quarta-feira, 22 de outubro de 2008

UMA LOTA ORIGINAL!...

Num dos meses do Verão foram inauguradas as obras realizadas no porto interior (lagoa) da vila das Lajes e, conjuntamente, a muralha (parte) de defesa a cortina da Vila. Aplaudimos os trabalhos realizados mas nunca deixamos de referir que tais obras, principalmente a muralha, ficavam incompletas, pois é indispensável dar-lhe continuidade para Sul, até ao Calhau Grosso, ao menos, para que a Vila fique resguardada dos temporais de Sul, Sudoeste e Oeste, bastante frequentes.
Não se completou o troço de muralha entre o muro do Caneiro e a muralha de defesa ora construída, dizem que por falta de projecto que, entretanto, estava a ser elaborado...
O porto interior ou lagoa, não foi aquilo que estava inicialmente projectado: amarrações para setenta embarcações que ficaram reduzidas a cinquenta. Mas nem assim, pois a prancha central foi modificada, retirando-se-lhe as guardas transversais afim de serem amarrados os barcos de vigia de baleias, e neles puderem embarcar os visitantes...
Nem o fundo do agora porto interior, nem mesmo o do porto exterior agora “criado”, foram devidamente regularizados, obrigando as embarcações a desvios na entrada, que não deixa por isso de ser perigosa.
Já aqui deixámos o nosso agrado pelas obras realizadas, mas antes de se conhecerem algumas das mazelas que posteriormente
vieram a ser detectadas. Todavia, porque logo vieram ao conhecimento público, não posso nem devo deixar de aqui registar o meu reparo.
Não há sinais de se vir a construir definitivamente o troço de muralha que a Empresa Empreiteira lançou para a circulação dos seus veículos, durante as obras, e que lá se encontra ainda embora obstruído a evitar que os veículos e as pessoas atinjam o molhe exterior.
No início do muro de acesso ao cais, antigo caneiro, foi construída, pela Câmara Municipal, há cerca de trinta anos uma casa
para Lota, que sempre funcionou a contento quer dos pescadores quer dos compradores pois reunia as condições de higiene e laboração. E até no Inverno era utilizado pelos pescadores e outros parceiros, para as tardes de lazer...
Com as obras do chamado “porto de recreio”, ou “marina”, como alguns dizem, houve que destruir o edifício da Lota. Os respectivos serviços e pessoal foram transferidos ou incorporados nos serviços da Madalena, onde é já prática corrente concentrar tudo o que existia nesta Vila, naturalmente para lhe dar maior grandeza...
A vila das Lajes foi privada do serviço de lota ou, melhor dizendo, da possibilidade de adquirir peixe no seu porto, onde ainda existem mais de duas dezenas de embarcações de pesca local.
E a propósito: ainda me recordo das grandes pescarias de chicharro que se faziam no “limpo”, zona da baía das Lajes onde aquela espécie se concentrava em grandes cardumes. Esse pescado era tratado no areal que existia na Lagoa antes da construção da nova muralha (1936). Depois de tratado era vendido ou seco para a troca de géneros ou uso no Inverno. Outros tempos, dirão...
Agora o pescado é concentrado na actual Lota (a de Santa Cruz das Ribeiras também deixou de existir ?) e, depois de cumpridas as formalidades legais, posto à disposição dos vendilhões que, geralmente, se desembaraçam do pescado antes de chegarem às Lajes.
E neste vai-e-vem o peixe que resta, percorreu 70 quilómetros”!...
Além dos lajenses serem privados de ter peixe fresco, como estavam habituados desde que a ilha é povoada de gente. Ficam sujeitos a adquirir peixe congelado, que não é nem será nunca da qualidade do fresco.
Está anunciada, para 13 do corrente mês, a inauguração da nova peixaria na Vila das Lajes: um contentor, pintado de fresco, instalado ao lado do edifício da escola do primeiro ciclo, para funcionar das 7,30H às 11,30H de cada dia, naturalmente com o pescado da véspera ou congelado. Não será?
Não deixa de ser um tanto frustrante a situação. Ou serei apenas o único que neste imbróglio não tem razão?
Julgo que a Vila das Lajes merecia melhor tratamento, pelo seu passado histórico, pelos seus honestos e dignos pescadores que ainda os há e de excelente qualidade profissional e pelas suas gentes em geral, nada inferiores aos seus vizinhos.
Isto, entenda-se, sem deixar de realçar as obras realizadas no porto.
Custa escrever crónicas deste teor mas também é difícil suportar tanto atropelo aos direitos e à dignidade pessoal e profissional dum povo digno e laborioso como é e sempre foi o da MINHA TERRA.
É por esse meu povo, porque a ele pertenço, e só pela defesa dos seus direitos legítimos, que ainda aqui estou.
Vila das Lajes,
11 de Outubro de 2008
Ermelindo Ávila

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