sábado, 3 de abril de 2010

Chegámos à Pascoa


Bom dia !

Chegamos à Páscoa. Na maioria das residências açorianas preparam as donas de casa, como se dizia, a tradicional refeição pascal. Não faltarão o folar e as amêndoas, onde de variadíssima qualidades, nem os vistosos “ovos”.
Casas haverá em que isso não acontecerá. A época incerta que se atravessa trouxe-nos muitas surpresas. Todos os dias os meios de comunicação social falam em crise económica e em desemprego.
Com a Missa da Ressurreição termina o período quaresmal e entra-se num novo período: AS DOMINGAS do Espírito Santo. E, aqueles que têm promessas a cumprir, já as preparam com entusiasmo e afã. Até os convites já se fazem a conhecidos, amigos e parentes. Uma tradição que vem de longe e que é a única, talvez, que as gentes açorianas mantêm com entusiasmo, embora por vezes com algum sacrifício.
António Silveira de Macedo, autor da “História das Quatro Ilhas que formam o Distrito da Horta”, diz que, no ano de 1871, os picoenses devem ter gasto nas festas do Espírito Santo 60 moios de trigo, 60 reses bovinas, além de carne de carneiro e porco e 30 pipas de vinho. Por aqui se pode imaginar quantos convivas não tomavam parte nas chamadas coroações. Hoje não é diferente. Pois se em cada coroação, por estes lados do Sul do Pico, o que melhor conheço, em cada jantar do Espírito Santo são servidos algumas centenas de convidados, chegando mesmo, em algumas coroações, a atingir os mil !
Amanhã é o grande dia da Ressurreição. Em quase todas as paróquias as cerimónias litúrgicas têm começo com solenes procissões do SANTÍSSIMO SACRAMENTO. São de assinalar os vistosos e artísticos tapetes de flores que enfeitavam e aqui e ali ainda se vêm, s ruas por onde passa o solene cortejo e as ricas colgaduras que se estendem nas varandas e janelas, algumas bastante antigas e que só saem das velhas arcas neste dia festivo e no dia do Padroeiro.
Referi que “em quase todas as paroquias”, e não todas porque, infelizmente nem todas têm pároco próprio. Com a diminuição de clero que vem acontecendo, é triste dize-lo, há paróquias que só têm Eucaristia dominical ao sábado em horas incertas, e, mesmo assim, nem todos. É tempo de se pensar a sério nesta situação para não cairmos em total descristianização e, não muito longe, algumas igrejas, que tantos sacrifícios custaram ao povo crente, verem encerradas as portas. E, com isso, um novo paganismo, mais intenso do que o actual, se verificará.
Boas Festas Pascais e
Bom dia!

(Crónica para o Programa Manhãs de Sábado da RTP)
Vila das Lajes.
29 de Março de 2010.
Ermelindo Ávila

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