terça-feira, 6 de abril de 2010

AS DOMINGAS

Terminadas as Festas Pascais entramos nas chamadas Domingas ou seja os sete domingos que antecedem o Domingo de Pentecostes (no corrente ano a 23 de Maio).
Antigamente eram todos esses domingos preenchidos por Coroações, ou seja festas em honra da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
A Freguesia da Santíssima Trindade (actualmente denominada incompreensivelmente por Lajes do Pico), tinha grupos de irmãos que, de cinco em cinco anos, “levavam a Coroa à Igreja”, ou seja promoviam uma festa em honra e louvor do Espírito Santo. Em cada domingo um irmão, previamente sorteado, levava em cortejo a Coroa do Divino Paráclito à Igreja Paroquial, onde era celebrada Missa cantada e coroação e, em casa, oferecia jantar a doze pobres e a familiares e amigos.
Antes da criação da paróquia da Silveira, a freguesia estava dividida em cinco zonas: Silveira, Almagreira, Ribeira do Meio, Vila e Terras. Com o falecimento dos irmãos e/ou ausência para o estrangeiro, foi desaparecendo essa tradição que hoje, felizmente, ainda é mantida nas Terras e na Almagreira.
Tudo afora as promessas, que ainda as há, de “levar a Coroa”.
Lacerda Machado diz, que “Antigamente, em cada uma das sete Domingas, havia coroação, estando a cargo, por anos, das povoações: Terras, Vila e Ribeira do Meio. Também havia coroações na Silveira e Almagreira.
“Os festejos das Domingas consistiam em missa cantada e coroação, em seguida às quais o mordomo oferecia jantar aos colegas das outras Domingas e pessoas que convidava “
Ainda hoje a tradição se mantém na Almagreira e nas Terras. De cinco em cinco anos as mesmas famílias cumprem a tradição, convidando para a “sua festa” algumas centenas de pessoas, a quem oferece lauto jantar de “sopas do Espírito Santo”.
Para isso aquele lugar construiu um amplo salão de dois pisos, que pode receber mais de mil convivas , onde é servido o jantar .
O mesmo acontece na Almagreira, onde foi igualmente construído vasto salão.
E falando em salões, recordem-se os da Ribeira do Meio, da Silveira, das Terras, de São João, e de Santa Cruz recentemente construídos e que, embora destinados a sedes das sociedades locais, são dispensados para as funções do Espírito Santo. O mesmo acontece nesta vila com a sede da Liberdade Lajense em quase todas as freguesias e localidades da Ilha. Uma maneira significativa de perpetuar “enquanto o mundo durar”, como se dizia antigamente, tão expressivas manifestações de fé dos picoenses, como aliás dos açorianos.
Ainda a propósito das coroações, é de lembrar o que diz Silveira de Macedo na “História das Quatro Ilhas”, citado por Lacerda Machado:
“Em 1871 o autor da História das quatro ilhas avaliava em 60 moios de trigo, 60 reses bovinas, além de da carne de carneiro e porco, e 30 pipas de vinho, o consumo das festas do Espírito Santo na ilha do Pico, a cargo dos mordomos e irmãos.
Hoje, em toda a Ilha não será menor o consumo, durante as festas do Espírito Santo que, em razão dos votos emitidos, têm lugar desde o primeiro domingo após a Páscoa até aos meses de Julho e Agosto. É que, normalmente, durante os meses de inverno não se realizam tais festividades.
E, na época em que estamos, já se fazem os convites para as coroações. É que tudo é preparado com a antecedência devida. Até o gado que se abate vem destinado quase após o nascimento. E a farinha que se consumia provinha do trigo semeado, em maiores extensões, no anterior à solenidade. Hoje já não se cultivam cereais. Os campos são utilizados para pastagens de gado bovino , produtor de leite. Julgo que não se levará muito tempo que se volte atrás...

Vila das Lajes,
27.Março.2010.
Ermelindo Ávila

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