alumiar” o Menino e os vasos com camélias.
Em algumas casas apareceu mais tarde, por influência americana, a Árvore do Natal: um pequeno pinheiro, decorado com bolas coloridas e cordões de várias cores e, quando possível, “séries” de pequenas lâmpadas eléctricas, algumas preparadas artesanalmente, pois só mais tarde é que o comércio começou a importá-las e vendê-las.
Na sala eram colocados os cartões de Boas Festas chegados dos Estados Unidos, enviados pelos familiares e amigos e portadores de alguns dollars para o jantar da festa.
Entretanto, haviam chegado, igualmente, as sacas com roupas e brinquedos para as crianças enviados pelos parentes da Diáspora, que nunca esqueciam a época festiva. E até enviavam os especiais bolos do Natal, em embalagens próprias, de lata (folha de flandres). Por vezes demorava a chegada pois era obrigatória a paragem na Horta a fim de serem inspeccionadas pela Alfândega, não houvesse contrabando...
Antes que as Festas terminassem, já estavam ensaiados e com vestes reparadas, os ranchos dos “Reizes”. E no dia 6 lá vinham eles das diversas localidades, um menino vestido de anjo, trazendo uma vara alta encimada por uma estrela, depois os três Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar, com ceptros e coroas (eram de papelão colorido...) trajando vestes multicolores e compridos mantos a imitar os mantos reais.
Normalmente, cantavam hinos ou canções dos poetas locais, todos alusivos à ocasião.
Uma evocação simpática que se mantém em algumas localidades, ainda hoje, e que em imensas pessoas (velhas e novas) para apreciarem os trajes e escutar as loas dos Magos que, segundo um Tratadista da Sagrada Escritura, vieram dos três continentes então conhecidos na época do Nascimento do Menino Jesus: Europa, África e Ásia.
Por cá havia uns “reis” tradicionais, vindos das diversas localidades da Ilha, que todos os anos visitavam os presépios das pessoa conhecidas. Presentemente, com a facilidade de transportes, esses grupos organizam-se ainda em toda a ilha, e percorrem as igrejas e os salões, principalmente, para cantar ao Menino Jesus. Com esses grupo anda sempre um “velho”, encarregado de angariar alguns euros para fazer face às despesas dos trajes e dos transportes. Mas, ainda bem que esses ranchos aparecem. Uma bela maneira de perseverar uma tradição bastante antiga, das mais antigas que conheço, e que serve para, na sua quase ingénua pureza, recordar os Acontecimentos extraordinários de há dois mil anos.

Vila das Lajes do Pico,
2 de Janeiro de 2013
Ermelindo Ávila

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