Na primeira semana de Março realizou-se em Lisboa a Semana Cultural Açoriana.
Tratou-se, ao que julgamos saber, de um acontecimento cultural de elevado valor artístico, que muito apreciado e aplaudido foi pelos numerosos assistentes do Teatro Municipal São Luís, da capital.
Uma Semana Cultural que marcou, não apenas pelos artistas açorianos presentes, como pelas produções apresentadas.
Este acontecimento cultural traz-me à lembrança um outro, que teve lugar em Lisboa, exactamente na semana de 8 a 15 de Março de 1938 – precisamente há setenta e dois anos – e que foi promovido pelo Grémio dos Açores (hoje Casa dos Açores). Era Presidente o Professor Doutor Armando Narciso, natural da Ilha de São Jorge, que conseguiu rodear-se de centenas de individualidades e entidades oficiais e particulares. Nesse primeiro Congresso não só se promoveu a defesa dos interesses açorianos como ainda “se enalteceu o Arquipélago e seus habitantes e se estudaram os mais instantes problemas de interesse regional e local. Nunca os Açores tinham sido aqui o assunto do dia, de muitos dias, como o foram durante as manifestações do primeiro Congresso Açoriano”.
Isto escreveu o Professor Armando Narciso no Prefácio do Livro do Congresso.
Já agora importa aqui lembrar, em singelas linhas, as diversas manifestações culturais que, ao redor dos tempos, mas principalmente a partir de meados do século dezanove, têm sido praticadas nas diversas ilhas do Arquipélago Açoriano, desde Santa Maria ao Corvo. E, para não alongar o arrazoado, ficando-me pela Ilha Pico, terra de gente do mar, principalmente, há que recordar as diversas iniciativas de natureza cultural que por cá existiram. Umas de vida efémera, como é natural, outras que chegaram a nossos dias cheias de pujante vida e actividade.
Ainda hoje, das treze filarmónicas que há na Ilha, meia dúzia contam mais de cem anos: a da vila das Lajes foi fundada em 14 de Fevereiro de 1864; a União Artista, de S. Roque, em 17 de Agosto de 1880; a Lira Fraternal Calhetense, em 1888; a Lira Madalenense, em 1897; a Recreio Ribeirense, em 1900; a Recreio dos Pastores, em 24 de Junho de 1904; e a Liberdade do Cais do Pico, em 10 de Abril de 1910. Em poucos dias celebra o centenário. Desde já os meus parabéns com votos de uma vida longa a bem da arte musical. (Julgo que não erro nas datas).
Em 1887 fundou-se na vila das Lajes o Gabinete de Leitura Lajense. No 1º de Dezembro de 1883, em S. Roque, surgiu o Gabinete de Leitura Marquez de Pombal. Mais tarde, em S. Mateus, apareceu o Gabinete de Leitura Camilo Castelo Branco.
Presentemente as três vilas picoenses possuem bibliotecas municipais com notável recheio, sendo também de considerar as bibliotecas das escolas secundárias, com milhares de volumes.
Vale a pena não esquecer o Museu dos Baleeiros, com uma selecta biblioteca nacional e estrangeira; o Centro de Artes e Ciências do Mar, instalado na antiga Fábrica da Baleia SIBIL; e o Centro de Turismo, no Forte de Santa Catarina. Todos nas Lajes do Pico; o Museu do Vinho, na Madalena; o Museu da Indústria Baleeira, no Cais do Pico; a Escola e o Museu do Artesanato, em Santo Amaro. E só estes cito porque a lista vai um pouco longa.
Tudo, afinal, representa Cultura, praticada por um povo humilde, trabalhador e, até há poucos anos, sem formação académica. Valeram os Externatos que nas décadas de 50/60 deram início ao Ensino Particular, sem ajudas externas a não ser o entusiasmo, a dedicação e, vá lá, a carolice dos que se devotaram a leccionar o Ensino Secundário.
Apesar disso, este povo, por vezes mal considerado, sempre teve o gosto pela leitura. Podem considerar-se, e porque não?, históricos os serões familiares onde eram lidos os romances em voga na época. E quando não existiam livros, valiam os folhetins dos jornais. Bons tempos!
Vila das Lajes,
13 de Março de 2010
Ermelindo Ávila
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