NOTAS DO MEU
CANTINHO
O
mês de Dezembro é sempre um mês especial. Iniciam-se as
comemorações natalícias. As casas preparam-se para armarem os
presépios e as árvores de Natal. Os estudantes vão chegando, nem
todos infelizmente, para passar as férias com as respectivas
famílias.
Outrora,
as festividades natalícias começavam, propriamente, no primeiro dia
da novena preparatória. No entanto, o Presépio, constituído por um
pequeno altar erguido na sala principal, só era armado na véspera
de Natal, quando o trigo, “posto de molho” no dia de Santa Luzia
(13 de Dezembro) já estava crescido.
Na
véspera do Natal era uma azáfama enorme, de velhos e novos, a
preparar o grande dia. Os idosos dedicavam-se à cozinha a preparar a
caçoilha e a cozer as massas de trigo para o almoço do dia
seguinte. Os novos encarregavam-se do Presépio: Um altarzinho,
formado por dois ou três caixotes, de dimensões diferentes, uma
toalha de linho que só servia no Presépio, as taças com o trigo
dispostas nos degraus do altar, algumas laranjas americanas trazidas
nesse dia da Quinta, e castiçais com velas para “alumiar” o
Menino e os vasos com camélias.
Em
algumas casas apareceu mais tarde, por influência americana, a
Árvore do Natal: um pequeno pinheiro, decorado com bolas coloridas e
cordões de várias cores e, quando possível, “séries” de
pequenas lâmpadas eléctricas, algumas preparadas artesanalmente,
pois só mais tarde é que o comércio começou a importá-las e
vendê-las.
Na sala
eram colocados os cartões de Boas Festas chegados dos Estados
Unidos, enviados pelos familiares e amigos e portadores de alguns
dollars para o jantar da festa.
Entretanto,
haviam chegado, igualmente, as sacas com roupas e brinquedos para as
crianças enviados pelos parentes da Diáspora, que nunca esqueciam a
época festiva. E até enviavam os especiais bolos do Natal, em
embalagens próprias, de lata (folha de flandres). Por vezes demorava
a chegada pois era obrigatória a paragem na Horta a fim de serem
inspeccionadas pela Alfândega, não houvesse contrabando...
Antes
que as Festas terminassem, já estavam ensaiados e com vestes
reparadas, os ranchos dos “Reizes”. E no dia 6 lá vinham eles
das diversas localidades, um menino vestido de anjo, trazendo uma
vara alta encimada por uma estrela, depois os três Magos, Belchior,
Baltazar e Gaspar, com ceptros e coroas (eram de papelão
colorido...) trajando vestes multicolores e compridos mantos a imitar
os mantos reais.
Normalmente,
cantavam hinos ou canções dos poetas locais, todos alusivos à
ocasião.
Uma
evocação simpática que se mantém em algumas localidades, ainda
hoje, e que em imensas pessoas (velhas e novas) para apreciarem os
trajes e escutar as loas dos Magos que, segundo um Tratadista da
Sagrada Escritura, vieram dos três continentes então conhecidos na
época do Nascimento do Menino Jesus: Europa, África e Ásia.
Por
cá havia uns “reis” tradicionais, vindos das diversas
localidades da Ilha, que todos os anos visitavam os presépios das
pessoa conhecidas. Presentemente, com a facilidade de transportes,
esses grupos organizam-se ainda em toda a ilha, e percorrem as
igrejas e os salões, principalmente, para cantar ao Menino Jesus.
Com esses grupo anda sempre um “velho”, encarregado de angariar
alguns euros para fazer face às despesas dos trajes e dos
transportes. Mas, ainda bem que esses ranchos aparecem. Uma bela
maneira de perseverar uma tradição bastante antiga, das mais
antigas que conheço, e que serve para, na sua quase ingénua pureza,
recordar os Acontecimentos extraordinários de há dois mil anos.
Vila
das Lajes do Pico,
2
de Janeiro de 2013
Ermelindo
Ávila
Sem comentários:
Enviar um comentário