domingo, 14 de dezembro de 2008

A AVIAÇÃO QUE NOS SERVE - 2

Importa lembrar o que foi a construção da pista da Ilha do Pico. O valoroso empreendimento também tem a sua pequena história que aqui registo, muito singelamente, mas com a verdade toda.
De longa data vinha-se falando numa pista para o Pico. A ilha oferecia zonas especiais que poderiam ser satisfatoriamente aproveitadas, se não fosse a contestação permanente que se fazia para que os picoenses não dispusessem de uma pista moderna e capaz de servir a sua população. Certo é que foi escolhida a zona de Santa Luzia. O projecto foi elaborado, somente em planta, e andou pelas Câmaras Municipais da Ilha.
Entretanto, na década de sessenta do século passado, os Presidentes dos Municípios açorianos foram a Fátima, tomando parte numa peregrinação nacional. Ao regressar, os autarcas do ex-distrito da Horta, acompanhados do Governador, em visita de cortesia, foram cumprimentar o Presidente do Conselho. Ao ser apresentado o de São Roque do Pico, Salazar felicita-o porque ia ter o campo de aviação. Interveio, imediatamente, o Governador para informar o Presidente que o campo era na Ilha do Faial. E assim aconteceu.
A inauguração do Aeroporto da Horta realizou-se a 24 de Agosto de 1971. Para o inaugurar deslocou-se ao Faial o Presidente da República, Almirante Américo Tomaz. A Horta não dispunha de hotéis e o almoço foi servido ao Presidente, comitiva e numerosos convidados, na Estalagem de Santa Cruz (antigo castelo de Santa Cruz).
Todavia, os Presidentes dos Municípios picoenses não se aquietaram. Aproveitando o projecto elaborado para o Pico, dirigiram uma petição ao Ministro respectivo solicitando a aprovação do projecto e pedindo para que fossem as Câmaras Municipais autorizadas a proceder à construção da pista. Estava em Lisboa o Governador que, ao tomar conhecimento da atitude dos Presidentes pensou em demiti-los. Mas ficou por aí. Cerca de um ano decorrido, recebiam os Municípios peticionários a cópia do parecer dos Serviços da Aeronáutica e a solicitada autorização para a construção da pista, sem encargos para o Estado. Mas os presidentes peticionários já tinham sido substituídos por haverem terminado o mandato e tudo ficou como dantes...
Entretanto, veio a Revolução Nacional. Para o Pico foi destacada uma força de sargento. O respectivo comandante, no intuito de dar ocupação “aos seus homens”, procurou descobrir uma obra de interesse público em que os pudesse ocupar. Numa das reuniões militares, expôs o seu plano e, por indicação de um dos Militares presentes, natural desta Ilha, ficou resolvido iniciar as terraplanagens para a construção de uma pista, nos campos de Santa Luzia, aproveitando-se o projecto existente . A obra começou com a colaboração dos Serviços Florestais instalados na Ilha. Com certa lentidão os trabalhos foram prosseguindo até que o Governo Regional, então formado, chamou a si o empreendimento. O aeroporto (depois classificaram-no de aeródromo) acabou por ser inaugurado ,com pompa e circunstância, no dia 25 de Abril de 1982. Quase vinte anos depois!...
Mas a pista inaugurada não era aquela de que necessitava e reclamava a ilha. Importava ampliá-la e dar-lhe as infra-estruturas indispensáveis. Decorreram outros vinte anos para que o Governo Regional resolvesse ampliar, em comprimento e largura, a pista do Pico.
Construiu-se nova aerogare, ampla e funcional, mas ainda não se instalaram os depósitos para o fornecimento de combustível às aeronaves...
Depois de muito insistir e reclamar, apareceu um dia o avião da TAP a aterrar no aeroporto do Pico para, semanalmente, fazer uma paragem no Pico, no voo normal para a Terceira. Mas não basta. Muito se reclama, mas nada se consegue. O Pico continua a dispôr somente de um toque semanal...
As férias do Natal estão a chegar. Ao contrário de antigamente, os estudantes que frequentam as Universidades vêm habitualmente passar essa quadra festiva com as famílias. Raros são os que conseguem vir ou regressar directamente de Lisboa para o Pico ou vice-versa. Habitualmente, têm de viajar para o Faial porque a TAP, naquela época, aumentou de doze voos extraordinários as viagens parta Castelo Branco, deixando o Pico apenas com o toque normal.
E pergunta-se: Porquê esta descriminação? As últimas estatísticas publicadas na Imprensa regional informavam que setenta e tal estudantes do Pico frequentavam cursos superiores enquanto a Ilha vizinha tinha cinquenta e tal. E aqueles passageiros do Pico que se vêm forçados a viajar pelo Faial, porque as reservas do avião que sai do Pico andam sempre ocupadas? E quantas serão?
Afinal, o avião não vem para o Pico em escala directa. Passa no Pico em viagem para a Terceira e dali segue para Lisboa. Não será naquela Ilha que as reservas são ocupadas?
Alguém já teve o cuidado de fazer a estatística (hoje a estatística é que é base de todos os estudos e soluções...) dos passageiros do Pico que são obrigados a tomar o avião no aeroporto de Castelo Branco, porque, ou não há avião, ou as reservas estão antecipadamente ocupadas ?
Mas há ainda outra anomalia a registar: Se o aeroporto do Pico não está praticável, os passageiros ou ficam no Faial ou vão para a Terceira. Se o contrário acontece, o avião desconhece o aeroporto do Pico e segue a outra rota. O aeroporto do Pico nunca é alternativa.
O delegado da TAP no Faial – creio que é o mesmo que superintende nos serviços da TAP no Pico – desconhece estes factos? Se deles sabe porque não dá conhecimento à respectiva administração?
Neste sector como em outros mais não há bairrismos doentios nem separatistas. Há somente a realidade dos factos e a constatação de um desprezo que chega a ser vexatório.
E, já agora: Não há bairrismo em São Jorge, na Terceira, ou São Miguel ou nas Flores? Valha-nos Deus...
Porque são votados os picoenses a esta situação humilhante ?
Analisem - se desapaixonadamente os factos e veja-se de que lado está a razão.
Os picoenses, (das albarcas quase desaparecidas) são tão dignos e têm os mesmos direitos que os outros ilhéus - açorianos.
Desculpe o leitor o desabafo, mas há verdades que têm de ser ditas...

Vila das Lajes,
26 de Nov. De 2008
Ermelindo Ávila

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